Por Fernando Castilho
É possível que, com o clamor popular, os magistrados
apressem os trâmites dos processos contra Bolsonaro, mas deveremos esperar
longamente por uma condenação.
Tenho
acompanhado pelas redes sociais a ansiedade que as pessoas de mentalidade
progressista vêm demonstrando pela prisão de Jair Bolsonaro.
Após
quatro anos de desgoverno, com a destruição de programas sociais, de descaso
para com uma pandemia que matou mais de 700 mil pessoas, com incentivo ao
garimpo em terras indígenas que quase extinguiu a etnia Yanomami, com mentiras
e agressões verbais toda vez que se manifestava e pela tentativa de melar o
processo eleitoral e ainda dar um golpe no país para se perpetuar no poder, é
totalmente compreensível que não consigamos controlar nossa ansiedade e revolta
toda vez que a mídia, juristas e ministros do STF opinam que não será possível
prender o ex-presidente imediatamente.
Explico.
Bolsonaro
perdeu o foro especial por prerrogativa de função. Vários processos que estavam
nas mãos do PGR, Augusto Aras, estão sendo enviados para a justiça comum para
serem julgados em primeira instância. Se condenado, caberão recursos até que se
conclua o trânsito em julgado e seu destino seja, enfim, a cadeia.
Cabe
aqui esclarecer que poderão se passar longos anos até que seu julgamento seja
concluído. Com Paulo Maluf foram décadas de espera até a conclusão final que
lhe impôs a prisão domiciliar devido à idade avançada e problemas de saúde.
Revoltante, mas real.
É
até possível que, com o clamor popular, os magistrados apressem os trâmites dos
processos, mas não vamos manter falsas esperanças.
A
outra possibilidade é a prisão preventiva, mas para isso é necessário que, caso
venha a ser réu, Jair tente fugir, destruir provas ou continuar a ser uma
ameaça à sociedade.
Para
ser uma ameaça à sociedade, é preciso que Bolsonaro volte para o Brasil o
quanto antes para assumir o papel de líder da oposição a Lula, como quer
Valdemar da Costa Neto, presidente do PL.
Explico.
Com Bolsonaro
no poder de liderança da extrema-direita, será criado um novo cercadinho (talvez
virtual) que voltará a ser frequentado pelos seus apoiadores. Embora não seja
mais presidente e, portanto, não seja blindado pela grande imprensa como foi durante
quatro anos, o homem é falastrão e se empolga toda vez que seus apoiadores o
encorajam. Daí, desata a falar absurdos, a ofender, mentir e atacar. Então,
para prendê-lo preventivamente, basta ficar atento à sua fala. Oportunidade não
vai faltar.
O que
podemos esperar realmente é sua praticamente certa inelegibilidade por oito
anos. Bolsonaro está completando 68 anos e terá 76 ao fim de sua quarentena. A
depender do sucesso do governo Lula, seja de 4 ou 8 anos, e da luta da esquerda
para desmontar a extrema-direita, teremos um Jair envelhecido e sem
importância.
Lembremos
que, para liderar uma oposição a Lula, será necessário que Bolsonaro trabalhe
muito, mas todos sabemos que trabalho não é com ele. Quando estava na Câmara e
no Palácio do Planalto, trabalhou muito pouco.
Resta
o Tribunal Penal Internacional de Haia que já possui processos em andamento por
genocídio. Alguns consideram uma condenação difícil, mas não impossível.
De
qualquer forma, o que queremos ver é punição exemplar para que nunca mais o
povo brasileiro passe por tsunami avassalador como esse.
O
Estado Democrático de Direito tem que prevalecer, mesmo para o julgamento desse
malfeitor, portanto, não é o caso de se passar por cima das leis.
Mas
não haverá punição dura o suficiente para compensar o sofrimento daqueles que
perderam seus amigos e parentes pela Covid-19.
Nunca
haverá.
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