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quarta-feira, 29 de março de 2023

Não era uma arminha de dedo... Réquiem para a professora Elisabete Tenreiro

Por Fernando Castilho

Foto: ArquivoPessoal/Reprodução/GoogleStreetView

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu atingiu crianças e jovens em cheio.


Era uma tarde ensolarada de domingo em Santos, onde vivo. Perto do segundo turno das eleições de 2018.

Caminhando pela avenida da orla, de repente ouvimos, minha esposa e eu, um buzinaço que se tornou ensurdecedor à medida em que uma grande fila de carros e caminhões com faixas Bolsonaro 17 e Bolsodória 45, começou a avançar ostensivamente.

Tudo normal, pensei eu, afinal, faz parte da democracia.

Porém, o inédito nessa carreata eram as crianças nos bancos de trás, numa espécie de frenesi, fazendo arminha com os dedos para os transeuntes, enquanto seus pais buzinavam meio que enlouquecidos. Horripilante!

Para nós, que já participamos de inúmeras campanhas eleitorais, o normal seria o gesto de fazer um coração com as mãos para conquistar mais eleitores, mas os tempos mudaram.

Lembro que comentei com minha esposa: “isso não vai dar boa coisa”. Não deu.

Tecnicamente não é possível atribuir aos 4 anos de governo bolsonarista a tragédia ocorrida na Escola Estadual Thomázia Montoro, afinal, violência contra professores por parte de alunos é um fenômeno que já existia antes de Bolsonaro, mas, cá entre nós, vem aumentando muito nos últimos tempos.

É praticamente inédito que um menino de apenas 13 anos, da 8ª série do fundamental II, que a imprensa insiste em chamar de adolescente, tenha planejado e anunciado em rede social um assassinato com faca e tentado matar outros professores e alunos, além da professora Elisabete Tenreiro de 71 anos, que teve parada cardíaca e faleceu.

O menino participava de conversas com outros de sua idade através de um grupo no twitter, em que exaltavam as façanhas de outros que lograram matar e até se suicidaram logo após. Ele havia anunciado que iria no dia seguinte à escola para matar e se lamentava por não ter conseguido uma arma de fogo para a “missão”.

Não vejo como o twitter, com seus poderosos algoritmos, não consiga detectar conversas como essas e eliminá-las da rede. Consegue, mas não quer.

O professor da rede pública estadual e editor do canal Tiago na Área, Tiago Luz, lembrou muito bem em vídeo que soluções rápidas e fáceis não funcionam para assuntos complexos como este. Além do mais, logo se esquece o fato, até que nova tragédia aconteça e reapareçam as mesmas soluções fáceis. Ele propõe um amplo debate com a sociedade e especialistas, tanto em educação, quanto em segurança e até com psicólogos.

Na escola onde eu lecionava até o fim do ano passado, havia inúmeros casos de depressão, de alunos que tentaram suicídio e de automutilação. Parece que não só os 4 anos de incentivo ao armamento e ao uso de armas são os responsáveis, mas também 2 anos de reclusão domiciliar devido à Covid-19. Houve uma espécie de dessocialização em que as crianças passaram a adquirir uma forma de vida mais individualizada do que em grupo.

Havia uma psicóloga que uma vez por semana dava atendimento online a grupos de alunos. Numa das vezes, num auditório com grande número de adolescentes do ensino médio, ela tentava falar sobre ansiedade, mas absolutamente ninguém a ouvia, preferindo assistir vídeos “engraçados” no Tik Tok.

Penso que atendimentos assim não devem ser generalizados e em grandes grupos, pois é justamente em grupos que os alunos se sentem à vontade para se recusar a participar.

O atendimento psicológico deve ser presencial e para grupos de até 3 crianças, sob pena de fracassar.

O governo Bolsonaro, que muitos chamam de “governo da morte”, em que até havia um gabinete paralelo intitulado “gabinete do ódio”, responsável por disseminar o ódio e a violência na sociedade, atingiu os jovens em cheio, mas, felizmente, apesar da sobrevivência do bolsonarismo ou extrema-direita, acabou.

Agora o pesado nevoeiro cinza escuro está se dissipando e uma nova aurora nasce com o governo Lula.

Além da árdua missão de consertar tudo aquilo que foi destruído em termos de economia, saúde (700 mil mortos pela Covid-19), educação, direitos humanos, meio-ambiente e corrupção, Lula tem ainda por cima que dissolver a atmosfera de ódio que contaminou grande parte dos brasileiros e criar ares claros e límpidos para a sociedade.

Para isso terá também que compartilhar com estados e municípios políticas públicas que propiciem emprego e renda para a população mais pobre, sem o que esta não verá futuro para seus filhos, sob risco de, por falta de perspectivas, a violência aumente.

Antes de encerrar, sinto ser necessário lembrar que já há algumas gerações estamos naturalizando morte violentas influenciados que somos, principalmente por produções do cinema americano que nos bombardearam e ainda bombardeiam com filmes de ação em que, invariavelmente se mata muito. Ao vermos tantos tiros, sangue e morte, ficamos anestesiados a ponto de não mais nos chocarmos com assassinatos violentos.

Felizmente, com o streaming, Hollywood deixou de ser a principal fonte de entretenimento. Hoje há produções de outros países que abordam temas mais cotidianos como dramas familiares ou amorosos. E é disso que precisamos muito.

Por fim, fica a sugestão do professor Tiago Luz de se promover um amplo debate sobre a violência infantil com a sociedade.

Será um longo processo, mas que, ao seu fim, talvez nunca mais vejamos crianças fazendo arminha com os dedos nem utilizando armas reais.


quarta-feira, 22 de março de 2023

Os Bolsonaros em todo lugar ao mesmo tempo

Por Fernando Castilho



Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.


Os diretores de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, Dan Kwan e Daniel Scheinert teriam se inspirado no bolsonarismo para fazer o filme que transita por multiversos? Poderiam ter utilizado o ex-presidente Jair Bolsonaro como ator principal, em vez de Michelle Yeoh? Ganhariam o Oscar de melhor história e roteiro com a temática bolsonarista? O senador Flávio Bolsonaro e seus irmãos venceriam como melhores coadjuvantes? E se vencessem, trariam a estatueta para o acervo privado de Jair?

Vejam como o bolsonarismo se encontra num outro universo e numa outra dimensão.

Flávio, o 01, concedeu rara entrevista à Folha de São Paulo nesta segunda (20).

Com o cerco se fechando em torno do pai, Jair Messias, o senador percebeu que seria o momento adequado para apresentar uma versão bem universo paralelo sobre as joias trazidas para o Brasil ilegalmente.

A Folha inicia a entrevista perguntando por que os presentes não foram declarados, ao que Flávio candidamente responde que não tem muito o que falar porque os mimos vieram lacrados e que não houve má-fé em entrar com eles no país sem declará-los. Se houvesse, não iriam passar pelo raio-x da Receita.

Ora, senador, ficou claríssimo pelas imagens das câmeras de segurança que havia dois pacotes, cada um em uma mala. Um passou sem ser incomodado e o outro, o de 16,5 milhões, foi pego na malha fina. Aliás, é justamente porque o ex-ministro Bento Albuquerque não era nenhum mané nessa prática, que dividiu os presentes nas duas malas. Se um é pego, o outro passa.

À maioria das perguntas dos repórteres Júlia Chaib e Thiago Rezende, Flávio respondia com um “não sei” ou “pergunta pra ele”. Parece mesmo que vive numa realidade paralela que desconhece os fatos noticiados pelos jornais.

Sobre as joias masculinas que ficaram em poder de seu pai e que deverão ser devolvidas por determinação do TCU, o senador afirmou que Jair foi ao Comitê de Ética da Presidência que o teria autorizado a manter o presente consigo. Só se aconteceu num universo paralelo, pois o TCU já tinha uma decisão desde 2016 que afirma que os presentes recebidos por presidentes passariam a integrar o acervo da União e não o particular de Jair.

Flávio, trazendo talvez de uma outra dimensão uma experiência de vida e de como as coisas acontecem num arcabouço legal diferente do nosso, afirmou que ninguém sabia o que estava dentro dos pacotes. Poderia ser simplesmente... água!

Lá no outro universo, talvez. Aliás, lá poderia ser água, Baygon, urânio enriquecido, míssil ou balas 7 Belo. Aqui na Terra, no Brasil, logicamente o presenteador diria o que estaria dentro dos pacotes e certamente eles seriam abertos antes do desembarque para que nosso ilustre ministro, segundo posto mais alto do executivo, tivesse a responsabilidade de declarar o conteúdo à Alfandega.

Não posso esquecer de criticar os repórteres por não terem apertado Flávio Bolsonaro em nenhum momento. É próprio da profissão contestar respostas do entrevistado que não correspondem à realidade dos fatos, apresentando a realidade daquilo que já se sabe. Teria sido por medo?

Perceberam a oportunidade que Dan Kwan e Daniel Scheinert perderam de superar o filme vencedor do Oscar?

E se muita gente não gostou de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, aqui no Brasil, pelo menos, o filme Os Bolsonaros em Todo Lugar ao Mesmo Tempo teria um público fiel garantido de 44% da população, a mesma percentagem de pessoas que acreditam haver no país uma ameaça comunista.


quinta-feira, 16 de março de 2023

A necessidade de punir o malfeitor e controlar nossa ansiedade

Por Fernando Castilho



É possível que, com o clamor popular, os magistrados apressem os trâmites dos processos contra Bolsonaro, mas deveremos esperar longamente por uma condenação.


Tenho acompanhado pelas redes sociais a ansiedade que as pessoas de mentalidade progressista vêm demonstrando pela prisão de Jair Bolsonaro.

Após quatro anos de desgoverno, com a destruição de programas sociais, de descaso para com uma pandemia que matou mais de 700 mil pessoas, com incentivo ao garimpo em terras indígenas que quase extinguiu a etnia Yanomami, com mentiras e agressões verbais toda vez que se manifestava e pela tentativa de melar o processo eleitoral e ainda dar um golpe no país para se perpetuar no poder, é totalmente compreensível que não consigamos controlar nossa ansiedade e revolta toda vez que a mídia, juristas e ministros do STF opinam que não será possível prender o ex-presidente imediatamente.

Explico.

Bolsonaro perdeu o foro especial por prerrogativa de função. Vários processos que estavam nas mãos do PGR, Augusto Aras, estão sendo enviados para a justiça comum para serem julgados em primeira instância. Se condenado, caberão recursos até que se conclua o trânsito em julgado e seu destino seja, enfim, a cadeia.

Cabe aqui esclarecer que poderão se passar longos anos até que seu julgamento seja concluído. Com Paulo Maluf foram décadas de espera até a conclusão final que lhe impôs a prisão domiciliar devido à idade avançada e problemas de saúde. Revoltante, mas real.

É até possível que, com o clamor popular, os magistrados apressem os trâmites dos processos, mas não vamos manter falsas esperanças.

A outra possibilidade é a prisão preventiva, mas para isso é necessário que, caso venha a ser réu, Jair tente fugir, destruir provas ou continuar a ser uma ameaça à sociedade.

Para ser uma ameaça à sociedade, é preciso que Bolsonaro volte para o Brasil o quanto antes para assumir o papel de líder da oposição a Lula, como quer Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.

Explico.

Com Bolsonaro no poder de liderança da extrema-direita, será criado um novo cercadinho (talvez virtual) que voltará a ser frequentado pelos seus apoiadores. Embora não seja mais presidente e, portanto, não seja blindado pela grande imprensa como foi durante quatro anos, o homem é falastrão e se empolga toda vez que seus apoiadores o encorajam. Daí, desata a falar absurdos, a ofender, mentir e atacar. Então, para prendê-lo preventivamente, basta ficar atento à sua fala. Oportunidade não vai faltar.

O que podemos esperar realmente é sua praticamente certa inelegibilidade por oito anos. Bolsonaro está completando 68 anos e terá 76 ao fim de sua quarentena. A depender do sucesso do governo Lula, seja de 4 ou 8 anos, e da luta da esquerda para desmontar a extrema-direita, teremos um Jair envelhecido e sem importância.

Lembremos que, para liderar uma oposição a Lula, será necessário que Bolsonaro trabalhe muito, mas todos sabemos que trabalho não é com ele. Quando estava na Câmara e no Palácio do Planalto, trabalhou muito pouco.

Resta o Tribunal Penal Internacional de Haia que já possui processos em andamento por genocídio. Alguns consideram uma condenação difícil, mas não impossível.

De qualquer forma, o que queremos ver é punição exemplar para que nunca mais o povo brasileiro passe por tsunami avassalador como esse.

O Estado Democrático de Direito tem que prevalecer, mesmo para o julgamento desse malfeitor, portanto, não é o caso de se passar por cima das leis.

Mas não haverá punição dura o suficiente para compensar o sofrimento daqueles que perderam seus amigos e parentes pela Covid-19.

Nunca haverá.


sábado, 11 de março de 2023

O perigo do plano "Política Nacional de Longo Prazo" de Bolsonaro

Por Fernando Castilho

Imagem: Revista Piauí

A certeza de vitória de seu Jair e de seus comparsas nas eleições de 2022 era tão grande que até um plano de governo de 36 anos, elaboraram, vejam só.


No segundo semestre de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro e seus aliados militares estavam preparando um documento intitulado “Política Nacional de Longo Prazo”. Em suas 65 páginas, às quais a revista Piauí teve acesso, o plano não citava o combate a fome, nem políticas para mulheres, negros ou indígenas, enfim, nada voltado à melhoria de vida das pessoas.

A intenção de parte dos militares não era somente vencer as eleições presidenciais, mas se perpetuarem no poder através do governo de seu fantoche, Jair.

Seriam 36 anos, nove mandatos consecutivos, pelo menos.

Mas, caro leitor, não pense que para isso Bolsonaro teria que vencer nove eleições consecutivas. A ideia era, já no segundo mandato, apresentar projeto de lei em uma Câmara majoritariamente bolsonarista, de continuidade no poder, baseado na tal ameaça comunista que só o capitão teria força para enfrentar, na ameaça da ideologia de gênero que transforma nossos jovens em trans e na vontade de Deus. O projeto poderia ser aprovado.

A certeza de vitória de seu Jair e de seus comparsas nas eleições de 2022 era tão grande que até um plano de governo de longo prazo elaboraram, vejam só.

Para isso, não mediram esforços. Bilhões de reais de dinheiro público foram gastos com motociatas, cartões corporativos, orçamento secreto em redutos eleitorais, etc. Não hesitaram em mobilizar a Polícia Rodoviária Federal para impedir eleitores de Lula a votar. Um vale-tudo que pode custar a inelegibilidade do capitão por oito anos.

Apesar de todo esse escândalo, Bolsonaro não venceu.

Lula venceu e, logo que começou a governar, revelou ao Brasil e ao mundo o genocídio que vinha sendo cometido contra os Yanomami. Se Jair vencesse, certamente, já neste ano os Yanomami poderiam estar em franco processo de extinção. Ao longo de nove mandatos, não só eles, mas todas as etnias indígenas poderiam não mais existir, com o garimpo ilegal tomando todas as reservas. Era um programa de governo.

O governo Lula descobriu também que não foi deixado dinheiro para combate a tragédias. Foi preciso grande mobilização de recursos para tentar minimizar a dor e o sofrimento do povo pobre do litoral norte. Se reeleito, Bolsonaro estaria passeando de jet-ski enquanto as enchentes aconteciam.

Agora descobriu-se que o capitão tentou por nove vezes recuperar joias no valor de 16,5 milhões de reais que ficaram retidas na alfândega quando do retorno do então ministro Bento Albuquerque da Arábia Saudita.

Essas joias teriam sido um presente do país e deveriam passar a integrar o acervo da presidência da República, mas Bolsonaro entendeu que deveriam pertencer a ele.

Dois dias antes de fugir para os Estados Unidos, Jair empreendeu sua última tentativa de roubo de patrimônio público, mas não conseguiu êxito.

Outro estojo, porém, conseguiu passar pela alfândega e se encontra no poder do capitão, possivelmente em Orlando.

Trata-se, portanto, de pilhagem feita por um presidente da República. E isso é crime gravíssimo.

Como todo o staff de governo tinha a mais absoluta certeza de reeleição, esse escândalo pode ser apenas a unha de um elefante. Agora que o capitão perdeu o poder, é bem possível que muitos outros casos semelhantes venham à tona.

O método de seu Jair faturar nunca foi o tradicional dos que ocupam o poder executivo, as fraudes nas licitações e o atendimento à grandes empresas. A gatunagem e a pressão são alguns dos métodos típicos das milícias e, por que não dizer, das máfias.

O Brasil se salvou de sua quase extinção, pois, caso a tal Política Nacional de Longo Prazo fosse implementada após a reeleição de Bolsonaro, certamente teríamos uma gatunagem oficializada como nunca se viu.

É imperioso agora que haja punição severa contra essa corrupção oficializada para que nunca mais volte a acontecer.


terça-feira, 7 de março de 2023

Sim, a boiada passou, realmente. Resta saber seu tamanho.

Por Fernando Castilho




Os casos de vantagens indevidas seriam só esses, ou seja, a boiada se limitou a essas poucas cabeças ou estamos diante de um enorme rebanho que só agora começamos a descobrir o tamanho?


Em 22 de abril de 2020 aconteceu aquela horrível reunião ministerial cujo vídeo foi divulgado pela imprensa após decisão do então ministro do STF, Celso de Mello.

Em meio a xingamentos, palavrões, ofensas e ameaças de intervenção na Polícia Federal por parte do então presidente Jair Bolsonaro, chamou particularmente a atenção a frase do então ministro do meio-ambiente, Ricardo Salles, que dizia que era preciso aproveitar que as atenções da imprensa estavam todas voltadas para a Covid-19 para passar a boiada. Vamos ver se ela passou, realmente?

Salles foi pego com a mão na botija ao tentar vender madeira ilegal para os Estados Unidos. Pergunta-se: foi sua primeira tentativa? Quanto de madeira ilegal ele teria conseguido vender antes de ser flagrado? Como conseguiu se eleger deputado federal após esse incidente?

Salles fez também reuniões com garimpeiros e até os recebeu em seu gabinete. Pergunta-se: quanto de ouro e pedras preciosas ele teria recebido de “presente” para facilitar o garimpo em terras indígenas?

Obviamente, não há provas, por isso, coloco tudo no terreno das suposições.

Ainda supondo, quanto o ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, após ter liberado um trilhão de reais aos bancos no início da pandemia, teria despachado para terras estrangeiras como “presente”?

Quanto o ex-ministro, Pazuello e seu chefe teriam recebido de “presente” da indústria farmacêutica para imporem à população medicamentos comprovadamente ineficazes para o combate ao Coronavírus?

Ainda na onda do ouro, o ex-ministro da educação, Mílton Ribeiro, permitia, segundo ele, sob orientação de Bolsonaro, que pastores negociassem obras nas cidades do interior, recebendo ouro em troca. Quanto receberam de “presente” o ministro e seu chefe pela facilitação da corrupção?

Os mimos recebidos por esse governo devem ter sido inúmeros e, somente agora começam a ser revelados.

O novo fato que nos chegou através da reportagem do Estadão foi o das joias no valor de 16,5 milhões de reais que ficaram retidas na alfândega.

É certo que Bolsonaro tentou o quanto pôde por suas mãos nelas, afinal, foram 8 tentativas, inclusive com um ofício dele.

Não, caro leitor. As joias não eram um presente para a então primeira-dama, Michelle, como o capitão sugeriu. Se fossem, já seria crime porque qualquer presente ofertado de país estrangeiro se destina obrigatoriamente, segundo decisão de 2016 do TCU, ao estado brasileiro. A ex-primeira-dama, inclusive, logo após a matéria do Estadão, se manifestou surpresa e até a ironizou.

Não ficou esclarecido o motivo de a Polícia Federal que também está presente nos aeroportos, não ter prendido em flagrante o auxiliar do então ministro, Bento Albuquerque.

As peças que fazem parte do estojo apreendido pela Receita Federal, em seu conjunto, constituem uma mercadoria de pequeno tamanho, mas muito valiosa. Porém, muito difícil de se vender para fazer dinheiro. Mas, percebam que, desmembradas em pequenas peças, podem ser vendidas mais facilmente, afinal, quanto vale um daqueles pequenos diamantes?

Não podemos esquecer que falta no estojo um bracelete ou um anel, já que o suporte está vazio. Quem pegou?

Há um outro “mimo” do governo da Arábia Saudita que conseguiu passar pela alfândega. São caneta, relógio, abotoaduras, etc. que não se sabe com quem estão. Será que o capitão conseguiu passar a mão nesse?

Por que coloco “presente” e “mimo” entre aspas?

O estojo com as joias apreendidas foram ofertados a Bolsonaro em seguida à venda da refinaria Landulpho Alves à Arábia Saudita por praticamente metade de seu valor. Vejam que 16,5 milhões de reais equivalem praticamente a 1% do valor de venda da refinaria, que foi de 1,6 bilhão. Cheira, digo, fede a propina.

Nossa grande imprensa decidiu denominar o crime por “entrada ilegal” de mercadoria, quando o certo seria designar pelo seu nome verdadeiro, contrabando. E contrabando é crime. Por isso, a PF deveria ter prendido o rapaz da mochila. Parece que ainda há certos cuidados em poupar Bolsonaro.

Há agora, à luz da frase de Salles, inúmeras perguntas.

Os casos de vantagens indevidas seriam só esses, ou seja, a boiada se limitou a essas poucas cabeças ou estamos diante de um enorme rebanho que só agora começamos a descobrir o tamanho?

Foram somente esses os agentes públicos envolvidos nesses crimes ou figuras como Augusto Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos fizeram também seus pés de meia enquanto recebiam polpudos soldos?

E a enorme quantidade de picanha, uísque, Viagra e outros produtos adquiridos pelo exército?

O fato é que o governo que findou parece que inovou em sua forma de tomar para si bens públicos. Enquanto a forma mais clássica de se apropriar de uma fatia do estado é a comissão sobre grandes obras tocadas por grandes empreiteiras que conseguem driblar a lei de licitações, devemos lembrar que desta vez o estilo foi à la baixo clero, aquele mesmo das rachadinhas.

Agora aguardaremos os resultados da investigação a cargo da Polícia Federal que deverá revelar mais detalhes da tentativa de roubo, porém, já está mais do que clara a autoria do crime. O que não pode é haver impunidade.

É possível que na esteira desse delito grave, apareçam outros na medida em que servidores, encorajados pelos novos ares da administração pública federal, tomem coragem para denunciá-los.

A boiada foi grande e passou realmente, mas temos a possibilidade de reuni-la e prendê-la de novo no estábulo.


quarta-feira, 1 de março de 2023

Precisamos conversar sobre o futuro da Petrobras

Por Fernando Castilho



Em 2021 a Petrobras, ainda sob o governo Bolsonaro, decidiu se retirar totalmente da produção de energia limpa, indo na contramão do mundo que procura fontes renováveis e mão poluentes. Vivíamos sob a égide do negacionismo.


Circula nas redes sociais um texto apócrifo, escrito em português de Portugal, intitulado: “Algumas previsões muito interessantes, mas também assustadoras”.

Para início do tema que abordarei, destaco dois itens:

7.  Grandes fabricantes de automóveis inteligentes já destinaram dinheiro para começar a construir novas fábricas que só constroem carros eléctricos.

8.  As indústrias de carvão irão embora.  As companhias de gasolina/petróleo irão fechar. A perfuração de petróleo irá parar.  Portanto, diga adeus à OPEP! O Oriente Médio estará em apuros.

Quem se interessar pelo inteiro teor, pode acessar este link.

Previsões sobre o futuro costumam falhar, mas neste caso, o futuro está tão próximo que já pode ser considerado presente.

Realmente, montadoras presentes ou não no país, já estão dando mais ênfase a modelos com motores elétricos do que a combustão. Algumas já elegeram a data de 2025 para encerramento da produção de motores movidos a gasolina e a diesel. Já há também ônibus e caminhões rodando com energia elétrica.

O futuro (presente) já é, portanto, dos veículos movidos a eletricidade.

Tendo esse dado como certo, surge a primeira indagação: se em poucos anos haverá mais veículos elétricos do que movidos a gasolina, etanol e óleo diesel, de onde tiraremos a energia elétrica para alimentá-los? Nossas usinas hidrelétricas darão conta dessa demanda? Afinal, quando os reservatórios baixam seus volumes em tempos de estiagem, não há racionamento? E a tarifa não fica mais cara?

Essa é uma discussão que precisa ter início assim que o governo Lula se sentir mais acomodado no Planalto.

O outro item que devemos considerar é o 8, um pouco alarmista, mas nem por isso, despreocupante.

Além da mudança da matriz energética dos veículos, devemos lembrar que a produção de nosso parque eólico vem aumentando ano a ano. Segundo o Anuário 2020 da Empresa de Pesquisa Energética, a participação da geração de eletricidade a partir de pás eólicas, foi de 8,9%, dados de 2019, sendo que, de lá para cá, a produção saltou de 14.706 GW para 22.000 GW. Portanto, há de se supor que terminamos o ano de 2022 com cerca de 12% ou mais de participação de energia eólica em relação à todas as outras matrizes energéticas.

A geração de energia a partir de placas fotovoltaicas também vem crescendo enormemente no país. Saltamos de 7,9 GW, ao final de 2020, para 13 GW ao final de 2021, crescimento de 65%.

Parece claro que nossa matriz energética, aos poucos vem se transformando.

Há décadas o fantasma do esgotamento do petróleo preocupa a humanidade, mas a realidade nos mostra que antes que isso ocorra, ele já vem sendo substituído, e para melhor, afinal, fontes não poluidoras são o que desejamos para baixar a emissão de gases de efeito estufa e reduzir os impactos ambientais das mudanças climáticas.

Mas, para nós, brasileiros, que criamos, graças a Getúlio Vargas, a empresa orgulho do país, a Petrobras, um pensamento sombrio começa a rondar vez ou outra nossas mentes.

Todo brasileiro tem por obrigação preservar a Petrobras como um patrimônio do país, pois a empresa é referência mundial, gera milhões de empregos diretos e indiretos e ainda, neste momento, é responsável por colocar o Brasil em movimento.

Mas a preocupação levantada no item 8 do texto apócrifo é verdadeira e dessa discussão não podemos fugir a médio prazo.

Assim como empresas que produziam aparelhos analógicos tiveram que se reinventar e mudar toda a sua linha, desde projetos até plantas fabris, para passar a atender o mundo digital, a Petrobras, em algum momento próximo, terá que fazer essa reflexão.

Mas vejam que interessante: em 2021 a estatal, ainda sob o governo Bolsonaro, decidiu se retirar totalmente da produção de energia limpa, o que foi questionado pelo pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), Henrique Jäger. Segundo ele, a concentração da estatal em energia pesada vai na contramão do mundo que procura fontes renováveis e mão poluentes. Ou seja, outros gigantes do petróleo começam a se movimentar para a produção de energia limpa, mas o antigo governo negacionista preferiu seguir sua linha.

Mas o governo mudou e, com ele, novos ares voltados ao meio-ambiente têm que voltar a circular.

É perfeitamente possível que o gigante petrolífero passe aos poucos a explorar matrizes energéticas não poluentes como a eólica, a solar e mesmo a das marés.

Essa tem que ser a meta de um governo progressista preocupado com o Brasil e com o meio-ambiente.

É preciso que nos adiantemos ao que o futuro próximo nos reserva, já que todos os sinais nos apontam para ele.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Bolsonaro será mesmo preso?

Por Fernando Castilho




Ministros do STF, não identificados, já estariam conformados e trabalhando com a hipótese de que Jair Bolsonaro nunca será preso?


Na semana passada o portal Uol publicou uma matéria em que a articulista dizia, genericamente, que “ministros do STF consideram difícil a prisão de Bolsonaro, mas têm como quase certa sua inelegibilidade”.

Sempre que surge uma matéria como essa, a pergunta a se fazer é: quais foram os ministros que se posicionaram dessa forma e como essa informação foi obtida?

Se foram Nunes Marques e André Mendonça, não há nenhuma novidade, já que eles sempre votam a favor do ex-presidente. Mas, confesso que é inevitável desconfiar da veracidade da informação que, se verdadeira, transfere a Alexandre de Moraes a árdua tarefa de se ver isolado na defesa da democracia e do estado de direito.

Segundo a colunista, Bolsonaro, agora entregue à justiça comum, poderá ter seus vários processos se arrastando por muitos anos até o trânsito em julgado de uma possível sentença condenatória devido à falta de materialidade, de provas e aos recursos que impetrará. O capitão, de 67 anos, estaria muito idoso quando, enfim suas sentenças definitivas de seus 28 processos forem confirmadas.

Sobre isso, o jurista Walter Maierovitch afirmou que, se procedente a afirmação dos ministros, seria a falência da justiça. E seria mesmo.

Caso os ministros tenham se esquecido, Bolsonaro foi, durante 4 anos, mestre em produzir provas contra si próprio.

Só no caso da pandemia da Covid-19 foram várias, ou alguém não se lembra de quando o ex-ministro da saúde, general Pazuello, anunciou a compra da vacina Coronavac? No dia seguinte, ao ser indagado por repórteres sobre a compra, Bolsonaro reagiu rispidamente dizendo que quem mandava era ele e que a vacina só seria comprada se passassem por cima de seu cadáver. Em seguida, apareceu ao lado do sorridente general que disse que um manda e o outro obedece, confirmando que, a mando do presidente, acabava de cancelar a aquisição. Quantas mortes aqueles sorrisos maldosos causaram devido ao atraso na compra de imunizantes que só acabou ocorrendo depois de muita pressão popular, da mídia e de parlamentares?

Existe um sem-número de provas de crimes, mas, se apenas esse único episódio não servir como prova de que deliberadamente o capitão boicotou a vacina, não sei o que mais serviria. Aliás, a CPI da Covid-19 encontrou vários indícios de crimes que acabaram nas mãos do PGR, Augusto Aras que os ignorou e varreu para baixo de seu tapete.

Neste país das contradições, é particularmente notável que o senador eleito, Sergio Moro, esteja justamente neste momento, buscando aprovar seu projeto de trânsito em julgado de sentenças condenatórias após a segunda instância, o que poderia fazer, caso não fosse inconstitucional, com que seu ex-inimigo, agora reconciliado, Jair Bolsonaro, fosse enviado ao xilindró mais rapidamente.

Mas, além das contradições, este é um país em que se procura o tempo todo perdoar a quem nos tem ofendido. Antigamente se chamava de “jeitinho brasileiro”.

Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil, afirmou que o brasileiro é um homem cordial, ou seja, pensa mais com o coração (“cordial” vem de “coração”) do que com a razão. No passado já distante, a atriz comediante norte-americana, radicada no Brasil, Kate Lyra tinha um famoso bordão na TV: “brasileiro muito bonzinho”.

A justiça frequentemente esquece a gravidade de crimes cometidos e dá uma segunda chance ao meliante, mas só se este for poderoso, caso da recente liberação de Sérgio Cabral que, acumulando 436 anos de pena, cumpriu 6 e voltou para casa com uma tornozeleira.

Caso diferente, mas com a semelhança da impunidade, foi o de Paulo Maluf. O ex-prefeito de São Paulo, ao longo de décadas foi conseguindo protelar o trânsito em julgado de sua sentença, usando e abusando de recursos. Quando, enfim, esgotaram-se todos, foi enviado para casa com tornozeleira devido à idade avançada e à saúde fraca.

Portanto, caso os processos contra Bolsonaro se arrastem por muitos anos, como sugerem os ministros, teremos mais um caso em que o crime terá compensado.

E o pior de tudo é que Bolsonaro, mesmo inelegível, ao final, rirá da cara de Alexandre de Moraes e de todos nós. Com a certeza da impunidade, continuará a atuar politicamente para causar ainda mais males ao povo brasileiro.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Falhou mais um plano infalível do Cebolinha

Por Fernando Castilho




O plano de Bolsonaro, Daniel Silveira, Braga Netto e Augusto Heleno para dar um golpe mais se assemelha a um dos inúmeros planos infalíveis do Cebolinha.


Todo mundo sabe que a Mônica é a dona da rua e que o Cebolinha está sempre engendrando um golpe para conquistar esse poder.

Como não consegue fazer isso sozinho, sempre busca a ajuda do amigo, Cascão.

Para este último plano, Cascão achou melhor procurar o apoio logístico do Louco. Como todos sabem, o Louco é um personagem com personalidade conturbada e cheio de maluquices. O ideal para a missão.

Como era de se esperar, mais um plano que não deu certo. O Louco acabou revelando-o à Mônica e os três acabaram sendo surrados por ela, que continua a ser a dona da rua.

Fim da história infantil. Vamos para o assunto que é muito sério. Ou infantil, como veremos mais adiante.

Dois outros planos infalíveis cujos mentores provavelmente foram Jair Bolsonaro, Augusto Heleno e Braga Netto, também não deram certo: os atentados à bomba antes da diplomação de Lula e a depredação dos edifícios dos três poderes em 08/01.

Não vou gastar linhas aqui contando toda a história na cronologia apresentada pelo senador Marcos Do Val, por demais já conhecida de todos, mas comentarei algumas possíveis incongruências e esquisitices.

A história contada pelo senador à Veja colocava o ex-presidente Jair Bolsonaro na chefia direta do golpe, como o autor da coação que teria sofrido para participar da “missão”, como Do Val chama a incumbência que lhe foi dada.

Após ter sido pressionado pelo senador Flávio Bolsonaro, Do Val mudou a versão. O capitão não o teria coagido, limitando-se a ficar calado durante a reunião de planejamento do plano que o recolocaria no poder. Só no final teria dito que aguardaria sua decisão em ser o protagonista principal da “missão”.

Foi essa a versão apresentada à coletiva de imprensa e ao depoimento à Polícia Federal.

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, confirmou a veracidade do que Do Val apresentou à PF na conversa que tiveram.

O senador, ao ser procurado pelo então deputado Daniel Silveira para participar de uma reunião com ele e o presidente, segundo suas palavras, optou por primeiro consultar Alexandre de Moraes se deveria ou não comparecer ao encontro. Moraes teria dito que sim.

Ora, o senador ainda não tinha conhecimento da proposta que lhe fariam. Poderiam conversar sobre qualquer assunto. Então, por que consultar o ministro?

Do Val se diz especialista em inteligência e repetiu isso várias vezes durante sua coletiva. Mas, nessa condição, não seria ele uma pessoa mais apropriada que Silveira a propor um método para tentar captar alguma fala que pudesse ser usada contra Moraes?

Por que, passados quase dois meses, só agora decidiu levar o caso a público?

Não resta dúvida de que a reunião golpista existiu. Se foi Bolsonaro que a convocou e a conduziu, como foi afirmado à Veja, já há motivos claros para sua prisão.

Na nova versão, o capitão teria deixado Silveira conduzir a reunião e propor a “missão”, mas é óbvio que isso não o isenta de responsabilidade, uma vez que, pelo seu cargo, deveria ter encerrado a conversa logo no início e ter dado voz de prisão ao então deputado.

Não há como Bolsonaro se safar desse planejamento golpista. Ele não pode dizer que foi chamado ao encontro sem saber do que se tratava. Seria uma reunião secreta para conversar sobre futebol?

Felizmente, Do Val, em depoimento à PF, não negou a presença do capitão na reunião. Se o fizesse, uma simples convocação do motorista do carro presidencial e dos funcionários presentes no palácio (estranhamente o senador disse que não sabe se o evento ocorreu na Granja do Torto ou no Alvorada) bastariam para confirmar sua presença.

A partir da revelação de Marcos Do Val, fica mais fácil ligar essa reunião à minuta de golpe descoberta na casa do ex-ministro da Segurança, Anderson Torres. Uma pisada na bola de Moraes, segundo o raciocínio de Bolsonaro e Silveira, serviria para tornar a minuta, oficial e dar o golpe.

Só que as coisas não funcionam assim. E, por isso, o plano é infantil.

Mesmo que Moraes confidenciasse alguma impropriedade, não seria suficiente para um golpe. E sabemos muito bem como o ministro é cuidadoso. Ele não cairia numa armadilha ridícula, como ele mesmo se referiu à tentativa de golpe.

Resta considerar a participação de Augusto Heleno e Braga Netto, já que Silveira, em mensagem, citou 5 partícipes. E ainda soltou uma frase enigmática: “cinco estrelas”. Provavelmente em alusão aos 2 generais da reserva.

Moraes precisa pedir que a PF convoque Silveira e Bolsonaro para depor, mesmo que a fala do capitão seja tomada por vídeo conferência.

O ministro chamou o plano de golpe Tabajara e Gilmar Mendes afirmou que “estávamos sendo governados por gente do porão”.

Nada mais apropriado para descrever mais um plano infalível frustrado do Cebolinha.

Cebolinha não pode ser preso, mas Bolsonaro, sim.

 

  


terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Se for preciso, que se intervenha no estado de Roraima

Por Fernando Castilho


Foto: Ricardo Stuckert


O que transparece, pela fala do governador de Roraima, é que, por ele, o solo da Amazônia pode ser revirado totalmente do avesso, desde que se extraia dele o máximo de riqueza possível. E claro, não sem contrapartida.


Todo presidente tem o poder de mudar a situação do povo que governa, para o bem ou para o mal.

Jair Bolsonaro debochou o tempo todo da pandemia que matou 700 mil pessoas, chegando a sabotar as medidas sanitárias e até a receitar remédios de ineficácia comprovada.

Sua agenda presidencial revelava que trabalhava muito pouco nos dias de semana e saía de “férias” de maneira irregular, enquanto as chuvas tratavam de matar e desabrigar milhares de pessoas pobres.

Reunia-se com garimpeiros, na verdade, donos de mineradoras, aliando-se a eles para pôr em prática seu antigo projeto de extinção dos povos indígenas.

Jair se empenhou em mudar a situação do brasileiro para pior. E conseguiu.

Lula, apenas 20 dias após a posse, arregaçou as mangas e foi conhecer de perto, in loco, a situação dos indígenas Yanomamis, acompanhado de 3 ministros.

"Se alguém me contasse que, aqui em Roraima, tinham pessoas sendo tratadas da forma desumana que eu vi o povo Yanomami sendo tratado, eu não acreditaria. Não podemos entender um país que tem as condições que têm o Brasil deixar os nossos indígenas abandonados como eles estão aqui", afirmou o presidente.

A visita causou um alvoroço nas redes sociais e repercutiu significativamente na imprensa internacional. A nacional não deu muita bola no início, talvez preocupada em não dar pontos para Lula, mas, devido ao volume na Internet, teve que se render e fazer reportagens.

O presidente, nem bem começa a governar e já muda a situação de todo um povo para melhor.

Hoje, em reunião com ministros, Lula exigiu que os tráfegos aéreo e pluvial dos garimpeiros em Roraima sejam cortados o mais rápido possível.

Se a nova administração federal já consegue reverter em parte um dos maiores crimes do capitão, classificado como genocídio, é preciso também que se olhe com atenção para o estado de Roraima.

O governador, Antônio Denarium, manifestou-se sobre os Yanomamis, não deixando dúvidas de que ele e grande número de prefeitos da região, não só são a favor do garimpo ilegal em terras da federação cedidas aos indígenas, como também incentivam e apoiam.

Enquanto o capitão nega seus crimes, Denarium, bolsonarista convicto, prefere seguir o caminho da hipocrisia ao dizer que não é novidade os Yanomamis passarem fome e que deveriam eles próprios explorar suas terras.

O que transparece, pela fala do governador, é que, por ele, o solo da Amazônia pode ser revirado totalmente do avesso, desde que se extraia dele o máximo de riqueza possível. E claro, não sem contrapartida.

As matérias sobre as terras Yanomamis e o garimpo ilegal não deixam dúvidas de que há um plano de enriquecimento de grupos compostos de mineradoras, militares e políticos em execução, cujo obstáculo são alguns milhares de indígenas. Se, principalmente as crianças forem envenenadas pelo mercúrio ou mortas por doenças e fome, a população originária será reduzida a ponto de se tornar inviável sua multiplicação, o que, na prática, significa sua extinção.

O governo Lula tem que fincar pé na região, implementar ações de salvamento dos indígenas e de corte do tráfego das mineradoras, como foi decidido na reunião ministerial, mas também aumentar e concentrar na região contingentes de fiscalização e segurança para, não só prender, mas também confiscar aviões e helicópteros e destruir barcaças e outros equipamentos, afetando assim significativamente o poder econômico desses grupos. Não será uma tarefa fácil e, muito menos, rápida, mas é preciso que se comece a sufocar os donos dessas atividades mineradoras, aumentando-lhes os prejuízos.

Além disso, é preciso que a tragédia Yanomami não saia tão cedo dos noticiários, já que vem sensibilizando a opinião pública, a ponto de criar uma massa crítica contrária ao bolsonarismo, ao governador e aos prefeitos da região.

O governador, metido até o pescoço com a extração ilegal de ouro, verá aumentada a pressão das mineradoras contra ele e poderá reagir às medidas adotadas por Lula e seus ministros.

Antecipando-se a isso, é bom que o governo federal já tenha um plano elaborado para pôr em prática uma intervenção no estado, caso seja necessário.

Lula termina seu primeiro mês de governo já cumprindo com êxito uma amostra-grátis do que prometeu em campanha: acabar com a fome do povo.

Neste caso, a fome do povo Yanomami.

 

 


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A banalidade do mal em Damares Alves e nos terroristas de Bolsonaro

Por Fernando Castilho




Se Eichmann não sentia o mínimo remorso por seus atos, o que dizer da ex-ministra incumbida de preservar as terras Yanomamis, Damares Alves?


Quando Adolf Eichmann, oficial nazista responsável pelo envio de cerca de 6 milhões de judeus para o extermínio em campos de concentração no que se chamou de “solução final”, foi julgado em Jerusalém em 1961, o mundo se surpreendeu com sua frieza ao afirmar que não sentia que tivesse feito algo errado porque era apenas um soldado burocrata encarregado de cumprir ordens.

A filósofa alemã e judia, Hanna Arendt, chegou a entrevistar Eichmann na prisão e dessa entrevista extraiu elementos para seu livro, Eichmann em Jerusalém – Um Relato sobre a Banalidade do Mal.

Na obra, Arendt defende que Eichmann se tornara um homem desprovido da moral, da ética e do senso crítico, cuja objetivo de vida era tão somente executar as ordens de Hitler sem refletir sobre elas ou fazer qualquer julgamento.

Gostaria, a partir daqui, de tentar traçar um paralelo, que pode parecer a alguns um tanto forçado entre Eichmann e Damares Alves, já que a comparação entre Adolph Hitler e Jair Bolsonaro salta aos olhos, nestes últimos tempos em que foi revelado, como um verdadeiro plano de extermínio da etnia yanomami.

Assim como Hitler, como já escrevi anteriormente em Hitler, o Führer e Bolsonaro, o mito. Semelhanças, Bolsonaro defendia, desde os tempos de deputado, que o Brasil deveria fazer com nossos indígenas aquilo que a cavalaria norte-americana fez com sucesso, ou seja, exterminá-los. Portanto, o plano não se restringia somente aos yanomamis, mas a todas as outras etnias e só não obteve sucesso pleno porque ele não se reelegeu e porque Lula chegou a tempo a Roraima para impedir a continuidade do genocídio.

Mas se Eichmann não sentia o mínimo remorso por seus atos, o que dizer da ex-ministra incumbida de preservar as terras Yanomamis, Damares Alves?

Damares é o que se pode chamar de evangélica fundamentalista. Acredita piamente que os indígenas vivem em pecado por não reconhecerem Cristo e por viverem nus, o que é, na sua visão, uma agressão à moral e aos bons costumes. É preciso lembrar que essa visão da ex-ministra, constantemente exposta à opinião pública, tem revelado uma obsessão com relação ao sexo, frequentemente encarado como algo extremo, por exemplo, quando afirmou que crianças teriam seus dentes arrancados para facilitar o sexo oral na Ilha de Marajó, algo jamais confirmado.

Além disso, acredita que as crianças indígenas, por viverem na floresta, isolados, dormindo em redes, caçando e pescando e expostos a doenças e perigos, deveriam ser transferidas para as cidades e adotadas preferencialmente por casais evangélicos que as salvariam. Ela própria, segundo noticiários, sequestrou no passado uma criança indígena e a levou para viver com ela na paz de Cristo. A menina, hoje uma moça, foi doutrinada e nega qualquer maldade cometida com ela.

Damares Alves se empenhou, durante sua estada no governo, em facilitar a entrada de pastores evangélicos nas aldeias indígenas para catequização. A ONG Missão Caiuá, entidade missionária evangelizadora pertencente à Igreja Presbiteriana, que recebeu pelo menos R$ 2,98 bilhões em pagamentos e R$ 3,05 bilhões em contratos celebrados com o poder público desde o ano de 2014, é uma dessas entidades que utilizava até aviões do garimpo para se deslocar às aldeias. O que esperar de uma entidade como essa?

Quando era ministra dos Direitos Humanos, para tornar a permanência das crianças indígenas cada vez mais insuportável, forçando-as a deixar suas terras em direção à civilização, a atual senadora pediu a Jair Bolsonaro que vetasse a entrega de leitos de UTI e de água potável a indígenas em plena pandemia. Era aceitar Jesus ou morrer. Em ambas a opções, sem crianças, os Yanomamis teriam sua sentença de morte assinada por não mais ser possível a continuidade da etnia.

Nesse sentido, é possível um paralelo entre Damares e Eichmann?

Enquanto Eichmann parecia um robô nas mãos de Hitler, Damares agia movida por seu fundamentalismo religioso, acreditando insanamente que estaria fazendo o bem. Indiretamente cumpria os planos de Bolsonaro que queria, sem meias palavras, pura e simplesmente a extinção do povo Yanomami e de todos os demais indígenas, facilitando a ocupação de suas terras pelas empresas mineradoras.

A banalidade do mal está presente em ambos os casos e isso não significa que a punição deva ser branda. No caso de Eichmann, seus crimes foram punidos com a forca. No caso de Damares, esperamos investigação, julgamento e condenação à altura, de acordo com o Estado de Direito, embora talvez nunca vejamos, como em Eichmann, a admissibilidade dos males que cometeu.

Ainda há que se considerar o que Hanna Arendt escreveu em sua obra:

“a execução de ordens é a mera obediência cega, independentemente se o partido pede para organizar distribuição de alimentos ou o extermínio de um grupo étnico”.

Fica claro, por essas palavras, que muitos dos que contribuíram para a tragédia dos Yanomami tornaram o mal apenas uma banalidade. E vejam que bolsonaristas se manifestaram nas redes sociais ridicularizando a FAB por ter enviado alimentos para os indígenas ou afirmando que são venezuelanos fugindo da ditadura de maduro.

“o cidadão massificado executa as ordens, não por ódio, por haver um mal em seu coração ou por premeditar atrocidades, mas o mal que faz é fruto da não consciência de seus atos”.

Essa frase remete imediatamente aos atentados terroristas de 8 de janeiro. Observem que logo após serem presos, os terroristas reclamaram da falta de wi-fi, ar-condicionado e comida de qualidade, como que alheios à sua nova condição de criminosos detidos. Executaram ordens subliminares de seu capitão sem a correspondente noção do crime que cometeram. É por isso que muitos não esconderam o rosto e ainda gravaram selfies, como se não esperassem responsabilização.

Para esses indivíduos, o mal foi banalizado a ponto de se confundir com o bem. Eles acreditavam realmente que estavam libertando o Brasil de uma ameaça comunista que não existe.

Será preciso um esforço dos ministérios da comunicação e da educação rumo a uma desbolsonarização do país para que a noção de bem ou mal seja novamente aferida com precisão na balança de nossos atos éticos e morais.

Enquanto isso não acontece, Lula segue apagando os focos de incêndio que Bolsonaro deixou, este sim, o mal sem nenhuma banalidade.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Hitler, o Führer e Bolsonaro, o mito. Semelhanças

Por Fernando Castilho




"A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país"

Deputado Federal Jair Bolsonaro em discurso em 15 de abril de 1998


Nos anos que antecederam o início da Segunda Guerra Mundial, Adolph Hitler se empenhou em “mostrar” ao povo alemão sua superioridade em relação aos demais povos não arianos.

Mesmo sem redes sociais, o Führer instigou na população o ódio, não só aos judeus, mas também aos ciganos, comunistas, pessoas com deficiência física ou mental, pessoas de pele mais escura e todos aqueles que não reuniam fisicamente as características, na visão dele, de um povo superior.

No Brasil, muito antes das eleições de 2018, Jair Bolsonaro já demonstrava em discursos como deputado e, mesmo durante a campanha, seu enorme desprezo pelas minorias, que, conforme pregava, deveriam se curvar à maioria ou serem extintas.

Embora a população negra não seja exatamente minoria no país, esta também entrou na alça de mira do capitão quando ele, num discurso, disse que os quilombolas não serviam para nada, nem para procriar. Mesmo assim, não faltam bolsonaristas negros.

A população LGBT também sempre foi duramente atacada pelo ex-presidente, mas isso também não impediu que haja bolsonaristas gays.

Bolsonaro nunca se furtou a atacar a esquerda ao dizer numa entrevista que a ditadura deveria ter matado 50 mil pessoas, claro, de esquerda. Quanto ao PT, em comício no Acre, convocou seus apoiadores a metralhar os petralhas.

Mas agora, com a tragédia revelada do morticínio pela fome e por doenças do povo Yanomami, lembramos do que o capitão dizia também em comício: “NO MEU GOVERNO, NEM UM CENTÍMETRO DE TERRA SERÁ DEMARCADA PARA OS ÍNDIOS!”

Em 15 de abril de 1998, o então deputado Jair Bolsonaro, em discurso na Câmara Federal, disparou: ""A CAVALARIA BRASILEIRA FOI MUITO INCOMPETENTE. COMPETENTE, SIM, FOI A CAVALARIA NORTE-AMERICANA, QUE DIZIMOU SEUS ÍNDIOS NO PASSADO E HOJE EM DIA NÃO TEM ESSE PROBLEMA EM SEU PAÍS!"

Os primeiros contatos com os Yanomamis se deu entre 1910 e 1940, de forma ainda bastante rarefeita. Foi só a partir da década de 1970 que os contatos se tornaram mais intensos, o que contribuiu significativamente para que adquirissem as doenças que os homens brancos lhes levaram.

Nossa grande imprensa demorou dois dias para escrever sobre a tragédia dessa etnia indígena, após a corajosa visita do presidente Lula à principal aldeia ameaçada constantemente por ferozes garimpeiros instigados por Jair Bolsonaro a explorar aquela área.

A política do capitão com relação aos povos originários é a de genocídio por asfixia. Os garimpeiros vão aos poucos ampliando sua área de atuação, destruindo terras agricultáveis e impossibilitando as atividades de caça, pesca (devido ao mercúrio descartado principalmente no Rio Parima) e de coleta. As doenças, como pneumonia, Covid-19 e SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) são agravadas com a extrema desnutrição, causando enormes morticínios, principalmente de crianças e de idosos.

Não há como não fazer um paralelo com a política de extermínio de pessoas não arianas implementada por Hitler. A diferença é que os Yanomamis estão presos em um campo de concentração a céu aberto e dele não podem fugir.

Assim como grande parte do povo alemão acreditou em Hitler e suas mentiras, bolsonaristas-raiz divulgam em suas redes sociais que são contrários ao envio de alimentos e rempedios para os indígenas. As semelhanças são muitas.

Enquanto Hitler se acercou de asseclas que rapidamente encamparam seu discurso de ódio colocando em prática sua necropolítica, por aqui não é muito diferente, já que tivemos uma Damares Alves que brada contra o aborto de uma única criança, vítima de estupro, mas não se importa com a morte de centenas por doenças e desnutrição pelo simples fato de serem indígenas. Outro assecla do nosso Hitler tupiniquim é Ricardo Sales que incentivou o garimpo ilegal em áreas de reserva indígena e o desmatamento na Amazônia.

Esses dois foram eleitos parlamentares e, por isso, a justiça terá dificuldades em atingi-los, mas seu chefe, o “Fuhrer” brasileiro, chamado por aqui de mito, pagará por seus crimes.

O difícil será encontrar uma pena que possa fazer justiça a todo mal que ele cometeu.