terça-feira, 26 de abril de 2022

É preciso, a partir de agora, construir a resistência

Por Fernando Castilho 


Foto: Adriano Machado/Reuters

O que se passou na cabeça de Bolsonaro foi a ideia de testar o STF e, por conseguinte, todas as instituições


Quando Bolsonaro anunciou na última quinta-feira, 21, a graça concedida ao deputado federal Daniel Silveira, a primeira reação foi de estupefação.

Foi preciso ler o decreto com atenção e acompanhar as análises que os juristas fizeram sobre esse lance inesperado do presidente contra o STF.

Praticamente todas as opiniões convergiram para a inconstitucionalidade do ato e, por isso, não perderei tempo com considerações a respeito.

Resta analisar as motivações do capitão suas possíveis consequências e desdobramentos.

É certo que, faltando 5 meses e meio para as eleições presidenciais, o quadro das intenções de voto permanece praticamente inalterado com Lula bem à frente de Bolsonaro e nada indica que isso mudará.

É certo também que o capitão, pelo que já declarou inúmeras vezes, não aceitará qualquer resultado que não o contemple. Seu desejo é deflagrar um golpe alegando fraude nas urnas eletrônicas, mas, como foi demonstrado no último 7 de setembro, ainda não possui a totalidade das Forças Armadas de seu lado.

Nesta mesma semana ocorreu um fato que desagradou a ala mais autoritária dos militares da caserna e dos que acumulam vultosos salários no governo. A jornalista Míriam Leitão divulgou áudios de sessões do STM (Supremo Tribunal Militar) gravados em 1975 que demonstram sem sombra de dúvida que a alegação de que os comandos e os presidentes ditadores não tinham conhecimento das torturas e assassinatos cometidos nos porões do Doi-Codi é falsa.

O atual presidente do Tribunal, bem como os generais comandantes ficaram revoltados e se assanharam a ponto de dar todo o apoio à decisão de Bolsonaro, enquanto o centrão tentava dissuadi-lo, sem sucesso.

Uma das características mais marcantes do capitão é encarar seus amigos e aliados como soldados. Vão morrer alguns, o que fazer? Foi assim com Sarah Winter, Queiroz, Roberto Jefferson e muitos outros. Então, por que intervir de maneira tão forte na causa de Daniel Silveira?

Alguns sustentam que ele tem rabo preso com o deputado, mas Queiroz também não tem?

O que se passou na cabeça de Bolsonaro foi a ideia de testar o STF e, por conseguinte, todas as instituições.

Munido de certo reforço dado pelos militares, joga para ver se há possibilidade de romper a corda.

Se os ministros do STF recuarem agora, Bolsonaro cresce em prestígio com as Forças Armadas. É um movimento que pode ir se ampliando até 3 de outubro e que pode dar suporte a um possível golpe.

Bolsonaro não pode vencer essa queda de braço, mas não podemos deixar o STF sozinho nessa luta.

O jornalista Lauro Jardim cobrou uma reação de Lula, o que considero injusto porque exigir essa postura dele é colocar em seus ombros toda a responsabilidade da defesa das leis e das instituições.

O que realmente é necessário é uma articulação de forças da oposição juntamente com setores de outros partidos que são simpáticos à eleição de Lula para uma reação forte contra o ditador.

Além disso, não vejo como os movimentos sociais, os sindicatos, o MST, o MTST, a militância de esquerda e o povo que mais sofre com esse governo, podem se omitir neste momento e não saírem às ruas contra o tirano.

Sob pena de perdermos essa batalha pela via do golpe.

É preciso, mais do que nunca, construir resistência!


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