segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Paulo Freire nos ensinou mas não aprendemos

Por Fernando Castilho





''Olha, filho, não adianta. Político nunca olhou pra pobre e nunca vai olhar. Nós nascemos nessa desgraceira dessa vida e vai ser assim até o fim.''

O ano era 1989.

Lula estava em campanha para a presidência.

Eu fazia porta de fábrica na divisa com o município de Taboão da Serra.

Sentadas na calçada, em seu horário de almoço, duas operárias aparentando uns 50 anos.

Ao abordá-las, uma delas disse-me algo que nunca esqueci: ''olha, filho, não adianta. Político nunca olhou pra pobre e nunca vai olhar. Nós nascemos nessa desgraceira dessa vida e vai ser assim até o fim.''

Aquilo acabou com o meu dia.

Anos mais tarde, ao deparar-me com a obra de Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido, percebi que ele repetia, com outras palavras aquilo que a operária me dissera.

Há um dogma que o capitalismo passa aos pobres de pai para filho. O de que o fato de ter nascido pobre é como um desígnio de Deus. Portanto, é natural que ele aceite sua sina.

Então, a luta pela melhoria de sua situação no mundo é inglória e ele deve aceitar este fato com resignação.

Ao ver a direita vencer as eleições com tanta força em São Paulo, vejo que a operária e Paulo Freire nunca tiveram tanta razão.

Ficamos muitos de nós, do polo progressista, nas redes sociais e nas ruas, batalhando por um futuro melhor do povo paulistano, tentando reeleger um prefeito que possa fazer mais pela cidade e seus cidadãos.

Mas este povo, ao invés de juntar-se a nós, prefere simbolicamente dar o troco no partido do prefeito, que julga ser o único corrupto do país, coisa que a mídia lhe ensinou.

Mas Paulo Freire escreveu sua obra justamente para tentar por um fim nesse determinismo. Sua obra é libertadora.

Sinto que o erro da esquerda foi o de não fazer um trabalho junto ao povo para mostrar sua força. Nós não fomos libertadores, não formamos lideranças, não fortalecemos os movimentos sociais. O resultado está aí: Votação expressiva de Dória até na Zona Norte, onde sempre fomos fortes.

Serão dois anos de Dória na prefeitura. Depois ele sai para ser governador, enquanto Alckmin sai para ser presidente. Em seu lugar, fica Bruno Covas.

Dois anos de desmonte de tudo quanto é avanço. Um retrocesso.

Dois duros anos.

E nós, do campo progressista, o que faremos?

Continuaremos na quase desanimadora tarefa de tentar botar na cabeça do pobre que...ele é pobre, e pobre não pode esperar nada de governante rico.


A não ser descaso.

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