segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O amigo da onça voltou?

Por Fernando Castilho


Em 05 de agosto a Folha de São Paulo publicou uma matéria em que o vice-presidente Michel Temer afirmava em reunião com líderes do Senado, da Câmara e ministros do governo, que o país precisava de alguém capaz de ''reunificar a todos'' na crise.

O discurso procurou demonstrar que o governo reconhece que há uma crise política e econômica que poderá se agravar perigosamente caso não haja união e disposição.

A dubiedade ficou por conta do termo ''alguém''. Quem seria?

Após receber um puxão de orelhas da presidenta Dilma Rousseff, Temer passou a negar que o ''alguém'' fosse ele mesmo.

E eis que na Folha online de 7 de agosto a matéria continua publicada, desta vez com um ''ERRAMOS''.



O trecho foi retirado da reportagem? Então havia um trecho em que ele se apresentava como o salvador da Pátria?

Para tirar dúvidas do que Temer teria afirmado, há também a versão de O Globo, onde não consta que ele teria dito isso.

Fica a duvida: houve a repetição do ''podemos tirar se achar melhor'', ou a Folha mentiu?
Temer agiu ou não de maneira golpista?

Em 3 de setembro, o vice-presidente volta à carga. Desta vez, em um encontro com empresários, organizado por uma tal de Rosangela Lyra que integra o movimento ''Acorda Brasil'', que pede a renúncia da presidenta. Temer afirmou que será difícil Dilma Rousseff chegar ao fim do mandato com índices tão baixos de popularidade.

Lendo a matéria a partir da manchete da Folha, o mundo desaba. Temer está aplicando o golpe no governo, traindo Dilma.



Mas o texto não diz isso.

Temer afirma que a melhora no cenário político e econômico pode ajudar Dilma a recuperar a confiança da população e que é preciso trabalhar para isso. Afirmou ainda que ela não é de renunciar.


Agora, por que raios um vice-presidente comparece a um evento organizado por uma golpista? E ainda teve de ouvir, irritado, a pergunta de um empresário: ''o senhor é estadista ou oportunista?''.

Diante da repercussão negativa, Temer tentou consertar o impasse ao conceder entrevista ao jornal norte-americano The Wall Street Journal. Na conversa, ele ressalta, desta vez, que Dilma vai encerrar o mandato em 2018. "Você pode escrever isso: eu tenho certeza absoluta que isso irá acontecer, que será útil para o País, que não haverá nenhum tipo de perturbação institucional".

Depois de todas essas declarações, fica claro o caráter duplo do vice-presidente, tanto é que algumas charges já o caracterizam como ''o amigo da onça'', personagem do cartunista Péricles, publicado na antiga revista O Cruzeiro. Usa-se essa expressão para definir a pessoa que diz ser amiga de outra, mas que constantemente a coloca em situação constrangedora ou vexatória, exatamente como tem feito Michel Temer.

Por último, Temer acaba de desabafar, ao negar estar conspirando: ''deram-me o epíteto de asno''. Realmente, político habilidoso e experiente que é, resta tentar saber o que realmente pretende.

Temer só assumiria a presidência no caso de renúncia ou de impeachment de Dilma. A renúncia está por enquanto descartada, portanto restaria a hipótese cada vez mais afastada de impeachment.

Em caso de cassação da chapa, ele cairia junto.

Então estaria ele tentando desvincular sua imagem da de Dilma, visando uma candidatura própria em 2018?

De certa forma ele sinalizou isso ao afirmar que em 2018 o PMDB pode indicar o candidato a presidente e o PT a vice.

Seria ele esse candidato?

Em 2018 Temer estará com 77 anos.

A chance é agora.





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