terça-feira, 31 de março de 2015

Manifesto - Mais democracia, menos corrupção

Este manifesto é endereçado a todos que querem a democracia no Brasil cada vez mais consistente, cada vez mais sólida, de modo a ficar imune aos ataques periódicos daqueles que não toleram a liberdade.
A todos aqueles que estão indignados com toda a corrupção que ocorre no Brasil há séculos, desde seu descobrimento, e que só agora começa a ser combatida em todas as esferas de poder e em todas as esferas da sociedade.
Embora pareça apócrifo, foi escrito à várias mãos. Seus autores, ao não declinarem seus nomes, preferem que o valor não lhes seja dado, mas sim ao próprio texto e à importância que ele encerra neste momento histórico em que estamos vivendo.
Ao final, há o link pelo qual você também, se desejar, pode assinar.



O sistema político-partidário brasileiro encontra-se colapsado, e nossos políticos perderam o pulso da história e a capacidade de liderar. O debate público, suas informações e deformações se dão nas redes sociais, freneticamente, num processo que eles não entendem ou acompanham. Por isso resolvemos escrever esse manifesto que é um grito de alerta, indignação e convocação.
Articulistas da mídia corporativa constroem uma narrativa na qual a esquerda e a direita estão disputando as ruas, enquanto uma terceira via centrista não se sente representada nem pelo PT nem pelo PSDB e não sai de casa.
Mas isso é só mais uma armadilha retórica para puxar o espectro político brasileiro à direita.
Apesar de a maioria dos militantes de base do PT ainda defenderem bandeiras de esquerda, o PT não só não conseguiu mudar o sistema político brasileiro como acabou por ele modificado. O peso de governar com um congresso corrupto e conservador e de financiar campanhas contra a direita milionária o empurrou para o centro. Isso gerou um imenso e perigoso vácuo político até mesmo na centro-esquerda, que não conta mais com partidos que outrora ocuparam esse lugar.

Não é o centro. É a esquerda a grande ausente das ruas neste momento. Em que pese a presença de organizações de esquerda no dia 13, o que vimos lá foi o que restou delas depois de 12 anos de desmobilização pelo PT e por sua política de conciliação de interesses, que agora chega ao seu limite estrutural. A maioria da esquerda não tem liderança, perdeu seu poder de reação e não vê por que defender esse governo, fato que é explorado pela direita para dividir as forças populares e preparar um gigantesco assalto ao Estado brasileiro, aos direitos trabalhistas e políticos.
Mas nós, cidadãos de esquerda, estamos sim, profundamente indignados. Nossa indignação é muito antiga e muito maior do que a destes indignados de 15 de março, que não só não têm o monopólio da indignação, como parecem ter uma indignação muito seletiva.
Porque esses estão indignados com o roubo de 4 bi dos lucros da Petrobrás durante 10 anos, e com a leniência de membros do PT com esse assalto à nossa maior empresa. Nós também.
Mas estamos muito mais indignados com os que a querem roubar inteira, privatizando-a e entregando lucros, que foram de 272 bi no período citado, a tubarões nacionais e internacionais.
E isso ainda é muito pouco, nossa indignação é muito maior que essa, porque nossa memória está abarrotada dos cadáveres insepultos da corrupção brasileira;
Nós estamos indignados até hoje com a privatização fraudulenta da Vale, com os crimes da privataria tucana que dilapidou metade de nosso patrimônio, com o Banestado, o HSBC, o Fonte-Cindam, a anulação da Satiagraha, os sanguessugas, a prescrição do mensalão tucano, o aeroporto de Cláudio, o helicóptero da coca, a lista de Furnas, a máfia do Cachoeira, o Metrô de São Paulo, os trens de SP, o Rodoanel, o Sivan, a sonegação da Globo, a sonegação do Itaú, a compra da emenda da reeleição de FHC, e tantos, tantos outros casos cuja apuração foi venalmente impedida no judiciário e criminosamente ocultada pela mídia. Estão todos soltos!
Nós estamos indignados com Aécio Neves, que acusado gravemente por Youssef foi excluído vergonhosamente do processo, mas pede investigações para outros e manifestações contra a corrupção. Sua hipocrisia é um caso extremo da “homenagem que o vício presta à virtude”;
Nós estamos indignados com os partidos brasileiros que em sua maioria perderam qualquer definição ideológica e funcionam como clubes de negócios escusos e achaque a governos;
Nós estamos indignados com o Congresso que, mergulhado com seus doadores em acusações de corrupção, quer promover a toque de caixa uma “deforma política”, ampliando o poder corruptor do dinheiro de empresas e tornando o enfrentamento aos interesses do grande capital impossível.
Nós estamos indignados com os corruptores, as empresas privadas, que emprestam doações de campanha a juros altíssimos: os do BC, de nosso transporte público que rouba um sexto de nosso dia, de uma saúde que nos deixa doentes e de uma educação que nos emburrece. Que sonegam 1/10 do PIB e protagonizam um escândalo cinco vezes maior que a lava-jato: a operação Zelotes.
Nós estamos indignados com este governo, que sucumbiu ao rentismo e aos latifundiários cometendo estelionato eleitoral ao nomear ministros o Chicago Boy Joaquim Levy e Kátia Abreu – defensora de transgênicos, inimiga da Reforma Agrária e dos povos indígenas;
Nós estamos indignados com o rentismo de nossa elite que capturou o orçamento, impede a auditoria da dívida pública, impõe um modelo tributário regressivo no qual quem menos tem paga mais e sustenta os mais ricos e improdutivos através dos juros da dívida;
Nós estamos indignados com o judiciário, que é moroso e garantista para milionários e políticos de direita, mas rápido e draconiano com os pobres, os movimentos sociais e partidos populares;
Nós estamos indignados com a mídia brasileira oligopolista que sonega informação e impostos, serve aos EUA, chantageia governos e políticos e tem histórico golpista e ditatorial irrefutável;
Agora, se nós estamos indignados com tudo isso, estamos muito mais com um criminoso muito pior, um criminoso que não só quer roubar nosso dinheiro como também nossa voz, nossa liberdade, nossos direitos políticos e nosso próprio direito à indignação. Que ameaça deixar nossos corpos violados, nossas almas destroçadas e nossos filhos órfãos.
O fascista é o pior dos criminosos políticos. Seu objetivo é garantir a iniquidade social, matando a democracia. Está disposto a calar, torturar e matar todos aqueles que lutam por justiça social.
E o sintoma maior da putrefação de nosso governo, judiciário, imprensa e elite econômica é a leniência com a qual a dantesca afronta à Constituição de domingo 15 de março – organizada por grupos que aplaudiam torturadores, pediam criminalização de posições políticas, dissolução de partidos e intervenção militar – foi louvada como espetáculo espontâneo e democrático.
Não! Foi um espetáculo hipócrita e fascista convocado e organizado por réus, divulgado por golpistas e financiado por milionários. Foi um espetáculo de ódio de nossa elite econômica.
Nossa indignação não é seletiva como a do dia 15. Nós queremos investigações e julgamento decentes que alcancem a todos, não outro crime como o da prescrição do mensalão tucano.
Nós queremos todos os criminosos presos!
Fascistas que pedem ditadura, donos de empresas cartelizadas e sonegadoras, parlamentares achacadores e membros do executivo corruptos, todos presos!
Nós cidadãos é que não aceitamos ir para a prisão do silêncio e do medo de uma nova ditadura corrupta! Nossos únicos crimes são sonhos de uma sociedade mais justa e igualitária. Já basta estarmos presos por eles em engarrafamentos sem fim, filas de hospitais e vagões lotados.
Porque a ditadura, onde se criaram fortunas como as de Eike Batista e dos irmãos Marinho, foi o regime que nos legou essa corrupção generalizada, acobertada por um judiciário venal e classista, uma polícia militarizada e uma imprensa cínica e oligopolista. Foi o regime de onde surgiu o partido mais corrupto da Lava-jato, o PP, antiga ARENA, de onde saíram Malufs, Sarneys e Agripinos, de onde saiu a fome e um dos dez países mais desiguais do mundo.
Nós é que defendemos a carta de 88, eles cospem nela! Eles cospem nas suas garantias de direitos sociais, na proibição à apologia a golpes de Estado, na previsão de taxação de grandes fortunas, de democratização da mídia, de auditoria da dívida, no impedimento de doação de empresas para campanhas, na legalidade do vencedor das eleições, no direito à moradia, à terra, ao transporte, a uma vida digna. Nós somos os legalistas! Eles são os criminosos!
Não cabem mais ilusões: o ovo da serpente do fascismo foi chocado no Brasil, e ele não costuma obedecer a seus pais. Ele está lá fora demonizando a luta por igualdade de oportunidades, justiça social, liberdade e solidariedade, enquanto canoniza o egoísmo, a desigualdade, a indiferença e a intolerância. Ele quer cassar a nossa voz, seja via uma reforma política plutocrata ou uma ditadura.
O que está em jogo agora já não é mais o apoio ao governo ou à oposição, mas as conquistas sociais de nossa Constituição, nossa liberdade, o direito de falar e mesmo de existir neste país.
Por isso convocamos todos os companheiros de sonhos a unificar nossas forças na criação de uma frente de esquerda sem o comando (nem a exclusão) de entidades governistas.
Vamos às ruas mais uma vez com os verdadeiros indignados desse país e fazer ouvir nossa voz! Porque se nossa voz não for ouvida agora, poderá ser calada para sempre. Porque se abaixarmos nossas bandeiras agora, pode ser que não as levantemos nunca mais.
Companheiros: falem agora ou calem-se para sempre! Contra a corrupção desse sistema político, por mais democracia! Todos presos, o Brasil livre!



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