domingo, 20 de dezembro de 2015

E se Dilma...

Por Francisco Costa, no Pravda



Sempre me pergunto se o que está ruim não poderia estar pior.

Tanta gente com nome sujo no cartório, com processos nos tribunais, mas só a presidente que já foi xingada de tudo quanto foi nome, permanece incólume, sem nenhuma mancha em sua vida.

Vamos ao texto.



E se Dilma tivesse vendido uma estatal, avaliada em mais de 100 bilhões, por 3,6 bilhões, como FHC (PSDB) fez com a Cia Vale do Rio Doce?

E se Dilma tivesse construído dois aeroportos, com dinheiro público, em fazendas da família, como fez Aécio Neves (PSDB)?

E se Dilma estivesse na lista de Furnas, junto com FHC, Geraldo Alckmin, José Serra, Aécio Neves (todos do PSDB)... Entre outros?

E se Dilma estivesse sendo acusada de receber propinas da Petrobrás, como Aloysio Nunes (PSDB)?

E se Dilma estivesse sendo processada no STF, por ter recebido propinas da empreiteira OAS e por ter achacado o Detran do seu estado, em um milhão de reais, como Agripino Maia (Dem)?

E se Dilma tivesse sido denunciada como beneficiária do contraventor Cachoeirinha, além de estar sendo processada, por exploração de trabalho escravo, em sua fazenda, como Ronaldo Caiado (Dem)?

E se Dilma estivesse sendo investigada na Operação Zelotes, por ter sonegado 1,8 milhão de reais e corrompido funcionários públicos, para que essa dívida sumisse do sistema da Receita Federal, como Nardes (Conselheiro do TCU, ligado ao PSDB)?

E se Dilma tivesse sido manchete de capa no New York Times, por suspeição de narcotráfico internacional, o que gerasse diversas reportagens na televisão norte americana, e agentes do DEA, Departamento Anti Drogas, dos Estados Unidos, tivessem vindo ao Brasil, para investigá-la, e um helicóptero com quase meia tonelada de pasta de cocaína fosse apreendido em uma fazenda de amigo pessoal e sócio dela, em negócios não muito claros, como Aécio Neves (PSDB)?

E se a filha da Dilma fosse assessora do presidente da CPI da Petrobrás e lobista junto a Nardes, um conselheiro do TCU, e tivesse uma conta secreta no HSBC suíço, por onde passaram milhões de dólares, como Daniele Cunha, a filha de Eduardo Cunha (PMDB)?

E se Dilma tivesse sido presa em 2004, por fraude em licitação de grandes obras, no Amapá, e tivesse sido condenada por corrupção, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, como Flexa Ribeiro (PSDB)?

E se Dilma, quando prefeita de Salvador, tivesse sumido com 166 milhões das obras do Metrô, como Antônio Imbassahy (PSDB)?

E se a filha da Dilma tivesse tido um único emprego, de assessora da mãe, e a revista Forbes a tivesse colocado como detentora de um das maiores fortunas brasileiras, caso da filha do Serra (PSDB)?

E se Dilma tivesse 18 processos por corrupção, como José Serra (PSDB)?

E se Dilma tivesse 22 processos por corrupção, como Eduardo Cunha (PMDB)?

E se Dilma tivesse dado dois Habeas Corpus, em menos de 48 horas, a um banqueiro que lesou o sistema financeiro nacional, para que ele fugisse do país; se tivesse dado um Habeas Corpus a um médico que dopava a suas clientes e as estuprava (foram 37 as acusadoras), para que ele fugisse para o Líbano; se tivesse feito uso sistemático de aviões do senador cassado por corrupção, Demóstenes Torres (Dem); se tivesse votado contra a Lei da Ficha Limpa por entender que tornar inelegível um ladrão é uma "atitude nazi-fascista" (sic), tendo a família envolvida em grilagem de terras indígenas, como Gilmar Mendes, Ministro do STF?

E se Dilma colocasse sob sigilo, por 25 anos, as contabilidades da Petrobras, Banco do Brasil e BNDES, como Geraldo Alckmin (PSDB) colocou as do Sistema Ferroviário paulista, das Sabesp e da Polícia Militar, após se iniciarem investigações da Polícia Federal, apontando desvios de muitos milhões?

E se Dilma tivesse sido governadora e como tal, cassada, por conta de compra de votos na campanha eleitoral, corrupção e caixa dois, como Cássio Cunha Lima (PSDB)?

E se Dilma, em sociedade com Mário Covas (PSDB) tivesse comprado uma enorme fazenda no município mineiro de Buritis, em pleno mandato, e recebesse de presente de uma empreiteira um aeroporto, construído gratuitamente, constatando-se depois que foi essa empreiteira a que mais ganhou licitações no governo FHC (PSDB), sócio de Covas?

E se Dilma declarasse à Receita Federal e ao TRE ter um patrimônio de 1,5 milhão e a sua filha entrasse na justiça, reclamando os seus direitos sobre 16 milhões, só parte do seu patrimônio, como aconteceu com Álvaro Dias (PSDB)?

E se Dilma estivesse sendo acusada de ter recebido 250 mil de uma empreiteira, na Operação Lava Jato, como Carlos Sampaio (PSDB)?

E se Dilma tivesse comprado um apartamento no bairro mais nobre de Paris e se, dividindo-se o valor do imóvel pelos seus rendimentos, se constatasse que ela teria que ter presidido este país por quase trezentos anos para tê-lo comprado, caso de FHC (PSDB)?

E se Dilma fosse proprietária da maior rede de televisão do país, devendo quase um bilhão de impostos e mais dois bilhões no sistema financeiro, e tivesse o compromisso de proteger corruptos e derrubar a presidente, em troca do perdão da dívida com o fisco e financiamento do BNDES, para quitar as dívidas da empresa, como no passado, caso dos irmãos Marinho, proprietários da Rede Globo de Televisão?

E se Dilma tivesse sido denunciada seis vezes, por seis delatores diferentes, na operação Lava Jato e fossem encontradas quatro contas suas, secretas, na Suíça, alimentadas por 23 outras contas, em paraísos fiscais, e o dinheiro tivesse sido bloqueado pelo Ministério público suíço, por entendê-lo fruto de fonte escusa, e tivesse mandado toda a documentação para o Brasil, com a assinatura dela, como aconteceu com Eduardo Cunha (PMDB)?

Certamente Dilma, investigada noite e dia, em todas as instâncias, sem um indiciamento, sem sequer evidências de crimes, "uma mulher honrada", no dizer do promotor da Lava Jato e de um dos advogados dos réus, não estaria com os citados pedindo o seu impeachment.

O seu crime? Chegou o dia de pagar os carentes do Bolsa família e o tesouro não tinha dinheiro. A Caixa Econômica Federal pagou e recebeu três dias depois. Isto é "pedalada" e por isso todos os citados acima a querem fora do governo.

Por que é desonesta ou por que é um risco para os desonestos?

Para apressar a tramitação dos processos em curso ou para arquivá-los?


quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Não é por corrupção. O buraco é mais em cima

Por Fernando Castilho



Ao ver alguns vídeos das manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, chamou-me a atenção a agressividade das pessoas além de um discurso que quase passou desapercebido. Elas agora não falam em corrupção. Falam em derrubar a presidente que está acabando com o país. E não falam de Cunha. Quem insufla esses golpistas e os fazem adotar esse comportamento insano e ridículo?



Neste clima que vivemos de quase Fla-Flu, num dia, manifestação pró-impeachment com 30 mil pessoas na Av. Paulista, noutro, 55 mil contra impeachment, pensar mais acima torna-se um exercício bastante complicado.

Vamos lá.

Não é devido à corrupção que Dilma pode ter cometido, que querem derrubá-la. Até o papagaio do Aécio sabe que ela é pessoa honesta. As pedaladas fiscais não constituem desrespeito à Lei de Responsabilidade Social e ponto.

Há dois motivos principais para derrubarem Dilma:

1) motivo doméstico, prosaico, simples. Caindo a presidente, assume Temer ou qualquer
Veja o que fez o Macri na Argentina logo após vencer as eleições: a escolha de juízes para o Supremo de lá será por decreto presidencial..

Além disso é fundamental para a oposição, principalmente, que o financiamento privado de campanhas volte, afinal, eles precisam de dinheiro para vencerem eleições, já que não têm militância para ir às ruas.

2) motivo de amplitude mundial, complexo. Caindo a presidente e assumindo qualquer outro, o sistema de partilha da exploração do pré-sal também será derrubado. Assim, as grandes petrolíferas americanas que não se beneficiaram até agora, poderão fazer a festa. E é o senador José Serra que vem trabalhando com aplicação para que a Chevron seja a grande beneficiada.

Não sejamos ingênuos de acreditar que as pessoas saíram às ruas dia 13 contra a corrupção. Se assim fosse, haveria faixas pedindo a cassação de Eduardo Cunha também.

Mas se não foi contra a corrupção, foi por qual motivo?

Basta assistir a qualquer vídeo feito no ato. Perceba que quase todo mundo fala que Dilma e o PT querem acabar com o Brasil. Bastante vago, não? Não sabem nem bem qual é o motivo?

A crise, talvez?

Mas se Dilma é uma péssima governante, por que seu primeiro mandato foi exitoso?
Dirão: ora, porque a situação internacional era boa. Não, não era boa. A crise internacional começou em 2008, na metade de seu governo.

Agora que Dilma recebe a pecha de má governante, não admitem que há uma crise internacional que puxa o Brasil para seu foco.

Então, o que há com essas pessoas?

Durante 13 anos a mídia brasileira martela todos os dias ''notícias' e ''fatos'' contra políticos do PT, Dilma e, mais recentemente abriu fogo contra Lula, já que ele é virtual candidato para 2018.

Se alguém é preso, é amigo de Lula. Os filhos de Lula vivem sendo presos, uma nora de Lula faturou grana de empreiteira, etc., etc.. Depois desmentem as notícias em notas pequenas que ninguém lê.

Por que a mídia faz isso? Porque não gosta do PT ou dos olhos do Lula?

Não. A mídia brasileira está arrebentada, quase falida. E não há a mínima possibilidade deste governo socorrê-la. Quem o fará? Bingo!

A mídia tem sido a grande responsável em insuflar o golpe.

Além da mídia, grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre), financiado pelos irmãos norte-americanos, Koch, que têm grande interesse no pré-sal e o Vem pra Rua, financiado por Paulo Lemann movimentam milhões de pessoas nas redes sociais.

Outro grupo com grande número de internautas é o Revoltados Online, mas este quer mesmo viver de doações e vender camisetas e kits pró-impeachment, adotando uma metodologia de ganhar dinheiro adaptada das igrejas evangélicas.

Portanto, as pessoas que bradam pelo golpe são em geral manipuladas para o fim inconfessável de fazer o poder voltar às mãos daqueles que sempre procuraram vender o Brasil aos americanos a preços módicos e faturar altas comissões.

Não se trata de teoria da conspiração e nem de uma visão simplista das coisas.

Basta acompanhar o que vem acontecendo nos países da América Latina onde governos progressistas se instalaram. O mesmo clima de revoltas também vêm acontecendo em países do leste europeu e do oriente médio. É sempre o mesmo modus operandi.

Mas o golpe no Brasil não prosperará.

Haveremos de superar esta má fase e voltar a crescer economicamente.


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Ô Cunha, conta pra mim, vai.

Por Fernando Castilho




Ô Cunha, conta pra mim, vai. Ao pé do ouvido, baixinho, usando a palma da mão para encobrir qualquer possível leitura labial, aquele seu jeito de ser.

Você marcou uma touca tremenda, né véi?

Ganhou muito dinheiro de lobistas dos planos de saúde, para por fim no SUS. Da Globo e de operadoras de telefonia, para que o Marco Civil da Internet não fosse aprovado. Das empresas de terceirização, para passar o projeto de terceirização. Das empresas de segurança para que a maioridade penal baixasse para 16 anos obrigando a construção muitos presídios privados,etc..

Véi, cê faturou uma grana preta! Cê é um trator, malandro!

Mas você não se contentou só com essa grana. Quis mais. Quis grana da Petrobras! Cê tá louco, mano!

E não quis só grana, quis poder também.

Quis ser o presidente da Câmara.

E aí tá seu erro. O poder te deu muita visibilidade.

Achou que mais poder, mais grana, cara!

Cê tava garantido, véi. Ficasse quietinho na moita faturando com seus  lobbys e estaria de boa até agora. E mais rico ainda.

Mas maldito poder que fica fazendo cosquinha, né?

Agora a coisa vai ficando preta.

Lógico que você tratou também de se garantir, né não?

O Janot demorou 3 meses pra dar busca e apreensão em suas casas. Por acaso ele ligou pra você pra perguntar se já podia mandar a PF?

E você, limpou tudo? Se não limpou, tá marcando...

Mas, e o lance do celular, hein?

Esse eu vejo pelas fotos que você não desgruda. Tem alguma coisa nele?

E o táxi, hein? Que furo véi, na boa. Você que é tão esperto, deu uma de amador?

Agora me conta, cara, qual é o lance com o Paulinho, hein?

Ele te protege como cão de guarda mas não é pelos seus lindos olhos, né?

É chantagem? Cê tem ele na manga? Ele depende de você pra se safar da condenação?

E a sua tropa de choque? O que ganha em troca?

Outra coisa: Cunha, você tem alguma coisa com o STF? Me diga, não me deixe ansioso!

Por que até agora não mandaram te prender? Não tem motivo de sobra?

Será por causa do Gilmar? Pelo que sei, tem muito ministro com medo dele. Ele fala à vontade e ninguém o contesta.

O que o Gilmar tem guardado que mete tanto medo nos colegas? Cê tá com o Gilmar?

Véi, esperto como você é, não deve ter grana só na Suíça, certo?

Então, por que você não segue aquele roteiro do Delcídio e se manda?

Ah, tem cartas guardadas ainda, né? Contra quem?

Quem você entrega caso seja cassado ou tenha que renunciar?

O senador com fixação por aviões e aeroportos? Tem mais gente?

Hoje é 16 de dezembro, Cunha.

É o dia em que milhares de democratas saírão às ruas no Brasil inteiro protestando contra o golpe e contra a corrupção. Claro que contra você também. Afinal, não somos milhões de Cunhas.

Você sabe, não haverá golpe e a democracia continuará a ser aperfeiçoada no Brasil.


Cunha, se manda. Fora!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

O dia do tudo 13. Zagallo tem razão?

Por Fernando Castilho




A micareta acabou.

Programada para acontecer no dia 13 às 13 horas, referência ao número do PT, também lembrou, intencionalmente ou não, o triste dia 13 de dezembro de 1968, data do famigerado Ato Institucional número 5, acabando por gorar em todo o país.

Rapidamente analisando os motivos, podemos elencar entre outros, justamente o AI-5. Acho houve pessoas que não quiseram ter seu nome associado a esse dia.

Além disso, já deve estar claro pra muita gente que se deixou enganar ingenuamente pela mídia, pelos revoltadões online e Kataguiris da vida, de que o que essa gente quer realmente não é o fim da corrupção, mas tão somente o golpe para derrubar a presidente de um partido que promoveu os pobres.

Pessoas também já devem ter enfim percebido que Dilma é honesta, enquanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha é bandido e Aécio Neves seu aliado em promover o golpe.

Os estudantes secundaristas de São Paulo acabaram também por demonstrar que nem toda a injustiça será tolerada e que haverá forte resistência em caso de golpe.

E agora, o que fazer?

Primeiramente as manifestações contrárias ao golpe e em defesa da democracia que acontecerão em 16 de dezembro têm que ser muito, mas muito mais grandiosa e eloquente que a de domingo.

Estabelecida a supremacia dos democratas (não aquele partideco antidemocrático), as coisas mudarão de figura.

Dilma ganhará uma força e energia que não teve até agora para governar.

Se o Supremo ainda hesitava, será a oportunidade de ouro para enfim mandar prender Eduardo Cunha.

Na esteira, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot poderá enviar ao STF pedido de abertura de investigações sobre Aécio Neves, citado pelo delator Alberto Youssef como beneficiário de propinas de Furnas e Aloysio Nunes e Álvaro Dias citados pelo delator Paulo Roberto Costa na corrupção da Petrobras.

Michel Temer voltará alegremente a gozar de seu não-protagonismo enquanto vice-presidente e enfim haverá fôlego para o governo tratar do que realmente interessa à população brasileira: a crise econômica.

Esse dia 13 foi realmente carregado de simbologia.

À um só tempo, o AI-5 e os fascistas que querem fazer voltar o passado perderam.

Parece que o número 13 é forte mesmo, como dizia Zagallo.


domingo, 13 de dezembro de 2015

As mil e uma máscaras de FHC

Por Fernando Castilho

Charge: Aroeira

Não ia mais escrever sobre Fernando Henrique Cardoso. É sério.

Considerava o assunto esgotado até porque já havia revelado inúmeras falcatruas dele neste texto: FHC, o intelectual das maracutaias

O que me motivou a escrever mais uma vez sobre o ex-presidente, foi o fato de ser surpreendido por uma convocação que ele fez em sua página no Facebook.

FHC quer que o povo vá às ruas neste domingo, dia 13, dia de aniversário do tão malfadado AI-5, para exigir o impeachment de Dilma Rousseff. Data cheia de simbolismo.

FHC já por várias vezes se manifestou afirmando que a presidente é pessoa de moral ilibada e que não crê que ela esteja envolvida em crime nenhum. Ok.

Porém, numa interpretação bizarra do que diz a Constituição sobre o assunto, ele acha que sim, o povo tem o direito de tirar a presidente somente por não gostar dela.

E diz que não é golpe...

Meu caro, eu diria, nem que 54,5 milhões de pessoas (o número de votos que Dilma conseguiu no último pleito) saíssem às ruas exigindo sua derrubada, isso seria legítimo.
Sem crime não há impeachment.

Dirão: mas e as pedaladas fiscais?

Mais de uma centena de juristas do mais alto grau de reputação e conhecimento das leis já afirmaram que a Lei de Responsabilidade Fiscal não foi ferida, portanto, não há crime.

Então, o que pretende FHC?

Seu nome foi citado por Delcídio do Amaral, que se encontra preso. Delcídio era nome forte na Petrobras justamente no tempo em que FHC era presidente. A corrupção já existia em seu governo e ele nada fez para coibi-la.

Ou seja, FHC sabia.

Agora, quanto mais rápido Dilma for defenestrada do Planalto, mais chances ele tem de que a Lava Jato pare, a Procuradoria Geral da República engavete tudo e a Polícia Federal, perdendo sua autonomia, cesse com as investigações.

FHC agora está na mesma trincheira de luta de Eduardo Cunha.

O filósofo francês, Montaigne disse que todo homem ao nascer vai colocando uma máscara. Depois outra e mais tarde outra e outra. Alguns mais, alguns menos.

Sempre quando se vê diante da possibilidade de ganhar algo, de conseguir posto mais alto, de galgar mais notoriedade, fama ou poder, o homem não titubeia em vestir uma máscara para alcançar seu intuito.

FHC já vestiu uma infinidade de máscaras como podemos ver no texto ''FHC, o intelectual das maracutaias.

Batalhou pelas ''Diretas Já'' somente para que houvesse eleições que pudesse vencer, apossou-se da autoria da Teoria da Dependência, de Ruy Mauro Marini, autoproclamou-se autor do Plano Real, no que se viu desmentido pelo ex-presidente Itamar Franco, comprou sua reeleição à presidência, privatizou a preço de banana a Vale do Rio Doce e outras estatais e como se não bastasse, ainda escreveu um livro, ''A Soma e o Resto'', plagiando o título do livro de Henri Lefevbre, ''La Somme et le Reste''.

Voltando a Montaigne, o filósofo diz que à medida que o homem vai se aproximando da hora de sua morte, uma a uma as máscaras vão sendo retiradas até que pouco antes do último suspiro reste-lhe somente a face verdadeira. E esta pode ser horrível.

Nessa hora, não há mais nada por que lutar. Não há mais nada a ganhar, já que não poderá levar nada para o túmulo.

Então, o homem não precisa se mostrar diferente do que ele é a ninguém. Ele é verdadeiro.

Há um exemplo pop muito interessante, na figura do vilão Darth Vader de Guerra nas Estrelas.

No final do terceiro episódio, Vader luta com seu filho, Lucky e é derrotado.

Já à beira da morte, quando nada mais lhe resta, retira o elmo (máscara) que lhe garantira a sobrevivência por grande parte sua vida e confessa ao filho que nunca deixou de amá-lo.

Nessa hora Vader é verdadeiro.

Mas o que isso tem a ver com FHC?

Tudo.

Fernando Henrique está com 84 anos de idade.

Se a expectativa de vida dos brasileiros está em 75,2 anos, pode-se dizer que FHC já deveria estar considerando a hipótese de começar a retirar uma a uma suas máscaras.

Mas não.

Ao investir no golpe para tentar vaidosamente manter incólume, pelo menos para a maioria dos brasileiros, a versão oficial de sua biografia (não a que expus aqui, mas sim a alardeada pela grande mídia), contribui para jogar o Brasil definitivamente na maior crise econômica, política, social e institucional desde 1964.

Pelo visto, FHC tem a intenção de contrariar Montaigne ao não retirar nenhuma máscara antes de dar seu último suspiro.


sábado, 12 de dezembro de 2015

Quem for às ruas dia 13 estará dando um tiro no próprio pé

Por Fernando Castilho



Amigos, estamos em uma encruzilhada e no fim de um processo que pode nos levar a dois mundos.

O impeachment da presidente Dilma, sem base legal, sem crimes, elevará seu vice, Michel Temer à condição de mandatário da Nação.

Temer, por sua vez, também assinou pedaladas fiscais, o mesmo pretexto inventado para derrubar Dilma. Será ele, então, pela lógica, se é que ainda há alguma lógica, também impedido.

Segue na hierarquia o presidente da Câmara, Eduardo Cunha que, em três meses terá a missão de convocar novas eleições.

Deste fato decorrem dois desdobramentos, o primeiro mundo:

1 -Cunha determinará que a Procuradoria Geral da República engavete todos os processos. Fará com que a Polícia Federal pare de investigar a Lava Jato. Trabalhará, enfim, para se livrar, não só da cassação, como de sua prisão.

E é isso que estamos assistindo todos os dias na Câmara. As manobras de Cunha para se livrar.

2 – Convulsão social nunca vista no país.
Se o país está em crise econômica, aumentada algumas vezes pelos sabotadores da República que impedem que as medidas necessárias sejam tomadas, podem ter certeza que a ela se juntará a crise social e institucional.

Os estudantes de escolas públicas do Estado de São Paulo já demonstraram que não aceitam injustiças e autoritarismo. Deram o grande exemplo à Nação.

Ninguém mais aceita decisões injustas.

Não tenham dúvidas de que um tsunami gigantesco, de proporções não avaliáveis se levantará contra este golpe que está em andamento.

Quem ler este texto pode achar que se trata de exagero. Outros irão se apavorar.

Mas o que digo e afirmo é que, a exemplo de 1964, haverá derramamento de sangue.

Haverá armas. Haverá resistência. Não duvidem, o formigueiro é grande e poderoso.

A inflação disparará, os investimentos em produção cessarão causando desemprego fortíssimo. A nota de investimento internacional do Brasil será rebaixada a níveis do governo FHC, não permitindo qualquer reação da economia, que permanecerá engessada por vários anos.

E isso interferirá na sua vida, entende?

Não falo como visionário. Falo como quem já viu este filme antes. Não há como fugir do roteiro.

Aqueles que sonham que Aécio Neves assumirá quando Dilma for derrubada num céu de anil, com flores desabrochando num dia maravilhoso, estão terrivelmente enganados.

Aécio não assume em hipótese alguma! Não há base legal para isso! Esqueçam!

Resta a saída mais saudável. O segundo mundo.

Eduardo Cunha será preso, o impeachment será arquivado por absoluta falta de provas de crimes contra Dilma, a oposição fará um retiro espiritual em que, através de autocrítica, iniciará um projeto de governo para seu candidato em 2018 e a Nação se unirá para que a crise seja superada e que possamos prosperar daqui para a frente.


Portanto, você que vai às ruas em 13 de dezembro, repense se você não está dando um tiro no seu próprio pé.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O day after dos colunistas da grande mídia após o impeachment

Por Fernando Castilho



Charge: Aroeira


Alguns poderão interpretar este texto como não sendo plural.
Está certo que a vida não se guia por uma visão maniqueísta do mundo. Afinal, entre dois polos há uma infinidade de matizes.

Porém, há que se fazer uma reflexão sobre o que escrevem e falam os profissionais que mais atuam na grande mídia e que mais contribuem para a formação de opinião das pessoas que acessam seus veículos.

E o que pode acontecer com eles, caso Dilma Rousseff deixe a presidência.





Eles foram chegando aos poucos enquanto outros foram saindo ou sendo dispensados ao longo de vários anos.

Hoje em dia os colunistas de direita ocupam quase todos os espaços da mídia, escrevendo ou falando principalmente sobre política e economia.

Merval Pereira, Ricardo Noblat, Reinaldo Azevedo, Eliane Cantanhêde, Bonner, Waack, Leitão, Sardenberg... Enfim, a lista é grande, muito grande.

Alguns da esquerda ainda sobrevivem, como Janio de Freitas. Outros, que não são da área da política, às vezes enveredam por ela na tentativa de equilibrar um pouco as coisas. É o caso do Gregório Duvivier (humorista), Mário Magalhães (esporte) e Juca Kfouri (esporte).

Além do fato da maioria dos colunistas serem de direita, o que há em comum a todos eles atualmente é a necessidade de que Dilma Rousseff seja defenestrada da presidência, mesmo que não haja acusação contra ela, e que o PT desapareça.

Para isso, se antes havia comentários citando fontes anônimas (ah, a velha desculpa de se proteger a fonte...), agora inventa-se ''fatos'', ilações, disse que disse, etc., todos publicados em grandes manchetes a chamar a atenção do transeunte ou do internauta que, afinal de contas, não lerá mesmo a matéria completa que pode ser bem diferente.

Depois publica-se um ''erramos'' pequenininho em alguma página no meio do jornal e estamos conversados.

A nova lei do direito de resposta veio em boa hora pois o colunista agora terá obrigatoriamente que ter mais cuidado.

Neste momento agudíssimo em que vivemos, com o impeachment de Dilma sendo colocado na pauta todos os dias, há muito trabalho para essa matilha.

São matérias e mais matérias, muitas delas já escritas, aguardando para serem publicadas.

Articulistas disputam a tapa a primazia de verem seus textos publicados. Quanto mais agressivos, mais agradarão o patrão, garantindo seus empregos e sua boa paga.

Os grandes jornais também saem no lucro, ainda que parco, uma vez que conseguem uma sobrevida, um refresco, um fôlego a lhes adiar o inexorável encerramento das atividades.

As revistas semanais de ''informação'' também vão segurando seus leitores fieis, mantendo aquela nata que se sente contemplada pelos textos. Ao mesmo tempo vão enganando o IVC (Instituto Verificador de Circulação) ao distribuir exemplares gratuitamente, uma forma de ainda conseguirem manter algum anunciante.

Então ficamos imaginando...e se Dilma cair, como será o day after dessa turma?

Lógico que sempre haverá o que se falar contra Lula, os filhos de Lula, a nora de Lula, o papagaio, enfim. Ah, esqueci do Zé Dirceu.

Mas não será como antes.

Terão que elogiar diariamente o Michel Temer ou outro aventureiro que assuma a cadeira (pode ser o Renan, sabem?).

Caso Temer também seja implicado no caso das pedaladas fiscais, pois sabe-se agora que ele assinou sete atos, num montante de 10,8 bilhões de reais, assume a presidência o terceiro na hierarquia, Eduardo Cunha.

Mas vamos ser só um pouquinho mais otimistas e considerar que Temer seja o nome mais provável entre os corvos que ora rodeiam a presidente.

Uma semana após a hipotética posse de Temer, imagino a Míriam Leitão e o Sardenberg anunciando que a crise está com os dias contados, a inflação está caindo, a confiança dos investidores está aumentando, etc., etc..

Uma semana após a hipotética posse de Temer (vamos considerar o mais provável entre os corvos que rodeiam Dilma), imagino a Míriam Leitão e o Sardenberg anunciando que a crise está com os dias contados, a inflação está caindo, a confiança dos investidores está aumentando, etc., etc..

Merval comentará sobre a importância de se esquecer agruras do passado, ao publicar carta vazada de Temer para Cunha (sim, Cunha ainda não terá sido preso e nem será, caso haja impeachment!), em que o novo presidente jura ser fiel até o fim de seus dias.

Cantanhêde destacará o acerto de Temer em convidar José Serra para ser ministro da Saúde, homem com grande experiência na área e que acabará com aquele programa bolivariano, o Mais Médicos.

Mas a mídia não sobrevive de notícias boas. Elas não vendem jornais.

Ao ver sua crise aumentar rapidamente em virtude da queda nas vendas e na audiência, começará o passaralho (jargão jornalístico que significa dispensa em massa de profissionais da área).

E os primeiros a perder seus empregos serão justamente aqueles que mais auferem, os Reinaldos da vida.

Serão os que guiam suas vidas pelas diretrizes da meritocracia. Só os melhores podem sobreviver e ter sucesso, certo?

Os que não conseguem, são extintos.



terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Caro Michel, sua carta subestimou a inteligência dos brasileiros

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


A ideia deste texto não é absolutamente sugerir uma forma de resposta por parte da presidente. É apenas uma carta.


Caro vice- presidente, Michel Temer,

O senhor reclamou em sua carta endereçada à presidente Dilma, de sua perda de protagonismo.

Sr. Michel, primeiramente, o senhor não é protagonista no governo, o senhor é vice, vamos lembrar.

Vossa Excelência se disse indignada por sua missiva, de teor pessoal ter sido vazada para a mídia.

Ora, está na cara, percebe-se, está nas entrelinhas, na composição do texto, na forma de linguagem, que ela foi dirigida à imprensa. Se não o fosse, a Globonews teria revelado que a obteve de uma fonte do Planalto, já que o interesse da emissora é grande em jogar mais gasolina nessa fogueira, estejamos certos.

Portanto, foi o senhor que divulgou a carta à imprensa, certo?

E mais, ela se destina também ao PMDB e à oposição como quem grita num megafone: ''ei, estou aqui e quero ser o presidente! Vamos com tudo ao golpe, que eu assumo e faço o jogo que todos nós queremos!''

Desde que teve início o ''apoio'' do PMDB ao governo, o senhor não fez outra coisa senão atuar com dubiedade, trocando esse apoio por cargos e mais cargos, não é?

Nunca poderia passar pela cabeça de quem raciocina um pouco e acompanha política, que o PMDB participaria de um governo preocupado com causas sociais. Nunca.

O senhor agora sai usando como pretexto um difuso desdém com que Dilma teria lhe tratado ao logo destes anos. Quer sair fazendo-se de vítima: ''olha aí, minha gente, o que tenho sofrido nas mãos dessa mulher diabólica que todos querem ver pelas costas!'', é como traduzo o sentido da missiva.

Poderia ter saído com discrição e talvez com certa honradez, mas preferiu outro caminho.
Sei que o senhor e outros precisam que Dilma seja impedida de governar. Dizem que seu nome e os de outros podem ser citados a qualquer momento em delação premiada.
Delcído poderá falar. E Delcídio vem de governo anterior ao de Lula, certo?

Leia também este outro artigo sobre Temer

O senhor se lembra de quando, em 1998, como Presidente da Câmara, conseguia junto à Fernando Henrique Cardoso, verbas para prefeituras do PSDB?

O senhor visitava prefeitos, era recebido com pompa e depois enviava o chefão de empreiteira envolvida na Lava Jato para oferecer projetos habitacionais, de urbanização de favelas e de modificações no sistema viário a prefeituras tucanas. O homem afirmava que o senhor já havia garantido recursos enormes para os municípios. E que isso iria ser bom para todos.

FHC-Michel-empreiteira-tucanos-lava jato. Olha a conexão.

O juiz Moro até deu uma sumida nos últimos tempos, talvez aguardando o impeachment que teria o poder de fazer todo o restante da operação Lava Jato cair no esquecimento, uma vez que os petistas que poderiam ser presos já foram.

Convenhamos, Dilma não foi citada nem será, não é? Agora só sobram os outros e queremos saber quem são.

O senhor reclamou que Dilma se aproximou do deputado Picciani. O tom é de ciúmes, mas sabemos que não foi por isso, não é? Reclamou, na verdade, porque Picciani é contra o impeachment e está propondo para a Comissão que estudará o processo, nomes favoráveis à presidente. Isso destrói seus planos futuros imediatos, não?

Qual são eles?

Já sem Dilma, defenestrada por um julgamento espúrio e ilegítimo, porque as pedaladas fiscais não configuram crime de responsabilidade, como o senhor que é advogado bem sabe, o caminho estaria aberto para que o vice (e nessas horas é que os vices tem valor), assumisse a tão sonhada e até então longínqua presidência da República. Sim, longínqua porque Dilma nunca o faria seu sucessor, não é?

Além disso, o senhor sabe que a reportagem do Estadão publicou um artigo afirmando que Vossa Excelência assinou sete decretos de pedaladas fiscais, não sabe? 

Acomodado na cadeira presidencial, após o atentado à democracia ter sido deflagrado, as primeiras medidas a serem tomadas seriam:

1) Tranquilizar o povo, pois o mal foi afastado e agora o país entrará no rumo certo.

Como se o senhor nunca tivesse feito parte do governo. Neste item em particular, a mídia teria um papel de destaque, mas isso o senhor já deve ter negociado. Grana do BNDES para socorrer a velha imprensa é muito bem-vinda. A crise econômica sairia do noticiário, as pessoas ficariam felizes e confiantes e o país voltaria a crescer.

2) Suprimir a independência de atuação da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal e passar a controlar a Lava Jato até que ela caia no esquecimento. Todos se livrariam, até seu amigo, Eduardo Cunha.

3) Colocar em ação o Plano Temer, elaborado por seu comparsa, Moreira Franco, que acaba com os programas sociais, o reajuste automático do salário mínimo, o sistema de partilha do pré-sal e inaugura um novo período de privatizações. Ou seja, o senhor poria pra funcionar o programa de governo do Aécio Neves. Mais sobre o Plano Temer, aqui

Possivelmente ele próprio e José Serra, que já se ofereceu para ser seu colaborador em eventual governo, seriam convocados para ser seus ministros.

Mas faltou combinar com os russos.

Não pense que não haverá reação ao seu golpe.

A consciência de 54,5 milhões de votos não se compra tão facilmente com essa jogada.

Pode ser que esta seja sua grande oportunidade na vida, mas não se iluda, vai ser muito difícil governar em meio à convulsão social que se seguiria logo após o golpe.

Em tempo: o senhor não engana a ninguém com sua cartinha.



Leia abaixo a íntegra da carta obtida pela GloboNews:

São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto



quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Carta aberta ao nobre jurista, Hélio Bicudo

Por Fernando Castilho






Amigos, logicamente não tenho a pretensão de que esta carta chegue ao Dr. Hélio Bicudo, uma vez que sou um pequeno blogueiro e pouca gente dará atenção a ela, vamos combinar.

Não possuo também procuração para exprimir o sentimento de cada brasileiro pois não tenho essa capacidade nem esse direito. Falo então por mim, embora no final defenda os votos dos 54,5 milhões de eleitores que escolheram Dilma Rousseff.

Mas como na internet tudo é possível, quem sabe por vias tortuosas o o Dr. Hélio acabe lendo-a? Quem sabe?

Vamos à carta.



Dr. Hélio, desculpe mas a partir de agora vou chamá-lo de ''você'', certo?

Você foi ministro interino da Fazenda no governo João Goulart, deposto pelo espúrio regime militar de 1964. Começa a ter história na esquerda a partir daí.

Inesquecível sua luta contra o Esquadrão da Morte em São Paulo.

Atuando praticamente sozinho, contra todo tipo de pressões e ameaças, você expôs as vísceras do grupo e levou à cadeia alguns de seus membros, entre eles o líder, o delegado Fleury, torturador e chefe do DOPS, um dos homens mais poderosos da polícia paulista que não conseguiu nem prendê-lo nem dar fim à sua vida.

Você foi um Golias gigantesco contra todos aqueles que compactuavam daquela imoralidade cruel, ofensiva aos direitos humanos e totalmente contrária ao Estado de Direito.

Tentei conservar ao longos dos anos minha lembrança de sua estatura física pequena, mas principalmente não sai de minha memória sua estatura moral imensa. Daqueles tempos.

Mesmo depois que você saiu do PT em 2005, enojado com o processo do mensalão.

Mesmo que você não tenha se preocupado em defender seus companheiros contra uma condenação muito mais midiática e política do que pautada pela busca da Justiça, antiga obsessão sua, no episódio do mensalão.

Mesmo que digam que você ficou ressentido com Lula e por nunca tê-lo perdoado, destila há décadas seu ódio.

Mesmo que você tenha apoiado José Serra, candidato da direita, nas eleições de 2010, em detrimento de Dilma Rousseff, que representava o único e mais consistente projeto da mesma esquerda da qual você fora outrora grande apoiador.

Mas agora, Hélio, você foi longe demais.

Não porque eu simplesmente não concorde com suas posturas políticas que mudaram radicalmente. Isso acontece com muita gente de esquerda que envelhece. E você não parece estar senil como muita gente sugere.

Mas ao elaborar um parecer jurídico em conjunto com Miguel Reale Júnior, da mesma direita que quer retomar o poder à força no país, você dá amostras de uma inconsequência juvenil.

O seu parecer, para espanto de juristas não menos respeitados como Bandeira de Mello ou Dalmo Dallari, não se sustenta por ser muito falho. Pior, Bandeira de Mello vai além, ao classificar o pedido de impeachment como ''palhaçada''. Isso não é constrangedor para um jurista de sua qualidade e história?

As pedaladas fiscais do governo Dilma, que são o fiozinho em que vocês se pegaram, não tem consistência por não ferir o Artigo 36 da Lei de Responsabilidade Fiscal, como vocês querem.

E vocês sabem disso, mas mesmo assim receberam da oposição golpista sua boa paga para escrever esse amontoado de bobagens que está agora sendo usado pelo escroque maior da nação, Eduardo Cunha para tentar derrubar injustamente a presidente Dilma.

Uma vez na Câmara, todas as falhas técnicas do parecer serão esquecidas e o processo a partir de agora se guiará somente pela decisão política daqueles 300 picaretas com anel de doutor que seu desafeto outrora citou.

Embora tentasse evitar falar de seus filhos por não querer me imiscuir em questões familiares, ficou claro pela entrevista que o mais velho, José Eduardo, concedeu, que eles não apoiam seu ato. Pior, a crítica que ele faz ao pai é extremamente severa.

Hélio, a biografia de uma vida de 93 anos não pode ser manchada por atos movidos por ressentimentos que jogarão a nação numa crise institucional ainda maior que a econômica. Não é justo.

A imagem que fica de um homem são sempre seus últimos atos como ser humano antes da morte. É por isso que não se dá nome de rua para quem ainda está vivo.

Hélio, por todo o exposto, peço, não só em meu nome, mas também no de 54,5 milhões de votos que não podem ser jogados no lixo comprometendo a consolidação de nossa democracia ainda tão jovem, que reveja sua posição.

Não será vergonhoso de sua parte, muito pelo contrário, será um ato típico daquela coragem com que você enfrentou o Esquadrão da Morte nos tempos mais sombrios da ditadura.

Apontar agora o erro técnico inviabilizará o pedido de impeachment, Cunha será derrotado e preso, a nação deverá retomar unida o caminho da superação de sua crise e a oposição, se apresentar propostas melhores terá sua chance democrática em 2018.

Passo agora, em respeito à sua história e aos seus 93 anos de idade, a chamá-lo de ''senhor''.