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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A morte do amigo negacionista

Por Moisés Mendes


Foto: Andreas Fickl/Pexels


Morreu o amigo de adolescência de um grupo que se reúne há um ano e meio no WhatsApp. Esse é o resumo da história verdadeira de um sujeito brincalhão, alegre, falante, o cara aquele que se encaixava em qualquer turma com qualquer assunto e com qualquer tipo de risada, das contidas, compridas ou gargalhadas.

Um colega legal, daqueles que não colocava ninguém a correr se chegasse atrasado numa rodinha de conversa. Isso na segunda metade dos anos 70, no 2º grau, quando a escolha do que se quer ser na vida é uma pela manhã e duas outras à tarde.

O amigo não vacilou muito quando adulto e virou empresário. Quando se reuniam, muito tempo depois, já com famílias, filhos e agregados, ele aparecia.

Eram encontros raros, mas lá estava ele com o mesmo perfil. Outros mudaram um pouco ou muito os jeitos e temperamentos. Ele não. Era sempre o mesmo. Expansivo, assertivo, sempre divertido e agora um homem próspero.

Quando o grupo foi criado no Whats, no começo do ano passado, os colegas se reagruparam. Democratas com ideias progressistas e humanistas e atuando nas mais diversas áreas. E então o amigo aquele apresentou-se ali como se fosse outra pessoa.

O colega sempre leve depois de homem maduro, já com mais de 60 anos, incorporou no Whats um sujeito pesado. Não era mais o tucano que poucos sabiam que havia sido. Era um ativista bolsonarista e negacionista.

O grupo se abateu. O colega passou a pregar contra o isolamento e a vacina e em defesa do kit covid, como se fosse um modelo para cursinho de extremista de direita. Virou uma caricatura absolutista.

O grupo se sentiu constrangido, a maioria debandou em poucos meses, e o colega também foi embora. O adolescente interativo, agregador, divertido, não existia mais.

Mas, quando ele saiu, outros voltaram, sob um clima muito mais de desconforto do que de repulsa e condenação. A turma se reagrupou de novo quando o amigo aquele não estava mais por perto.

Há pouco mais de um mês ficaram sabendo que ele havia sido infectado. Depois, foram informados de que estava na UTI e entubado. E esta semana alguém deu a notícia de que havia morrido.

Pouco antes de morrer, reafirmou nas redes sociais (porque alguém espiava suas postagens) o que pensava da vacina e dos remédios milagrosos de Bolsonaro.

Sei, porque me contaram, que o sentimento de perda foi intenso e dolorido. O grupo agarrou-se à memória do guri divertido, para despedir-se dele, e não do sessentão que havia se apropriado do adolescente do colégio.

A morte nos reapresenta o dilema que, quanto mais a pandemia se espicha, mais fica irresolvido. O que teria virado esse amigo, aos 60 anos, se Bolsonaro não tivesse chegado ao poder e dividido famílias, colegas, vizinhos?

Os amigos que perdemos para a extrema direita em meio à ascensão do bolsonarismo são uma invenção de Bolsonaro, ou Bolsonaro só existe porque esses nossos amigos estavam à espera de um sujeito que incorporasse todas as crueldades e todos os ódios, ressentimentos e preconceitos?

Foi mesmo Bolsonaro quem fez aflorar a índole do amigo que se afastou da turma, ou esse e outros amigos criaram o Bolsonaro poderoso, eleito pelo voto, para que assim pudessem ser representados e se expressar como de fato são ou eram?

A morte de cada amigo da adolescência vai nos tirando aos poucos o que construímos naqueles tempos na direção da eternidade. A morte de um amigo que virou bolsonarista também pode ser devastadora.

Um adulto bolsonarista não deveria ter o direito de dar fim prematuro ao que ele mesmo foi no nosso tempo de colégio. O bolsonarismo tenta destruir até o nosso passado e as nossas melhores memórias.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

20 aforismos contemporâneos de equivalência, redução ou circunstância

Por Walter Falceta 


1) Nem todo idiota é bolsonarista, mas todo bolsonarista pratica a idiotia.

2) A maioria dos esportes competitivos é um tipo de arte; mas o inverso nunca é uma verdade.

3) A vacina tem muitos inimigos; ela, no entanto, é sempre generosa, mesmo com eles.

4) Se a magnânima Amazônia trocasse de lugar com o presidente, ela certamente não o escalpelaria.

5) Sem educação, o sonho do oprimido é se tornar um opressor; enquanto o inverso, obviamente, nunca é uma verdade.

6) A argumentação clara, precisa e fundamentada é bem necessária, ainda que seja o pé de cabra que abre a caixa de pandora da inveja.

7) Tornar-se vítima do maldizer popular pode, em última instância, representar o elogio do bom senso.

8 ) Todo moralista, em última análise, quer proibir os outros de fazerem o que ele deseja, mas não pode ou não consegue.

9) O que mais enfurece o conservador não é a demanda do trabalhador, mas o sucesso do filho deste.

10) Preste atenção: os impacientes que te apressam são, em geral, lentos e preguiçosos no momento de retribuir teu zelo.

11) Os maiores imbecis do mundo têm grandes chances de arrebanhar multidões de seguidores; os grandes sábios, na mesma proporção, de receber um tiro, um laço no pescoço ou uma cruz.

12) Todo racista berra que a bronca do oprimido seja mimimi; enquanto, na verdade, o verdadeiro mimimi é o berro.

13) Alguns amigos somente existem para que você se lembre da falta que faz a verdadeira amizade.

14) Um copo meio cheio ou meio vazio? Sofisma. Do lado de fora, é sempre vazio.

15) Se toda nudez será castigada, por que não desnudar todas as formas de castigo?

16) Todo fariseu tem por perto outro fariseu, que o aplaude. O farisaísmo é um vício de grupo.

19) É preciso separar a obra de seu artista; tá ok; quem vai levar a 6a. Série B para a exposição com as pinturas de Hitler?

20) Se a morte de Teori foi acidente, quem tramou para acidentá-lo?


Imagem: "Filósofo em Meditação", 1632, Museu do Louvre,
Rembrandt Harmenszoon van Rijn (Leida, 15 de julho de 1606
Amsterdam, 4 de outubro de 1669)



sábado, 22 de janeiro de 2022

O bolsonarismo sem Bolsonaro



Por Fernando Castilho





O Capitão Morte, por sua estratégia de falar e fazer somente aquilo que os 30% do cercadinho querem dele, nos permite projetar que chegará às eleições com esse mesmo número ou até menos e será derrotado.


A mais nova pesquisa Poderdata mostrou que Lula está à frente com 42% e Bolsonaro com 28% das intenções de voto para as eleições presidenciais de 2022.

Já assimilamos tanto esses 28 a 30% com naturalidade que nem nos apercebemos mais o que esse número significa.

Por mais que o Capitão Morte tenha sabotado a compra de vacinas sendo responsável indireto pela morte estimada de pelo menos 400 mil pessoas, tentado dar um golpe no 7 de setembro, agido para protelar a vacinação de crianças, usado dinheiro público para se esbaldar por duas semanas enquanto a Bahia e Minas Gerais enfrentavam o caos com as enchentes que desabrigaram mais de 600 mil pessoas, a verdade é que ainda há cerca de 30% de pessoas que aprovam seus mal feitos e votariam de novo nele em 2022. Isso representa cerca de 44 milhões de eleitores!

Recentemente a Folha publicou um artigo de Antônio Risério que falava de um tal racismo reverso que, segundo ele, existe no Brasil. Algo como um branco ser abordado e espancado por um grupo de PMs negros ou um branco ser vigiado desde sua entrada num supermercado ou um shopping até sua saída. Pode ser que Risério não seja bolsonarista, mas a maneira como ele entende o racismo é. Portanto, existe bolsonarismo sem Bolsonaro.

Há no Brasil (e também no resto do mundo) um certo contingente de pessoas contrárias à vacina e, mais ainda, à vacinação de crianças. O que isso tem a ver com conservadorismo e ideologia de extrema-direita? Aparentemente nada, mas 100% dessas pessoas votam em Bolsonaro e o chamam de mito.

O Capitão Morte, por sua estratégia de falar e fazer somente aquilo que os 30% do cercadinho querem dele, nos permite projetar que chegará às eleições com esse mesmo número ou até menos e será derrotado.

Certamente festejaremos a saída do pior presidente que o Brasil já teve, mas temos que admitir que o bolsonarismo veio pra ficar e poderá aflorar novamente caso apareça algum outro líder para preencher o espaço deixado vazio. Foi assim com o fascismo e o nazismo, mesmo após sete décadas sem Mussolini e Hitler.

Definitivamente aquelas pessoas com as quais convivíamos em alegres churrascos aos domingos, que faziam piadas homofóbicas e racistas e que hoje são bolsonaristas, não voltarão mais a nos ser próximas.

Bolsonaro pelo menos teve o mérito de explicitar a nossos olhos que estávamos dormindo com o inimigo.

           

 


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Minha bandeira

Por Fernando Castilho


Caminhando pelo meu bairro, constatei que algumas casas ostentam a bandeira do Brasil em suas janelas ou varandas.

Ao voltar pra casa, passei a refletir sobre isso.

Há alguns anos minha impressão sobre isso seria de que esses moradores certamente são patriotas e amam o Brasil.

Porém, é preciso lembrar que o Brasil não é uma porção de terra, um território, somente. O Brasil é o povo que nele habita. Com sua cultura, sua diversidade e sua enorme desigualdade social.

O Brasil, mais do que nunca, hoje é um povo sem emprego, passando fome, cozinhando o pouco que tem com lenha e sem futuro.

Tenho certeza de que as pessoas que exibem essas bandeiras de maneira tão ilegítima não são patriotas. Não amam e nem se preocupam com os mais desvalidos. Pior, não hesitam em vender o país para os americanos do norte.

Com toda a sinceridade de quem deixou a bandeira de lado, sinto hoje ojeriza por essas pessoas.

Sonho com o dia em que possamos vestir o verde e amarelo naturalmente pelas ruas sem que hajam manifestações pelo fim da democracia.

Sonho com o dia em que voltemos a enaltecer o significado das cores de nossa bandeira, orgulhosos de que estejam realmente em sintonia com a preservação de nosso meio-ambiente.

Verde, amarelo, azul e branco.