Por Fernando Castilho
É muito cômodo, porém, também leviano, sem aprofundar a questão do ponto de vista técnico, mas também político, optar por um lado ou por outro.
Nossa
grande imprensa, talvez tentando reviver os tempos em que desdenhava da
descoberta de petróleo em águas profundas no ano de 2006, chamado de pré-sal,
assim que foi revelado que a Petrobras tem planos de explorar a extração do
produto na foz do Amazonas, tentou, além de novamente desqualificar o projeto,
informar erroneamente o leitor induzindo-o a pensar que os poços seriam
perfurados na nascente do rio. Além disso, omitiu inicialmente que eles se
localizariam a 530 km da foz do Amazonas, distância maior que a de São Paulo ao
Rio de Janeiro.
Era
evidente a intenção de criar uma cizânia dentro do governo Lula, já que o
Ibama, subordinado ao Ministério do Meio-Ambiente, comandado por Marina Silva,
inicialmente se opôs ao projeto solicitando mais informações por parte da
Petrobras. Para a imprensa, a ministra reeditaria seu inconformismo que a levou
a deixar o governo Lula em seu segundo mandato e repetiria o ato.
Segundo
a Agência Pública, o projeto da Petrobras para a Margem Equatorial, na Foz do
Amazonas, compreende uma extensão de 2.200 km ao longo da costa brasileira. Ele
vai do extremo norte do Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa, ao litoral
do Rio Grande do Norte, e prevê a perfuração de 16 poços exploratórios de
petróleo.
O
ex-deputado estadual por São Paulo e ex-presidente da Comissão da verdade,
Adriano Diogo, concedeu entrevista em que, como geólogo, expôs seu parecer
acerca da exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas e esclareceu vários
pontos que a mídia não se preocupou em explicar.
1 –
Em tempos em que os continentes americano e africano eram ligados, o rio
Amazonas corria em sentido contrário. Com a gradativa separação dos continentes
e a elevação da Cordilheira dos Andes, por força da gravidade, o rio passou a
fluir com seu sentido invertido, como é nos dias de hoje. O espaço de floresta
que foi sendo inundado com a separação dos continentes formou, devido à pressão
das águas, o petróleo depositado no fundo do mar;
2 –
Esse depósito de petróleo, diferentemente do pré-sal que o retira a
profundidades de quilômetros, não se localiza em águas profundas, o que torna
sua exploração bem mais fácil e com muito menos risco de vazamentos ou outros
acidentes;
3 –
A Petrobras é hoje a companhia que explora extração de petróleo com maior
tecnologia e segurança no mundo.
4 –
Os possíveis poços se localizarão a 530 km da foz do Amazonas e 160 km da costa
do Amapá. Atualmente a vizinha Guiana já explora petróleo na região através da ExxonMobil
que anuncia mais três novas descobertas naquele país. A petroleira
norte-americana já ampliou a produção para quase 11 bilhões de barris de óleo.
Cumpre notar que a companhia, notoriamente, não possui a mesma rigidez em
segurança que a Petrobras;
5 –
Na hipótese de um vazamento de óleo, devido às correntes marítimas, o produto
seria carregado para nordeste da localização dos poços, não chegando à costa do
Amapá;
6 –
O pedido de licenciamento ambiental, por enquanto, se refere à autorização de
execução de testes no local para aferição da viabilidade comercial do
empreendimento;
7 –
O Ibama não fechou as portas definitivamente à exploração do petróleo, mas
solicitou estudos mais específicos e complementares;
É
neste ponto que começa o debate. E começa com uma singela pergunta: o Brasil
precisa mesmo desse óleo?
É
certo que hoje em dia acontece uma busca pela transição da matriz energética
dos combustíveis fósseis para a das fontes de energia renováveis e limpas. À
primeira vista somos tentados a achar que em breve o petróleo não mais será necessário,
perdendo sua importância para a energia solar, eólica, elétrica e outras. Mas
não é bem assim. O petróleo não é utilizado somente para mover veículos. A
indústria química utiliza petróleo, a de cosméticos utiliza petróleo, os
plásticos de todo tipo são obtidos através do petróleo. Enfim, precisaremos
explorar petróleo ainda durante muito tempo. Portanto, é necessário que a
Petrobras continue a prospectar o produto.
É
certíssimo também que as mudanças climáticas estão ocorrendo em velocidade cada
vez maior e, por isso, preservar o meio-ambiente é crucial para o futuro
próximo da humanidade. Estudos demonstram que já podemos ter ultrapassado a
linha em que não mais é possível voltar para corrigir os efeitos dos gases que
transformam a Terra numa gigantesca estufa, aquecendo-a em pelo menos 1,5º C de
temperatura média já nesta década, o que já está causando, além do calor,
desastres climáticos em várias partes do planeta.
Fora
tudo isso, o governo brasileiro tenta desesperadamente reverter seu conceito mundial
de destruidor do meio-ambiente criado em 4 anos de governo Bolsonaro. É essa
retomada da preocupação ambiental que gerará investimentos externos não só para
a preservação da floresta amazônica, como também para a própria economia do
país. A abertura de novos poços de petróleo na foz do Amazonas, pelo menos
neste momento, não seria vista com bons olhos pela comunidade mundial, pois
seria uma contradição a tudo aquilo que Lula falou lá fora há apenas alguns
meses.
Esse
é o debate que tem que ser feito, minha gente.
É
muito fácil e também leviano, sem estudar e debater técnica, mas também
politicamente a questão, tomar partido por uma ação ou sua reação. Convém
deixar a definição desse assunto para um momento mais favorável.
Não
nos deixemos contaminar pelo desejo de cizânia dentro do governo Lula que a
mídia está o tempo todo alimentando.
Estes
4 anos serão de transição em que se deve buscar reverter todas as medidas
destruidoras do governo passado, trabalhar para implementar outros projetos que
recuperem o bem-estar da população e reduzir substancialmente o ódio tão
cultivado por Bolsonaro.
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