quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Lula/Alckmin

 Por Fernando Castilho



Bem, tendo lido algumas manifestações de repúdio à chapa Lula/Alckmin por parte de setores da esquerda, gostaria de tecer alguns comentários.
Mas antes vou compartilhar os dados que o sempre atento Paulo Cavalcanti publicou anteriormente no Facebook:
1) - Na eleição de 1989, o vice do Lula era o Bisol, de esquerda. Lula vai ao segundo turno e perde para Collor.
2) - Na eleição de 1994, vice do Lula era o Mercadante do PT. FHC ganha no primeiro turno.
3) - Na eleição de 1998, o vice do Lula era o Brizola, do PDT, todos falavam em chapa dos sonhos, e deu FHC no primeiro turno.
4) - 2002 e 2006, José Alencar, antes no PL, depois no PRB, empresário de direita, Lula vai ao segundo turno e vence Serra em 2002 e Alckmin em 2006.
5) - 2010 e 2014, o vice de Dilma era Michel Temer do MDB, político de direita, em ambas, Dilma vai ao segundo turno e vence Serra e depois Aécio.
6) - Aí vem a traição em 2015/2016, Dilma é deposta, Lula preso.
Mas em 2018, Haddad tem como vice Manuela do PCdoB, vai ao segundo turno e perde para Bolsonaro.
7) - Todas as vezes que o PT fez composição apenas pela esquerda perdeu; todas as vezes que buscou parte da centro-direita, venceu.
Feita esta ilustração, vamos lá.
Muita gente que é de esquerda (ou procura nos fazer crer que é enquanto trabalha no sentido contrário) ainda imagina que a cada 4 anos estamos no limiar de fazer uma revolução socialista através do voto. Não devemos fazer alianças com ninguém que não seja de esquerda, não devemos vender a alma ao diabo compondo com forças políticas que nos garantam maioria no congresso para governar, etc. e tal. Devemos nos manter puros, magnânimos e dar os melhores exemplos para governar o país e blá, blá, blá.
Vamos acordar? Não há revolução possível no horizonte próximo. Somos um país em que uma elite escravocrata ainda manda enquanto temos um povo que encara isso com naturalidade e não está disposto a qualquer confronto para mudar esse estado de coisas. Se estivesse já estaríamos vivendo um período de saques a supermercados motivados pela fome, desemprego, inflação e falta de perspectiva para o futuro.
Certo, o PT se afastou das bases nas duas últimas décadas preocupando-se tão somente em tirar 35 milhões de pessoas da linha da pobreza (um feito de imensa magnitude não reconhecido por nossa grande mídia que olha torto para isso) e criar programas socias que reduziram enormemente a desigualdade social sem proporcionar formação política e conscientização de classe. Algo a ser resgatado num próximo hipotético governo Lula.
Mas passado é passado e temos, como Lula, que olhar para o futuro. O baiano, como era chamado no sindicato, precisa vencer as eleições para iniciar um longo e árduo trabalho de recuperação daquilo que o Capitão Morte destruiu, ou seja, tudo em todas as áreas. Tarefa hercúlea.
Temos duas opções: ou Lula escolhe um vice de esquerda para disputar as eleições satisfazendo a grande mídia que só fala em polarização e radicalização e corremos um sério risco de vermos os cerca de 45% de intenções de voto derreterem, já que os ataques a partir do início do próximo ano serão da cintura para baixo, ou Lula escolhe alguém com diálogo com centro e direita e com setores da economia, principalmente a combalida indústria, para que a busca desesperada de uma terceira via se dilua.
Precisa se Alckmin? Talvez não. Mas Lula enxerga lá na frente.
Quem mais apropriado para esvaziar a candidatura Doria, tirar votos de Moro, Ciro e até do bozo?
Dirão: ah, mas Alckmin estava praticamente morto. Deixemos de miopia. Alckmin tem muita força no interior do estado de São Paulo. Ao ir para o PSB arrastará setores do PSDB com ele. Além de revigorado como novidade política que terá que reavaliar seu pensamento e sua postura.
Alckmin golpeará Lula? Já opinei sobre isso num outro post. Lula, ao contrário de Dilma, saberá monitorar seu vice assim como fez com José de Alencar no passado. E Alckmin não tem o perfil golpista de Temer.
Então, vamos por partes. Primeiro temos que vencer as eleições com Alckmin, depois construir maioria no congresso para apoiar mais facilmente projetos de interesse do povo. Enquanto isso, o PT precisa voltar às bases e recuperar o apoio da população mais pobre conscientizando-a de sua classe social e da importância de sua organização.
Daí serão 4 anos de ataques de todos os tipos, já que demorará para colocar a casa em ordem.
Mas com apoio popular isso será possível.
Portanto, basta de miopia política. Lula precisa voltar.

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