quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Cuba voltará a ser a ''ilha dos prazeres''?

Por Fernando Castilho


Nunca estive em Cuba, porém vários amigos já lá estiveram e puderam dar seu testemunho do que viram e sentiram. Fui com o tempo traçando um mosaico de impressões sobre o país.

Para mim, porém, ainda fica a impressão causada pelo livro ''A Ilha'' do escritor Fernando Morais, editado em 1976. Naquela época Cuba ainda usufruía do apoio soviético, mas não tinha ainda alcançado os êxitos em saúde e educação que ostenta hoje.

O tempo passou e as benesses do relacionamento com a União Soviética acabaram junto com o fim do bloco em 1991.

Cuba então experimentou um período bastante difícil em sua economia, ao mesmo tempo que os Estados Unidos, de maneira implacável, lhe impunha um embargo econômico cruel.

Mas a ilha aprendeu a sobreviver do que tinha e mesmo com seu diminuto tamanho, com seu isolamento comercial em relação ao resto do mundo, soube se virar para si mesma e ostenta hoje índices invejáveis naquilo que as pessoas mais simples dos países capitalistas sentem mais carência, justamente saúde, educação, moradia e alimentação.

Voltando 80 anos na História da ilha, encontramos uma Cuba governada por Fulgêncio Batista, ditador em dois períodos até 1959. Embora tivesse uma Constituição própria, quem mandava, por lei, eram os Estados Unidos.

Para o povo cubano não havia a satisfação das necessidades mais básicas e a pobreza e miséria existiam em índices alarmantes.

Para os americanos a ilha proporcionava clima tropical, praias, cassinos, drogas e prostituição. Era conhecida como a ''ilha dos prazeres'', o quintal dos Estados Unidos, onde tudo era permitido.

A Revolução Cubana liderada por Fidel Castro pôs fim à ditadura de Batista e as reformas de base começaram.

Bem, a História é longa mas chegamos aos nossos dias após 56 anos de governo de Fidel e Raúl Castro. Cuba hoje exibe seus melhores êxitos no campo social, tendo conseguido eliminar o analfabetismo, implementar um sistema de saúde público universal, diminuir significativamente as taxas de mortalidade infantil e reduzir o índice de desemprego.

E agora, com o fim do embargo americano acertado entre Raúl e Obama, vemos grandes contingentes de empresas estrangeiras movimentando-se para se instalar na ilha e movimentar comércio e negócios. Grande número de turistas que antes consideravam Cuba um tabu também para lá se dirigem.

Os hotéis já não dão conta, havendo já projetos de ampliação e construção de novas unidades capazes de acolher esses novos e endinheirados turistas.

Além disso é significativo o número de americanos que se dirigem a ilha atrás de medicina barata que não encontram em seu país.

Muita gente entrando significa aporte de dinheiro. Isso leva a melhora na infraestrutura para o turista que quer ver atendidas suas necessidades capitalistas típicas.

Cuba vai precisar proporcionar estadas agradáveis a essas pessoas que precisam de McDonald's, shoppings centers, lojas de grifes e outras cositas más.

A ilha acabará por se transformar.

O fim do embargo sempre foi uma aspiração do governo e do povo cubanos e também de todos aqueles em volta do mundo que lutavam contra essa injustiça de seguidos governos americanos.

Porém Cuba deve tomar cuidado para não voltar ao passado.

Todas as conquistas do povo cubano não podem ser corrompidas pela chegada em massa de estrangeiros.

Será que um povo habituado às coisas simples da vida como convivência, amizade, companheirismo, habituado a tomar sua cervejinha com amigo, entre acordes de violão nas calçadas trocará tudo isso pelos ítens de consumo que prometem a felicidade imediata?

É preciso que Raúl imponha limites a essa invasão, sob pena de Cuba voltar a ser a ''ilha dos prazeres''.

Tantas décadas de embargo se destinaram a estrangular a ilha para que ela capitulasse ao capitalismo.

A tática não deu certo pois os índices sociais foram exitosos.

Obama agora muda a estratégia tentando acabar com o socialismo em Cuba pela via da corrupção dos valores já arraigados há gerações em seu povo, mas de indenização pelos prejuízos causados pelo bloqueio não quer nem ouvir falar.

Deixando bem claro que a crítica aqui não se destina a defender que Cuba continue a ser uma espécie de troféu do socialismo que deu certo, com seus carros e prédios antigos parados no tempo, mas sim abrir os olhos sobre as consequências de uma possível volta a um passado que ninguém deseja.




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