quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

A hora mais infame

Por Marcílio Godoi


Assisti à votação do impeachment de Dilma de pé, no Vale do Anhangabaú. A chuva que se armou não caiu naquele fim de tarde. Eu estava sozinho, não suportei ficar em casa e me plantei ali, num daqueles taludes, olhando o telão. Em volta, de olhos vermelhos, a cada vergonhoso voto, sob um sentimento cívico de devastação total, havia uma atmosfera de execução sumária no ar. E o povo mais calava que cantava. Era um pessoal simples, muita gente dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos partidos, das escolas de periferia, todos, um por um, criminalizados covardemente ao longo do processo que parecia ter ali o seu cruel, ultrajante desfecho. Mas que, como sabemos hoje, era apenas o início do desmonte de uma nação soberana.

Na avenida Paulista estava tendo um luxuoso convescote, eu soube pela internet. Carros de som, bandas de música, trio elétrico com farta e eufórica distribuição de mentiras e bandeiras nacionais. Mas ali onde eu estava, não. Sob o belo Viaduto do Chá não se via sequer uma camiseta da seleção. E em cada "Não" dos bravos deputados resistentes ao golpe, inutilmente, desconfiávamos, vibrávamos como num gol.

O clima ameno da noite contrastava com a tortura a que éramos submetidos a cada um dos votos em que bandidos, aliviados pela certeza da impunidade, brandiam a falácia da limpeza ética em discursos inflamados pelo Lawfare da farsa a jato, o que veio a se confirmar depois. Muitas vezes eu tirava os olhos do telão e corria-os pela expressão de cada um ali, tentando me socorrer da esperança deles diante do absurdo daquela cena: um corrupto profissional presidindo uma sessão para roubar o mandato de uma mulher eleita, sem nenhuma prova contra ela.


Bizarro, incongruente, injusto era pouco. Talvez surreal ou kafkiano se aproximassem mais do i-lógico explícito e manipulado daquilo tudo. No alto-falante ao meu lado pediam para se apresentar algum advogado que pudesse livrar da prisão um militante já no camburão. O roteiro faria Dalí, Buñel e Lorca se sentirem ingênuos.

Às vezes eu tinha ganas de gritar ‘Não!’, não os merecidos ‘Não!’ ao dito impedimento, ou o ‘Não!’ à desfaçatez e à mentira dos deputados, mas o 'Não!' do 'Eu não posso mais estar aqui!', pois já sentia que aquilo era uma forma de pactuar com o linchamento parlamentar ignominioso, a pantomima, o esquartejamento em praça pública, eu pensava, já em modo beckett-insano. Baixei a cabeça, de olhos fechados. Nessa hora, uma senhora me perguntou se eu estava me sentindo bem. Não, eu não estava. E ela me ofereceu água.

Eu assistia àquele desfile insano de deputados clamando por deus, filhos, pais, mulheres, maridos, sempre precedidos do pronome 'meu'. Misturavam Olavo de carvalho, Foro de São Paulo, Venezuelalização e Simon Bolívar à
palavras-chaves dramaticamente postas à esmo como Família, Cidadania, Democracia e Estado Democrático de Direito para empacotar tudo no individualismo meritocrático-egocêntrico que sobrepunha interesses pessoais, sectários, religiosos e paroquiais ao Nacional, sentido anterior a tudo naquela casa, o motivo de existir daquele Congresso, que rasgava ali, página por página, a Constituição Brasileira.

Suportei aquilo até o voto número 342 do 'sim'. Eu estava firme, apesar de tudo. Era o número mágico, 2/3 do Congresso Nacional. Aguentei os raivosos e injustificáveis ataques à honra e à honestidade da presidenta, aguentei infantilidades, os falsos-moralismos, melodramas, mentiras, armações. A hipocrisia, enfim, vazava do telão e escorria, com todos os trocadilhos possíveis, pelo ladrão.

Até que entrou um deputado e citou como seu herói o torturador assassino que, como todos sabem, enfiava ratazanas vivas na vagina das presas. Aí eu desabei.

Tirei meu bonezinho suado, guardei-o na mochila. Depois enrolei, não sem alguma vertigem, uma bandeirinha que eu havia comprado do mtst e fui-me embora, antes que terminasse aquele circo de horrores. Caminhava lentamente pela 23 de Maio, não queria me enfiar em metrô, ônibus ou táxi. Assim, vi a noite se instalar na imensa cobra verde do canteiro central da avenida. Era aniversário da minha filha, o mesmo dezessete de abril que, em 1996, quando ela nasceu, marcou o massacre de Eldorado dos Carajás. Eu estava triste que me doíam os ossos. Não tinha presente, mas prometi a ela um futuro, que eu não pararia de lutar por ele, até a verdade triunfar de novo.

 


quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Todos a bordo!

Por Fernando Castilho


No dia seguinte à vitória de Gabriel Boric à presidência do Chile e ao jantar do Grupo Prerrogativas oferecido a Lula, Geraldo Alckmin e convidados, me deparo com um Datafolha surpreendente.

Não, o resultado da pesquisa não é tão surpreendente assim, mas sim o simples fato de o instituto fazer esse tipo de pesquisa, pois, atrelado a Folha, um grande veículo de mídia, o normal seria deixar isso quieto e continuar a tentar inflar o ex-juiz Sergio Moro.

51% dos mais de 3 mil pesquisados consideram Lula o melhor presidente da História do país. Isso não é pouco e, somados aos 48% de pessoas que intencionam votar nele em 2022, parece que neste momento a vitória em

primeiro turno está consolidada.

Mas as forças que mandam no país não vão se conformar a aguardar contemplativas a fácil vitória de Lula, mesmo com o chuchu a amenizar o excesso de pimenta que dizem que o ex-presidente carrega.

Se o primeiro turno fosse mais disputado, provavelmente deixariam para resolver as coisas no segundo quando comporiam forças capazes de derrotar Lula ou articulariam um golpe para impedi-lo de continuar na disputa.

Mas não devemos esperar assistir Lula velejando tranquilo em águas calmas e cristalinas sob um céu de brigadeiro durante todos os 10 meses que nos separam das eleições.

Não, Lula sabe que virão tempestades, maremotos e tsunamis e, por isso, trata de fortalecer o barco e colocar um hábil imediato a lhe assessorar na navegação.

Podem crer que Alckmin terá, caso aceite ser vice, bastante trabalho para evitar que naufraguem esse barco.

Desta forma, capitão e imediato saberão conduzir o barco em segurança e atracar suavemente no Palácio do Planalto em 2022 e retomá-lo dos piratas.



 

Lula/Alckmin

 Por Fernando Castilho



Bem, tendo lido algumas manifestações de repúdio à chapa Lula/Alckmin por parte de setores da esquerda, gostaria de tecer alguns comentários.
Mas antes vou compartilhar os dados que o sempre atento Paulo Cavalcanti publicou anteriormente no Facebook:
1) - Na eleição de 1989, o vice do Lula era o Bisol, de esquerda. Lula vai ao segundo turno e perde para Collor.
2) - Na eleição de 1994, vice do Lula era o Mercadante do PT. FHC ganha no primeiro turno.
3) - Na eleição de 1998, o vice do Lula era o Brizola, do PDT, todos falavam em chapa dos sonhos, e deu FHC no primeiro turno.
4) - 2002 e 2006, José Alencar, antes no PL, depois no PRB, empresário de direita, Lula vai ao segundo turno e vence Serra em 2002 e Alckmin em 2006.
5) - 2010 e 2014, o vice de Dilma era Michel Temer do MDB, político de direita, em ambas, Dilma vai ao segundo turno e vence Serra e depois Aécio.
6) - Aí vem a traição em 2015/2016, Dilma é deposta, Lula preso.
Mas em 2018, Haddad tem como vice Manuela do PCdoB, vai ao segundo turno e perde para Bolsonaro.
7) - Todas as vezes que o PT fez composição apenas pela esquerda perdeu; todas as vezes que buscou parte da centro-direita, venceu.
Feita esta ilustração, vamos lá.
Muita gente que é de esquerda (ou procura nos fazer crer que é enquanto trabalha no sentido contrário) ainda imagina que a cada 4 anos estamos no limiar de fazer uma revolução socialista através do voto. Não devemos fazer alianças com ninguém que não seja de esquerda, não devemos vender a alma ao diabo compondo com forças políticas que nos garantam maioria no congresso para governar, etc. e tal. Devemos nos manter puros, magnânimos e dar os melhores exemplos para governar o país e blá, blá, blá.
Vamos acordar? Não há revolução possível no horizonte próximo. Somos um país em que uma elite escravocrata ainda manda enquanto temos um povo que encara isso com naturalidade e não está disposto a qualquer confronto para mudar esse estado de coisas. Se estivesse já estaríamos vivendo um período de saques a supermercados motivados pela fome, desemprego, inflação e falta de perspectiva para o futuro.
Certo, o PT se afastou das bases nas duas últimas décadas preocupando-se tão somente em tirar 35 milhões de pessoas da linha da pobreza (um feito de imensa magnitude não reconhecido por nossa grande mídia que olha torto para isso) e criar programas socias que reduziram enormemente a desigualdade social sem proporcionar formação política e conscientização de classe. Algo a ser resgatado num próximo hipotético governo Lula.
Mas passado é passado e temos, como Lula, que olhar para o futuro. O baiano, como era chamado no sindicato, precisa vencer as eleições para iniciar um longo e árduo trabalho de recuperação daquilo que o Capitão Morte destruiu, ou seja, tudo em todas as áreas. Tarefa hercúlea.
Temos duas opções: ou Lula escolhe um vice de esquerda para disputar as eleições satisfazendo a grande mídia que só fala em polarização e radicalização e corremos um sério risco de vermos os cerca de 45% de intenções de voto derreterem, já que os ataques a partir do início do próximo ano serão da cintura para baixo, ou Lula escolhe alguém com diálogo com centro e direita e com setores da economia, principalmente a combalida indústria, para que a busca desesperada de uma terceira via se dilua.
Precisa se Alckmin? Talvez não. Mas Lula enxerga lá na frente.
Quem mais apropriado para esvaziar a candidatura Doria, tirar votos de Moro, Ciro e até do bozo?
Dirão: ah, mas Alckmin estava praticamente morto. Deixemos de miopia. Alckmin tem muita força no interior do estado de São Paulo. Ao ir para o PSB arrastará setores do PSDB com ele. Além de revigorado como novidade política que terá que reavaliar seu pensamento e sua postura.
Alckmin golpeará Lula? Já opinei sobre isso num outro post. Lula, ao contrário de Dilma, saberá monitorar seu vice assim como fez com José de Alencar no passado. E Alckmin não tem o perfil golpista de Temer.
Então, vamos por partes. Primeiro temos que vencer as eleições com Alckmin, depois construir maioria no congresso para apoiar mais facilmente projetos de interesse do povo. Enquanto isso, o PT precisa voltar às bases e recuperar o apoio da população mais pobre conscientizando-a de sua classe social e da importância de sua organização.
Daí serão 4 anos de ataques de todos os tipos, já que demorará para colocar a casa em ordem.
Mas com apoio popular isso será possível.
Portanto, basta de miopia política. Lula precisa voltar.

Excomungado

 Por Fernando Castilho


Então, de repente, os astros iluminaram o filósofo e ele enfim, viu essa luz.
Numa inspiração astral, de um fôlego só, como que tangido pela súbita sabedoria, escreveu o LIVRO! A obra que guiaria os homens de bem por todo o restante da eternidade.
O LIVRO atrairia corações e mentes e ditaria o comportamento dos seres humanos para que escapassem da tentação de lutar pelos menos favorecidos ou pela igualdade social num país essencialmente pobre e desigual. Não, não mais se falaria em ideias de liberdade, de soberania, de democracia a partir dele. Lá estaria tudo o que os inferiores seres humanos precisavam saber para não serem idiotas.
O filósofo, alçado a quase uma divindade, tratou de pregar, qual messias.
Em suas pregações atingiu milhares, milhões talvez, de discípulos que espalhariam a nova boa nova a todos os brasileiros. A gravidade não existe, o Sol e as estrelas giram em torno da Terra que é plana. Há uma guerra sendo travada no Brasil e o risco de sermos dominados por outras ideologias é enorme.
E assim foi.
Em verdade, em verdade vos digo que o filósofo foi exitoso em espalhar a palavra. O LIVRO é ainda sucesso de vendas.
Vários discípulos decidiram ir mais longe com a palavra. Chegaram a altos cargos no governo brasileiro. Um deles fez-se Rei e seus filhos, conselheiros influentes. Outros, nobres. Todos eles lutariam batalhas épicas contra as ideologias que pretendem libertar o povo.
Mas o discípulo em que o filósofo depositava maior esperança, o que se fez Rei, traiu sua confiança. Nunca trabalhou e fingiu que leu o LIVRO!
O filósofo, então decidiu falar! Falou para milhões virem e ouvirem com muita atenção. E fez a grande revelação!
O Rei está com seus dias contados, disse ele. Na verdade, perdeu a batalha.
Não leu meu livro, nem um pedaço!
És, a partir de agora, excomungado para todo o sempre!
Que a desgraça se abata sobre tua cabeça!
Todos se entreolharam e sentiram o poder da palavra atingir suas mentes culpadas.
Feito isso, o filósofo descansou no Estado da Virgínia.

Tá ou não tá estranho?

 Por Fernando Castilho


As campanhas eleitorais já estão iniciando e o Capitão Morte se comporta como se desejasse perder as eleições.
Em meio à crise de fome, desemprego, variante ômicron, demissão em massa de chefias da Receita Federal por protesto contra o reajuste de policiais federais, o projeto de ditador sai de férias irregularmente cometendo crime de apropriação indébita.
Como se não bastasse, divulga um vídeo numa lancha dançando funk sem se preocupar com as opiniões das lideranças evangélicas que o cultuam.
Mandou seu ministro capacho da saúde protelar ao máximo a vacinação de crianças quando sabe que as vacinas têm a aprovação de 95% da população.
Viu Lula disparar nas pesquisas enquanto sua desaprovação bate recordes e deu de ombros. Disse que o que vale é o Datapovo.
Viu Lula participar de um jantar com várias lideranças partidárias e Geraldo Alckmin, possível vice na chapa do ex-presidente, mas não ligou.
Vai na contramão de tudo o que poderia fazê-lo ganhar uns pontinhos nas pesquisas. É como se não estivesse nem aí.
Ou está contando que o Auxílio Brasil compre os votos dos pobres e o faça subir nas pesquisas ou sonha de novo em preparar um golpe.
Duvido que a primeira hipótese dê certo, afinal, os pobres sabem que é Lula que se preocupa com eles. Pode até subir um pouco, mas não vence Lula somente com isso.
Quanto à segunda hipótese, embora tenha dado um passo decisivo para tentar comprar os policiais federais que poderiam lhe dar apoio numa tentativa de golpe, faltou combinar com os policias militares dos estados. Além disso, depois do fiasco de 7 de setembro, está evidente que o capitão não reúne forças que deem suporte a um golpe.
O que se passa no oco da cabeça do capitão?

Bolsonaro é o plano B da mídia

 Por Fernando Castilho


Durante todo o processo que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, todos os veículos da grande imprensa, fato raro, se alinharam para depor a ex-presidenta.
Os ataques aconteciam dia sim, dia também. Qualquer coisa que ela fizesse ou falasse, eles estavam ali na marcação.
Dilma viabilizou a Copa do Mundo, apesar de todas as apostas em contrário, mesmo assim, a grande mídia influenciou a plateia que compareceu ao jogo de estreia no Itaquerão a vaiá-la e xingá-la.
Quando o MBL e outros grupelhos de direita organizaram manifestações contra ela, esses veículos chegaram a fazer propaganda do “evento” e a convocar as pessoas para comparecerem.
Enfim, a marcação era cerrada mesmo ela sendo honesta e bem intencionada, o que a coloca na posição totalmente oposta do governante ora de plantão.
A grande mídia vinha até atacando o capitão com certa frequência, mas está evidente que perdeu fôlego e passou a poupá-lo. Nas últimas semanas tirou o pé do acelerador.
O maior exemplo disso foi a edição de ontem do Jornal Nacional. Foram cerca de 15 minutos, ou até mais, de noticiário sobre a tragédia na Bahia, mostrando várias cidades destruídas, gente desabrigada e auxílio de ONGs que se dispuseram a entregar alimentos básicos para quem perdeu tudo.
Enquanto isso, o presidente pescava em Santa Catarina alheio a tudo. Mas o JN preferiu poupá-lo e esconder esse fato da população. Por quê?
Mostrar ao telespectador que o vagabundo que governa o país está pouco se lixando para as 500 mil pessoas desabrigadas teria um poder devastador contra ele e poderia baixar os índices de aprovação ainda mais. Além disso, um processo de impeachment, apesar de muito longe no horizonte de Arthur Lira, poderia começar a se desenhar, já que a debandada do centrão começa a se delinear.
Lula lidera com folga as pesquisas de intenção de votos e nada indica que o candidato preferido da grande mídia, Sérgio Moro, possa chegar com ele ao segundo turno.
Caso a debandada do centrão cresça e a candidatura de Lula se torne ainda mais encorpada, quem iria com ele para um possível segundo turno? Claro, o Capitão Morte.
Mas Lula não seria um presidente muito melhor para o país que o vagabundo que está de férias? Para mim, para você, para o povo pobre, com certeza. Mas, e para a mídia que vive de patrocinadores que apoiam o capitão? E para os bancos que estão faturando muito alto com essa crise? E para os rentistas?
Se Lula e Bolsonaro chegarem ao segundo turno, o plano B desse pessoal é o Capitão Morte mesmo.

Querem acabar com a Ciência? Joguem seus celulares fora!

Por Fernando Castilho


O canal do Youtube, Olá Ciência, que tem tanto esclarecido sobre os vírus e seus perigos para este leigo em infectologia ávido por conhecer mais esta faceta da ciência, tem sido duramente atacado por bolsonaristas que não poupam ameaças de morte ao cientista idealizador.

Embora outros canais de divulgação científica como o do Átila Iamarino, por exemplo, estejam também sendo atacados, preferem se manter calados para não acusar o golpe para a súcia ignara.
Gente que debocha da Ciência e ameaça divulgadores científicos sérios deveria jogar fora seus celulares, pois estes são a prova materializada do que a Ciência pode produzir.
Se cientistas não tivessem descoberto o átomo e, consequentemente, o elétron, essa gente jamais teria um celular, uma TV ou um computador. É por causa do elétron que os aparelhos eletrônicos (daí vem a palavra) funcionam.
Mas não é só isso. Deveriam abandonar seus carros, suas motos (viu, presidente?), enfim, tudo que funciona porque gente que se dedicou a estudar transformou sonhos em realidade.
Essa gente que nega a vacina e tudo o que a Ciência diz deveria se mudar para os EUA (por aqui também existem!) e integrar aquelas comunidades chamadas de Quakers ou Amishes que ainda vive nos tempos do velho oeste americano com suas carruagens puxadas a cavalo e seus equipamentos agrícolas primitivos.
Dessa forma deixariam de nos encher o saco.



Estará o capitão mirando o senado?

Por Fernando Castilho




O ator Zé de Abreu me lembra muito um colega de FAU que quase toda semana vinha com a “notícia” de que a ditadura havia caído. Isso só foi se concretizar dez anos depois.

Zé tuitou que o Capitão Morte em vez de estar em campanha para a reeleição, na verdade disputará uma vaga no Senado por Santa Catarina. Não citou a fonte da “informação”.
Afastando o histrionismo do ator, refletindo um pouco, percebemos que há lógica em sua afirmação.
Já escrevi aqui há alguns dias que o comportamento do capitão é muito estranho para quem está na disputa por mais um mandato na presidência, ainda mais quando vê Lula bem à frente nas pesquisas de opinião. Há inúmeros exemplos disso e o mais recente foram suas férias justamente em Santa Catarina enquanto a Bahia submergia com mais de 600 mil desabrigados. A hashtag #BolsonaroVagabundo subiu rapidamente entre as mais vistas.
O fato é que o bozo PRECISA de um mandato eletivo para se blindar dos crimes que cometeu, sem o que pode ser preso já em 2023.
Já deve ter percebido que dificilmente se reelegerá e é por isso que faz uma anticampanha.
Mas uma candidatura ao Senado pode lhe ser muito mais atraente.
1 - Santa Catarina possui um eleitorado de perfil conservador e grande parte é bolsonarista, o que facilitaria sua eleição;
2 – Ficar somente mais quatro anos na presidência sabendo que em 2027 poderá ser preso não é mais atraente que ficar oito anos no Senado podendo se reeleger em 2030 para mais um mandato até 2038 quando terá 81 anos;
3 – O Capitão Morte, todos sabemos, ficou 28 anos na Câmara sem trabalhar. A presidência para ele é um saco. Mesmo assim, evita o trabalho a todo custo. No Senado repetiria sua atuação na Câmara e ainda exerceria seu esporte favorito que é ofender mulheres parlamentares e xingar senadores gays, além de defender a ditadura em discursos.
Se foi apenas um chute do Zé de Abreu, pode ser que tenha sido certeiro.
Deve ser mesmo nisso que o capitão está “trabalhando”.

Negacionismo na Academia: a opinião de um homem cansado

Por George Matsas





A segunda lei da termodinâmica, uma das mais bem testadas da física, afirma que a desordem de todo sistema fechado tende a aumentar. É por isso que você acordará com os cabelos despenteados por mais que os penteie à noite, e não o contrário.

Desafortunadamente, a segunda lei não é um problema apenas para os cabeludos. Ela também nos diz que, para arrumar qualquer bagunça, teremos que gastar alguma quantidade de energia. Porém, fomos condicionados pela evolução a economizar energia, não a gastá-la. O resultado é um mundo cada vez mais caótico.

A segunda lei é uma regra universal e não poupa nada nem ninguém. Nem mesmo a Academia, que deveria ser a última trincheira da racionalidade. Hoje, ela abriga alguns negacionistas do aquecimento global, da eficiência das vacinas, da evolução das espécies e sabe-se lá mais do quê.

Acontece que as universidades públicas são sustentadas pela sociedade, incluindo os seus segmentos mais pobres, para serem santuários da racionalidade. E a liberdade acadêmica não é um passaporte para negar a própria missão da Universidade. A conivência da comunidade acadêmica diante da presença de negacionistas em suas fileiras desmoraliza as universidades e trai o contribuinte que a sustenta. A pergunta óbvia, então, é: o que fazer diante desse quadro?

A maneira mais simples de se lidar com o problema é usando o “protocolo não-tenho-nada-a-ver-com-isso”, que inclui: (i) se isentar de toda a responsabilidade; (ii) arranjar algum bode expiatório (por exemplo, a segunda lei da termodinâmica); (iii) adicionar uma pitada de autopiedade; e (iv) se convencer de que há outros problemas mais urgentes a serem resolvidos — sempre há. Mas adotar essa opção não seria algo decente da minha parte.

Sendo assim, vamos aos fatos. A varíola foi erradicada, a AIDS foi controlada e nunca tantas vacinas foram produzidas em tão pouco tempo como ocorreu agora, com o fim de combater a covid-19. A ciência tem ajudado a salvar incontáveis vidas, e ainda outras mais poderiam ser salvas, se as pessoas ouvissem um pouco mais a ciência e usassem a máscara para cobrir nariz e boca, e não queixo e pescoço.

Seja como for, o saldo líquido é que, segundo dados do IBGE, a expectativa de vida do brasileiro aumentou 30 anos em seis décadas! Esse deveria ser argumento mais do que suficiente para convencer qualquer um do sucesso da ciência. Como é possível, então, que mesmo agora a ciência ainda dispute lugar com o “achismo” e que o negacionismo grasse por todos os cantos, e até em algumas vielas escuras da Academia?

A ciência não tem respostas finais

Antes de responder a esse questionamento, que fique claro que não estou advogando que a ciência possua respostas finais. A ciência não tem respostas finais, mas ela se diferencia do achismo por, pelo menos, quantificar suas incertezas. Não é uma opção negar a eficiência das vacinas em relação ao placebo só porque não se consegue ver com os olhos todo o processo de defesa que elas proporcionam ao organismo, assim como não se pode negar a esfericidade da Terra só porque não se pode abraçá-la com as mãos. Ainda não encontrei ninguém que negasse a existência dos smartphones. Provavelmente, porque é mais difícil negar algo que se pode tocar, mas com certeza ainda aparecerá alguém para argumentar que eles não passam de ilusão.

O negacionismo vai além da idiotice. A palavra “idiota” vem do grego “ίδιος”, que significa “mesmo” ou “igual”. O negacionismo está longe de ser “lugar comum”; trata-se de pura má-fé, completa falta de inteligência ou, mais provavelmente, uma combinação das duas!

A Academia não tem o direito de fechar os olhos à presença dos negacionistas em seus quadros. É urgente que os comitês de ética sejam acionados para que tais casos sejam analisados, e sanções, aplicadas. Se eu acho que isso vai acontecer? Minha resposta, tristemente, é não!

Recentemente conversei com colegas da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências — lugares que, surpreendentemente, sequer possuem comitês de ética — para expor o problema, e algumas reações de reputados cientistas explicam meu pessimismo.

Houve quem tenha me dito, por exemplo, que poderíamos ser acusados de ‘caça às bruxas’”. Ora, o capítulo funesto da Inquisição foi causado, justamente, por preconceitos e crendices, não pelo pensamento racional. Outra resposta, na mesma linha, foi a de que poderíamos ser acusadosde estar voltando à época da “censura do AI-5”. O AI-5 foi um ato baixado por um regime ditatorial. Nada tem a ver com comitês de ética eleitos, democraticamente por pares, e que dariam pleno direito de defesa ao denunciado. Finalmente, outros quiseram me consolar, dizendo que aAcademia de Ciências da França tem problemas semelhantes, como se pudéssemos ser absolvidos de nossos pecados pela existência de outros pecadores.

Tudo isso me leva à minha última pergunta: O que pode explicar a inação da Academia diante da verdadeira infecção que sofre por parte de corpos estranhos a ela?

A resposta mais direta possível é que o salário dos negacionistas não é pago pelos demais acadêmicos. Ah, sim, porque a primeira coisa que um cirurgião faria, se descobrisse que o homem que pensou ter contratado como instrumentista é, na verdade, um lutador de MMA, seria demiti-lo por justa causa.

A luta entre razão e instinto

Já uma resposta mais diplomática, e talvez mais sofisticada, passaria por perceber que o ser humano e o chimpanzé comungam de 96% dos seus genes. Aquilo que chamamos de razão está nos outros 4%. Já o instinto de corporativismo deve pertencer aos 96%  de genes comuns, pois suponho que tenha suas origens nas savanas africanas, quando nossos antepassados dependiam fortemente do grupo para sobreviver. 

Além de 96% ser um valor superior a 4%, as forças instintivas sempre tendem a falar mais alto — do contrário, alguém me explique como o fanatismo das torcidas esportivas poderia ser fruto da razão.

A consequência é que a academia é rápida para criticar cortes de verbas usando um discurso muito coerente, de que tal conduta terminará por prejudicar a sociedade em médio e longo prazo. Mas é lenta quando se trata de cortar na própria carne, por mais que isso se mostre igualmente necessário a fim de defender o interesse da população, que alega ser sua prioridade.

Em resumo: os instintos gritam, a razão sussurra e o embate começa na escuridão de nosso íntimo. Os argumentos são pinçados a posteriori para defender o vencedor, que quase sempre já foi aclamado muito antes, pelos genes que integram o grupo dos 96%.

Claro que o leitor pode contra-argumentar dizendo que este mesmo artigo seria um contraexemplo à minha tese, pois, longe de me tornar mais popular no grupo, estaria ferindo meu próprio instinto de sobrevivência.

Para resolver esse paradoxo, voltemos ao ponto de onde começamos. A desagregação das instituições, a relativização da ética e a omissão das responsabilidades não favorecem em nada o sucesso da espécie. Quando alguém realmente se dá conta deste fato, os instintos voltam a se agitar, e, então, alguns são levados a gritar o óbvio: “O REI ESTÁ NU”.

A permissividade da Academia diante da existência de negacionistas confessos em suas fileiras é inaceitável do ponto de vista ético, irracional do ponto de vista lógico e um estelionato do povo que a sustenta – mas isso todos nós já sabemos, certo?

George Matsas é professor do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp e membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP).


ESGOTO

Por Virgílio Almansur

 



Irá para o ralo da história aqueles que desde 16 aceitaram o discurso do terror. Sabemos muito bem qual era o mote à época: “... Tiremos a Dilma! Depois, se não der certo, a gente tira o próximo; tira de novo...”.

E como tira, hein!? Tiram nada! E ainda botaram um tira vagabundo na presidência... Na seara médica, o que vimos foi o exercício negacionista. Médicos, como esse coronel vagabundo no MS, que primam em cuspir no juramento hipocrático — num momento em que nos damos conta de 500.000 mortes evitáveis! —, devem ser identificados como irmanados à tortura.

Não pode haver perdão! E quando digo irmanados à tortura é porque são conhecedores de todo o processo que marcou as forças armadas em seu périplo assassino. Poucos — ou quase ninguém! — podem ignorar o que se dava nos porões da ditadura civil-militar-empresarial que barbarizou nos anos ditos de chumbo. Ninguém!!!

Basta atentarmos às 5as.fs. hediondas quando das lives no Planalto; ali, o chefe da nação não só é tartamúdico ou anacolútico, mas é muito mais um porta-voz do milicianato incrustrado no poder com ameaças veladas, numa latência a autorizar o guarda da esquina resoluto como um ustra brilhante.

Durante as manifestações ocorridas nos recentes anos de 15/16, corria solta a idéia da volta dos militares (e voltaram!!!) ao poder. Queriam a ditadura: exatamente para acabar com a “corrupção crônica” da esquerda, do PT, do Lula e companhia... A corrupção, historicamente, acompanha os regimes capitalistas, sendo inerente aos sistemas de dominação e exploração de difícil solução. Não há instituição isenta!

A corrupção penetra em tudo, de tal sorte que o modus operandi já se alinha integralmente ao modus pensanti, e, na hierarquia mediocrática a servir a tropa ignara, sobrevem naturalmente um componente gravíssimo: a dominação e subjugação de uma parte pela outra — não necessariamente uma maioria sobre minorias, mas o cumprimento ordenado que se faz mister pela continência gradual.

O mito de que as ffaa são infalíveis e honestas é produto de desinformação. Nas barbas do oficialato sempre se primou pelo contrabando, pela propina desavergonhada e não raro esses maganos engalanados arrotam incorruptibilidade sonegando, terceirizando ao roubar afrontando e submetendo.

Quantos de nosso congresso não foram pegos com a mão na botija no day after da autorização do impedimento da presidenta. “Contra a corrupção e pela minha vovozinha e cachorrinha, digo sim ao impeachment e não à corrupção!” Dois dias depois apareciam o contrabando, o roubo, o desvio e as sonegações... Assim como o presidente antisistema, deputado, carregava seus contrabandos desde a AMAN.

Um Brasil sadio se faz com educação, educação cultural e nacionalismo revolucionário. Estamos longe... O produto que se nos apareceu é o lixo de sempre. É essa gentalha, espelhada no banditismo crônico de viés golpista. A marca é a covardia! São todos covardes!

Nosso presidente é fruto desse esgoto em que nossa justiça também se meteu. Pouco Direito e muito direito juristocrático, que intenta uma submissão de nossos pretos, pardos e pobres — esgarçados nesse backyard periférico e dependente que nos tornamos —, é o legado deixado por uma mediocracia atrasada que não olha para esse outro brazil que tem donos.

Não temos muita saída! A que existe, não posso publicar... Não há limpeza para a farda! A imprensa brasileira, em parte, já endossou nos 60 e aceitou assassinatos. Agora... Bem, agora é olhar e observar as mesmas viúvas de sempre tentando suas recuperações.