terça-feira, 30 de maio de 2017

Moro chega ao fim?

Por Fernando Castilho


Imagem: Internet


Michel Temer, ao nomear o juiz Torquato Junior, homem crítico à Lava Jato, para o ministério da Justiça deixa apreensivos o Ministério Público e a Polícia Federal que temem pela redução de verbas para os órgãos e pelo desmantelamento da operação, o que seria muito útil para o presidente.



Algumas coisas que acontecem, aparentemente são desconexas mas se pararmos para refletir, veremos que, se alinhavadas de alguma forma, podem fazer sentido.

Refiro-me ao juiz Sérgio Moro.

Todos conhecemos e acompanhamos a saga de Moro que, já durante 3 anos tenta incriminar Lula nos casos do tríplex no Guarujá, do sítio em Atibaia e da guarda dos presentes que ganhou durante o tempo em que permaneceu na presidência.

Moro iria ser submetido a julgamento neste dia 30 de maio pelo CNJ por ter vazado ilegalmente áudio entre Lula e Dilma sem a autorização do STF.

Além disso, outro áudio envolvendo uma conversa entre Marisa Letícia, esposa falecida de Lula e seu filho, sem que o diálogo dos dois tivesse qualquer ligação com as investigações da Lava Jato, também vazou para a imprensa.

O julgamento foi adiado.

Moro recentemente ouviu Lula em depoimento.

As opiniões se dividiram.

Boa parte das pessoas assistiram trechos editados pela Rede Globo no Jornal Nacional e ficaram com a impressão de que Moro (que não devia atuar como acusador, mas manter-se equidistante das partes) venceu a “contenda”.

Mas quem assistiu às 4 horas e meia do depoimento, deve ter percebido o apuro que o juiz sofreu após ouvir a defesa e as reclamações do ex-presidente quanto à operação.

Em seguida, a Polícia Federal pediu arquivamento da acusação de que Lula teria recebido como propina a guarda dos objetos recebidos como presente.

Quando Eduardo Cunha fez, em seu depoimento, 41 perguntas a Michel Temer, Moro só aceitou respostas para 21.

Logo depois viria a revelação da gravação feita por Joesley Batista, da JBS, de sua conversa com Temer. Joesley deu a entender que dava mesada para Cunha já há algum tempo, ao que Temer respondeu: tem que manter isso, viu?

A Globo investiu pesado contra Temer e Aécio Neves e a primeira lembrança que veio à nossa mente foram aquelas fotos de momentos felizes vividos por Moro, Aécio e Temer.

Será que Moro não teria como saber dessas mesadas?

Em seguida viria a surpresa maior. Moro inocentou Cláudia Cruz, esposa de Cunha, afirmando que não havia provas contra ela, mesmo que extratos tivessem sido enviados de banco na Suíça. Além disso, Moro determinou que Cláudia devolvesse 500 mil da propina, prova de que houve crime. A opinião pública começou a balançar. Desconfia-se que Moro tenha rabo preso com Cunha.

Como se não bastasse, surgiu a revelação de que a esposa de Moro teria envolvimento com uma máfia que desviava recursos das APAE's do Paraná. Moro parece cada vez mais desacreditado.

Ontem, 29, a auditoria da KPMG inocentou Lula de participação no esquema de corrupção da Petrobras, um choque para Moro, com certeza.

Michel Temer, ao nomear o juiz Torquato Junior, homem crítico à Lava Jato, para o ministério da Justiça deixa apreensivos o Ministério Público e a Polícia Federal que temem pela redução de verbas para os órgãos e pelo desmantelamento da operação, o que seria muito útil para o presidente.

Então, agora alinhavando.

Provavelmente se Moro tivesse sido julgado hoje pelo CNJ, seria absolvido ou no máximo, advertido pois o relator é um admirador seu.

O fato seria noticiado mas não teria grande repercussão.

Porém, ao ser adiado o julgamento, transparece uma possibilidade de que o próprio Temer esteja por trás disso. Lembremo-nos de que Cármem Lúcia é presidente do CNJ e recentemente se reuniu com Temer.

Temer pode estar tentando ganhar tempo para que surja mais alguma coisa contra Moro e este venha, quando for julgado, condenado a uma pena, mesmo que pequena, o que o tiraria do comando da Lava Jato, entrando alguém mais palatável ao presidente.

Não é de hoje que temos a impressão de que Sérgio Moro, assim como Michel Temer, foram peças muito úteis ao golpe, mas que agora podem ser descartadas.

A ver.


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