segunda-feira, 22 de maio de 2023

Só Lula quer o fim da guerra?

Por Fernando Castilho



Washington não vai assistir passivamente um mundo mandarinizado e indexado pelo Yuan em vez do dólar.


Quando Lula propôs a criação de um clube de nações que se empenhariam em discutir e encontrar soluções para o conflito entre Rússia e Ucrânia, Joe Biden torceu o nariz e Reino Unido e União Europeia ouviram atentamente, mas, como sempre, acabaram indo a reboque do pensamento dos EUA, fazer o quê? Afinal, os americanos mandam no mundo há décadas e ninguém tem a coragem de desafiá-los, até porque eles detêm o maio arsenal de armas do planeta. Por isso, invadem países, provocam guerras híbridas que derrubam governos e desrespeitam sem cerimônia resoluções da ONU desfavoráveis a embargos econômicos como o imposto a Cuba.

Biden nunca vai apoiar qualquer iniciativa de encerramento desse conflito por 2 razões muito simples. A primeira é conhecida de todos: são os americanos que mais lucram com a guerra produzindo e vendendo armamentos pesados.

A segunda razão está na geopolítica americana.

A China, ainda chamada de economia emergente, está empenhada em refazer a rota da seda, desta vez não com esse produto, mas com tecnologia e indústria, principalmente.

O G7, em reunião em Hiroshima, condenou o país de Xi Jinping por estender seus tentáculos pelo mundo como se os EUA nunca tivessem feito isso pela violência. A China o faz com comércio.

A supremacia mundial, econômica e militar dos americanos vem sendo ameaçada pelo País do Centro e as projeções já apontam que nas próximas décadas ela deixará de existir. Teremos um mundo mandarinizado e indexado pelo Yuan em vez do dólar.

Washington não pode assistir passivamente à sua derrocada, por isso, elaborou um plano de ataque.

A OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, ampliou significativamente sua presença nos países que estão próximos à Rússia e se empenha ativamente para construir uma base na Ucrânia, sonho que povoa obsessivamente a mente de seu presidente, Volodymyr Zelenski.

Se essa base for construída, mísseis poderão atingir Moscou em apenas 8 minutos, o que inviabiliza qualquer tentativa de defesa.

Claro que a OTAN não fará isso e nem talvez tenha essa intenção. O objetivo é o de manter uma ameaça muito próxima.

Foi por isso, tão somente que Vladimir Putin iniciou a guerra. Não poderia assistir à essa ameaça passivamente, sob pena de ver seu país, na sequência, ser obrigado a ceder a qualquer exigência dos americanos, já que possuiria uma arma apontada para sua cabeça o tempo todo.

Putin, e, principalmente, Xi Jinping, sabem que uma vez curvada a Rússia, o próximo objetivo seria a China.

Diante de um gigantesco poderio, restaria à China ser subjugada, retornando o comando mundial aos EUA, ou resistir através de uma guerra de proporções inimagináveis.

Diante de uma possibilidade de consequências catastróficas que podem incluir a aniquilação total do planeta devido ao uso de armas nucleares, caberia a uma das duas forças ceder para evitar o desfecho final da humanidade.

O mundo ocidental não hesitaria em escolher seu inimigo preferencial, o Oriente e o lado escolhido na batalha seria o dos americanos, pois estes jogam sempre pesado.

Não restaria à China outra alternativa que a rendição e submissão aos interesses ocidentais.

A íntegra do discurso de Lula no G7 de Hiroshima pode ser lida nas entrelinhas como a certeza de que é esse o plano dos americanos e é por isso que ele criticou tão duramente o próprio grupo e a ONU, tão habituada a ceder aos interesses de Washington.

O convite a Lula para ir ao G7 foi uma tentativa de armadilha para que ele, de alguma forma, se posicionasse a favor da Ucrânia, o que comprometeria sua posição pela busca da paz e fortaleceria os interesses de Biden e da OTAN. Mas o ex-líder metalúrgico, habituado a inúmeras tentativas de colocá-lo contra a parede, inverteu o jogo e criticou duramente o próprio G7 e a ONU.

Desta forma, quem saiu fortalecido de Hiroshima foi Lula e o governo brasileiro.


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