segunda-feira, 30 de maio de 2022

Bolsonaro e a luta do bem contra o mal

Por Fernando Castilho


Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo


 Se há instituições corrompidas no Estado, as polícias, pelo seu aparelhamento, são as campeãs. E as mais perigosas porque portam armas.


Todos acompanhamos, num misto de incredulidade e horror a execução do sergipano, Genivaldo de Jesus Santos e muita gente já escreveu sobre o ocorrido.

Tentarei não ser mais um, somente.

A índole cruel e opressora do Estado sempre acompanhou a evolução do ser humano. Algumas vezes ela recua, outras épocas, recrudesce.

O recrudescimento se deu durante a Santa Inquisição, a Segunda Guerra Mundial – quando foram executados mais de seis milhões de judeus, a maioria em câmaras de gás como a que encerrou a existência de Genivaldo – e, parece que volta, após uma pausa, ao mundo e, lógico, também ao Brasil comandado por Jair Bolsonaro.

Não à toa o mandatário da nação procurou minimizar o crime defendendo hoje a PRF (Polícia Rodoviária Federal) e dizendo querer “justiça sem exageros”.

Mas, o que seria uma justiça sem exageros? A mesma que os policiais fizeram com Genivaldo? Uma barbárie?

Continuou: “Sem exageros e sem pressão por parte da mídia, que sempre tem um lado: o lado da bandidagem. Como lamentavelmente grande parte de vocês [jornalistas] se comportam, sempre tomam as dores do outro lado. Lamentamos o ocorrido e vamos com seriedade fazer o devido processo legal para não cometermos injustiça e fazermos, de fato, justiça".

Ora, ora, ora. Lógico que o capitão poupa a PRF porque tem entre seus agentes muitos eleitores. Ou seja, Bolsonaro usa a morte de Genivaldo pra fazer campanha eleitoral. E trata a vítima como bandido, sendo que bandidos foram os que a assassinaram.

Sergio Moro, o atual ex-tudo, também se manifestou sobre o fato de maneira cínica ao condenar a ação da PRF, ele que defende a excludente de ilicitude que nada mais é do que atirar primeiro e depois perguntar, o mesmo que os agentes fizeram, apesar de utilizarem gás lacrimogênio e não armas de fogo.

O fato é que há algo de podre, não só nessa corporação, mas nas polícias em geral, haja vista a chacina cometida pela Polícia Militar do Rio de Janeiro quando matou mais de vinte pessoas na Vila Cruzeiro.

Vejam que até surgiu um vídeo de um professor de cursinho preparatório para concurso da PF ensinando a tortura com gás lacrimogênio dentro da viatura como método de amansar os presos mais exaltados.

Se há instituições corrompidas no Estado, as polícias, pelo seu aparelhamento, são as campeãs. E as mais perigosas porque portam armas.

Muito se fala que, caso o capitão não vença as eleições, poderá tentar um golpe, mas não conseguirá contar com a totalidade das Forças Armadas.

Na verdade, o que se observa é um movimento do capitão para conseguir apoio das polícias, embora isso também pareça um tanto distante no horizonte.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, afirmou apenas que a "apuração será a mais breve possível", mas a PF já adiantou que o inquérito para apurar responsabilidades só estará concluído em 30 dias. Um caso que é um flagrante. Lógico que a expectativa é de que nesse prazo o caso seja esquecido pela imprensa e por nós.

Toda essa onda de barbáries cometidas quase todos os dias, que já começam a ser naturalizadas pela mídia e até por nós que não fomos capazes de sairmos às ruas como os americanos fizeram quando da execução por métodos semelhantes de George Floyd, é responsabilidade daquele, que na condição de chefe maior da nação, prega a violência, o armamento da população e a falta de empatia.

O país não suportará mais quatro anos de processo de destruição das instituições, dos direitos humanos e da civilização.

É preciso um outro Brasil para nossos filhos e netos, um Brasil de respeito ao ser humano, seja branco ou negro, como Genivaldo.

É urgente uma mudança.


quinta-feira, 26 de maio de 2022

Lula. Vitória no primeiro turno?

Por Fernando Castilho




A nova pesquisa Datafolha crava Lula com 48%, o capitão com 27% e Ciro Gomes mantendo os seus 7%. O que isso significa?


Depois de dias muito ruins e tristes quando a polícia carioca chacinou 26 pessoas e a Polícia Rodoviária Federal exterminou um homem numa câmara de gás improvisada no porta-malas de uma viatura em Sergipe, enfim, uma notícia boa para todos que não veem a hora de uma guinada nesse inferno em que nosso país vem se tornando nestes tempos de Bolsonaro.

A nova pesquisa Datafolha crava Lula com 48%, o capitão com 27% e Ciro Gomes mantendo os seus 7%. Simone Tebet, a grande esperança de terceira via dos veículos de imprensa, não sai dos 2%. Os demais candidatos têm resultados pífios.

Com esses índices, por enquanto, Lula vence no primeiro turno sem precisar do coronel Ciro. Ainda bem.

Observando a pesquisa com mais racionalidade, é de se perguntar o motivo dessa súbita subida do ex-presidente e por que ela não se refletiu nas demais pesquisas que saíram no últimos dias. O dois únicos fatos novos foram o lançamento de sua pré-candidatura e seu casamento com direito à capa da revista Caras.

Outra possibilidade é a de manipulação de dados com a intenção de fazer a coordenação da campanha relaxar, embarcando no Já ganhou, mas isso seria apenas teoria da conspiração.

Analisando alguns detalhes, constatamos que Lula vence fácil entre os jovens de 16 a 24 anos (58 a 21%), entre as mulheres (49 a 23%), entre quem só tem o ensino fundamental (57 a 21%), entre quem tem renda familiar até dois salários mínimos (56 a 20%) e quem está desempregado (57 a 16%).

O petista tem procurado se comunicar com os jovens, talvez seguindo o conselho dado por Mano Brown em seu podcast.

Quanto às mulheres, todos sabemos que esse não é terreno fértil para o capitão que as odeia.

Analisando os índices dos que têm menos escolaridade, recebem menor salário e estão desempregados, percebemos que o eleitoreiro Auxílio Brasil de chabu. Falta emprego, comida, gás e gasolina. Não adianta o parvo presidente alegar em seu cercadinho que a culpa é da pandemia e da guerra da Ucrânia. Todos sabem que ele é responsável.

Esse dados serão muito importantes para a coordenação da campanha de Lula traçar as próximas estratégias.

Vale a pena agora se concentrar nos nichos onde ele não vence, como evangélicos, empresários e quem tem renda superior a 10 salários mínimos?

Na humilde opinião do blogueiro, a pesquisa pode servir para balizar, mas como em time que está ganhando não se mexe, acho que a estratégia deve continuar a mesma.

Lula não precisa falar ao mercado.

Não precisa ceder à vontade da imprensa que fala todo santo dia em privatizar.

Se falou que poderia rever a reforma trabalhista, o que convulsionou a imprensa, deve manter o mesmo discurso, se isso constar do programa de governo.

Lula só agora começará a viajar pelo país, ao contrário do adversário néscio que já está há meses viajando em campanha com o dinheiro público.

Ademais, quando o horário eleitoral chegar, todas as maldades cometidas pelo inominável serão relembradas para quem já se esqueceu.

Lula só não vence no primeiro turno se alguma arapuca estiver sendo preparada pela campanha do miliciano.

Mas vamos em frente, confiantes.

Sigamos sem medo de sermos felizes, pois se Lula de nó precisar, estaremos ao seu lado.


FHC, um bispo no xadrez de Lula?

Por Fernando Castilho




Não tenhamos dúvidas que no ninho voariam asas pra todos os lados, já que Aécio, ao que parece, já está definido para o lado bolsonarista


Não é um xadrez como nós o conhecemos. É um xadrez político.

Lula se movimenta em direção a FHC, um possível bispo utilíssimo na cruzada que enfrentamos para profligar o tirano. Vai pedir para tentar convencer uma ala do PSDB a vir para o lado de Lula já no primeiro turno das eleições. O ex-presidente tucano lhe deve uma pelo apoio à sua candidatura ao Senado em 1978.

Com a desistência de Doria à candidatura presidencial, os tucanos com asas direitas mais robustas se assanham pelo apoio ao infame, já que ostentam DNA de centrão, revelando o apetite que seus bicos têm por orçamentos secretos que podem ser colocados em seus ninhos no ano que vem.

Mas o PSDB, o velho PSDB pré-Aécio, pré-Doria e pré-Eduardo Leite, ainda possui em seu viveiro tucanos com asas de tamanhos iguais ou até mais avantajadas do lado esquerdo.

E antes que migrem para territórios tebeteanos da terceira via, é preciso que seu antigo líder, a ave de rapina mais velha, tente aglutinar o grupo para a causa maior que é a vitória de Lula em primeiro turno, o que tornaria o discurso de fraude nas urnas eletrônicas, vazio devido à diferença acachapante de votos entre ele e o néscio que ora está no poder.

Não há como saber se o príncipe topará a empreitada, visto que costuma diariamente se plantar diante de um espelho para tentar enxergar ainda alguma exuberância em sua plumagem, vaidoso que é. Deve vir negociação por aí.

Para o moribundo PSDB, uma participação no governo poderia ser a oportunidade para a fênix tucana renascer das cinzas. Seria fundamental neste momento religar sua imagem à defesa da democracia contra tentações golpistas, já que este substantivo faz parte de sua sigla.

Não tenhamos dúvidas que no ninho voariam asas pra todos os lados, já que Aécio, ao que parece, já está definido para o lado bolsonarista e, em caso de vitória de Lula, o favorito dos mineiros ao Senado já começaria a fazer oposição no dia seguinte, como fez com Dilma Rousseff, movimentando-se para mais uma vez dar um golpe.

Para o lado do PT, seria interessante envolver no governo um partido historicamente opositor, uma vez que os primeiros anos de Lula serão extremamente difíceis, sendo fundamental que as cobranças sejam divididas entre todos os participantes.

Parece que estamos diante de mais uma jogada inteligente de Lula que provavelmente não agradará a todos que compõem a aliança. Dirão que Lula tucanou porque não conseguem enxergar um horizonte mais distante que seus narizes. Esse possível apoio se apresenta como importante e necessário neste momento para que se possa, já em 3 de outubro, iniciar o combate à fome, ao desemprego e restaurar a dignidade de uma nação que foi subtraída em pouco mais de três anos.

O foco é a derrota do títere autoritário.

É para isso que Lula pede união.

Só falta combinar com FHC.


sábado, 21 de maio de 2022

Ciro saiu do PDS, mas o PDS nunca saiu dele

Por Fernando Castilho

Foto: Reprodução Youtube


Ciro Gomes talvez deseje derrotar Lula porque gostaria muito de ser Lula, mas nunca poderia sê-lo. Está numa cruzada pessoal na qual luta sozinho porque o ex-presidente o ignora


Quando Ciro Gomes convidou Gregório Duvivier para um debate em seu canal, qualquer um que acompanha minimamente o destemperado candidato já poderia prever o que iria acontecer.

Ciro é oriundo do PDS, a antiga Arena, o partido que deu sustentação à ditadura militar, utilizado apenas para dar aos olhos do mundo e de brasileiros incautos, a ilusão de democracia comandada por um regime cruel e sangrento.

Ao ter a ideia do debate Ciro deve ter pensado que Duvivier seria mais um a ser jantado.

A expressão vem sendo usada por admiradores sempre que ele utiliza de seu estilo autoritário para tentar anular ou desqualificar o outro, numa evidente faceta fascistóide que carrega desde sempre.

Mas o coronel não costuma jantar quem o bajula, como é o caso do ator Pedro Cardoso que, no mesmo canal, Ciro Games, só lhe teceu elogios, merecendo o tempo que quisesse para se expressar.

Duvivier o tempo todo se queixava de que Ciro não o deixava falar, ao que espertamente o cearense, que não nasceu no Ceará,prometia que lhe daria voz. E não dava.

O coronel tinha fome de janta, já tinha até colocado seu babador, mas de repente  imaginou que o debate também serviria bem para dar um up em sua campanha estacionada nos 8 ou 9%, afinal, seria visto por muitos milhares de espectadores (ao escrever este texto, o canal já tinha 750 mil visualizações!), entre eles, muitos petistas e muitos “nem nem”, admiradores de Duvivier.

Por isso, passou a desfilar um rosário de ataques a Lula, a maioria eivados de injúrias, calúnias e difamações.

Lula até agora tem se mantido com foco de sua candidatura, com proposições para restaurar o que foi subtraído do país em termos de civilização e economia, mas também não se furtando às críticas contra Bolsonaro, o verdadeiro inimigo da democracia e do povo brasileiro, aquele de fato precisa ser combatido. É improvável que acione o tagarela na justiça.

Talvez Lula ainda alimente uma esperança, ainda que tênue, de poder contar com Ciro no segundo turno, já que parece impossível um apoio no primeiro.

Mas o que é de fato muito estranho é um candidato que está em terceiro lugar nas pesquisas, lutando para se classificar para a segunda volta, atacar o candidato mais bem colocado. Seu foco deveria ser o capitão, até porque seria mais fácil. Ele deseja (exige?) um debate com o ex-presidente, e não com o capitão, a quem seria muito mais fácil vencer, caso este comparecesse.

Incompreensível também, se considerarmos o coronel um candidato de esquerda, não se unir a Lula neste momento para juntos, derrotarem a extrema-direita.

A conclusão é que Ciro Gomes, na realidade, pretende duas coisas:

1 - derrotar Lula porque gostaria muito de ser Lula, mas nunca poderia sê-lo. Está numa cruzada pessoal na qual luta sozinho porque o ex-presidente o ignora;

2 – não está nem aí para o Brasil, sua democracia e seu povo desempregado e faminto.

Para Ciro, derrotar Bolsonaro e seu autoritarismo não está no horizonte porque ele próprio é autoritário e só está num partido tido como de esquerda por conveniência, a mesma conveniência que o fez membro de várias agremiações ao longo de 40 anos de vida pública, a começar pelo velho PDS.

Na verdade, Ciro saiu do PDS, mas o PDS nunca saiu dele.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Os carcarás no final do banquete

 

Por Fernando Castilho




Os militares carcarás de alta patente garantiram seus salários polpudos e suas toneladas de picanha e salmão regadas a muito vinho, uísque e cerveja


Poderia chamá-los de abutres porque é da natureza dessa ave aguardar até que outros animais se fartem de devorar a presa e só mais tarde, quando sobrarem restos já putrefatos, se servirem dela.

Mas a carne ainda não está putrefata e permanece, apesar dos bocados insaciáveis, incrivelmente generosa. Portanto, estamos falando de outra ave, o carcará, aquela que pega, mata e come, como canta Maria Bethânia.

O Brasil se tornou vítima da promessa de Jair Bolsonaro feita a Donald Trump e Steve Bannon, que não se tornaria presidente para construir, mas sim, para destruir. Promessa cumprida. Aliás, a única.

Para qualquer área para a qual nos voltarmos, veremos o processo de destruição em andamento e, em certos casos, quase concluído.

A Saúde só não foi totalmente sucateada e privatizada porque o SUS foi o sustentáculo da resistência durante a pandemia, apesar dos esforços do presidente e seus ministros, colocados no cargo exatamente para cumprirem o papel de verdugos da pasta.

A Educação, infelizmente não resistiu como a saúde, já que não possui um sistema único, mas os esforços para destruí-la foram recompensados com drástica redução de adesão ao Enem, demissão em massa de profissionais qualificados para a elaboração dos exames, ausência de um plano para enfrentamento das dificuldades dos alunos em prosseguirem acompanhando as aulas remotamente – o que causou enorme evasão escolar e atraso de anos no aprendizado, com consequências sérias para suprir o país de profissionais qualificados num futuro próximo – e corrupção, muita corrupção.

No Meio-Ambiente vimos a inauguração de uma nova modalidade de gestão, aquela que vai no sentido contrário da finalidade do ministério. O Ibama foi seriamente enfraquecido, o que permitiu que muita gente lucrasse com o desmatamento, as queimadas, o garimpo ilegal em terras indígenas e a tentativa de venda ilegal de madeira, feita pelo próprio ministro, aos Estados Unidos.

O ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos foi tão descaracterizado que hoje até seu nome foi desfigurado para ministério da Damares. Tudo que foi possível ser feito contra os indígenas e contra o direito das mulheres a administrarem seu próprio corpo, foi cumprido com louvor pela ex-ministra. Ninguém deve esquecer que a pasta enviou capangas para pressionar psicologicamente e até com ameaças físicas uma menina de apenas dez anos a dar à luz em condições de risco extremo uma criança, fruto de estupro. A corrupção no MEC vazou, mas a do ministério da Damares, talvez mais encorpada, se mantém oculta a nossos olhos.

Mas, e o carcará, o que faz neste momento?

Está próximo o tempo em que os carcarás terão que deixar o governo, se o rito das eleições prevalecer. Alguns já devoraram seu bocado e bateram asas para escapar a uma prisão, se protegendo nos cargos que disputarão no parlamento ou em governos estaduais. Outros, ainda não saciados, arrancam freneticamente nacos do país, como os deputados e senadores que compõem o centrão, os ministros generais que permaneceram no governo e o próprio capitão.

Arthur Lira, Ciro Nogueira e seus comandados não se importam nem um pouco se Bolsonaro tentará um golpe ou não. Criaram a figura do estranhíssimo orçamento secreto, algo que todo mundo sabe que existe, mas que ninguém tem conhecimento da destinação. Um naco de carne de primeira muito generoso que não vão querer largar, mesmo que seja dado um golpe.

Os militares carcarás de alta patente garantiram seus salários polpudos e suas toneladas de picanha e salmão regadas a muito vinho, uísque e cerveja.

Tem carcará falando em privatizar a Petrobras, mesmo em fim de governo. Que importa se com a medida o preço da gasolina não baixe um centavo sequer? Será que ele tem esperança de que consiga seu intento nos 7 meses que faltam para ser espantado para outras plagas? Ou aposta no golpe para se refastelar do banquete?

Só há um predador capaz de dar cabo dos carcarás e ele está vindo.

Paradoxalmente esse predador é da paz.

Uma grande pomba que vem com força e não vem sozinho, pois confia na união de todos porque a tarefa é penosa, difícil e perigosa.

Ele há de vencer.


Também publicado em Construir Resistência:

Os carcarás no final do banquete | Construir Resistência (construirresistencia.com.br)

 

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quarta-feira, 18 de maio de 2022

O símbolo da esperança

 Por Fernando Castilho




Se quisermos mostrar às pessoas ainda renitentes a votar em quem já conseguiu tirar 35 milhões de pessoas da linha da miséria, o L com as mãos é o que devemos replicar não só nas redes sociais, mas também no dia a dia ao cumprimentarmos quem quer que seja


As pesquisas de opinião têm demonstrado que os índices de Lula e Bolsonaro vêm se mantendo estáveis com vantagem do ex-presidente que pode até vencer as eleições no primeiro turno.

Na esperança do surgimento de uma terceira via, a chamada grande imprensa, com exceção de alguns colunistas, vêm sustentando que Lula e Bolsonaro estão em dois extremos, o primeiro à esquerda e o segundo à direita, o que não é verdade.

O capitão sim, está situado na extrema-direita, o que o coloca numa posição muito próxima às ideias fascistas, mas o ex-presidente está longe de extremismos, dentro de um espectro entre o centro e a esquerda.

Nossos grandes jornais, cujos repórteres, articulistas e colunistas, principalmente mulheres, foram duramente atacados durante esses três anos e quatro meses de um governo que odeia quem não o bajula, parece que não percebem o perigo de um novo mandato e tentam demonstrar aos olhos de seus leitores que todos os crimes que o capitão tem cometido não são de sua responsabilidade, haja vista o tratamento dado ao caso do MEC em que o ministro corrupto foi demitido, apesar de ter afirmado em áudio gravado que a ordem para privilegiar os pastores nas emendas veio de seu chefe.

Nossa imprensa não vê problema algum no fato do presidente não trabalhar – o que é facilmente constatado numa simples consulta à agenda presidencial – e só fazer campanha eleitoral com dinheiro público, mas espuma de raiva quando Lula afirma que fará uma revisão na reforma trabalhista.

Felizmente, a imprensa não é e nem representa o povo sofrido do país que foi duramente prejudicado com as reformas.

As diferenças entre Lula e Bolsonaro são gritantes e peca quem sustenta que são a mesma coisa com sinais diferentes, a começar pelo símbolo que os dois fazem com as mãos. O primeiro faz um L e o segundo imita uma arma.

Se quisermos mostrar às pessoas ainda renitentes a votar em quem já conseguiu tirar 35 milhões de pessoas da linha da miséria, o L com as mãos é o que devemos replicar não só nas redes sociais, mas também no dia a dia ao cumprimentarmos quem quer que seja.

É o símbolo que identifica quem não tolera mais 4 anos de um governo genocida, psicopata, mentiroso e corrupto.

É o símbolo que identifica quem quer que o Brasil volte a se tornar uma nação respeitada no mundo todo, deixando de ser um pária internacional.

É o símbolo que identifica quem não deseja uma sociedade homofóbica, racista, misógina e fascista, mas valoriza a diversidade.

É o símbolo de quem tem esperança, mesmo sabendo que os próximos anos de reconstrução de Brasil, que teve suas políticas públicas destroçadas, serão extremamente difíceis.

É o símbolo de quem deseja que a cultura volte a ter importância.

É o símbolo de quem não aguenta mais tanto desmatamento, tanto incentivo ao garimpo ilegal, tanto ataque aos povos indígenas, tantos crimes contra o meio-ambiente.

É o símbolo da saúde baseada na Ciência, com vacinas e remédios gratuitos para a população e com a volta do Mais Médicos para levar atendimento à população mais pobre e mais distante dos grandes centros.

É o símbolo da educação sem corrupção, com fortalecimento do Enem, do Prouni e do Pronatec.

É o símbolo de quem anseia pela volta do Minha Casa Minha Vida porque não aguenta mais os altíssimos índices de reajuste dos aluguéis.

É o símbolo de quem precisa urgentemente de emprego e salário.

É o símbolo de quem quer que o governo deixe de tratar com descaso a inflação, que reduza os preços dos alimentos, do gás e da gasolina, para que todos voltem a ter três refeições por dia.

É o símbolo de quem não quer armas, mas quer livros.

É o símbolo de quem não quer que meliantes entreguem a Petrobras, o pré-sal e nossas riquezas minerais aos países estrangeiros.

É o símbolo de quem não aguenta mais tanto obscurantismo.

É o símbolo de quem quer de volta o progresso civilizatório e não tolera mais tanta regressão.

É o símbolo da distensão contra o autoritarismo.

É o símbolo da verdade contra a mentira.

É o símbolo de quem não tolera mais orçamento secreto e sigilos de cem anos, mas exige transparência.

É o símbolo de quem não quer mais o país aparelhado por milicianos.

É, por fim, o símbolo da esperança, da união e do coletivismo contra o individualismo e o egoísmo.


Também publicado em Jornal GGN:

https://jornalggn.com.br/cronica/o-simbolo-da-esperanca-por-fernando-castilho/


Também publicado em Piauí Hoje:

https://piauihoje.com/blogs/e-o-que-eu-acho/simbolo-da-esperanca-402173.html









 

Que país os bolsonaristas querem para seus filhos?

 

Por Fernando Castilho

 



Olhou para os lados, incomodado e disse: esta fila está muito demorada. Dá licença que vou embora


Estava numa fila para resolver problemas particulares quando um senhor de cabelos brancos, aparentando uns 70 anos puxou conversa comigo:

O que o senhor acha dessa guerra do Bolsonaro com o STF?

Observei o homem de cima a baixo e algo me disse que ele era adepto das teses do presidente. Decidi responder que o STF tem razão.

Pronto, bastou para o seguidor se revelar:

É a ditadura de toga, exclamou. Bolsonaro precisa fechar o STF e o Congresso para poder governar!

Embora não concorde com tamanha bobagem, sempre acho que é preciso ouvir a outra parte em sinal de respeito às diferentes opiniões. Por isso, adotei, como em outras vezes, o método socrático de fazer perguntas para que a outra parte, caso não tenha argumentos coerentes, caia em contradição.

Perguntei se, uma vez fechados o STF e o Congresso Nacional, Bolsonaro governaria sozinho.

Não, claro que não! Ele tem o partido dele que vai ajudá-lo!

Mas, se o Congresso foi fechado, como ainda haveria um partido?

Primeira contradição. Não soube responder, tentando mudar de assunto.

Mas veja, o ministro Marcos Pontes, o astronauta, já tem a vacina nacional para a Covid-19. O Bolsonaro não queria vacinas estrangeiras, por isso é que foi obrigado a ir adiando a compra de vacinas, disse ele num tom mais de dúvida que de afirmação.

Perguntei se Marcos Pontes ainda era ministro.

Não é mais, respondeu o homem.

E a vacina, em que pé está?

Bem, não sei. Mas agora não importa, já que está quase todo mundo vacinado, né?

Mais contradição.

Voltando às perguntas: o senhor acha que, Bolsonaro reeleito, vai ser bom para o país?

- Ele tem que terminar o que começou, né? Em 4 anos não dá pra fazer tudo, né?

- O que falta ele terminar?

- Ah, falta melhorar a economia, baixar os preços dos alimentos e da gasolina.

- Ele está trabalhando pra isso?

- Agora não dá porque ele está em campanha, viajando pelos estados.

O homem ficou vermelho.

Indaguei: mas por que Bolsonaro é tão bom para o país?

- Ora, porque ele é enviado por Deus, é a favor da família, contra os gays e a Anitta.

- O senhor acha que ele vai fazer alguma coisa contra os gays?

- Ah, aí não dá, né? Só matando. Mas ele vai falando contra, sabe como é, né?

- E a Anitta? Ele vai proibir ela de rebolar?

- Se ele tivesse esse poder, ia proibir sim.

- Mas se ele não pode fazer nada contra os gays nem proibir a Anitta de rebolar, o senhor acha que mesmo assim ele está fazendo um bom governo e merece continuar?

O velho mudou de assunto.

- Ele está combatendo o comunismo!

- É mesmo? Tem comunismo no Brasil?

- Tem, não, graças a Deus! Mas se tiver, ele combate.

Olhou para os lados, incomodado e disse: esta fila está muito demorada. Dá licença que vou embora.

 

Uma só pessoa não representa os 30% que Bolsonaro tem de eleitores, mas fica claro que há muitos que pensam de forma parecida. Gente que vê ameaça comunista em todos os lugares, que odeia a população LGBTQIA+, que acha que um presidente pode mais que a Constituição, que não se importa com as milhares de vidas ceifadas pela pandemia, que vê com naturalidade o armamento daqueles que podem adquirir armas, que não percebe que seu mito não trabalha e não se importa com a escalada do desemprego, a alta dos preços dos alimentos e combustíveis e a corrupção que grassa em seus ministérios. Parece até que têm cupons de desconto por serem bolsonaristas.

Não se trata aqui de fazer apologia a Lula, mas de repelir o autor desse quadro de destruição para que ele não consiga completar sua obra.

Antes de Bolsonaro se eleger, ele avisou a que viria e muita gente não acreditou.

Agora ele avisa que dará um golpe e muita gente ainda não acredita.

É preciso que o povo e a sociedade civil se mobilizem em defesa do STF, mesmo aqueles que criticam a instituição por seus atos e omissões no passado recente.

Se o capitão vencer essa queda de braço com o Supremo, cujo pivô é um deputado louco por ditadura, sairá fortalecido e confiante para um golpe que pode resultar em última instância, até numa guerra civil.

Fiquemos atentos.


 

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Ele tentará o golpe

Por Fernando Castilho


Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo



Bolsonaro é burro, mas não tanto a ponto de insistir em ficar mais 4 anos no poder pelo voto. Vai perder e até o general Heleno, tão burro quanto ele, sabe disso


É difícil tentar não ser mais do mesmo, mas é inevitável que, devido aos movimentos dados nos últimos meses pelo presidente Jair Bolsonaro, os militares mais próximos a ele e parlamentares que lhe dão sustentação, que tenhamos certeza de que o golpe será tentado, embora não signifique que terá êxito. Provavelmente não terá.

O capitão é um homem despreparado e totalmente incapaz de planejar qualquer coisa, sobretudo uma ruptura institucional dessa envergadura.

Não basta querer romper com o processo eleitoral, é preciso estruturar o antes, o durante e o depois.

No último 7 de setembro, Bolsonaro, guiado somente por seu ímpeto, sem nenhum planejamento, tentou o golpe, mas teve que refugar porque o apoio com o qual ele contava não veio. Foi preciso se humilhar diante do ministro do STF, Alexandre de Moraes. Ou seja, não planejou o antes e o durante.

Imaginem planejar o depois. Imaginem ter que segurar as pontas da inflação e do preço da gasolina. Imaginem governar após um golpe sem apoio da população, da imprensa e da elite econômica e financeira que verá os investimentos no Brasil serem cortados. Nem os EUA apoiam o golpe.

Mas os meses passaram e as eleições se aproximam cada vez mais. E com elas, as manifestações insanas do capitão sugerindo a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas e deixando claro que não aceitará nenhum outro resultado que não sua vitória.

Ao mesmo tempo, o atual ministro da defesa põe as manguinhas pra fora ao exigir ser o representante das FFAA na Comissão de Transparência das Eleições, atribuição que constitucionalmente não compete à instituição.

O ministro do TSE, Edson Fachin reagiu rejeitando novas sugestões dos militares ao processo eleitoral, embora seja o grande responsável por essa barafunda ao incluir a caserna entre aqueles que poderiam contribuir para o aperfeiçoamento das urnas. Ora, se há 100% de segurança, se há a possibilidade de auditoria dos votos e se o hackeamento é impossível, por que pedir às FFAA uma verificação do sistema?

Já faz 6 meses que Lula e Bolsonaro mantém praticamente os mesmos índices nas pesquisas e o mesmo distanciamento. O único fato novo significativo e com algum poder de alterar esse estado de coisas é o evento de lançamento da pré-candidatura Lula/Alckmin ocorrido no sábado com sucesso tão grande que pode dar a Lula mais alguns pontinhos.

Bolsonaro é burro, mas não tanto a ponto de insistir em ficar mais 4 anos no poder pelo voto. Vai perder e até o general Heleno, tão burro quanto ele, sabe disso.

O capitão não quer dar um golpe, somente. Ele precisa dar um golpe para continuar no poder e não ser preso. Quase todos os ministros já deixaram o governo para tentar um cargo legislativo porque sabem que podem ser presos em caso de derrota do capitão, mas todo aquele pessoal que ainda está com ele vai embarcar na aventura.

Resta saber se ele terá forças para a tentativa.

O 7 de setembro deve ter servido de lição. Muito possivelmente já haja um bom contingente de milicos a apoiá-lo, mas ainda não deve ser a maioria dos quartéis.

E é isso que pode causar um confronto extremamente perigoso. Será que Bolsonaro planejou o depois?

Vai fechar o STF e o Congresso?

Como lidar com a resistência que deverá vir?

Quais seriam as consequências do ato impensado?

Mais um monte de mortes?

Diante dessa grande ameaça, vamos fazer como muita gente fez antes do golpe contra Dilma Rousseff? Vamos duvidar e confiar nas instituições e no Estado de Direito?

É preciso que os partidos que se uniram à chapa Lula/Alckmin, os sindicatos, os movimentos sociais e a sociedade civil fortaleçam o apoio ao TSE e ao STF, hoje as primeiras trincheiras da resistência contra a ameaça de ditadura que está se desenhando.

É também imprescindível uma conversa e uma costura com setores das FFAA que não fecham com Bolsonaro para tentar neutralizar qualquer movimento mais arrojado da ala golpista.

Interlocutores há para isso, como o ex-ministro da Defesa durante os governos Lula e Dilma, Nelson Jobim, o ex-ministro da Defesa durante o governo Dilma, Aldo Rebelo e o ex-ministro da Defesa durante o governo Temer, Raul Jungmann. Todos eles têm bom trânsito entre os militares.

É preciso que as forças que defendem a democracia não esperem, mas que se antecipem.

Em tempo: nossa grande imprensa, que depende da democracia para manter a liberdade de expressão, imprescindível aos jornais, embora certamente não apoie o golpe, parece não ter compreendido ainda a ameaça que está por vir. Faz ares de quem quer ostentar uma neutralidade político-partidária que só favorece sua futura destruição.

Se a ficha não cair logo, será apontada no futuro como cúmplice de mais um período sombrio e cruel de nossa história.


Também publicado no Jornal GGN:

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terça-feira, 26 de abril de 2022

Não nos deixam ser uma nação

Por Fernando Castilho





Hoje temos no poder um tirano que prometeu no início do mandato não só acabar com o sonho de nos tornarmos uma grande nação, mas destruir o país. Esse é o único projeto daquele que, no auge da pandemia, recebeu a alcunha de Capitão Morte


Em maio de 2013 a presidenta Dilma Rousseff ostentava confortáveis 65% de aprovação de seu governo, mas já no mês seguinte despencou para cerca de 30%.

O movimento pelo passe livre havia se insurgido contra o aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus e do metrô de São Paulo, mas com uma velocidade inédita se transformou em protestos pelo Brasil inteiro contra a única pessoa que seria a responsável por todas as mazelas de um país que caminhava para a frente social e economicamente: Dilma, a nova anta da classe média e da grande mídia.

Hoje se sabe - embora os autores da urdidura do golpe que tirou a presidenta honesta do poder, neguem - que as hordas de pessoas vestidas de verde-amarelo que invadiram as ruas foram comandadas pela atuação do Departamento de Estado dos Estados Unidos que estava de olho no petróleo do Pré-sal que Dilma resistia em entregar ao Tio Sam. Esse modelo de atuação tem sido replicado em todo o mundo, segundo os interesses norte-americanos.

A verdade é que os governos do PT haviam alçado o Brasil à sexta posição mundial na economia, superando o Reino Unido. A projeção do gráfico de crescimento fazia supor que o país emergente seguia segura e continuamente seu projeto de se tornar uma grande nação.

O golpe pôs fim a esse projeto com muita gente ganhando dinheiro e poder, e um juiz alçado à posição de celebridade nacional ao articular com o ministério público a prisão daquele que iria recolocar o país de volta aos trilhos do crescimento.

Hoje temos no poder um tirano que prometeu no início do mandato não só acabar com o sonho de nos tornarmos uma grande nação, mas destruir o país. Esse é o único projeto daquele que, no auge da pandemia, recebeu a alcunha de Capitão Morte.

O ousado lance de decretar uma graça ilegal constitucionalmente a um daqueles desqualificados, soldados da guerra contra a democracia, que invariavelmente o capitão abandona para trás, tem o intuito de, não só confrontar forças com o Supremo, mas sobretudo de dar o primeiro xeque contra a democracia brasileira.

Nesse xadrez em que, de repente, o país se vê envolvido, é imprescindível que o STF contra ataque, sob pena de que a porteira para a boiada do golpe já comece a se escancarar.

As pesquisas de opinião apontam há meses, com pequenas variações, um quadro em que Lula vence o inominável em todos os cenários, com possibilidade de vitória em primeiro turno, sem possibilidade de terceira via. Parece não haver nada que altere esse estado de coisas até 3 de outubro.

O capitão PRECISA de mais um mandato para que não seja preso e para que dê continuidade às maracutaias que se tornariam de domínio público assim que Lula assuma a presidência em 2023. E após mais quatro anos, precisará mudar a Constituição para um terceiro mandato ou colocar no poder um dos filhos para assegurar sua impunidade eterna.

Por isso, o capitão não esperará o dia das eleições em primeiro turno para dar um golpe.

Recentemente boa parte do exército reagiu contra a revelação de que em 1975 o STM (Superior Tribunal Militar) tinha conhecimento das torturas e assassinatos que ocorriam no Doi-Codi durante a ditadura. O inominável se aproveita desse fato para tentar aglutinar as forças que ele não conseguiu no último 7 de setembro.

Precisamos que o STF tenha a coragem de anular o decreto, mas, mais que isso, precisamos que as outras instituições, a sociedade civil responsável, os movimentos sociais e os partidos de oposição se organizem para dar suporte à decisão do Supremo.

Se a resposta ao inominável não for mais forte que o lance que acabou de fazer, desistiremos de ser uma nação para nos tornarmos a Cuba de Fulgêncio Batista.


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É preciso, a partir de agora, construir a resistência

Por Fernando Castilho 


Foto: Adriano Machado/Reuters

O que se passou na cabeça de Bolsonaro foi a ideia de testar o STF e, por conseguinte, todas as instituições


Quando Bolsonaro anunciou na última quinta-feira, 21, a graça concedida ao deputado federal Daniel Silveira, a primeira reação foi de estupefação.

Foi preciso ler o decreto com atenção e acompanhar as análises que os juristas fizeram sobre esse lance inesperado do presidente contra o STF.

Praticamente todas as opiniões convergiram para a inconstitucionalidade do ato e, por isso, não perderei tempo com considerações a respeito.

Resta analisar as motivações do capitão suas possíveis consequências e desdobramentos.

É certo que, faltando 5 meses e meio para as eleições presidenciais, o quadro das intenções de voto permanece praticamente inalterado com Lula bem à frente de Bolsonaro e nada indica que isso mudará.

É certo também que o capitão, pelo que já declarou inúmeras vezes, não aceitará qualquer resultado que não o contemple. Seu desejo é deflagrar um golpe alegando fraude nas urnas eletrônicas, mas, como foi demonstrado no último 7 de setembro, ainda não possui a totalidade das Forças Armadas de seu lado.

Nesta mesma semana ocorreu um fato que desagradou a ala mais autoritária dos militares da caserna e dos que acumulam vultosos salários no governo. A jornalista Míriam Leitão divulgou áudios de sessões do STM (Supremo Tribunal Militar) gravados em 1975 que demonstram sem sombra de dúvida que a alegação de que os comandos e os presidentes ditadores não tinham conhecimento das torturas e assassinatos cometidos nos porões do Doi-Codi é falsa.

O atual presidente do Tribunal, bem como os generais comandantes ficaram revoltados e se assanharam a ponto de dar todo o apoio à decisão de Bolsonaro, enquanto o centrão tentava dissuadi-lo, sem sucesso.

Uma das características mais marcantes do capitão é encarar seus amigos e aliados como soldados. Vão morrer alguns, o que fazer? Foi assim com Sarah Winter, Queiroz, Roberto Jefferson e muitos outros. Então, por que intervir de maneira tão forte na causa de Daniel Silveira?

Alguns sustentam que ele tem rabo preso com o deputado, mas Queiroz também não tem?

O que se passou na cabeça de Bolsonaro foi a ideia de testar o STF e, por conseguinte, todas as instituições.

Munido de certo reforço dado pelos militares, joga para ver se há possibilidade de romper a corda.

Se os ministros do STF recuarem agora, Bolsonaro cresce em prestígio com as Forças Armadas. É um movimento que pode ir se ampliando até 3 de outubro e que pode dar suporte a um possível golpe.

Bolsonaro não pode vencer essa queda de braço, mas não podemos deixar o STF sozinho nessa luta.

O jornalista Lauro Jardim cobrou uma reação de Lula, o que considero injusto porque exigir essa postura dele é colocar em seus ombros toda a responsabilidade da defesa das leis e das instituições.

O que realmente é necessário é uma articulação de forças da oposição juntamente com setores de outros partidos que são simpáticos à eleição de Lula para uma reação forte contra o ditador.

Além disso, não vejo como os movimentos sociais, os sindicatos, o MST, o MTST, a militância de esquerda e o povo que mais sofre com esse governo, podem se omitir neste momento e não saírem às ruas contra o tirano.

Sob pena de perdermos essa batalha pela via do golpe.

É preciso, mais do que nunca, construir resistência!


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quarta-feira, 20 de abril de 2022

A crueldade de Bolsonaro com os aposentados

Por Fernando Castilho




É certo que Nunes Marques usou de um trambique previsto no regimento interno do STF para atuar em prol do governo Bolsonaro


Conquistar uma aposentadoria digna para viver com tranquilidade o período que vai da velhice até o dia da morte sempre foi uma espécie de loteria.

Muitos jovens, ao ingressar na vida profissional, imaginam trabalhar durante mais de 30 anos para, ainda com saúde, poder desfrutar de mais umas poucas décadas do dinheiro a que têm direito.

Porém, nem sempre a realidade corresponde à expectativa. Muitas vezes o valor mensal do benefício é insuficiente para parar de trabalhar ou, o que é muito pior, o contribuinte morre antes de se aposentar.

Conheço um caso de uma pessoa que, décadas atrás, foi atropelado justamente ao sair do posto do INSS com seu pedido de aposentadoria concedido.

O Estado e a Justiça também podem ser particularmente cruéis com nossos velhinhos, como veremos a seguir.

A mídia, principalmente a Rede Globo, tentou convencer os brasileiros de que a Reforma da Previdência era necessária para não quebrar a instituição. Além disso, seria benéfica para a grande maioria das pessoas. Uma mentira particularmente cruel, mas que beneficiou grandes empresários, agora desobrigados de contribuir com sua parte.

Recentemente descobriu-se que grande parte de nossos aposentados tem direito a receber bem mais do que vem recebendo há muitos anos. É que a regra de transição estabelecida em 1999 desconsiderava as contribuições anteriores ao Plano Real, o que deixou muita gente no prejuízo.

Foi por isso que escritórios de advocacia que atuam no direito previdenciário ingressaram com ação no STJ (Superior Tribunal de Justiça) para corrigir essa defasagem. A ação foi ganha com os ministros votando a favor por unanimidade.

Porém, o governo Bolsonaro entrou com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) alegando que a correção dos benefícios e o pagamento dos atrasados levaria o INSS à falência.

O argumento é falso, já que muitos dos que teriam direito já faleceram. Além disso, pra muita gente a chamada Revisão da Vida Toda não compensaria, pois ela só é interessante para quem recebia até 1999 valores maiores do que passou a receber depois.

Mesmo assim, as planilhas que a AGU (Advocacia Geral da União) preparou conseguiram enganar alguns ministros do STF que, preocupados com a alegada provável falência do órgão previdenciário, votaram contrariamente.

A favor votaram o relator, Marco Aurélio Mello, Edson Fachin, Rosa Weber, Carmen Lúcia e Ricardo Lewandowski.

O escritório que é amicus curiae na ação apostava que Luís Roberto Barroso votaria favorável, mas este não correspondeu às expectativas.

A votação por sistema eletrônico estava empatada em 5 a 5 quando Alexandre de Moraes pediu vistas.

Em 25 de fevereiro último, o ministro deu ganho ao processo com seu voto.

Já havia motivos para comemoração quando Kássio Nunes Marques, faltando apenas 29 minutos para o encerramento das votações, pediu destaque!

Com esse pedido, a votação deverá ser anulada e outra, desta vez presencial, iniciada.

É certo que Nunes Marques usou de um trambique previsto no regimento interno do STF para atuar em prol do governo Bolsonaro.

Ocorre que, quando a votação se reiniciar, André Mendonça, o ministro terrivelmente evangélico que entrou no lugar de Marco Aurélio, que se aposentou, certamente também votará alinhado com o governo. Ele é tão alinhado e tão antiético que no último domingo até posou para foto junto ao presidente enquanto este fazia sua costumeira campanha eleitoral com dinheiro público. Na sabatina no Senado afirmou que atuaria com isenção, mas agora povou que mentiu. Vai pro inferno.

Espera-se que o placar se inverta para 5 a 6 com a consequente derrota de nossos aposentados que terão que se conformar com seus minguados benefícios.

Nunes Marques, ao pedir o destaque, desrespeitou a norma jurídica que exige que seu ato seja motivado. Desta forma, está criada uma insegurança jurídica, pois, a cada vez que um ministro tiver seu voto vencido, poderá requerer outra votação. É o mesmo que um time perdedor exigir novo jogo. Por isso, o destaque de Nunes Marques poderá ser derrubado, com consequente desprestígio para ele. Não há outra motivação para o ministro que a de tentar agradar seu chefe, o presidente Bolsonaro.

Além disso, houve falta de ética, merecendo até crítica indireta de Gilmar Mendes.

É certo que todos os ministros da Corte, inclusive os que votaram contra a ação, se sentiram desrespeitados, o que poderá motivar a mudança de um ou outro voto somente para colocar os dois bolsonaristas em seu devido lugar.

Também já há entendimento de que a AGU ousou tentar enganar os ministros quando da primeira votação e que o pleito é plenamente constitucional.

De qualquer forma, o Supremo só se reuniria presencialmente para rejulgar a ação daqui a talvez mais de um ano ou dois.

Enquanto isso, mais velhinhos morrerão sem receber seu benefício de direito.

É a crueldade de Jair Bolsonaro que não tem limites.

Felizmente, esse governo está para acabar e o Brasil iniciará um árduo período de reconstrução.


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