terça-feira, 18 de agosto de 2015

Não fui à manifestação. Não sou louco.

Por Fernando Castilho


Laerte
Não fui à manifestação do dia 16. Não sou louco.

Após os protestos de março, ao ver algumas fotos de cartazes e faixas, comentei dizendo que parecia que abriram a porta do hospício.

Fui criticado por isso. Alegaram a tal liberdade de expressão. Alegaram que todos tem o direito de protestar. Alegaram, enfim, que é preciso defender o pluralismo de ideias. Claro que é preciso.

Porém ao ver as fotos dos cartazes e faixas, além de vídeos dos manifestantes do dia 16 último, não há como não dizer que estão loucos.

Uma pessoa com quem comentei alegou que os fotógrafos e videomakers estavam justamente atrás das figuras folclóricas e que estas seriam não mais que 10% dos manifestantes. Os outros seriam pessoas sérias.

Bem, fazendo as contas, se havia mesmo 700 mil pessoas protestando contra Dilma no país todo, então 10% dariam 70 mil pessoas, o que serviria para encher um estádio em decisão do Brasileirão, entre Corínthians e Palmeiras ou Flamengo e Fluminense. E certamente todos ao final estariam mortos após uma batalha campal movida a ódio.

Se o número de pessoas diminuiu em relação ao último protesto, deve ser porque já há uma percepção por parte de algumas pessoas mais sensatas de que Dilma não está envolvida em corrupção, mas o presidente da Câmara, Eduardo Cunha e o candidato derrotado Aécio Neves, sim. Os que compareceram não estão nem aí com a corrupção, uma vez que até defenderam o Eduardo Cunha, corrupto-mor da República. Querem mesmo é acabar com Dilma, Lula e o PT.

Pode-se concluir de lá para cá houve uma decantação. Alguns pularam fora, restando o fundo, o lodo, o volume morto dos protestos. Aqueles que não servem para nada, que não estão entendendo nada do que acontece, aqueles que não tem referências históricas para comparar o presente com o terrível passado que vivemos, aqueles que não conseguem estabelecer um diálogo sem levantar a voz (podem ver nos vídeos), xingar e ofender. O lumpen do pensamento político tão bem trabalhado por Olavo de Carvalho.

Houve de tudo, uma fauna completa.

Além dos costumeiros nus em manifestações que defendem a tradicional família brasileira, tivemos um grande aumento dos que pregam a volta da ditadura justamente para combater a ''ditadura comunista'' de Dilma que permitiu a eles protestarem no domingo sem levarem paulada. Fosse no Paraná, protestando contra Beto Richa (PSDB), o pau ia comer feio e teríamos muitos feridos e presos como quando da manifestação legítima dos professores há dois meses atrás. Fosse em São Paulo, num hipotético protesto pela falta d'água (imagine, sem chance), Geraldo Alckmin (PSDB) iria botar sua polícia (que cometeu a chacina contra 18 jovens de Osasco) na rua pra descer o cacete.

Houve também uma novidade: gente pedindo a volta da monarquia! No próximo protesto deve aparecer gente pedindo o feudalismo, a Inquisição e a Idade Média, já que não tivemos essa experiência.

Parece que a maioria dessa vez era de idosos. Idosos e velhos, (coisas diferente, já que nem sempre o idoso é velho). Havia também alguns jovens já velhos de cabeça, que defendem uma volta ao passado que não viveram e do qual já são saudosistas.

A gente convive com algumas dessas mesmas pessoas. Elas comparecem à churrascos em fins de semana, convidadas pelo amigo do amigo, e entre uma cerveja ou outra começam a falar sobre política. Mas por não terem argumentos e não estragar o ambiente, acabam sugerindo: ah, vamos mudar de assunto que política não se discute, vamos falar de futebol ou carros. Pode crer, ali estava um monstro oculto nas trevas que resolveu sair à luz do sol no domingo e se revelou por completo.

Fiquei particularmente indignado ao ver fotos de crianças que nem sabiam o que estavam fazendo lá. Crianças essas que, ao seguirem o ódio de seus pais, se tornarão cidadãos perigosos para o país no futuro. E se não seguirem seus país, sentirão vergonha deles quando se tornarem adultos.

Velhinhas doces, daquelas que assistem à novela enquanto fazem crochê, diziam-se revoltadas pelo Doi-Codi não ter enforcado Dilma.

E Capitães Brasil, América, Batman, sei lá mais o que. A legião completa dos super-bobos estava lá. Não sei se o cara do raio privatizador compareceu, não ví.

E pra fechar com chave de ouro, FHC, mais um dos loucos, afirmando que Dilma não tem mais legitimidade para governar e que deve ter a grandeza de renunciar. Grandeza que ele não teve quando atingiu 56% de rejeição quando da desvalorização do real em 1999. Também se esqueceu de que deixou a presidência com a mais baixa aprovação da História: 26%.

Aos 83 anos, FHC prova definitivamente que a idade nem sempre é garantia de sabedoria. Tocar fogo no país e sair de perto não é atitude de ex-presidente, mas sim de terrorista.

Bem, passou, o impeachment não tem chance de ocorrer, a renúncia jamais vai acontecer e nem a deposição de Dilma.

A mídia está avaliando que não será bom para ela uma crise econômica, política e social, pela situação de debilidade financeira pela qual está passando e a Fiesp e a Firjan já declararam que não desejam a instabilidade, muito menos uma grande convulsão no país, portanto esqueçamos o golpe.

O monstro insano que vimos ontem sair às ruas se recolherá às trevas de onde saiu.

As manifestações pela democracia da esquerda no dia 20 quinta-feira (que dia, não? Dia de trabalho, bem que Frei Betto avisou) tem de ser pacíficas.

Porém, estejamos certos que haverá inúmeros provocadores. Que não se respondam às provocações. Não pode neste momento aparecer um mártir, desejo maior do revoltadão online.

Depois é só aguardar os nomes que Janor divulgará para abertura de investigações na sexta-feira.

Aí pode estar a grande reviravolta de Dilma.





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