sábado, 18 de julho de 2015

Um pronunciamento em cadeia nacional

Por Fernando Castilho
Cartoon por http://pataxocartoons.blogspot.jp/


Pataxó Cartoons


Como classificar Eduardo Cunha?

O homem se enquadra em quase todas as categorias mais baixas e desprezíveis do ser humano.

Tivesse ele nascido durante o Império Romano, teria sido imperador e, com o apoio dos deuses, se antecipado a Nero no incêndio de Roma.

Tivesse Cunha nascido na Alemanha dos anos 20, através de golpe assumiria o lugar de Hitler.

Tivesse seguido a carreira militar, seria um general da ditadura, talvez mais cruel que os outros que governaram o país.

Tivesse ainda assumido a Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro, em 1999, teria sido demitido 6 meses depois por fraudes em licitações. Êpa! Isso não é suposição! Aconteceu!

Cunha é assim. Onde entra, começa como uma bactéria a se espalhar e a estender seus tentáculos para ganhar mais e mais poder e riqueza.

Para ganhar o apoio de parcela significativa da população, diz-se evangélico. Seja ele adorador do diabo, como seus atos fazem supor, ou não.

Eduardo Cunha foi à televisão fazer um pronunciamento de 5 milhões, digo, minutos, em que a pontuação (o ponto, sabe?) apareceu só no final quando disse boa noite. O resto do tempo uma inquietante e persistente vírgula não o abandonou. Foram parágrafos intermináveis...E não piscou uma vez sequer.Também não levou a mão à boca, seu mais característico gesto. Fez-me lembrar Darth Vader, embora sua oratória fosse quase franciscana. Impossível não se lembrar também da cobrinha do Mogli. Estava ali o mal em pessoa.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Francisco e uma metáfora biomimética

Por Fernando Castilho
Por Mustafá Ali Kanso


Foto: Reuters
Lógico, não leio a Veja. Até há 15 anos atrás, lia, mas depois que a revista tristemente se tornou um panfleto destinado somente a atacar um partido, o PT e a elogiar outro, o PSDB, ficou claro que a isenção e a obrigação de informar se perderam no espaço-tempo e não mais existe.

Porém, alguém publicou no Facebook um texto do Reinaldo Azevedo em que o Tio Rei, em nome dos valores cristãos, dizia que Papa bom era Bento XVI (que nunca se preocupou com os pobres, acobertou denúncias de pedofilia, foi homofóbico, etc..) e que Francisco não o representa. Mais: espera ansiosamente pelo novo Papa, alguém com a visão conservadora e injusta de mundo que o contemple.

Mas por que Francisco não representa Reinaldo Azevedo?

Porque o Papa em recente viagem à América Latina, afirmou que o atual sistema global “que impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza (…) é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos…. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco”.

Quando o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca povo contra povo e, como vemos, até põe em risco esta nossa casa comum”, disse o sacerdote. Quem pode discordar? Só o Tio Rei mesmo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Últimas reflexões sobre o caso Maju. Depois esqueceremos.

Por Fernando Castilho


Passados alguns dias após a procela do caso Maju, já dá para se fazer algumas reflexões.

Claro que o racismo é uma das piores perversões que um ser humano comete contra outro, não tenha dúvidas.

Mas foi grande a comoção nacional em torno do caso. Até o Bonner e a equipe do Jornal Nacional são todos Maju desde criancinhas, numa espécie de desalinho com a opinião de seu diretor na Globo, Ali Kamel, sociólogo de formação, que escreveu o livro "Não somos racistas", em que critica a adoção de cotas raciais, sustentando a tese de que, ao contrário de combater o racismo, elas podem dar origem ao ódio racial, segundo ele, até aqui i-ne-xis-ten-te no Brasil.

Manuel Castells recentemente afirmou: ''A imagem mítica do brasileiro simpático existe só no samba. Na relação entre as pessoas, [o brasileiro] sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata. Esse é o Brasil que vemos hoje na internet. Essa agressividade sempre existiu.'' Contra o negro então, nem fale.

Darcy Ribeiro em ''O Povo Brasileiro'' afirma que os portugueses ao chegarem ao Brasil caçavam toda e qualquer índia para estuprá-la e fazer-lhe filhos mestiços. Mais tarde os senhores das fazendas faziam o mesmo com as escravas negras quando começavam a atingir a puberdade. Elas eram coisas que antes de se estragarem e serem substituídas por mais novas serviam inclusive para o rito de passagem dos filhos da casa grande para a idade adulta.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

De como manter a espinha ereta antes ou mesmo depois do golpe

Por Fernando Castilho


Paulo Nogueira do DCM garante:
''NÃO vai ter golpe.
2015 NÃO é 54 e nem 64.
Espinha ereta, espinha ereta!''

Tranquilos todos? Eu não.

Respeito muito o jornalista pela sua grande experiência e conhecimento das coisas da política, além de curtir Beatles, mas este blogueiro, mesmo sem o brilho do Paulo, vem alertando há meses sobre o golpe que se desenha.

No começo, pouco depois das eleições foram somente manifestações e um Aécio derrotado e inconformado que pediam o impeachment da presidenta.

Se parasse por aí, não haveria mais o que temer. Mas a partir da sensação de que poderia haver apoio de milhares de pessoas, a direita se reuniu e definiu uma agenda.

A orquestração é bem evidente. Numa ponta o juiz Sérgio Moro comanda o espetáculo da Operação Lava Jato, extorquindo delações premiadas através de 7 meses de prisões de empresários sem denúncia formalizada.

Quando criminosos confessos, delatores como Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef (este já passando pela delação premiada pela segunda vez, sendo reincidente) citam tucanos, o juiz simplesmente ignora, mas quando petistas são citados, apesar do segredo de justiça, a notícia é imediatamente liberada para os jornais que se encarregam de publicá-la em manchetes garrafais, às vezes com redações iguais.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Ou defendemos a Constituição ou voltamos à barbárie

Por Fernando Castilho


A Santa Inquisição
Um leitor comentou um texto meu, num trecho em que digo: Percebam que no caso da Lava Jato, o juiz Sérgio Moro ignora totalmente o direito à defesa dos envolvidos, extorque delações, faz vazar delações para a mídia e seleciona livremente quem tem que ser investigado ou punido.

A pessoa em questão soube argumentar com educação e respeito, o que me motivou a escrever este novo texto.

Escreveu, em resumo, que eu não deveria defender os presos de colarinho branco enquanto existem tantos presos ladrões de galinha. É verdade. Ele tem razão. Em parte.

Os pobres e pretos que vão para as cadeias todos os dias, sem julgamento, são a expressão viva da grande desigualdade social no Brasil. E essa desigualdade se expressa também na justiça. Ninguém nega.

Mas vamos partir do começo.

Para quem segue a Bíblia, há a convicção de que Deus nos deu o livre arbítrio. Mas também nos impôs 10 mandamentos. Há um paradoxo nesta questão. Mas isso deixa pra outra discussão.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

São 300 picaretas com anel de doutor

Por Fernando Castilho


Eduardo Cunha, o grande ditador
''Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou''
Luís Inácio (300 picaretas) Paralamas do Sucesso


É difícil escrever sobre isto. É chato, inclusive. Não é por tédio ou preguiça. É que essas coisas não deveriam estar acontecendo.

Mas vamos lá.

Começo com uma reflexão: estamos vivendo numa ditadura. Não aquela que a turba que foi às ruas no começo do ano proclama.

Vivemos a ditadura do Cunha. Ela não tem nada de comunista. Nada de Foro de São Paulo. Ela é de direita.

Eduardo Cunha manda no país mais que a presidenta republicana do Brasil. Duvida?

sábado, 27 de junho de 2015

Quando o ser social de alguém lhe determina a consciência

Por Fernando Castilho


Gloria Álvarez - foto por Fernando Conrado
Ela tem cabelos louros, talvez um tanto ruivos, olhos azuis ou verdes. A guatemalteca Gloria Álvarez de 30 anos, na semana passada proferiu palestra no auditório de 2 mil lugares da PUC-RS, em Porto Alegre, completamente lotado.

Tida como uma das jovens caras da direita, Gloria veio ao Brasil, financiada pelo capital, para falar aos jovens, segundo uma agenda americana de reforçar a direita nos países latino-americanos, o que tem dado bons resultados pelo que temos observado ultimamente. A moça defendeu a liberdade individual, “empoderamento” da juventude, impostos baixos, Estado mínimo e, pra variar, a meritocracia, segundo ela, sem culpa moral nem social.

Para ela, ''todos nós, 7 bilhões e meio de seres humanos que habitamos este planeta, somos egoístas. É essa a verdade, meus queridos amigos do Brasil, todos somos egoístas. E isso é ruim? É bom? Não, é apenas a realidade.”

Pode parecer chocante alguém admitir abertamente ser egoísta, mas na verdade ela está sendo verdadeira. ''Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência'', dizia Marx.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Os ungidos e a pregação do mal

Por Fernando Castilho


Latuff


Assistimos nos dias de hoje ao crescimento do ódio, da intolerância e do preconceito, fomentados justamente por aqueles que deveriam pregar o amor ensinado pelo Senhor que eles dizem representar aqui na Terra, Jesus Cristo.

Sem generalizar, uma vez que devem existir pastores que realmente praticam o bem, os ''ungidos'', como eles se intitulam, não mais se detém diante de questões em que Cristo sem pensar muito, certamente iria para o lado do mais fraco. Extorquem dinheiro dos mais pobres, aterrorizam com ameaças de inferno após a morte, defendem que bandido bom é bandido morto, apedrejam quem pratica outros credos, influenciam o assassinato de gays e por aí vai. Para quem acredita, é coisa do diabo, ou não é?

O Congresso Nacional está infestado dessas pessoas que não se poupam em se aliar à bancada da bala, aquela que defende o armamento das pessoas, a pena de morte, a redução da maioridade penal, ou mesmo a volta da ditadura.

Não se limitam a isso. São homofóbicos, racistas e violentos em seus discursos nas Câmaras e nas Assembleias.

domingo, 21 de junho de 2015

Os republicanos na terra dos aéticos

Por Fernando Castilho


A República 
Sabe aquele velho sonho de acabar com as desigualdades sociais, raciais, sexuais e demais? Aquele desejo de mais igualdade social, mais justiça para todos, mais oportunidades? Pode esquecer.

Embora não tendo conseguido ainda erradicar a miséria no país, o Brasil até que vinha bem.

Em apenas 12 anos avançou-se muito mais no campo social que em 500 anos de Brasil.

Mas falta muito, muito ainda. E vai continuar faltando.

Teremos esse sonho interrompido, podem ter certeza.

Está mais do que claro, e isto este blogueiro já vinha alertando em outros textos, que todos os setores mais importantes da sociedade, do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, da Polícia Federal, etc., estão totalmente aparelhados pela direita.

Os nomes estão todos escalados como num time de futebol.
No Executivo, Joaquim Levy e Kátia Abreu.
No Legislativo, Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
No Judiciário, Gilmar Dantas, digo, Mendes e Sérgio Moro.
No Ministério Público, os procuradores que xingavam Dilma no Facebook durante a campanha eleitoral.
No TCU, Augusto Nardes.
Na mídia, Globo, Estadão, Folha e Abril.
E tem também os gandulas, Lobão, Kataguiri e Revoltadão.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Pataquadas no estrangeiro

Por Fenando Castilho


Aroeira
Antes de tudo, convém esclarecer alguns fatos aos mais apressados, que poderão alegar que existe uma ditadura na Venezuela.

1 - Nicolás Maduro venceu seu opositor Henrique Capriles em uma eleição apertada (50,61% a 49,12% ), mas venceu.

2 - Capriles exigiu ao CNE "que se abram todas as urnas e que cada voto seja contado um por um. O povo venezuelano merece respeito. A voz do povo é sagrada para mim".
Diante das queixas da oposição de que teria havido irregularidades durante a votação, que se ouviram todo o dia, o próprio Maduro pediu às autoridades que realizassem uma auditoria. "Estejam certos de que se o CNE anunciasse que tinha perdido por um voto, eu teria aceite com coragem. Não duvidem que o teria feito", acrescentou, apelando a que a oposição reconheça o resultado. A auditoria confirmou o resultado.

3 – O ex-presidente norte-americano não bolivariano Jimmy Carter atestou que o processo eleitoral na Venezuela é considerado o melhor do mundo. Carter coordena uma instituição de monitoramento de eleições ao redor do mundo há mais de uma década.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Darcy Ribeiro, Castells e Chauí. Verdades inconvenientes

Por Fernando Castilho


''Operários'' de Tarsila do Amaral (detalhe)
O sociólogo espanhol Manuel Castells esteve no Brasil e concedeu uma entrevista à Folha de São Paulo em 18 de maio passado. 

Entre as respostas à repórter Sylvia Colombo, Castells afirmou: ''A imagem mítica do brasileiro simpático existe só no samba. Na relação entre as pessoas, [o brasileiro] sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata. Esse é o Brasil que vemos hoje na internet. Essa agressividade sempre existiu.

Há dois anos atrás, em 17 de maio de 2013, a filósofa Marilena Chauí já havia afirmado: “A classe média [brasileira] é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante. Fim”. 

Críticas não faltaram aos dois intelectuais, porém sobrou mais para Chauí porque a classe média vestiu a carapuça.

O que temos presenciado ultimamente é o aumento da intolerância, do preconceito, da violência verbal e até física não só na classe média, mas também na alta, a chamada elite.

Mas terá Castells razão em afirmar que o povo brasileiro sempre foi violento?