quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Adivinhem quem vai ser manchete amanhã

Por Fernando Castilho





É o que o jornalista Joseph Pulitzer afirmou: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.


Que países tidos como não democráticos possuam órgãos de imprensa que busquem noticiar somente aquilo que os detentores do poder desejam, todos sabem, não é novidade.

A mídia da Coreia do Norte é uma das mais rigorosamente controladas do mundo. Como resultado, a informação é rigidamente controlada tanto nas notícias internas, quanto nas externas.

Em Cuba as emissoras de televisão estão ligadas ao Instituto Cubano de Rádio e Televisão (ICRT), do Estado. O ICR é claro em sua política: os meios de comunicação devem ser um instrumento de orientação político-ideológico.

O Granma, jornal de maior tiragem do país, com mais de 700 mil exemplares diários, publicado pelo partido, umpre uma missão de salvaguarda dos ideais revolucionários.

No Brasil, durante a ditadura, todos os jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão sofreram censura rigorosa após o Ato Institucional N° 5, o AI-5. A maioria também colaborou com o regime, pricipalmente a Rede Globo e a Folha de São Paulo que inclusive fornecia veículos para o Dops.

Faz parte dos regimes não democráticos.

Todos sabemos que hoje vivemos em plena Democracia, por isso a mídia não sofre censura nem intimidação por parte do governo.

Pelo contrário, o que vemos diariamente são nossos jornais fazendo exatamente o inverso do que órgãos de imprensa costumam fazer em regimes autoritários. A defesa cega da oposição, enquanto atacam o governo.

Os parvos, aqueles que acreditam que vivemos em uma ditadura comunista do PT, logicamente discordam. Mas sobre essa falta de neurônios não vale nem a pena comentar.

Foi recentemente publicada uma pequena nota nos jornais dando conta da citação do governo FHC como tendo recebido o aporte de 100 milhões de dólares que em dias de hoje equivaleriam a cerca de um bilhão de reais.

Ao mesmo tempo, a segunda manchete principal (a primeira noticiava o falecimento do músico inglês David Bowie) mostrava uma vaga delação ao ex-presidente Lula, que não faz parte do governo, mas sim do partido que governa, o PT e que poderá vir a ser candidato em 2018.

A delação que envolveu Aécio Neves também foi discreta e os jornais já se esqueceram.

Não há um dia sequer em que a presidenta Dilma, Lula ou um expoente qualquer do governo ou do PT não seja capa dos jornais ou de seus portais.

A bola da vez agora tem sido o ministro Jaques Wagner. Ele andou dando entrevista e de certa forma ganhou um pouco de notoriedade. Foi preciso então cortar suas asinhas, antes que ele se sinta a vontade para voar e disputar o Planalto.

Os factoides aparecem sempre em manchetes, uma vez que pouca gente se dispõe a comprar jornal e ler o artigo completo. Depois os autores da ''notícia'' emitem uma notinha de rodapé em algum lugar dentro do jornal com um ''ERRAMOS''. Esta tem sido a estratégia preferida.

O intuito não poderia ser mais claro, insuflar o ódio contra um só partido para que as pessoas com opinião ''formada'' sejam usadas como massa de manobra na luta para que os que detiveram o poder por 500 anos voltem.

É o que o jornalista Joseph Pulitzer afirmou: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.

Mas se no Brasil temos uma mídia tão desprovida de confiabilidade, não pensem que ela é a pior do mundo.

Não, nesse quesito a Argentina vem dando um baile até nos jornais da Coreia do Norte.
Rogério Macri, o presidente recém-eleito é comprometido em extinguir a Ley de Medios que a ex-presidenta Cristina Kirchner lutou para aprovar e que fazem as famílias donas da mídia brasileira perderem o sono.

Em virtude disso, os principais jornais como o Clarin fazem o inverso do que fazem os jornais do Brasil. Elogiam cada ato, cada detalhe, cada fio de cabelo de Macri, como se ele fora um ídolo pop juvenil. Só falta ter um poster dele em cada repartição das redações.

É quase o mesmo que as empreiteiras fazem no Brasil: financiam um candidato para cobrar obras mais tarde.

Minha amiga, Renata Gouveia Delduque se deu ao trabalho de coletar as manchetes do Clarin em um único dia que, a título de ilustração, exponho aqui:

A estratégia de comunicação de Macri: informar 18 horas por dia”: “Após doze anos de governo Kirchnerista, com a preferência pelas cadeias nacionais e aversão aos jornalistas, a estratégia da nova administração federal é “atuar e gerar notícias” todos os dias”.
Governo de Macri tenta retomar controle de agência reguladora de comunicações”
O primeiro desafio do novo governo será controlar as manifestações de rua”
Macri mandou fazer oito auditorias para avaliar como Cristina deixou o governo”
Chega ao fim herança kirchnerista de restringir importação de livros”
Receita do setor agrícola argentino cresce 100% após medidas do governo”
Esperamos uma colheita de 120 milhões de toneladas”
Ministros brasileiros elogiam fim do controle cambial e dos bloqueios ao comércio na Argentina”
Primeiros anúncios econômicos de Macri interessam diretamente ao Brasil”
E A CEREJA DO BOLO:
Pesquisa indica que a maioria dos argentinos acha que 2016 será melhor que 2015”

Ou seja, ao contrário do pessimismo brasileiro, a Argentina é otimista para 2016.

Essas manchetes me lembram aquela narradora de notícias da televisão norte-coreana que não se limita a narrar, mas o faz com uma retórica ufanista e emocionada.

Mas se a mídia argentina conseguiu ser pior do que a brasileira, não tenham dúvidas que se Aécio Neves tivesse sido eleito em 2014, o ano de 2015 seria considerado o mais exitoso em 12 anos. Não haveria crise econômica, Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg mostrariam dados diários de um Brasil que enfim se recuperou e atravessa um período de pujança em todos os setores.

Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Reich na Alemanha Nazista afirmava que uma mentira contada mil vezes virava verdade.

É o que as mídias argentina e brasileira fazem diariamente, apenas com os sentidos ideológicos invertidos.

A quem tenta adivinhar quem vai ser manchete nos jornais de amanhã, não esperem que seja esta:

Cerveró não confirma propina a Lula em delação oficial!

sábado, 9 de janeiro de 2016

O Estado de Direito e o Estado de direita

Por Mauro Santayana



Mauro Santayana é um dos jornalistas mais experientes e sagazes que o Brasil já teve.

Vai aqui sua análise comparativa entre dois mundos: o que se pretende e o que na prática está prevalecendo hoje em dia no Brasil.



É curiosa a situação que vive hoje o Brasil.

Estamos em plena vigência de um Estado de Direito?

Ou de um “estado” de direita, que está nos levando, na prática, a um estado de exceção?

Afinal, no Estado de Direito, você tem o direito de ir e vir, de freqüentar um bar ou um restaurante, ou desembarcar sem ser incomodado em um aeroporto, independente de sua opinião.

No estado de direita, você pode ser reconhecido, insultado e eventualmente agredido, por um bando de imbecis, na saída do estabelecimento ou do avião.

No Estado de Direito, você pode cumprimentar com educação o seu vizinho no elevador, desejando-lhe um Feliz Ano Novo.

No estado de direita, você tem grande chance de ouvir como resposta: “tomara que em 2016 essa vaca saia da Presidência da República, ou alguma coisa aconteça com essa cadela, em nome do Senhor.”

No Estado de Direito, você pode mandar “limpar” o seu computador com antivírus quando quiser.

No estado de direita, você pode ficar preso indefinidamente por isso, até que eventualmente confesse ou invente alguma coisa que atraía o interesse do inquisidor.

No Estado de Direito, você tem direito a ampla defesa, e o trabalho dos advogados não é cerceado.

No estado de direita, quebra-se o sigilo de advogados na relação com seus clientes.

No Estado de Direito, a Lei é feita e alterada por quem foi votado para fazer isto pela população.

No “estado” de direita, instituições do setor público se lançam a promover uma campanha claramente política – já imaginaram a Presidência da República colhendo assinaturas na rua para aumentar os seus próprios poderes? – voltada para a aprovação de um conjunto de leis que diminui – em um país em que 40% dos presos está encarcerado sem julgamento – ainda mais as prerrogativas de defesa dos cidadãos.

No Estado de Direito, você é protegido da prisão pela presunção de inocência.

No estado de direita, inexistem, na prática, os pressupostos da prisão legal e você pode ser detido com base no “disse me disse” de terceiros; em frágeis ilações; do que “poderá” ou “poderia”, teoricamente, fazer, caso continuasse em liberdade; ou subjetivas interpretações de qualquer coisa que diga ao telefone ou escreva em um pedaço de papel – tendo tudo isso amplamente vazado, sem restrição para a “imprensa”, como forma de manipulação da opinião pública e de chantagem e de pressão.

No Estado de Direito, você pode expressar, em público, sua opinião.
No estado de direita, você tem que se preocupar se alguém está ouvindo, para não ter que matar um energúmeno em legítima defesa, ou “sair na mão”.

No Estado de Direito, os advogados se organizam, e são a vanguarda da defesa da Lei e da Constituição.

No estado de direita, eles deixam agir livremente – sem sequer interpelar judicialmente – aqueles que ameaçam a Liberdade, a República e os cidadãos.

No Estado de Direito, membros do Ministério Público e da Magistratura investigam e julgam com recato, equilíbrio, isenção e discrição.

No estado de direita, eles buscam a luz dos holofotes, aceitam prêmios e homenagens de países estrangeiros ou de empresas particulares, e recebem salários que extrapolam o limite legal permitido, percebendo quase cem vezes o que ganha um cidadão comum.

No Estado de Direito, punem-se os corruptos, não empresas que geram riquezas, tecnologia, conhecimento e postos de trabalho para a Nação.

No estado de direita, “matam-se” as empresas, paralisam-se suas obras e projetos, estrangula-se indiretamente seu crédito, se corrói até o limite o seu valor, e milhares de trabalhadores vão para o olho da rua, porque a intenção não parece ser punir o crime, mas sabotar o governo e destruir a Nação.

No Estado de Direito, é possível fazer acordos de leniência, para que companhias possam continuar trabalhando, enquanto se encontram sob investigação.

No estado de direita, isso é considerado “imoral”. Não se pode ser leniente com empresas que pagam bilhões em impostos e empregam milhares de pessoas, mas, sim, ser mais do que leniente com bandidos contumazes e notórios, com os quais se fecha “acordos” de “delação premiada”, mesmo que eles já tenham descumprido descaradamente compromissos semelhantes feitos no passado com os mesmos personagens que conduzem a atual investigação.

No Estado de Direito, existe liberdade e diversidade de opinião e de informação.

No estado de direita, as manchetes e as capas de revista são sempre as mesmas, os temas são sempre os mesmos, a abordagem é quase sempre a mesma, o lado é sempre o mesmo, os donos são sempre os mesmos, as informações e o discurso são sempre os mesmos, assim como é sempre a mesma a parcialidade e a manipulação.

No Estado de Direito você pode ensinar história na escola do jeito que a história ocorreu.

No estado de direita, você pode ser acusado de comunista e perder o seu emprego pela terceira ou quarta vez.

No Estado de Direito você pode comemorar o fato de seu país ter as oitavas maiores reservas internacionais do planeta, e uma dívida pública que é muito menor que a dos países mais desenvolvidos do mundo.

No estado de direita você tem que dizer que o seu país está quebrado para não ser chamado de bandido ou de ladrão.

No Estado de Direito, você pode se orgulhar de que empresas nacionais conquistem obras em todos os continentes e em alguns dos maiores países do mundo, graças ao seu know-how e capacidade de realização.

No estado de direita, você deve acreditar que é preciso quebrar e destruir todas as grandes empresas de engenharia nacionais, porque as empresas estrangeiras – mesmo quando multadas e processadas por tráfico de influência e pagamento de propinas em outros países – “não praticam corrupção.”

No Estado de Direito você pode defender que os recursos naturais de seu país fiquem em mãos nacionais para financiar e promover o desenvolvimento, a prosperidade e a dignidade da população.

No estado de direita você tem que dizer que tudo tem que ser privatizado e entregue aos gringos se não quiser arrumar confusão.
No Estado de Direito, você pode defender abertamente o desenvolvimento de novos armamentos e de tecnologia para a defesa da Nação.

No estado de direita, você vai ouvir que isso é um desperdício, que o país “não tem inimigos”, que as forças armadas são “bolivarianas”, que o Brasil nunca vai ter condições de enfrentar nenhum país poderoso, que os EUA, se quiserem, invadem e ocupam isso aqui em 5 minutos, que o governo tem que investir é em saúde e educação.

No Estado de Direito, é crime insultar ou ameaçar, ou acusar, sem provas, autoridades do Estado e o Presidente da República.

No estado de direita, quem está no poder aceita, mansamente, cotidianamente, os piores insultos, adjetivos, acusações, insinuações e mentiras, esquecendo-se que tem o dever de defender a Democracia, a liturgia do cargo, aqueles que o escolheram, a Nação que representam e teoricamente, comandam, e a Lei e a Constituição.

No Estado de Direito, você pode interpelar judicialmente quem te ameaça pela internet de morte e de tortura ou faz apologia de massacre e genocídio ou da quebra da ordem institucional e da hierarquia e da desobediência à Constituição.

No estado de direita, muita gente acha que “não vale a pena ficar debatendo com fascistas” enquanto eles acreditam, fanaticamente, que representam a maioria e continuam, dia a dia, disseminando inverdades e hipocrisia e formando opinião.

No Estado de Direito você poderia estar lendo este texto como um jogo de palavras ou uma simples digressão.

No estado de direita, no lugar de estar aqui você deveria estar defendendo o futuro da Liberdade e dos seus filhos, enfrentando, com coragem e informação, pelo menos um canalha por dia no espaço de comentários – onde a Democracia está perdendo a batalha – do IG, do Terra, do MSN, do G1 ou do UOL.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Haverá um dia sequer em que Dilma não errará?

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


Já a culparam pelos estádios e aeroportos não ficarem prontos a tempo para a Copa do Mundo.

Já tentaram carimbar na sua testa a palavra ''corrupta''.

Já quiseram meter-lhe um impeachment sem razão prevista na Constituição.

Um ex-presidente exigiu sua renúncia.

A novidade agora é culpar Dilma pela pior crise econômica que estamos vivendo na História.


Não que Dilma Rousseff nunca mereça críticas. Há casos em que merece sim.

Por exemplo, quando escreve artigo na Folha de São Paulo, jornal matreiro que se aproveita do convite feito à presidenta, atendido com cortesia, para inserir na primeira página a foto de um balão onde se lê ''fora Dilma, fora PT!''

É golpe. E rasteiro.

Mas é um erro de Dilma, também. Não precisa escrever para a Folha, escreva para os blogs que não vão lhe aplicar nenhum golpe.

Mas há críticas não merecidas também.

Recentemente Jaques Wagner, ministro da Defesa e Casa Civil criticou o governo pelo excesso nas desonerações. Lula também fez a mesma crítica recentemente.

Lula, no seu segundo mandato, zeloso quanto à crise econômica decorrente da falência do banco Lehmann & Brothers em 2008, desonerou vários produtos, passando assim quase que incólume pela marolinha enquanto o mundo inteiro enfrentava um tsunami. O ex-presidente foi aclamado internacionalmente pela sua visão bem mais ampla do que qualquer economista que teria adotado medidas recessivas.

Dilma atravessou seu primeiro mandato mantendo e até ampliando as desonerações, fazendo com que o Brasil, ao contrário dos países de primeiro mundo, atravessasse um período de calmaria e bem estar econômico.

Esse bom momento, que estava representado nos bons índices de aprovação do governo, de uma hora para outra, com as ''jornadas de junho'', acabou de maneira artificial quando a mídia se aproveitou do protesto inicial do Movimento Passe Livre e mudou totalmente o foco das manifestações a seu favor.

Pronto, agora Dilma era uma incompetente.

Para a mídia, a Copa do Mundo seria um fracasso, os estádios não ficariam prontos, os aeroportos não comportariam o número de turistas e as obras de mobilidade não se concluiriam.

A Copa foi um sucesso (menos o 7 a 1 para a Alemanha), mas isso não impediu que Dilma fosse vaiada e xingada de vaca na cerimônia de abertura.

A presidenta vence o pleito de 2014, sendo reeleita.

Passado um ano sem que houvesse um dia sequer de trégua por parte da mídia e da oposição que querem sua cabeça a qualquer custo, assistimos enfim uma crise econômica se desenhando.

Rebaixamento da nota de investimentos do Brasil, aumento no desemprego para 8,3%, corte de recursos e aumento de inflação para 9% ao ano.

Para aqueles que desde o governo Fernando Henrique, há 13 anos atrás, não sabem o que é uma crise econômica, esta é a primeira.

Não há portanto como avaliar, simplesmente por falta de uma referência.

Isto poderia ser resolvido com simples pesquisas no Google, mas a preguiça é tanta que os jovens preferem hoje somente ler as manchetes dos jornais que, malandramente, escondem os dados que poderiam servir como comparação.

Pior, a mídia alardeia esta como sendo a pior crise de nossa História. O desemprego é o maior, a inflação a maior, assim por diante.

Se tomarmos como referência o próprio governo FHC, veremos que o Brasil naquela época foi ao FMI três vezes, o desemprego atingiu 15% e a inflação 12,5%.

Se formos mais para trás, no governo Sarney, embora o desemprego fosse baixo, 2,9%, a inflação chegou a insuportáveis 1764%! Dá para imaginar o que é uma crise de fato?

Voltando a Wagner, Lula e muitos outros, inclusive blogueiros de esquerda, que já criticaram a presidenta sobre o exagero nas desonerações, afirmo que estão entrando no jogo da mídia e da oposição que tenta desqualificar Dilma como se ela não fosse uma boa gerente.

A imprensa tenta desconstruir a imagem de boa gerente que a presidenta tem ao forçar a barra em questões como aquela da mandioca ou mesmo da acumulação de energia eólica que, como já vimos, têm explicações fora da caixinha da mídia.

Logicamente há que reconhecer que do ponto de vista político e de oratória ela é uma negação, mas sua qualidade justamente é ser uma boa técnica, haja vista sua atuação enquanto ministra de Minas e Energia no governo Lula.

Mas isso não é motivo para um golpe, como quer o derrotado Aécio Neves.

Política econômica não é uma ciência exata em que se pode prever os resultados de um equacionamento.

As variáveis são tantas, políticas, internacionais, estruturais, financeiras, que as melhores medidas a serem tomadas são aquelas que são tomadas no momento em que se precisa decidir.

E foi o que Dilma fez.

Afirmar, passados alguns anos, que ela errou é ser no mínimo leviano.

O mais honesto seria dizer que as medidas não surtiram o efeito esperado.

Um currículo não se destrói sorrateiramente.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Diário de um ano mau

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


2015 foi um mau ano, mas 2016 pode começar bem, com a prisão de Eduardo Cunha e com o governo tendo enfim liberdade para retomar o crescimento.

Parodiando o título, somente o título do livro Diário de um Mau Ano do escritor sul-africano J. M. Coetzee, resolvi escrever este Diário de um ano mau.

2015 já vai tarde, vamos combinar.

O ano mau poderia ter começado na manhã de 1° de janeiro com uma topada no pé mas preferiu iniciar no dia 2 com o pedido de cassação da candidatura de Dilma Rousseff junto ao TSE, Tribunal Superior Eleitoral, feito pela oposição encabeçada pelo derrotado, Aécio Neves.

O TSE já havia aprovado as contas de campanha da presidenta por unanimidade mas os tucanos deram o tom do que viria a ser o ano.

A decepção com Dilma veio em seguida. Ao nomear um neoliberal ligado ao deus mercado, o querubim Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, a reeleita deu um cavalo de pau de 180° da esquerda para a direita.

Talvez a intenção fosse acalmar os ânimos da classe média que começava a pedir sua cabeça, insuflada por Aécio e Aloysio Nunes, pela mídia e por grupelhos formados na internet, financiados pelos americanos irmãos Koch e por Paulo Lemann, dono da Imbev.

Em março milhares de pessoas saíram às ruas no Brasil inteiro exigindo o impeachment da presidenta e intervenção militar.

O desconhecimento da Constituição por parte dos manifestantes demonstrou que estes não se dão ao trabalho de ler a Carta, mesmo ela estando disponível para consulta na internet. E se leem, têm uma interpretação de texto bastante peculiar.

O mesmo vale para os que querem a intervenção militar. Reclamam que vivemos sob uma ditadura que lhes permite atentar contra o governo. Chamam os que sofreram torturas e morte nos porões do regime, de terroristas, esquecendo-se que hoje podem sair às ruas exatamente porque aqueles abnegados lutaram por isso.

O ano mau revelou também uma Operação Lava Jato especializada em investigar e prender de maneira seletiva, prendendo a toque de caixa nomes petistas como Dirceu e Vaccari e se negando a sequer investigar Aécio Neves citado pelo delator Alberto Youssef como beneficiário do esquema de propinas de Furnas.

O ano mostrou ainda que além da Lava Jato, há muito mais corrupção sendo investigada pela Operação Zelotes, que a mídia esconde da população por também estar envolvida e o propinoduto de São Paulo que envolve o alto tucanato de colorida plumagem, que segue sendo investigado na Suíça, já que no Brasil não há a mesma disposição.

Além disso, a cereja do bolo foi a revelação de quatro contas na Suíça pertencentes ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha e família.

Cunha havia negado a existência das contas. Após a comprovação vinda da Suíça, já há razões para sua cassação por falta de decoro parlamentar, mas ele, justamente por ser o presidente, conseguiu manobrar como quis e o desfecho dessa situação fica mesmo para 2016. Se fosse petista já estaria preso há dois meses.

2915 também foi o ano em que os fascistas resolveram dar o ar de sua graça, insultando ex-ministros, um petista já no seu caixão e compositor patrimônio do Brasil, Chico Buarque. A reação a esse tipo de intolerância já vem se esboçando e para 2016 espera-se que haja mais respostas a essas agressões, como o rolezinho com Chico no Rio, um grande sucesso.

O país agora segue rumo a 2016 em meio a uma crise econômica que afeta o mundo todo, mas que foi aumentada exponencialmente pela sabotagem da oposição que não deixou Dilma governar um instante sequer. O senador Aloysio Nunes havia cantado a bola e a caçapa no início do ano afirmando que sangraria Dilma até 2018.

Mas, como nem tudo que é mau é somente mau, todo esse peso que Dilma carregou nos ombros pelo menos serviu para demonstrar três coisas:
1) Dilma não tem contra si nenhuma acusação de corrupção.
2) Dilma não interferiu sequer uma vez na conduta do Ministério Público, da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal.
3) Aécio Neves, caso tivesse sido eleito, já teria feito tantas patacoadas que não pode mais ser levado à sério.

Esperemos que 2016 seja um ano bom. E ele pode começar justamente com a prisão de Cunha.

Feliz 2016 para todos nós.




terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Macri, Aécio e o trator neoliberal

Por Fernando Castilho





Mauricio Macri assumiu o governo da Argentina com a faca neoliberal entre os dentes.
Vai passando o trator em tudo que os Kircher fizeram ao longo de anos de governo, fazendo o país voltar aos tempos em que era dominado por uma elite retrógrada.
No Brasil, caso Aécio Neves vencesse, estaríamos numa crise muito pior, mas estejam certos de que a mídia nos faria acreditar que tudo estaria muito bem, obrigado.


Em 2014 Dilma Rousseff foi reeleita presidenta com 54,5 milhões de votos. O candidato derrotado, Aécio Neves, obteve 51 milhões. A diferença, embora seja considerada pequena, equivale à população inteira do Uruguai.

Há muito tempo que o PT, partido de Dilma, não é de esquerda, na pura definição da palavra, porém, são notáveis os avanços nas políticas sociais dos últimos 13 anos.

Mas há obrigatoriamente que se considerar que ao iniciar o novo governo em 2015, houve uma clara guinada à direita com a nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda, nome que se encaixaria perfeitamente num governo neoliberal de Aécio.

Não se sabe se Levy entrou para apaziguar os ânimos de uma direita que desde o anúncio da vitória de Dilma já pedia seu impeachment sem nenhum motivo, ou se a presidenta realmente achava que naquele momento ele era necessário.

Pois bem, Levy já pegou seu boné e o governo Dilma, agora mais tranquilo com o impeachment se distanciando no horizonte, dá ares de que tenderá um pouco mais à esquerda.

Mas se Aécio perdeu no Brasil, seu ''alter-ego'', Mauricio Macri, venceu Cristina Kirchner na Argentina.

Podemos muito bem olhar para a Argentina e ver o que Aécio Neves faria no Brasil caso tivesse sido eleito.

Após 13 anos de PT no Palácio da Alvorada, a direita representada pelos partidos de oposição, entre eles PSDB e DEM e a grande mídia estão com a faca entre os dentes.

Esforçaram-se para que grande parte da população grite ''FORA PT'', fazendo com que, aos olhos dela, que não percebe a jogada midiática, cada petista aparente ostentar um carimbo ''CORRUPTO'' na testa.

Nisto, o colunista Reinaldo Azevedo se esmerou cunhando o termo ''petralha''.

Quem consegue se libertar desses grilhões e se informa em outras fontes sabe que dentre os políticos corruptos envolvidos na Lava Jato, os petistas são minoria. Fora os tucanos que são blindados e nunca são presos.

Caso Aécio Neves vencesse no Brasil, a mídia faria uma grande festa assim como aconteceu na Argentina com a vitória de Macri.

Ao mesmo tempo, Aécio respaldado por essa mídia daria vazão a todas as taras neoliberais reprimidas em 13 anos.

Macri assumiu o governo e já tratou de nomear juízes que lhe garantirão apoio no Supremo por decreto, algo que se Dilma fizesse, seria crucificada. Mas a imprensa de lá e também a de cá não abriram o bico.

Macri também desvalorizou o peso em 40%, o que já está causando grande aumento dos preços dos produtos e acabará por gerar inflação. Quem pagará o pato será o povo. O que diria a Fiesp por aqui?

Macri acabou com o órgão responsável pela regulação da Lei de Meios, desalojando com força policial seu presidente. Afirma que por enquanto a Lei continua, mas certamente ela já está com seus dias contados. Porque o acordo com a grande mídia já foi feito antes das eleições.

Além disso tudo, Macri acabou com a Senado TV, um importante canal para que as pessoas se informassem sobre o desempenho de seus senadores, violando o convênio com o Parlatino (Parlamento Latino-Americano), organização regional de Parlamentos, que possui o canal Parlatino Web TV.

Ou seja, Macri está indo com tudo, assim como Aécio também faria.

O povo na Argentina já começa a perceber em que pau amarrou sua égua e os protestos já começam a pipocar, sendo repreendidos pela polícia.

Enquanto isso, as mídias argentinas e brasileiras não se cansam de euforicamente destacar os grandes feitos do novo presidente, escondendo os fatos negativos.

Dilma e o PT não são nenhuma maravilha, mas certamente com a oposição no poder as coisas certamente seriam piores.

Logicamente não se deseja uma perpetuação do PT no poder, mas sim o prosseguimento de uma política direcionada preferencialmente aos pobres.

O desejável seria até que uma nova força política genuinamente de esquerda se formasse, mas enquanto isso não acontece, o PT é o que temos para hoje.


sábado, 26 de dezembro de 2015

Paulo Cavalcanti: A carga tributária brasileira: uma falácia

Por Paulo Cavalcanti em seu blog http://bogdopaulinho.blogspot.jp/

Gráfico: IPEA


Este blogueiro, quer hoje, falar um pouco da folclórica “maior taxa de impostos do mundo” atribuídas ao Brasil, em verso e prosa, por quase todos os empresários por todos os jornais, sempre que o assunto é carga tributária.

Os brasileiros, são pródigos em reproduzir aquilo que a mídia (quer), ou seja, as pessoas são crentes de quase tudo que os jornais escritos, falados e televisivos dizem. Sempre citam esses meios de comunicação, como “fontes” em seus argumentos, seja em conversas de bar, nas esquinas, ou mesmo no almoço em família, quase sempre sem questionamentos ou crivos, esses jornais são citados.

Este blogueiro, quer hoje, falar um pouco da folclórica “
maior taxa de impostos do mundo” atribuídas ao Brasil, em verso e prosa, por quase todos os empresários por todos os jornais, sempre que o assunto é carga tributária. Para "desfolclorizar" a paródia, pesquisas internacionais, comprovam que o Brasil, é o 11º país do mundo, na escala de impostos, relativos ao Produto Interno Bruto (PIB). Veja a pesquisa "Worldwide tax revenue 2010" aqui: http://migre.me/5VLZS

A maior prova que no Brail, rico paga muito pouco, ou nada de impostos, é que o Imposto Territorial Rural - ITR arrecadado em todo o ano de 2007 e em todo território nacional, foi menor do que dois meses de arrecadação do IPTU da cidade de São Paulo. Falando somente deste tributo, fica aqui claramente constatado, o que não acontece com relação aos demais impostos.

Nesta semana, o IPEA, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, através de declarações de seu presidente, o economista e professor Márcio Pochmann, declarou que, a arrecadação tributária no Brasil, que em 2010 representou 33,56% do PIB (segundo dados da Secretaria da Receita Federal), é concentrada no consumo. Assim, um cidadão que tem renda de um salário mínimo por mês, embora não tenha Imposto de Renda descontado no holerite, sofre no preço do pãozinho e do leite a mesma tributação que o bilionário Eike Batista.

Os tributos sobre bens e serviços representaram 16,3% do PIB, enquanto os tributos sobre folha de pagamentos corresponderam a 8,78% e sobre a renda, a 6,18% (sobre transações financeiras, a 0,72%).

Ainda segundo o IPEA, pesquisas demonstram claramente a situação de discrepância tributária, entre ricos e pobres, comprovando com números que um trabalhador que recebia até dois salários mínimos precisava trabalhar 197 dias (seis meses e dezessete dias), para pagar tributos, enquanto outro que ganhava mais de 30 precisava de três meses a menos de trabalho, ou exatos 106 dias.

Já o consultor Amir Khair, mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra em artigo na Revista do Brasil, que o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) está previsto na Constituição de 1988, mas depende de lei complementar nunca aprovada. “O IGF poderia ser cobrado de forma progressiva, arbitrando-se um nível mínimo de isenção”, sugere. “O imposto sobre o patrimônio é cobrado com sucesso há vários anos na França, Espanha, Grécia, Suíça e Noruega. Não deu certo em alguns países, como Áustria, Dinamarca, Alemanha, Finlândia e Luxemburgo, mas pode dar certo no Brasil. Só saberemos se o testarmos.”

Essa transfusão de sangue, do doente para médico, acontece porque, cerca de 50% da nossa carga de impostos é indireta, isto é, incide sobre o consumo, atingindo indiscriminadamente toda a população, independentemente da renda e da riqueza de cada um. A cobrança da maioria dos tributos vem embutida no preço final das mercadorias. Vejamos um exemplo significativo, publicado no jornal Valor Econômico de hoje: Um cidadão que ganha R$ 1 mil por mês e coloca R$ 100 de gasolina no tanque do seu carro está pagando R$ 53 de impostos. Enquanto outro que ganha R$ 30 mil e abastece o tanque pelo mesmo valor também paga os mesmos R$ 53, levando isso à injustiça apontada.

Esses dados confirmam que nos países desenvolvidos há muito mais justiça tributária que no Brasil. Ainda nessa matéria do Valor Econômico, eles citam exemplos ilustram as diferenças entre aqueles países e o Brasil. Na Inglaterra, o imposto sobre a herança é cobrado há mais de 300 anos. Quando da morte da princesa Diana, em 1997, os jornais noticiaram que o fisco inglês cobrou de sua herança o imposto de US$ 15 milhões, metade dos US$ 30 milhões deixados para seus filhos. Naquele país, a taxação é apoiada até mesmo pelos conservadores.

Enquanto em Pindorama, há mais de uma década, esse assunto apodrece nas gavetas do Congresso, afinal, eles entendem que 500 anos de vassalagem, com 400 de colônia, foram pouco, ainda querem mais um pouquinho.

Afinal, "elite" atrasada como aqui, não deve haver paradigma no mundo todo.



quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

E então é Natal...

Por Fernando Castilho





Três filósofos definiram o que é amor.
A melhor definição foi Jesus quem nos ofereceu.
Mas será que essa definição é a que praticamos em nosso dia a dia?



O filósofo grego, Platão, definiu o amor como desejo. Se você deseja muito alguém, mas ainda não é correspondido, então você está amando. Daí a expressão ''amor platônico'', um amor à distância.

Porém, uma vez que esse amor passa a ser correspondido, para Platão, ele acaba.

Outro filósofo grego, Aristóteles se contrapõe a Platão insistindo que amor é alegria.

Quando você é correspondido pela pessoa amada, você fica feliz e isso lhe traz alegria. Ou seja, você tem que estar junto a quem ama para sentir alegria.

Um terceiro filósofo chamado Jesus de Nazaré, mais tarde chamado de o Cristo, mostrou ao mundo a melhor definição de amor. O amor, para Jesus, é universal. Deve-se amar aos outros como a si mesmo. Amar família, amigos, animais de estimação, sua banda favorita, sem esperar nada em troca. Por amor, ao receber um tapa, deve-se oferecer a outra face. Por amor você deve ajudar os que mais necessitam.

Hoje em dia a isso se chama amor pela humanidade.

Essa mensagem se espalhou durante dois mil anos e ainda se espalhará por outros milênios.

Jesus foi crucificado justamente por pregar essa mensagem que contém implicitamente outra de muito maior alcance e quase sempre escondida pelos agentes da fé: a de que todos os homens são iguais...

Jesus, um homem que teve história se tornou para a Igreja somente o filho de Deus.

Esperem. Antes de se revoltarem e pararem de ler o texto, explico.

Durante dois milênios os homens preferiram somente alardear ao mundo a divindade do homem de Nazaré. Jesus foi aquele filho de Deus que veio ao mundo para morrer na cruz, redimindo os pecados e salvando assim a humanidade.

Embora grandiosa, é praticamente só essa mensagem que à igreja, seja ela católica e mais tarde protestante, interessa passar aos homens. Jesus é certamente muito mais que isso.

Naqueles tempos, Jesus era um homem descontente com as injustiças e a iniquidade praticadas pela elite governamental local, o Sinédrio.

A Judeia era um estado teocrático dominado pelo Império Romano que tolerava a religião local.

Em verdade vos digo que os sacerdotes do Sinédrio eram homens abastados e poderosos que a cada dia mais enriqueciam às custas de um empobrecimento geral da população.

Jesus, ao pregar a igualdade entre os homens, ao curar leprosos, ao salvar prostitutas do apedrejamento, ao expulsar os vendilhões do templo que majoravam os preços dos cabritos obrigatoriamente consumidos durante a Páscoa e ao viver da caridade, causou alvoroço entre seus próximos que passaram a ter uma esperança de melhora de vida.

A elite local ficou assustada e viu naquele homem um revolucionário perigosíssimo que poderia levar as massas a ameaçar seu poderio.

Capturá-lo e entregá-lo ao governador romano Pôncio Pilatos foi fácil após a traição de Judas por 30 dinheiros.

O populacho, que ainda não havia sido influenciado por Jesus, preferiu apoiar os poderosos, exigindo a crucificação do homem de Nazaré ao mesmo tempo que pedia a libertação do bandido Barrabás, que hoje se supõe um zelota, uma espécie de ''terrorista'' entre os muitos que praticavam necessária resistência contra o Império.

Durante dois milênios a História assistiu a repetição desses acontecimentos em graus variados de semelhança, porém sempre mantendo a mesma essência: uma pessoa ou um grupo de pessoas sendo massacrado por uma elite dominante, somente por reivindicar maior justiça social.

E então é Natal, como canta Simone.

A data, inicialmente comemorativa do deus Sol, ou o Solstício de inverno foi adotada pelos romanos porque aqueles que levaram o cristianismo à Roma, imaginaram que assim a filosofia seria melhor aceita.

Em uma espécie de delírio ou desatino coletivo saímos a comprar, comprar e comprar.
Dizem que é isso que aquece a economia e gera empregos.

Mas é exatamente isso que alimenta a elite. A mesma que vê com desdém e até mesmo ódio políticas públicas de erradicação da miséria. Aquela mesma elite daqueles tempos.

O Natal é cultuado pelo capital, os atuais vendilhões do templo.

Abraçamo-nos uns aos outros, enviamos mensagens de carinho, somos até sinceros e verdadeiros nessas horas, mas não temos maiores compromissos com as pessoas. Formalidades apenas.

Festejamos, nos empanturramos com a comida e a bebida, nos abraçamos e nos beijamos, tudo em família. Mas nos esquecemos completamente do aniversariante e daqueles que não têm o que comer. Não somos fraternos nem iguais.

Exatamente na contra-mão dos ensinamentos de Jesus.

É aí que percebemos que Aristóteles afinal, é quem tinha razão.

O objetivo do amor é nos tornar alegres.

E somos, por algumas horas.


Feliz Natal!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Não, o grupo não atacou o partido. Atacou Chico

Por Pablo Villaça



Os veículos de comunicação brasileiros estão esperando alguém morrer graças ao clima de ódio que ajudam a criar. Aí, então, começarão a publicar matérias sobre "tolerância" pra se isentarem de culpa.


Em um momento de lazer, Chico Buarque de Hollanda foi cercado no meio da rua por um grupo de jovens ligados ao PSDB e insultado por "defender o PT".

Aparentemente, estes projetos de fascistas não compreendem que TODOS temos o direito de expressar nossas opiniões políticas, agradem estas ou não. Chico, que nem político é, foi agredido por se manifestar como cidadão - algo que os veículos da mídia manchetearam como (acreditem) "Chico bate boca defendendo o PT no meio da rua: cantor retrucou grupo que atacou o partido".

Não, jornalixo brasileiro, o grupo não "atacou o partido"; atacou CHICO num momento de lazer e no meio da rua. E ele não "bateu boca pelo PT"; foi cercado e insultado por estranhos e defendeu sua posição ideológica.

O cara é um patrimônio cultural do país, um senhor de mais de 70 anos de idade, é cercado e insultado por um bando de moleques fascistas e a mídia trata isto não só com normalidade, mas ainda tentando atribuir a ELE a falta de civilidade da situação à qual foi submetido.

Os veículos de comunicação brasileiros estão esperando alguém morrer graças ao clima de ódio que ajudam a criar. Aí, então, começarão a publicar matérias sobre "tolerância" pra se isentarem de culpa. (Não à toa, um colunista demitido de Veja publicou foto malhando e dizendo que se preparava para a "única forma de dialogar com petista", num estímulo irresponsável à violência e à agressão como forma de "debate".)

A verdade é que esses caras têm alma fascista. Não suportam mais a distância do poder e usam "corrupção" como um chavão que disfarça seu propósito real: o não à inclusão social.

Se a questão fosse mesmo "corrupção", não abraçariam Cunha como aliado. Protestariam também contra a privataria tucana, o aecioporto e a roubalheira no metrô de São Paulo.

Mas não, o panelaço é seletivo: Alckmin pode fechar 100 escolas; Haddad não pode abrir a Paulista. São milhões de Cunha; já Chico é um "merda".

Aplaudem Macri na Argentina, que indica ministro de Supremo por decreto, mas atacam o STF brasileiro por defender a Constituição numa interpretação que ganhou apoio de praticamente todos os juristas de relevo ao barrar os abusos do presidente da Câmara.

Acham absurdo o bolsa-família que ajuda o povo mais pobre a COMER, mas aplaudem que os ricos paguem impostos ridículos, significativamente menores do que o restante da população.

Querem uma desregulamentação completa do mercado e depois vêm colocar avatarzinho triste por Mariana.

Dizem que vivemos numa "ditadura petista" enquanto cercam um músico de 71 anos na rua para insultá-lo por se expressar como cidadão.

Saem pedindo impeachment no aniversário do AI-5 e se espantam quando são chamados de golpistas.

Acusam a esquerda de "burrice", mas usam "pão com mortadela" e "chola mais" como argumento.

Abraçam a bandeira brasileira e colocam "PATRIOTA!!!" na bio, mas são os primeiros a diminuir o país num viralatismo constante diante do mundo, além de adorarem falar mal do Cinema brasileiro - que conhecem só de ouvir falar.

Amam quando um comediante chama negro de "macaco", gays de "vitimistas" e mulheres de "vadias", mas dizem que os homens brancos cis heterossexuais sofrem preconceito.

Dizem que a esquerda prega "luta de classes", mas chamam esquerdistas de "pão com mortadela" e "esquerda caviar".

Adoram se dizer éticos, mas acham natural que o líder do MBL peça doações em sua conta pessoal.

Acham certo a PM espancar manifestantes (mesmo adolescentes), que chamam de "vagabundos", mas só conhecem a PM que tira selfie na Paulista.

Por isso tenho orgulho de ser de esquerda. De fazer críticas ao governo que se afastou dos movimentos sociais, mas de defendê-lo contra o golpe - pois, mesmo com todas as suas graves falhas, AINDA enxergo nele uma preocupação com os excluídos sociais que JAMAIS serão abraçados por esta oposição.

Uma oposição que prega que quem manda é o "deus mercado". Não, me desculpem, mas prefiro bem mais quem enxerga no desenvolvimentismo a opção mais humana.

Para encerrar - e com a maquiagem borrada pelas lágrimas - digo: "LEAVE CHICO ALONE!".

E viva o debate saudável.


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Ao espírito de Star Wars, um texto muito maniqueísta

Por Fernando Castilho





Como Anakin Skywalker, todos desejaram ser maiores do que eram.

Numa analogia com o mito cristão-judaico da criação, como Lúcifer, todos ousaram ser mais luminosos que o Criador.


Nestes tempos de Star Wars poderíamos pensar que todos aqueles figurões (jedis?) que um dia perfilaram nas fileiras do PT ou participaram de um governo federal do PT e que acabaram por sair rancorosos, indo para o outro lado (da Força?) transformaram-se em Darth Vaders por aí.

Dentro de um modo maniqueísta e fantasiosa de ver as coisas, já que não afirmo aqui que o PT seja o lado bom da Força (não a do Paulinho), ok?

Mas se a fantasia imita a vida, a vida também pode imitar a fantasia, não é certo?

Vejam só, Hélio Bicudo, Marta Suplicy, Marina Silva, Cristovam Buarque e, por que não citar também Michel Temer? Todos eles saíram rancorosos do PT ou do governo. A lista é enorme, (Heloísa Helena, Eduardo Jorge, etc.) mas vamos nos concentrar nestes que já está de bom tamanho.

O que une todos esses nomes tão diferentes, além do rancor comum a todos eles?

Ambição pelo poder. e inveja.

Como Anakin Skywalker, todos desejaram ser maiores do que eram.

Numa analogia com o mito cristão-judaico da criação, como Lúcifer, todos ousaram ser mais luminosos que o Criador.

Maniqueísmo demais? Vejamos.

O jedi Hélio Bicudo, vinha de uma luta feroz contra os sith que compunham o Esquadrão da Morte. Derrotou a todos, inclusive seu líder, o delegado Fleury, torturador na ditadura.

Após ganhar certa fama no PT, imaginou que poderia chantagear o presidente Lula e que este, em troca iria conceder-lhe mais poder dentro da sigla. Não conseguiu e saiu do PT, rancoroso.

Poderia chamar o PT de Conselho dos Jedi ou Lula de Mestre Yoda, mas não vamos ser piegas pois todos estão muito longe dos altos ideais daqueles cavaleiros. Procuro não ir longe demais na analogia com a franquia para que não fique chato demais.

Marta Suplicy fez uma boa gestão à frente da Prefeitura de São Paulo, virou senadora e ministra mas não repetiu o mesmo êxito e a fama. Imaginou-se uma princesa Leia quando quis voltar a disputar o cargo mas perdeu para Fernando Haddad. Na impossibilidade de disputar a prefeitura em 2016 pelo PT, bandeou-se para o PMDB, sentando-se ao lado do trono de Cunha Vader. (concedam-me esta licença)

Marina Silva é outro caso de síndrome de princesa Leia.

Foi ministra do Meio-Ambiente. Não conseguiu muito êxito à frente do ministério em parte por um certo descaso de Lula que queria porque queria desenvolvimento rápido para o Brasil, o que acabou por se chocar contra as políticas ambientalistas. Mas também em grande parte pela sua falta de foco e de tomada de decisões, sua hesitação em vários momentos e uma certa visão ''poética'' em relação à um tema tão complexo.

Saiu do PT com uma grande dose de rancor e ciúmes da então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, a preferida de Lula. Disputou a presidência justamente com ela em 2010 e perdeu.

Novamente em 2014 mediu forças com Dilma, perdendo novamente no primeiro turno.

Não se fez de rogada e passou, aí sim, para o lado escuro da Força, Aécio Neves, no segundo turno.

Digo ''aí sim'' porque, mesmo que com visão maniqueísta, como queiram, considero que, por estar há um ano tentando derrubar uma presidente eleita democraticamente além de sabotando o governo, criando crise política destinada a aumentar a crise econômica que prejudicará mais aos pobres, Aécio Neves, hoje, é certamente o lado escuro da política.

Michel Temer, ao escrever uma carta endereçada a Dilma, demonstrou também todo seu rancor por deixar de ser o que nunca foi, protagonista no governo. Um imperador Palpatine bem menos talentoso em seu golpismo, vamos dizer.

E por fim, agora aparece Cristovam Buarque reclamando com o presidente de seu partido, o PDT, por estar sendo preterido como o candidato da legenda à presidência em favor de Ciro Gomes, recém-chegado.

Como se sua relativa antiguidade dentro do partido lhe conferisse a primazia automática de ser seu candidato. Um predestinado, em sua visão.

Cristovam Buarque foi ministro de Educação no primeiro governo Lula.

Em 2004, enquanto cumpria férias em Portugal, foi demitido do cargo por telefone pelo então presidente.

"Quero ministros para apresentar resultados, não para ficar com tese, com conversa'', teria dito Lula, já cansado de muita retórica e poucos resultados.

Buarque então saiu do PT, para variar, rancoroso e foi para o PDT.

Sua vaidade agora aflora novamente.

Precisamos unir o país.

Precisamos combater a crise e não aumentá-la.

Precisamos de menos vaidades e mais altruísmo.

Precisamos que essas figuras matreiras sejam excluídas pelos leitores, democraticamente, da vida política do país.

Precisamos que essa força desperte, enfim.