Por Fernando Castilho
Ministros do STF, não identificados, já estariam conformados
e trabalhando com a hipótese de que Jair Bolsonaro nunca será preso?
Na
semana passada o portal Uol publicou uma matéria em que a articulista dizia, genericamente,
que “ministros do STF consideram difícil a prisão de Bolsonaro, mas têm como
quase certa sua inelegibilidade”.
Sempre
que surge uma matéria como essa, a pergunta a se fazer é: quais foram os
ministros que se posicionaram dessa forma e como essa informação foi obtida?
Se
foram Nunes Marques e André Mendonça, não há nenhuma novidade, já que eles sempre
votam a favor do ex-presidente. Mas, confesso que é inevitável desconfiar da
veracidade da informação que, se verdadeira, transfere a Alexandre de Moraes a
árdua tarefa de se ver isolado na defesa da democracia e do estado de direito.
Segundo
a colunista, Bolsonaro, agora entregue à justiça comum, poderá ter seus vários
processos se arrastando por muitos anos até o trânsito em julgado de uma
possível sentença condenatória devido à falta de materialidade, de provas e aos
recursos que impetrará. O capitão, de 67 anos, estaria muito idoso quando,
enfim suas sentenças definitivas de seus 28 processos forem confirmadas.
Sobre
isso, o jurista Walter Maierovitch afirmou que, se procedente a afirmação dos
ministros, seria a falência da justiça. E seria mesmo.
Caso
os ministros tenham se esquecido, Bolsonaro foi, durante 4 anos, mestre em
produzir provas contra si próprio.
Só
no caso da pandemia da Covid-19 foram várias, ou alguém não se lembra de quando
o ex-ministro da saúde, general Pazuello, anunciou a compra da vacina
Coronavac? No dia seguinte, ao ser indagado por repórteres sobre a compra,
Bolsonaro reagiu rispidamente dizendo que quem mandava era ele e que a vacina só
seria comprada se passassem por cima de seu cadáver. Em seguida, apareceu ao
lado do sorridente general que disse que um manda e o outro obedece,
confirmando que, a mando do presidente, acabava de cancelar a aquisição. Quantas
mortes aqueles sorrisos maldosos causaram devido ao atraso na compra de
imunizantes que só acabou ocorrendo depois de muita pressão popular, da mídia e
de parlamentares?
Existe
um sem-número de provas de crimes, mas, se apenas esse único episódio não
servir como prova de que deliberadamente o capitão boicotou a vacina, não sei o
que mais serviria. Aliás, a CPI da Covid-19 encontrou vários indícios de crimes
que acabaram nas mãos do PGR, Augusto Aras que os ignorou e varreu para baixo
de seu tapete.
Neste
país das contradições, é particularmente notável que o senador eleito, Sergio
Moro, esteja justamente neste momento, buscando aprovar seu projeto de trânsito
em julgado de sentenças condenatórias após a segunda instância, o que poderia
fazer, caso não fosse inconstitucional, com que seu ex-inimigo, agora
reconciliado, Jair Bolsonaro, fosse enviado ao xilindró mais rapidamente.
Mas,
além das contradições, este é um país em que se procura o tempo todo perdoar a
quem nos tem ofendido. Antigamente se chamava de “jeitinho brasileiro”.
Sérgio
Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil, afirmou que o brasileiro é um homem
cordial, ou seja, pensa mais com o coração (“cordial” vem de “coração”) do que
com a razão. No passado já distante, a atriz comediante norte-americana,
radicada no Brasil, Kate Lyra tinha um famoso bordão na TV: “brasileiro muito
bonzinho”.
A
justiça frequentemente esquece a gravidade de crimes cometidos e dá uma segunda
chance ao meliante, mas só se este for poderoso, caso da recente liberação de
Sérgio Cabral que, acumulando 436 anos de pena, cumpriu 6 e voltou para casa
com uma tornozeleira.
Caso
diferente, mas com a semelhança da impunidade, foi o de Paulo Maluf. O ex-prefeito
de São Paulo, ao longo de décadas foi conseguindo protelar o trânsito em
julgado de sua sentença, usando e abusando de recursos. Quando, enfim, esgotaram-se
todos, foi enviado para casa com tornozeleira devido à idade avançada e à saúde
fraca.
Portanto,
caso os processos contra Bolsonaro se arrastem por muitos anos, como sugerem os
ministros, teremos mais um caso em que o crime terá compensado.
E o
pior de tudo é que Bolsonaro, mesmo inelegível, ao final, rirá da cara de
Alexandre de Moraes e de todos nós. Com a certeza da impunidade, continuará a
atuar politicamente para causar ainda mais males ao povo brasileiro.
Acho que será preso sim. Como foram outros. Alguns meses só pra mostrar serviço. A inelegibilidade é um grande golpe pra quem se acha um paladino de alguém ou de alguma coisa. Sem dúvida é pouco. Mas, o se servir do Estado em vez de servir ao Estado, aqui no Brasil, nunca deu mais que isso. Mudem as leis, na Casa das leis. Será? Pelos mesmos que ignoram as leis ou a fazem pra serem burladas? Difícil. A estrada ainda é longa. Mas, que não abandonemos os caminhos. Abraços.
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
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