sábado, 3 de outubro de 2015

1954, 1964 e 2015, semelhanças e e diferenças

Por Fernando Castilho


Tanta gente ressaltando as semelhanças do momento político atual com os anos de 1954 e 1964 e muito, mas muito mais gente com deficiência no conhecimento de uma perspectiva histórica que não sabe, não viu e não conhece as semelhanças e as diferenças entre os três períodos, me motivaram a fazer esta tabela, uma espécie de infográfico.

Foram ressaltados os pontos principais, podendo haver outros que não lembrei ou não considerei expressivos.

No caso do governo Dilma, por não ter sido concretizado, ao menos até esta data, o golpe, pode haver um certo exercício de futurologia.


Convido o leitor a analisar o gráfico e fazer uma análise dos dados.

Se houver alguma imprecisão nos dados, por favor, me corrijam.

sábado, 26 de setembro de 2015

Para as Marias que vão com as outras

Por Fernando Castilho


Imagem: Blog do Aluisio Amorim
As pessoas que defendem a defenestração de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, a prisão de Lula e o fim do PT, não o fazem por causa da corrupção, está claro.

Sobre a honestidade da presidenta não paira dúvidas, fato reconhecido até por FHC.

Sobre Lula, a mídia e a oposição tentaram criminalizar o lícito de apresentar empresas para obras no exterior e de receber doações dessas mesmas empreiteiras, mas esbarraram nas corretas prestações de contas do Instituto Lula e também na coincidência de que naquele exato momento Obama levava empresas americanas para Cuba. Além disso, FHC também recebe doações para seu instituto. Então não deu.

Eduardo Cunha até agora é o único político que pode ser preso com provas (esqueçam o tesoureiro do PT, Vaccari que está preso sem nenhuma prova, já que não haveria como saber se as doações para campanhas eram dinheiro de propinas ou não, certo?), mas nem por isso alguém saiu às ruas para protestar contra ele.

Aécio Neves, além do aeroporto construído em terras de seu tio-avô, tem agora contra sí a divulgação feita pela Folha a pedido, possivelmente de José Serra ou de Geraldo Alckmin, de que fez 124 viagens ao Rio de Janeiro em finais de semana com jatinho oficial. E ninguém bateu uma mísera panelinha que fosse. Talvez só Serra ou Alckmin.

Portanto, não é pela corrupção.

E se o motivo não é esse, qual seria?

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Renata Gouveia Delduque: 1968 - O ano que não terminou

Por Renata Gouveia Delduque no http://gvive.org.br/

Antes do texto gostaria de fazer algumas considerações.

O Brasil possuía em alguns colégios chamados vocacionais um ensino de qualidade equivalente aos países de primeiro mundo. 

Porque é muito mais fácil destruir que construir, uma vez que a ditadura acabou com esses colégios, enfrentamos hoje a luta diária de tentar melhorar a Educação.

As verbas do governo federal existem e são repassadas aos estados e municípios que são os encarregados de gerenciar sua aplicação até o Ensino Médio.

Como a maioria dos estados e municípios são governados pela direita que representa a continuidade do pensamento dos militares, a Educação continua patinando. Não há perspectivas boas no horizonte.

Porém, a nos dar alguma esperança, há ações importantes no âmbito do governo federal, como PROUNI, FIES, cotas, Pronatec, criação de 18 universidades federais, enquanto FHC não criou nenhuma.

Mas vale muita a pena ler este texto, pois além das questões políticas, há também aquela delícia de conhecer como era um colégio vocacional, através das lembranças de uma aluna, Renata Gouveia Delduque. E com que tenura ela o faz!

Vamos ao texto!

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Estaria o Japão se pintando para a guerra?

Por Fernando Castilho

Não costumo enveredar muito pelo caminho da política internacional, uma vez que a nacional já toma um tempo precioso.

Mas neste caso, como as peças no tabuleiro de xadrez tem sido movimentadas com certa previsibilidade, há que analisar e opinar.

É muito delicado entrar neste assunto, até porque o Japão ostenta o título de pacifista há 70 anos.


Primeiro um pouquinho de História para entender a origem de tudo.


Em 1938 o Japão invadiu a China, entrando oficialmente na Segunda Guerra Mundial.

Com uma alta população em relação ao seu pequeno território, aliada à dificuldade na agricultura pela existência de muitas montanhas, o país do sol nascente sentiu que precisava se expandir economicamente. Como?

A solução veio de empresas como a Mitsubishi, que desejava fabricar tanques de guerra, aviões e submarinos, a Mitsui que cresceu durante a Primeira Guerra, fabricando munições e mais tarde, atuando no fornecimento de uniformes e também em capitalizações, a Sumitomo, empresa de capitais e a Yasuda, atuando no ramo de seguros, que vieram a compor um cartel poderosíssimo chamado de Zaibatsu, que viria a ser extinguido após a derrota do Japão, pelo General MacArthur.

O mesmo aconteceu na Alemanha de Hitler quando empresas como Siemens, Mercedes Benz ou Bayer lucraram muito.

Embora o Zaibatsu oficialmente tenha sido extinto, as empresas em questão são hoje gigantes no mundo inteiro.


Indo para os dias atuais

domingo, 13 de setembro de 2015

Os corruptos derrubarão a presidente não corrupta por corrupção

Por Fernando Castilho


Desta vez o bicho pega
Jango foi derrubado não só por políticos corruptos, mas também pela imprensa e principalmente pelo poder de canhões, fuzis e metralhadoras.

Dilma será derrubada ''dentro dos ditames da democracia'' como dizem os ratos daquele porão fétido que se tornou o Congresso Nacional.

Para justificar os atos desses gandulos da Pátria, a democracia teve que ver seus limites tão extrapolados, esticados, distendidos, espíchados, que a ela não mais se reconhece. Olha-se no espelho e se vê uma quenga. Melhor não olhar. Não que este blogueiro tenha preconceito contra as prostitutas, vamos combinar, mas é óbvio que a democracia não pode ser usada como tal.

Uma presidente foi eleita por uma democracia ainda jovem e em plena exuberância.

Essa presidente procurou preservar a virtude da jovem até onde fora possível.

Com o escândalo da Petrobras explodindo em seu colo, foi à televisão e afirmou que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal teriam toda a liberdade de investigar e entregar os criminosos para julgamento. Não vai restar pedra sobre pedra, afirmou.

Se Dilma Rousseff quisesse se segurar no cargo até o fim de seu mandato, teria agido de maneira diferente. Profanaria a sacralidade da democracia determinando que o Procurador Geral da República, tal qual um Geraldo Brindeiro dos tempos efeagalícios, arquivasse qualquer denúncia ou pedido de investigação.

Dilma confiou que as instituições fossem republicanas como ela. Santa ingenuidade.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Uma Chamada ao afeto, ou pela criação de cidades-refúgio

Por Ada Colau Ballano, Prefeita de Barcelona

Antes de ontem 50 pessoas morreram por asfixia no porão de um barco.

Hoje, mais de 70 pessoas dentro de um caminhão.

Hoje acordamos com dois naufrágios: pode ser mais uma centena de mortos.

Temos um mar que está cheio de mortos. Limites que são preenchidos com fios, pregos, lâminas ... e pessoas mortas.

Homens, mulheres e crianças, mortos. E uma parte da Europa chora, grita, quer que sejam salvos, quer que eles não morram, mas ... mas que não venham, que se vão, que vão embora, que não existam e que parem de vê-los na TV, e menos ainda em nossas ruas, com seus cobertores, no metrô, ou nos degraus de nossas casas.

Alguns, de forma irresponsável promovem o medo ao "outro", ao "ilegal", "àqueles que vêm para vender sem licença", "gastar a nossa saúde", "ficar com nossos recursos", "para ocupar o nosso lugar nas escolas" , "vão pedir", "vão mendigar" "vão delinquir" ...

O amigo da onça voltou?

Por Fernando Castilho


Em 05 de agosto a Folha de São Paulo publicou uma matéria em que o vice-presidente Michel Temer afirmava em reunião com líderes do Senado, da Câmara e ministros do governo, que o país precisava de alguém capaz de ''reunificar a todos'' na crise.

O discurso procurou demonstrar que o governo reconhece que há uma crise política e econômica que poderá se agravar perigosamente caso não haja união e disposição.

A dubiedade ficou por conta do termo ''alguém''. Quem seria?

Após receber um puxão de orelhas da presidenta Dilma Rousseff, Temer passou a negar que o ''alguém'' fosse ele mesmo.

E eis que na Folha online de 7 de agosto a matéria continua publicada, desta vez com um ''ERRAMOS''.



O trecho foi retirado da reportagem? Então havia um trecho em que ele se apresentava como o salvador da Pátria?

sábado, 5 de setembro de 2015

Mauro Santayana: O Pato e a Galinha

Por Mauro Santayana


Embora não o admita - principalmente os países que participaram diretamente dessa sangrenta imbecilidade - a Europa de hoje, nunca antes sitiada por tantos estrangeiros, desde pelo menos os tempos da queda de Roma e das invasões bárbaras, não está colhendo mais do que plantou, ao secundar a política norte-americana de intervenção, no Oriente Médio e no Norte da África.

Não tivesse ajudado a invadir, destruir, vilipendiar, países como o Iraque, a Líbia, e a Síria; não tivesse equipado, com armas e veículos, por meio de suas agências de espionagem, os terroristas que deram origem ao Estado Islâmico, para que estes combatessem Kadafi e Bashar Al Assad, não tivesse ajudado a criar o gigantesco engodo da Primavera Árabe, prometendo paz, liberdade e prosperidade, a quem depois só se deu fome, destruição e guerra, estupros, doenças e morte, nas areias do deserto, entre as pedras das montanhas, no profundo e escuro túmulo das águas do Mediterrâneo, a Europa não estaria, agora, às voltas com a maior crise humanitária deste século, só comparável, na história recente, aos grandes deslocamentos humanos que ocorreram no fim da Segunda Guerra Mundial.

Lépidos e fagueiros, os Estados Unidos, os maiores responsáveis pela situação, sequer cogitam receber - e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus - parte das centenas de milhares de refugiados que criaram, com sua desastrada e estúpida doutrina de "guerra ao terror", de substituir, paradoxalmente, governos estáveis por terroristas, inaugurada pelo "pequeno" Bush, depois do controvertido atentado às Torres Gêmeas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Que tragédia é preciso acontecer para que se comece a prender fascistas?

Por Fernando Castilho


Eles começaram, ainda de maneira um tanto tímida, fazendo críticas à presidenta e ao PT nos comentários feitos nos jornalões.

Ainda preferiam se esconder no anonimato (alguns ainda o fazem), sob pseudônimos ao lado do quadradinho sem foto.

Após as chamadas jornadas de junho em 2013, encorajados pela mídia que enxergou nas manifestações sua grande oportunidade de desbancar a popularidade de Dilma Rousseff, que àquela altura era alta, eles começaram a sair aos poucos da toca fétida em que se encontravam.

Durante a Copa do Mundo os recém-saídos vaiaram e xingaram a presidenta em rede mundial, deixando o mundo perplexo não só pela falta de educação mas também pela injustiça que se cometia, afinal ela acabava de viabilizar aquela que seria a copa das copas.

Passaram-se dois anos desde aquele junho, com a imprensa diuturnamente batendo de pau na presidenta, sendo ela Chico e Francisco ao mesmo tempo.

sábado, 29 de agosto de 2015

Uma leitura semiótica do boneco inflável de Lula

Por Fernando Castilho



Todo boneco é um símbolo, vamos combinar. Até a Barbie simboliza o sonho de toda menina em se tornar bela.

Mas talvez não haja abundância maior de signos em nenhum dos acontecimentos recentes da República do que nesse episódio do boneco inflável de Lula.

Lula por si só já é um símbolo, um ícone. Não há como desvincular sua figura da luta contra a pobreza. É seu símbolo maior.

Mas na História recentíssima do Brasil, há quem esteja tentando transformar esse símbolo em algo deplorável, tentando ligar a imagem de Lula ao crime.

As razões para isso?

Bem, quase que parafraseando Carlos Lacerda que declarou na televisão: "Juscelino [Kubitschek] não será candidato, se for candidato não será eleito, se for eleito não tomará posse, se tomar posse não governará", a elite brasileira viu com desdém a eleição de Lula em 2002.

Diziam: ''é presidente mas quem vai governar é sua equipe porque ele é analfabeto.''

Depois que os dois principais nomes de seu governo, Palocci e Dirceu caíram, a direita, tendo que reconhecer que era ele quem realmente governava, começou a dizer: ''este governo vai afundar o país''.

O país não afundou, muito pelo contrário, foram os melhores anos para a economia, a distribuição de renda, a justiça social e a realização de obras importantíssimas.

Então a conversa mudou: ''Lula é o chefe da quadrilha do mensalão.'' Mesmo tendo sido inocentado pelo delator Roberto Jeferson.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Para ler em 2050

Por Boaventura de Sousa Santos

26 de agosto de 2015

Quando um dia se puder caracterizar a época em que vivemos, o espanto maior será que se viveu tudo sem antes nem depois, substituindo a causalidade pela simultaneidade, a história pela notícia, a memória pelo silêncio, o futuro pelo passado, o problema pela solução. Assim, as atrocidades puderam ser atribuídas às vítimas, os agressores foram condecorados pela sua coragem na luta contra as agressões, os ladrões foram juízes, os grandes decisores políticos puderam ter uma qualidade moral minúscula quando comparada com a enormidade das consequências das suas decisões. Foi uma época de excessos vividos como carências; a velocidade foi sempre menor do que devia ser; a destruição foi sempre justificada pela urgência em construir. O ouro foi o fundamento de tudo, mas estava fundado numa nuvem. Todos foram empreendedores até prova em contrário, mas a prova em contrário foi proibida pelas provas a favor. Houve inadaptados, mas a inadaptação mal se distinguia da adaptação, tantos foram os campos de concentração da heterodoxia dispersos pela cidade, pelos bares, pelas discotecas, pela droga, pelo facebook.

A opinião pública passou a ser igual à privada de quem tinha poder para a publicitar. O insulto tornou-se o meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente igual a um sábio.