quinta-feira, 2 de julho de 2015

São 300 picaretas com anel de doutor

Por Fernando Castilho


Eduardo Cunha, o grande ditador
''Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou''
Luís Inácio (300 picaretas) Paralamas do Sucesso


É difícil escrever sobre isto. É chato, inclusive. Não é por tédio ou preguiça. É que essas coisas não deveriam estar acontecendo.

Mas vamos lá.

Começo com uma reflexão: estamos vivendo numa ditadura. Não aquela que a turba que foi às ruas no começo do ano proclama.

Vivemos a ditadura do Cunha. Ela não tem nada de comunista. Nada de Foro de São Paulo. Ela é de direita.

Eduardo Cunha manda no país mais que a presidenta republicana do Brasil. Duvida?

Em questão de poucos meses ele já fez passar o financiamento empresarial às campanhas e a redução da maioridade penal, dois temas que mereceriam grande discussão e reflexão, pela complexidade.

Nos dois casos, após um primeiro resultado desfavorável a ele.

Sim, se o projeto não passa, ele maquia e reapresenta no dia seguinte. Daí passa.

Fere o Regimento Interno da Câmara e a Constituição. Mas quem se importa?

303 picaretas votaram a favor da redução. Já no dia seguinte os picaretas somavam 323.
Claro que após todas as votações, já se sabendo quais os deputados que não lhe foram favoráveis, fica fácil comprar um a um. E vinte é muito fácil.

Talvez tenha sido isso que aconteceu com o deputado Mandetta do DEM, que votou contra a maioridade. O único. Já no dia seguinte, mudou seu voto. Talvez na primeira votação ele já tivesse em mente uma negociação. E conseguiu o que queria.Quem sabe?

No caso do projeto das doações empresariais, Cunha e os deputados que o acompanharam devem ter recebido muitos incentivos das empreiteiras que fazem as doações.

Uma parte da população foi pega de surpresa, não sabia do que se tratava, não saiu às ruas protestando pelo comprometimento futuro de seu emprego, salário e renda.

Outra parte apoia porque vê nisso uma derrota de Dilma, sem saber que a derrota não é exatamente dela.

Quanto ao projeto de redução da maioridade penal, a coisa é um pouco mais complexa.
Os motivos pelos quais a maioria da população é favorável são vários:
Alguns ou parentes de alguns já sofreram assalto ou assassinato, que pode até não ter sido cometido por menor de 18 anos, como é o caso da deputada Keiko Ota. Mas isso não importa, não é mesmo?

Outros simplesmente são movidos pelo ódio que turva seus olhos e não os deixa raciocinar com a razão. Ignoram solenemente que a redução da maioridade não deu certo nos países onde foi adotada, que os crimes violentos cometidos por menores são inferiores a 0,1% do total, etc..

E outros mais só querem a derrota de Dilma, não importando as consequências para o país, para os jovens e os pais desses jovens.

Então, quem acaba alimentando a ditadura Cunha são as pessoas que pensam como ele.
E já que para elas não importa o Estado de Direito, a Constituição e nem o Regimento Interno da Câmara, passam por cima de tudo isso e comemoram o resultado. Percebam que no caso da Lava Jato, o juíz Sérgio Moro ignora totalmente o direito à defesa dos envolvidos, extorque delações, faz vazar delações para a mídia e seleciona livremente quem tem que ser investigado ou punido.

Com todo o respaldo da maioria que apoia a redução, o presidente da Câmara não tem receio algum de, por exemplo, descumprir o habeas corpus concedido pelo STF à UNE e à UBES para acompanhar as votações. No final a UNE e a UBES forçaram a entrada e Cunha teve que ceder.

As bancadas da bala, do boi e da Bíblia, o chamado grupo BBB ainda deve aprontar alguma. Já há projeto no sentido de obrigar as escolas, que são laicas, a ensinar o cristianismo como matéria.

Eles que são tão cristãos...

Torna-se agora necessário que o governo os partidos de esquerda, a OAB e os movimentos sociais tomem posição e criem mecanismos de mobilização popular a fim de garantir a defesa do Estado de Direito e a Constituição, uma vez que o projeto tem que ser barrado no STF por inconstitucionalidade. E quem acredita no Papai Noel deve estar tranquilo imaginando que o STF certamente há que se pautar somente pelo que a Carta Magna prega.

Há que se impedir urgentemente que a ditadura do obscurantismo cresça a níveis muito perigosos.

Em tempo: será que não é hora de rever essa base de sustentação do governo? Do PMDB, base aliada, 47 dos 63 deputados votaram pela redução da maioridade penal, portanto, contra o governo. De que eles servem, afinal?



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