Gloria Álvarez - foto por Fernando Conrado |
Tida
como uma das jovens caras da direita, Gloria veio ao Brasil, financiada pelo capital, para falar aos jovens, segundo uma agenda americana de reforçar a direita nos países latino-americanos, o que tem dado bons resultados pelo que temos observado ultimamente. A moça defendeu a liberdade
individual, “empoderamento” da juventude, impostos baixos, Estado
mínimo e, pra variar, a meritocracia, segundo ela, sem culpa moral nem social.
Para ela, ''todos nós, 7 bilhões e meio de seres humanos que habitamos
este planeta, somos egoístas. É essa a verdade, meus queridos
amigos do Brasil, todos somos egoístas. E isso é ruim? É bom? Não,
é apenas a realidade.”
Pode
parecer chocante alguém admitir abertamente ser egoísta, mas na
verdade ela está sendo verdadeira. ''Não é a consciência do homem
que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe
determina a consciência'', dizia Marx.
O
que Gloria quer dizer com todas as letras é: ''que se danem os
pobres, que eles continuem sem nenhum tipo de ajuda ou direitos, o
que importa é que nós, nascidos brancos, privilegiados, dominemos,
acumulemos riqueza e aproveitemos a vida sem culpa ou remorsos'',
afinal, como dizia Engels, “os que no regime burguês trabalham,
não lucram e os que lucram, não trabalham.”
Se
fizermos uma pesquisa com nossos amigos, não importando de que lado
se situam no espectro ideológico, praticamente 100% negarão ser
egoístas, afinal isso não é exatamente uma qualidade. Mas a grande
maioria terá mentido, certo?
O
capitalismo na visão de Gloria é extremamente benéfico para os
poucos que alcançaram uma posição de destaque ou de domínio sobre
a grande maioria de pobres.
Mas
para a moça não importa que o capitalismo venha a colocar a
sobrevivência na Terra num futuro próximo, em extemo perigo. Os
recursos naturais e as fontes de energia não renováveis estão se
exaurindo, as temperaturas médias estão aumentando ano a ano, a
produção de lixo só faz crescer, etc.. Estamos extraindo de Gaia,
como lembra o cientista James Lovelock, muito mais do que ela é
capaz de nos ofertar.
O
capitalismo pressupõe como condição sine qua non para sua
existência a obsolescência programada e a publicidade. As duas são
aliadas, funcionam juntas.
A
obsolescência programada faz com que tenhamos que trocar de
celulares, computadores, roupas, etc..todos os anos. A publicidade
nos faz sentir defasados no tempo ou fora de moda, forçando-nos a
comprar produtos sempre atuais.
Uma
hora a coisa acaba.
E
os pobres, imensa maioria no mundo, não terão tido a oportunidade
de usufruir de nada disso.
O
socialismo tem outra visão de mundo. Não pressupõe o egoísmo.
Gloria,
mais à frente disse: ''Há pessoas que não aceitam essa verdade
(que somos egoístas) e saem com a maravilhosa ideia: ‘Não! [imita
a voz de um homem], eu vou fazer a primeira sociedade não egoísta’.
Cuidem-se, brasileiros; cuide-se, América Latina! Esses espertinhos
são como Stálin, na União Soviética, como Kim Jong-il, Kim
Jong-un, na Coreia do Norte, Fidel Castro, em Cuba, Hugo Chávez, na
Venezuela. E por que “seguimos como carneirinhos atrás desses
“hipócritas”? Porque [faz careta e vozinha de velha] nos ensinam
que é feio ser egoísta e que pensar em nós mesmos é pecado.''
Mas
é feio e é pecado mesmo, como vem ensinando o Papa Francisco.
O
socialismo pressupõe uma sociedade mais igualitária em que todos
possam ter as mesmas oportunidades e usufruir do que for possível
dentro de uma sociedade.
A
mídia durante décadas nos ensinou que é ruim ser esquerdista. Que
o socialismo é o mal a ser combatido. Por isso há tanto pobre que
se diz de direita pois desconhece o que significa socialismo e
esquerda, tendendo a reproduzir aquilo que seus patrões dizem.
Alguém
dirá: ''pera lá! O socialismo não deu certo em nenhum lugar do
mundo!''
Meia
verdade. E talvez aí Gloria tenha razão. O ser humano em grande
parte é egoísta. Quer sempre mais. Isto inclui poder.
Não
há como defender com paixão um governo como o de Stalin na União
Soviética ou de Kim-Jong-Un da Coreia do Norte. Nem o governo da
China, que hoje mais se assemelha a um regime capitalista, exaurindo
ao máximo os recursos naturais, poluindo o ambiente e escravizando
milhões de pessoas nas linhas de produção de suas fábricas.
Mas
é impressionante que Cuba, uma ilha com somente 105 mil km² (no
Brasil caberiam 80 Cubas) e 11 milhões de pessoas, sem possibilidade
de comércio com o resto do mundo há mais de 50 anos, tenha um
sistema de saúde e de educação admirado no resto do planeta.
Para
a ilha se dirigem anualmente centenas de norte-americanos que
necessitam de medicina barata e de qualidade. Além disso, Cuba envia
médicos para todas as regiões necessitadas em todo o mundo,
inclusive o Brasil. O analfabetismo em Cuba praticamente não existe.
Antes
de me mandarem pra Cuba, perguntarão sobre os direitos humanos.
Talvez os mesmos que são contra direitos humanos.
Bem,
nada é perfeito. Sempre haverão os egoístas da Gloria que
quererão acumular mais riqueza que os outros. Estes não suportam
levar uma vida simples, o que faz com que decidam trair a revolução.
Alguns fogem para Miami, sendo recebidos prontamente pela máfia
cubana que lhes garante algum subemprego e submoradia para serem
subcidadãos por lá. Outros tentam organizar, com apoio da Cia,
golpes para derrubar o governo, sendo presos. Vejam que nada
diferente disso acontece nos países capitalistas. Os Estados Unidos
mantém em Cuba a prisão de segurança máxima de Guantánamo, onde
há centenas de presos políticos acusados de alta traição, sem
direito a advogados, sem julgamento e sem pena definida. Vão ficando
presos por lá ad eternum.
E
tenham certeza de que, se no Brasil houver tentativa de golpe contra
a presidenta, como ocorreu na Venezuela, o governo também fará seus
presos políticos.
Mas
na realidade, quando se fala numa sociedade socialista, fala-se numa
utopia que precisa se tornar possível para que se possa salvar o
planeta, afinal é o ser social do homem que lhe determina a
consciência.
A
consciência de ser plural, de ser fraterno, de ser tolerante e
compartilhante.
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