domingo, 13 de dezembro de 2015

As mil e uma máscaras de FHC

Por Fernando Castilho

Charge: Aroeira

Não ia mais escrever sobre Fernando Henrique Cardoso. É sério.

Considerava o assunto esgotado até porque já havia revelado inúmeras falcatruas dele neste texto: FHC, o intelectual das maracutaias

O que me motivou a escrever mais uma vez sobre o ex-presidente, foi o fato de ser surpreendido por uma convocação que ele fez em sua página no Facebook.

FHC quer que o povo vá às ruas neste domingo, dia 13, dia de aniversário do tão malfadado AI-5, para exigir o impeachment de Dilma Rousseff. Data cheia de simbolismo.

FHC já por várias vezes se manifestou afirmando que a presidente é pessoa de moral ilibada e que não crê que ela esteja envolvida em crime nenhum. Ok.

Porém, numa interpretação bizarra do que diz a Constituição sobre o assunto, ele acha que sim, o povo tem o direito de tirar a presidente somente por não gostar dela.

E diz que não é golpe...

Meu caro, eu diria, nem que 54,5 milhões de pessoas (o número de votos que Dilma conseguiu no último pleito) saíssem às ruas exigindo sua derrubada, isso seria legítimo.
Sem crime não há impeachment.

Dirão: mas e as pedaladas fiscais?

Mais de uma centena de juristas do mais alto grau de reputação e conhecimento das leis já afirmaram que a Lei de Responsabilidade Fiscal não foi ferida, portanto, não há crime.

Então, o que pretende FHC?

Seu nome foi citado por Delcídio do Amaral, que se encontra preso. Delcídio era nome forte na Petrobras justamente no tempo em que FHC era presidente. A corrupção já existia em seu governo e ele nada fez para coibi-la.

Ou seja, FHC sabia.

Agora, quanto mais rápido Dilma for defenestrada do Planalto, mais chances ele tem de que a Lava Jato pare, a Procuradoria Geral da República engavete tudo e a Polícia Federal, perdendo sua autonomia, cesse com as investigações.

FHC agora está na mesma trincheira de luta de Eduardo Cunha.

O filósofo francês, Montaigne disse que todo homem ao nascer vai colocando uma máscara. Depois outra e mais tarde outra e outra. Alguns mais, alguns menos.

Sempre quando se vê diante da possibilidade de ganhar algo, de conseguir posto mais alto, de galgar mais notoriedade, fama ou poder, o homem não titubeia em vestir uma máscara para alcançar seu intuito.

FHC já vestiu uma infinidade de máscaras como podemos ver no texto ''FHC, o intelectual das maracutaias.

Batalhou pelas ''Diretas Já'' somente para que houvesse eleições que pudesse vencer, apossou-se da autoria da Teoria da Dependência, de Ruy Mauro Marini, autoproclamou-se autor do Plano Real, no que se viu desmentido pelo ex-presidente Itamar Franco, comprou sua reeleição à presidência, privatizou a preço de banana a Vale do Rio Doce e outras estatais e como se não bastasse, ainda escreveu um livro, ''A Soma e o Resto'', plagiando o título do livro de Henri Lefevbre, ''La Somme et le Reste''.

Voltando a Montaigne, o filósofo diz que à medida que o homem vai se aproximando da hora de sua morte, uma a uma as máscaras vão sendo retiradas até que pouco antes do último suspiro reste-lhe somente a face verdadeira. E esta pode ser horrível.

Nessa hora, não há mais nada por que lutar. Não há mais nada a ganhar, já que não poderá levar nada para o túmulo.

Então, o homem não precisa se mostrar diferente do que ele é a ninguém. Ele é verdadeiro.

Há um exemplo pop muito interessante, na figura do vilão Darth Vader de Guerra nas Estrelas.

No final do terceiro episódio, Vader luta com seu filho, Lucky e é derrotado.

Já à beira da morte, quando nada mais lhe resta, retira o elmo (máscara) que lhe garantira a sobrevivência por grande parte sua vida e confessa ao filho que nunca deixou de amá-lo.

Nessa hora Vader é verdadeiro.

Mas o que isso tem a ver com FHC?

Tudo.

Fernando Henrique está com 84 anos de idade.

Se a expectativa de vida dos brasileiros está em 75,2 anos, pode-se dizer que FHC já deveria estar considerando a hipótese de começar a retirar uma a uma suas máscaras.

Mas não.

Ao investir no golpe para tentar vaidosamente manter incólume, pelo menos para a maioria dos brasileiros, a versão oficial de sua biografia (não a que expus aqui, mas sim a alardeada pela grande mídia), contribui para jogar o Brasil definitivamente na maior crise econômica, política, social e institucional desde 1964.

Pelo visto, FHC tem a intenção de contrariar Montaigne ao não retirar nenhuma máscara antes de dar seu último suspiro.


sábado, 12 de dezembro de 2015

Quem for às ruas dia 13 estará dando um tiro no próprio pé

Por Fernando Castilho



Amigos, estamos em uma encruzilhada e no fim de um processo que pode nos levar a dois mundos.

O impeachment da presidente Dilma, sem base legal, sem crimes, elevará seu vice, Michel Temer à condição de mandatário da Nação.

Temer, por sua vez, também assinou pedaladas fiscais, o mesmo pretexto inventado para derrubar Dilma. Será ele, então, pela lógica, se é que ainda há alguma lógica, também impedido.

Segue na hierarquia o presidente da Câmara, Eduardo Cunha que, em três meses terá a missão de convocar novas eleições.

Deste fato decorrem dois desdobramentos, o primeiro mundo:

1 -Cunha determinará que a Procuradoria Geral da República engavete todos os processos. Fará com que a Polícia Federal pare de investigar a Lava Jato. Trabalhará, enfim, para se livrar, não só da cassação, como de sua prisão.

E é isso que estamos assistindo todos os dias na Câmara. As manobras de Cunha para se livrar.

2 – Convulsão social nunca vista no país.
Se o país está em crise econômica, aumentada algumas vezes pelos sabotadores da República que impedem que as medidas necessárias sejam tomadas, podem ter certeza que a ela se juntará a crise social e institucional.

Os estudantes de escolas públicas do Estado de São Paulo já demonstraram que não aceitam injustiças e autoritarismo. Deram o grande exemplo à Nação.

Ninguém mais aceita decisões injustas.

Não tenham dúvidas de que um tsunami gigantesco, de proporções não avaliáveis se levantará contra este golpe que está em andamento.

Quem ler este texto pode achar que se trata de exagero. Outros irão se apavorar.

Mas o que digo e afirmo é que, a exemplo de 1964, haverá derramamento de sangue.

Haverá armas. Haverá resistência. Não duvidem, o formigueiro é grande e poderoso.

A inflação disparará, os investimentos em produção cessarão causando desemprego fortíssimo. A nota de investimento internacional do Brasil será rebaixada a níveis do governo FHC, não permitindo qualquer reação da economia, que permanecerá engessada por vários anos.

E isso interferirá na sua vida, entende?

Não falo como visionário. Falo como quem já viu este filme antes. Não há como fugir do roteiro.

Aqueles que sonham que Aécio Neves assumirá quando Dilma for derrubada num céu de anil, com flores desabrochando num dia maravilhoso, estão terrivelmente enganados.

Aécio não assume em hipótese alguma! Não há base legal para isso! Esqueçam!

Resta a saída mais saudável. O segundo mundo.

Eduardo Cunha será preso, o impeachment será arquivado por absoluta falta de provas de crimes contra Dilma, a oposição fará um retiro espiritual em que, através de autocrítica, iniciará um projeto de governo para seu candidato em 2018 e a Nação se unirá para que a crise seja superada e que possamos prosperar daqui para a frente.


Portanto, você que vai às ruas em 13 de dezembro, repense se você não está dando um tiro no seu próprio pé.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O day after dos colunistas da grande mídia após o impeachment

Por Fernando Castilho



Charge: Aroeira


Alguns poderão interpretar este texto como não sendo plural.
Está certo que a vida não se guia por uma visão maniqueísta do mundo. Afinal, entre dois polos há uma infinidade de matizes.

Porém, há que se fazer uma reflexão sobre o que escrevem e falam os profissionais que mais atuam na grande mídia e que mais contribuem para a formação de opinião das pessoas que acessam seus veículos.

E o que pode acontecer com eles, caso Dilma Rousseff deixe a presidência.





Eles foram chegando aos poucos enquanto outros foram saindo ou sendo dispensados ao longo de vários anos.

Hoje em dia os colunistas de direita ocupam quase todos os espaços da mídia, escrevendo ou falando principalmente sobre política e economia.

Merval Pereira, Ricardo Noblat, Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhêde, Bonner, Waack, Leitão, Sardenberg... Enfim, a lista é grande, muito grande.

Alguns da esquerda ainda sobrevivem, como Janio de Freitas. Outros, que não são da área da política, às vezes enveredam por ela na tentativa de equilibrar um pouco as coisas. É o caso do Gregório Duvivier (humorista), Mário Magalhães (esporte) e Juca Kfouri (esporte).

Além do fato da maioria dos colunistas serem de direita, o que há em comum a todos eles atualmente é a necessidade de que Dilma Rousseff seja defenestrada da presidência, mesmo que não haja acusação contra ela, e que o PT desapareça.

Para isso, se antes havia comentários citando fontes anônimas (ah, a velha desculpa de se proteger a fonte...), agora inventa-se ''fatos'', ilações, disse que disse, etc., todos publicados em grandes manchetes a chamar a atenção do transeunte ou do internauta que, afinal de contas, não lerá mesmo a matéria completa que pode ser bem diferente.

Depois publica-se um ''erramos'' pequenininho em alguma página no meio do jornal e estamos conversados.

A nova lei do direito de resposta veio em boa hora pois o colunista agora terá obrigatoriamente que ter mais cuidado.

Neste momento agudíssimo em que vivemos, com o impeachment de Dilma sendo colocado na pauta todos os dias, há muito trabalho para essa matilha.

São matérias e mais matérias, muitas delas já escritas, aguardando para serem publicadas.

Articulistas disputam a tapa a primazia de verem seus textos publicados. Quanto mais agressivos, mais agradarão o patrão, garantindo seus empregos e sua boa paga.

Os grandes jornais também saem no lucro, ainda que parco, uma vez que conseguem uma sobrevida, um refresco, um fôlego a lhes adiar o inexorável encerramento das atividades.

As revistas semanais de ''informação'' também vão segurando seus leitores fieis, mantendo aquela nata que se sente contemplada pelos textos. Ao mesmo tempo vão enganando o IVC (Instituto Verificador de Circulação) ao distribuir exemplares gratuitamente, uma forma de ainda conseguirem manter algum anunciante.

Então ficamos imaginando...e se Dilma cair, como será o day after dessa turma?

Lógico que sempre haverá o que se falar contra Lula, os filhos de Lula, a nora de Lula, o papagaio, enfim. Ah, esqueci do Zé Dirceu.

Mas não será como antes.

Terão que elogiar diariamente o Michel Temer ou outro aventureiro que assuma a cadeira (pode ser o Renan, sabem?).

Caso Temer também seja implicado no caso das pedaladas fiscais, pois sabe-se agora que ele assinou sete atos, num montante de 10,8 bilhões de reais, assume a presidência o terceiro na hierarquia, Eduardo Cunha.

Mas vamos ser só um pouquinho mais otimistas e considerar que Temer seja o nome mais provável entre os corvos que ora rodeiam a presidente.

Uma semana após a hipotética posse de Temer, imagino a Míriam Leitão e o Sardenberg anunciando que a crise está com os dias contados, a inflação está caindo, a confiança dos investidores está aumentando, etc., etc..

Uma semana após a hipotética posse de Temer (vamos considerar o mais provável entre os corvos que rodeiam Dilma), imagino a Míriam Leitão e o Sardenberg anunciando que a crise está com os dias contados, a inflação está caindo, a confiança dos investidores está aumentando, etc., etc..

Merval comentará sobre a importância de se esquecer agruras do passado, ao publicar carta vazada de Temer para Cunha (sim, Cunha ainda não terá sido preso e nem será, caso haja impeachment!), em que o novo presidente jura ser fiel até o fim de seus dias.

Cantanhêde destacará o acerto de Temer em convidar José Serra para ser ministro da Saúde, homem com grande experiência na área e que acabará com aquele programa bolivariano, o Mais Médicos.

Mas a mídia não sobrevive de notícias boas. Elas não vendem jornais.

Ao ver sua crise aumentar rapidamente em virtude da queda nas vendas e na audiência, começará o passaralho (jargão jornalístico que significa dispensa em massa de profissionais da área).

E os primeiros a perder seus empregos serão justamente aqueles que mais auferem, os Reinaldos da vida.

Serão os que guiam suas vidas pelas diretrizes da meritocracia. Só os melhores podem sobreviver e ter sucesso, certo?

Os que não conseguem, são extintos.



terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Caro Michel, sua carta subestimou a inteligência dos brasileiros

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


A ideia deste texto não é absolutamente sugerir uma forma de resposta por parte da presidente. É apenas uma carta.


Caro vice- presidente, Michel Temer,

O senhor reclamou em sua carta endereçada à presidente Dilma, de sua perda de protagonismo.

Sr. Michel, primeiramente, o senhor não é protagonista no governo, o senhor é vice, vamos lembrar.

Vossa Excelência se disse indignada por sua missiva, de teor pessoal ter sido vazada para a mídia.

Ora, está na cara, percebe-se, está nas entrelinhas, na composição do texto, na forma de linguagem, que ela foi dirigida à imprensa. Se não o fosse, a Globonews teria revelado que a obteve de uma fonte do Planalto, já que o interesse da emissora é grande em jogar mais gasolina nessa fogueira, estejamos certos.

Portanto, foi o senhor que divulgou a carta à imprensa, certo?

E mais, ela se destina também ao PMDB e à oposição como quem grita num megafone: ''ei, estou aqui e quero ser o presidente! Vamos com tudo ao golpe, que eu assumo e faço o jogo que todos nós queremos!''

Desde que teve início o ''apoio'' do PMDB ao governo, o senhor não fez outra coisa senão atuar com dubiedade, trocando esse apoio por cargos e mais cargos, não é?

Nunca poderia passar pela cabeça de quem raciocina um pouco e acompanha política, que o PMDB participaria de um governo preocupado com causas sociais. Nunca.

O senhor agora sai usando como pretexto um difuso desdém com que Dilma teria lhe tratado ao logo destes anos. Quer sair fazendo-se de vítima: ''olha aí, minha gente, o que tenho sofrido nas mãos dessa mulher diabólica que todos querem ver pelas costas!'', é como traduzo o sentido da missiva.

Poderia ter saído com discrição e talvez com certa honradez, mas preferiu outro caminho.
Sei que o senhor e outros precisam que Dilma seja impedida de governar. Dizem que seu nome e os de outros podem ser citados a qualquer momento em delação premiada.
Delcído poderá falar. E Delcídio vem de governo anterior ao de Lula, certo?

Leia também este outro artigo sobre Temer

O senhor se lembra de quando, em 1998, como Presidente da Câmara, conseguia junto à Fernando Henrique Cardoso, verbas para prefeituras do PSDB?

O senhor visitava prefeitos, era recebido com pompa e depois enviava o chefão de empreiteira envolvida na Lava Jato para oferecer projetos habitacionais, de urbanização de favelas e de modificações no sistema viário a prefeituras tucanas. O homem afirmava que o senhor já havia garantido recursos enormes para os municípios. E que isso iria ser bom para todos.

FHC-Michel-empreiteira-tucanos-lava jato. Olha a conexão.

O juiz Moro até deu uma sumida nos últimos tempos, talvez aguardando o impeachment que teria o poder de fazer todo o restante da operação Lava Jato cair no esquecimento, uma vez que os petistas que poderiam ser presos já foram.

Convenhamos, Dilma não foi citada nem será, não é? Agora só sobram os outros e queremos saber quem são.

O senhor reclamou que Dilma se aproximou do deputado Picciani. O tom é de ciúmes, mas sabemos que não foi por isso, não é? Reclamou, na verdade, porque Picciani é contra o impeachment e está propondo para a Comissão que estudará o processo, nomes favoráveis à presidente. Isso destrói seus planos futuros imediatos, não?

Qual são eles?

Já sem Dilma, defenestrada por um julgamento espúrio e ilegítimo, porque as pedaladas fiscais não configuram crime de responsabilidade, como o senhor que é advogado bem sabe, o caminho estaria aberto para que o vice (e nessas horas é que os vices tem valor), assumisse a tão sonhada e até então longínqua presidência da República. Sim, longínqua porque Dilma nunca o faria seu sucessor, não é?

Além disso, o senhor sabe que a reportagem do Estadão publicou um artigo afirmando que Vossa Excelência assinou sete decretos de pedaladas fiscais, não sabe? 

Acomodado na cadeira presidencial, após o atentado à democracia ter sido deflagrado, as primeiras medidas a serem tomadas seriam:

1) Tranquilizar o povo, pois o mal foi afastado e agora o país entrará no rumo certo.

Como se o senhor nunca tivesse feito parte do governo. Neste item em particular, a mídia teria um papel de destaque, mas isso o senhor já deve ter negociado. Grana do BNDES para socorrer a velha imprensa é muito bem-vinda. A crise econômica sairia do noticiário, as pessoas ficariam felizes e confiantes e o país voltaria a crescer.

2) Suprimir a independência de atuação da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal e passar a controlar a Lava Jato até que ela caia no esquecimento. Todos se livrariam, até seu amigo, Eduardo Cunha.

3) Colocar em ação o Plano Temer, elaborado por seu comparsa, Moreira Franco, que acaba com os programas sociais, o reajuste automático do salário mínimo, o sistema de partilha do pré-sal e inaugura um novo período de privatizações. Ou seja, o senhor poria pra funcionar o programa de governo do Aécio Neves. Mais sobre o Plano Temer, aqui

Possivelmente ele próprio e José Serra, que já se ofereceu para ser seu colaborador em eventual governo, seriam convocados para ser seus ministros.

Mas faltou combinar com os russos.

Não pense que não haverá reação ao seu golpe.

A consciência de 54,5 milhões de votos não se compra tão facilmente com essa jogada.

Pode ser que esta seja sua grande oportunidade na vida, mas não se iluda, vai ser muito difícil governar em meio à convulsão social que se seguiria logo após o golpe.

Em tempo: o senhor não engana a ninguém com sua cartinha.



Leia abaixo a íntegra da carta obtida pela GloboNews:

São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Carta aberta ao nobre jurista, Hélio Bicudo

Por Fernando Castilho






Amigos, logicamente não tenho a pretensão de que esta carta chegue ao Dr. Hélio Bicudo, uma vez que sou um pequeno blogueiro e pouca gente dará atenção a ela, vamos combinar.

Não possuo também procuração para exprimir o sentimento de cada brasileiro pois não tenho essa capacidade nem esse direito. Falo então por mim, embora no final defenda os votos dos 54,5 milhões de eleitores que escolheram Dilma Rousseff.

Mas como na internet tudo é possível, quem sabe por vias tortuosas o o Dr. Hélio acabe lendo-a? Quem sabe?

Vamos à carta.



Dr. Hélio, desculpe mas a partir de agora vou chamá-lo de ''você'', certo?

Você foi ministro interino da Fazenda no governo João Goulart, deposto pelo espúrio regime militar de 1964. Começa a ter história na esquerda a partir daí.

Inesquecível sua luta contra o Esquadrão da Morte em São Paulo.

Atuando praticamente sozinho, contra todo tipo de pressões e ameaças, você expôs as vísceras do grupo e levou à cadeia alguns de seus membros, entre eles o líder, o delegado Fleury, torturador e chefe do DOPS, um dos homens mais poderosos da polícia paulista que não conseguiu nem prendê-lo nem dar fim à sua vida.

Você foi um Golias gigantesco contra todos aqueles que compactuavam daquela imoralidade cruel, ofensiva aos direitos humanos e totalmente contrária ao Estado de Direito.

Tentei conservar ao longos dos anos minha lembrança de sua estatura física pequena, mas principalmente não sai de minha memória sua estatura moral imensa. Daqueles tempos.

Mesmo depois que você saiu do PT em 2005, enojado com o processo do mensalão.

Mesmo que você não tenha se preocupado em defender seus companheiros contra uma condenação muito mais midiática e política do que pautada pela busca da Justiça, antiga obsessão sua, no episódio do mensalão.

Mesmo que digam que você ficou ressentido com Lula e por nunca tê-lo perdoado, destila há décadas seu ódio.

Mesmo que você tenha apoiado José Serra, candidato da direita, nas eleições de 2010, em detrimento de Dilma Rousseff, que representava o único e mais consistente projeto da mesma esquerda da qual você fora outrora grande apoiador.

Mas agora, Hélio, você foi longe demais.

Não porque eu simplesmente não concorde com suas posturas políticas que mudaram radicalmente. Isso acontece com muita gente de esquerda que envelhece. E você não parece estar senil como muita gente sugere.

Mas ao elaborar um parecer jurídico em conjunto com Miguel Reale Júnior, da mesma direita que quer retomar o poder à força no país, você dá amostras de uma inconsequência juvenil.

O seu parecer, para espanto de juristas não menos respeitados como Bandeira de Mello ou Dalmo Dallari, não se sustenta por ser muito falho. Pior, Bandeira de Mello vai além, ao classificar o pedido de impeachment como ''palhaçada''. Isso não é constrangedor para um jurista de sua qualidade e história?

As pedaladas fiscais do governo Dilma, que são o fiozinho em que vocês se pegaram, não tem consistência por não ferir o Artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal, como vocês querem.

E vocês sabem disso, mas mesmo assim receberam da oposição golpista sua boa paga para escrever esse amontoado de bobagens que está agora sendo usado pelo escroque maior da nação, Eduardo Cunha para tentar derrubar injustamente a presidente Dilma.

Uma vez na Câmara, todas as falhas técnicas do parecer serão esquecidas e o processo a partir de agora se guiará somente pela decisão política daqueles 300 picaretas com anel de doutor que seu desafeto outrora citou.

Embora tentasse evitar falar de seus filhos por não querer me imiscuir em questões familiares, ficou claro pela entrevista que o mais velho, José Eduardo, concedeu, que eles não apoiam seu ato. Pior, a crítica que ele faz ao pai é extremamente severa.

Hélio, a biografia de uma vida de 93 anos não pode ser manchada por atos movidos por ressentimentos que jogarão a nação numa crise institucional ainda maior que a econômica. Não é justo.

A imagem que fica de um homem são sempre seus últimos atos como ser humano antes da morte. É por isso que não se dá nome de rua para quem ainda está vivo.

Hélio, por todo o exposto, peço, não só em meu nome, mas também no de 54,5 milhões de votos que não podem ser jogados no lixo comprometendo a consolidação de nossa democracia ainda tão jovem, que reveja sua posição.

Não será vergonhoso de sua parte, muito pelo contrário, será um ato típico daquela coragem com que você enfrentou o Esquadrão da Morte nos tempos mais sombrios da ditadura.

Apontar agora o erro técnico inviabilizará o pedido de impeachment, Cunha será derrotado e preso, a nação deverá retomar unida o caminho da superação de sua crise e a oposição, se apresentar propostas melhores terá sua chance democrática em 2018.

Passo agora, em respeito à sua história e aos seus 93 anos de idade, a chamá-lo de ''senhor''.



quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Como um bandido colocou a nação de joelhos.

Por Fernando Castilho




''Eu derrubo ela, você toma conta e me livra, ok?''



Embora não seja uma surpresa assim tão grande, dado o caráter desse escroque, o blogueiro escreve agora muito mais com o coração do que com a razão, tamanha é a sensação de impotência diante de uma verdadeira ação de pirataria vinda justamente de quem deveria, como representantes legitimamente eleitos pelo povo, defender as causas do país.


Um bandido colocou a nação de joelhos

A nação acaba de ser pega de surpresa pelo processo de impeachment iniciado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Embora não seja uma surpresa assim tão grande, dado o caráter desse escroque, o blogueiro escreve agora muito mais com o coração do que com a razão, tamanha é a sensação de impotência diante de uma verdadeira ação de pirataria vinda justamente de quem deveria, como representantes legitimamente eleitos pelo povo, defender as causas do país.

O deputado tentara chantagear os deputados do PT, prometendo que se eles desistissem de votar pela sua cassação, arquivaria o pedido.

Como não logrou êxito, decidiu abrir o processo. Depois deu entrevista afirmando não estar feliz com isso e que a decisão não teve motivação política, mas técnica.

Tremenda cara de pau de quem ousa hoje comandar a nação e levá-la a se curvar novamente aos interesses de quem até outro dia fazia dela o que bem queria.

Aécio Neves falando à imprensa entregou o ouro afirmando que ...''a responsabilidade pelo início do processo de impeachment está longe de ser da oposição. É desse governo, por seus equívocos e por suas irresponsabilidades". E, em fala tão semelhante à de Cunha quando diz que o processo não o deixa feliz, demonstra o quanto os dois estão afinados em caráter e objetivos.

Perceberam? Aécio é a favor do impeachment não por ilícitos cometidos pela presidente, mas sim por equívocos que todo governo comete, mormente nestes dias em que a oposição comandada por ele não permite a tranquilidade necessária para que se vença a crise que acomete o país.

O mineiro menino do Rio ainda não criou juízo. Ao apoiar Cunha, joga seu partido nos braços do bandido, entra para o bando e destrói qualquer credibilidade quanto a seu futuro político. Sua irresponsabilidade e inconsequência levarão o país à uma convulsão social que agravará ainda mais a crise.

O Supremo Tribunal Federal também tem sua responsabilidade e culpa nesse imbróglio. Seria sua obrigação de ofício prender Cunha que já tem culpa provada já há mais de um mês. Com Delcídio do Amaral o STF se moveu a jato pois ele citara nomes de ministros envolvidos na expedição de um habeas corpus que permitiria a soltura de Nestor Cerveró e sua consequente fuga do país.

O STF não prendeu Cunha e por isso ele conseguiu abrir o processo contra Dilma.

Senhoras e senhores, a nação está sendo comandada por uma famiglia nos moldes de uma máfia. Todos eles com processos na justiça.

São escroques, bandidos, batedores de carteira da nação que se arvoram patriotas querendo derrubar uma presidente que pode ter cometido equívocos mas não ilícitos.

Como a própria Dilma afirmou em rede nacional, ela não possui contas na Suíça.

Onde está, senhores e senhoras, a moral desses bandidos que de dia se apresentam como paladinos da justiça e de noite assumem sua verdadeira face em negociatas secretas realizadas em hotéis?

Não tenho dúvidas de que perderão. Serão derrotados pois precisam de dois terços dos votos dos parlamentares, 342 votos dos 513 deputados da Câmara.

Não passarão.

Mas antes que sua derrota aconteça precisamos mobilizar a sociedade, os movimentos sociais e todas as pessoas ainda aturdidas e muito indignadas para irem às ruas e exigirem o arquivamento desse processo espúrio.

Lembremo-nos do exemplo dos estudantes secundaristas de São Paulo. Para resistir ao fechamento de escolas e ao projeto de reorganização, alguns deles ocuparam o primeiro estabelecimento. Em seguida outros foram seguindo o exemplo e hoje já são algumas centenas de escolas ocupadas.

Os escroques mexeram com o formigueiro e este haverá de devorá-los vivos.


A corte suprema e seus bobos

Por Fernando Castilho

Aroeira

A corte suprema, apesar de manter aquele ar de sobriedade de quem realmente está a fazer a justiça sempre se colocar acima de objetivos políticos confessáveis e na maioria dos casos, inconfessáveis, está tão desmoralizada por seus bobos (de bobos não têm nada) que quem ainda mantém confiança nela mais bobo ainda é.




Depois da prisão a jato do senador Delcídio do Amaral, não há como não voltar a comentar sobre o malvado favorito da nação (ok, atualmente, pelo menos para mim, ele está cabeça a cabeça com o governador de São Paulo Geraldo Alckmin), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Como os juízes do STF passaram por cima até da Constituição para prender Delcídio porque o senador os citou nominalmente na gravação feita com o filho de Nestor Cerveró, Bernardo, há que se tomar alguns cuidados com eles, afinal, este blogueiro também não quer ser preso, apesar da hipótese de que algum deles leia a matéria seja remotíssima pela pequenez do blog.

Vamos lá então.

Referir-me-ei doravante a eles e a outros juízes como Pratic Zavascki, Noites Toffoli, Cravo Weber, Cármen Lúcifer e Gilmar Dantas, além de Manoel Barbosa. Assim eles nada perceberão, certo?

Pois bem, a corte, apesar de manter aquele ar de sobriedade de quem realmente está a fazer a justiça sempre se colocar acima de objetivos políticos confessáveis e na maioria dos casos, inconfessáveis, está tão desmoralizada por seus bobos (de bobos não têm nada) que quem ainda mantém confiança nela mais bobo ainda é.

Foi essa corte que, conduzida pelo bobo mais admirado do Brasil, Manoel Barbosa, condenou um réu sem provas, acabando não só com sua vida pública, mas também a de homem comum.

A ministra Cravo Weber foi quem se encarregou de proferir a sentença mais patética que alguém já ouviu num julgamento: ''embora não haja provas contra o réu, condeno-o porque a literatura jurídica assim me permite''.

Bem antes disso, Gilmar Dantas liberara dois habeas corpus (aquele mesmo instrumento jurídico que Delcídio na gravação dá como certo de se obter junto a Pratic, Noites e o próprio Gilmar) ao banqueiro Daniel Dantas do Banco Opportunity. Além disso, Gilmar concedeu também habeas corpus ao médico responsável por 43 estupros de pacientes, Roger Abdelmassih que escapuliu imediatamente para o Líbano.

Cármen Lúcifer condenou Delcídio não sem antes proferir outra pérola: ''o escárnio venceu o cinismo'', parafraseando a campanha de Lula em 2002: ''a esperança venceu o medo''. Jamais um ministro do STF poderia revelar sua posição política partidária pois isso o faz perder sua isenção em julgamentos futuros.

Bem, feita esta caracterização a jato de nossa instância jurídica maior, resta a pergunta: passado mais de um mês da revelação de que Eduardo Cunha (sem nenhuma alcunha) possui contas não declaradas na Suíça advindas de propinas da Petrobras e, mais agora com a denúncia de que André Esteves, então CEO do banco BTG Pactual pagou 45 milhões de reais para o deputado alterar uma emenda parlamentar que o beneficiaria, por que o STF não manda prendê-lo preventivamente?

Cunha ainda não foi nem deposto do cargo de presidente da Câmara.

O Conselho de Ética deveria decidir sobre sua cassação, mas manobras fizeram com que a reunião fosse pela segunda vez adiada.

Cunha tenta barganhar. Oferece a abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff em troca de seu prosseguimento no cargo. Chantageia o governo e o PT tentando obter votos dos parlamentares petistas.

O presidente do partido já se definiu pela derrubada de Cunha, mas metade dos deputados, preocupados com a queda do governo, já se definiram em não cassá-lo.

Sobre a oposição cabem duas leituras possíveis:

1) Luta contra o tempo. Tenta desesperadamente fazer com que Cunha abra o processo antes de sua cassação. Depois serão favas contadas e ele sabe disso.

2) Prossegue na estratégia do senador Aloysio Nunes de sangrar Dilma até o fim do mandato, já que sabe que não terá o mínimo de votos para seu impedimento. Ou seja, perante a mídia, afirma estar contra Cunha mas por trás trabalha pela sua manutenção, já que como presidente da Câmara ele ainda será muito útil nas manobras para prejudicar o governo. Afinal a meta de Aécio é 2018.

O STF também parece estar aguardando a abertura do processo contra Dilma.

Depois que o deputado abri-lo, manda prendê-lo.

Assim ficará bem na fita com os manipulados pela mídia que não percebem a manobra.
Se antes torcia para o ano acabar, agora já percebo que ele só acabará mesmo em 2018.

Haja paciência...




terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Sintomas da mudança?

Por Leandro Karnal




''Em meio à crise, pelo menos até agora, a sociedade brasileira dá mostras de amadurecimento. Preciso acreditar que é a metade do copo cheio. Perder esperança é fazer parte do jogo de políticos canalhas, empresários desonestos e burocratas imbecis. Podem me roubar muito, menos minha crença na possibilidade de um amanhã melhor.''



Difícil sempre determinar se a luz no fim do túnel é a esperança ou um trem em rota de colisão conosco. Em meio a um período turbulento da economia e da política tupiniquins, proponho reflexões breves:

01) Corrupção é um fato histórico. Porém, estamos prendendo gente do governo em exercício. Isto não é comum. Quando muito, prendiam-se elementos do governo derrotado ou passado. Falta de ética era coisa dos adversários. Agora, estão sendo presas pessoas do primeiro escalão do poder em exercício, corruptos e corruptores.

Foram presos um senador chefe do governo, um banqueiro, um empreiteiro que é um dos homens mais ricos do país e uma ex-eminência parda do atual governo. Sinal de fortalecimento das instituições democráticas e da autonomia da Justiça e da Polícia Federal.

Falta muita gente na cadeia, mas temos um sinal tênue de justiça no ar. Pesquisa Datafolha: brasileiros consideram a corrupção o principal problema do país.

Um bom sinal...

02) Houve uma decisão técnica, em si até defensável em SP: separar os estudantes maiores dos menores nas escolas estaduais paulistas.

Houve uma reação de alunos, pais e professores em dezenas de escolas.

Reclamam dos prazos, dos critérios, do poder dos burocratas, das dificuldades das transferências, das distâncias das novas escolas.

Ocuparam escolas. Tornaram, de fato, a escola pública num espaço público...

Para mim, com todos os problemas envolvidos, um sinal de que a política ganhou novos espaços e de que o poder do Estado não é mais aceito de forma automática.

Os estudantes e professores estão recebendo e dando uma aula diferente. Uma notícia pedagogicamente boa e politicamente extraordinária.

03) Democracia não é a paz perpétua, nem a ética absoluta. Democracia é um processo em construção, tumultuado como a própria vida e as contradições da nossa sociedade.

Tudo isto pode ocorrer agora porque não estamos na ditadura.

Em meio à crise , pelo menos até agora, a sociedade brasileira dá mostras de amadurecimento. Preciso acreditar que e a metade do copo cheio. Perder esperança é fazer parte do jogo de políticos canalhas, empresários desonestos e burocratas imbecis. Podem me roubar muito, menos minha crença na possibilidade de um amanhã melhor.

Falta muito? Sim.

A Samarco tenta esconder dinheiro da justiça para não pagar vítimas.

Houve assassinatos em Mariana por negligência e os autores estão livres.

Corruptos notórios ainda desfilam sorrisos livres pelos noticiários.

A saúde é um caos e a segurança desaba em clima de guerra civil.

Falta muito, mas hoje penso, otimista, que, pelo menos, não falta tudo, falta apenas muito.

Temos uma longa estrada pela frente, insuportável como as chamas da boate Kiss da Santa Maria e lamacenta como Mariana, mas queremos andar, com chamas por cima e lama por baixo...

Nós queremos andar!


Leandro Karnal é historiador, professor da UNICAMP na área de História da América.


segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Conversar com um fascista: um desafio

Por Rubens Casara




Este artigo foi publicado em 24 de outubro, portanto, mais de um mês antes de vir à tona a gravação da conversa do senador bandido, Dulcídio do Amaral. Casara fala justamente da ''naturalização com que direitos fundamentais são afastados e violados no Brasil...'' e ''ampliam as hipóteses de 'prisão em flagrante' em evidente violação aos limites semânticos da palavra 'flagrante' inscrita no texto Constitucional como limite ao exercício do poder'', exatamente o que vimos na prisão ultra-rápida de Dulcídio.

Vamos ao texto.





Em Adorno, a ignorância, a ausência de reflexão, a identificação de inimigos imaginários, a transformação dos acusadores em julgadores (e vice-versa) e a manipulação do discurso religioso são, dentre outros sintomas, apontados como típicos do pensamento autoritário.

Pensem, agora, na naturalização com que direitos fundamentais são afastados e violados no Brasil, na crença no uso da força (e do sistema penal) para resolver os mais variados problemas sociais, na demonização de um partido político (que, apesar de vários erros, e ao contrário de outros partidos apontados como “democráticos”, não aderiu aos projetos a seguir descritos), no prestígio novamente atribuído aos “juízes-inquisidores”, nos recentes linchamentos (inclusive virtuais), no número tanto de pessoas mortas por ação da polícia quanto de policiais mortos e nos projetos legislativos que:

a) relativizam a presunção de inocência;

b) ampliam as hipóteses de “prisão em flagrante” em evidente violação aos limites semânticos da palavra “flagrante” inscrita no texto Constitucional como limite ao exercício do poder;

c) criminalizam os movimentos sociais com a desculpa de prevenir “atos de terrorismo”;

d) impedem o fornecimento de “pílulas do dia seguinte” para profilaxia de gravidez decorrente de violência sexual e criminalizam médicos que dão informações para mulheres vítimas de violência sexual;

e) eliminam o princípio constitucional da gratuidade na educação pública, dentre outras aberrações jurídicas. Conclusão? Avança-se na escala do fascismo.

O fascismo recebeu seu nome na Itália, mas Mussolini nunca esteve sozinho. Diversos movimentos semelhantes surgiram no pós-guerra com a mesma receita que unia voluntarismo, pouca reflexão e violência contra seus inimigos.

Hoje, parece que há consenso de que existe(m) fascismo(s) para além do fenômeno italiano ou, ainda, que o fascismo é um amálgama de significantes, um “patrimônio” de teorias, valores, princípios, estratégias e práticas à disposição dos governantes ou de lideranças de ocasião (que podem, por exemplo, ser fabricadas pelos detentores do poder político ou econômico, em especial através dos meios de comunicação de massa), que disseminam o ódio contra o que existe para conquistar o poder e/ou impor suas concepções de mundo.

O fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação. Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes, etc.), principalmente, o conhecimento e, em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência de saber.

Os fascistas, como já foi dito, talvez não saibam o que querem, mas sabem bem o que não suportam. Não suportam a democracia, entendida como concretização dos direitos fundamentais de todos, como processo de educação para a liberdade e de limites ao exercício do poder.

Essa mistura de pouca reflexão (o fascismo, nesse particular, aproxima-se dos fundamentalismos, ambos marcados pela ode à ignorância) e recurso à força (como resposta preferencial para os mais variados problemas sociais) produz reflexos em toda a sociedade.

As práticas fascistas revelam uma desconfiança. O fascista desconfia do conhecimento, tem ódio de quem demonstra saber algo que afronte ou se revele capaz de abalar suas crenças. Ignorância e confusão pautam sua postura na sociedade.

O recurso a crenças irracionais ou anti-racionais, a criação de inimigos imaginários (a transformação do “diferente” em inimigo), a confusão entre acusação e julgamento (o acusador – aquele indivíduo que aponta o dedo e atribui responsabilidade – que se transforma em juiz e o juiz que se torna acusador – o inquisidor pós-moderno) são sintomas do fascismo que poderiam ser superados se o sujeito estivesse aberto ao saber, ao diálogo que revela diversos saberes.

Diante dos riscos do fascismo, o desafio é confrontar o fascista com aquilo que para ele é insuportável: o outro. O instrumento? O diálogo, na melhor tradição filosófica atribuída a Sócrates. Talvez esse seja o objetivo do diálogo proposto pela filósofa Marcia Tiburi em seu novo livro, que tive o prazer de apresentar (o prefácio é do sempre excelente Jean Wyllys).

Em "Como conversar com um fascista: reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro" (Rio de janeiro: Saraiva, 2015), a autora resgata a política como experiência de linguagem, sempre presente na vida em comum, e investe nessa operação, que exige o encontro entre o “eu” e o “tu”, apresentada como fundamental à construção democrática.

De fato, a qualidade e a própria existência da forma democrática dependem da abertura ao diálogo, da construção de diálogos genuínos – que não se confundem com monólogos travestidos de diálogos – em que a individualidade e os interesses de cada pessoa não inviabilizam a construção de um projeto comum, de uma comunidade fundada na reciprocidade e no respeito à alteridade.

Ao tratar da personalidade autoritária, dos micro-fascismos do dia-a-dia, do consumismo da linguagem, da transformação de pessoas em objetos, da plastificação das relações, da idiotização de parcela da população, dentre outros fenômenos perceptíveis na sociedade brasileira, Marcia Tiburi sugere uma mudança de atitude do um-para-com-o-outro.

Nos diversos ensaios deste livro, a autora conduz o leitor para um processo de reflexão e descoberta dos valores democráticos, bem como desvela as contradições, os preconceitos e as práticas que caracterizam os movimentos autoritários em plena democracia formal.

Mas, não é só.

Ao propor que a experiência dialógica alcance também os fascistas, aqueles que se recusam a perceber e aceitar o outro em sua totalidade, Marcia Tiburi exerce a arte de resistir. Dialogar com um fascista, e sobre o fascismo, forçar uma relação com um sujeito incapaz de suportar a diferença inerente ao diálogo, é um ato de resistência.

Confrontar o fascista, desvelar sua ignorância, fornecer informação/conhecimento, levar esse interlocutor à contradição, desconstruindo suas certezas, forçando-o a admitir que seu conhecimento é limitado, fazem parte do empreendimento ético-político da autora, que faz neste livro uma aposta na potência do diálogo e na difusão do conhecimento como antídoto à tradição autoritária que condiciona o pensamento e a ação em terra brasilis.

O leitor, ao final, perceberá que não só o objetivo foi alcançado como também que a autora nos brindou com um texto delicioso, original, profundo sem ser pretensioso. Mais do que recomendada a leitura.



Rubens Casara é Doutor em Direito, Mestre em Ciências Penais, Juiz de Direito do TJ/RJ, Coordenador de Processo Penal da EMERJ e escreve a Coluna ContraCorrentes no site Justificando (http://justificando.com/), aos sábados, com Giane Alvares, Marcelo Semer, Marcio Sotelo Felippe e Patrick Mariano.