sábado, 5 de setembro de 2015

Mauro Santayana: O Pato e a Galinha

Por Mauro Santayana


Embora não o admita - principalmente os países que participaram diretamente dessa sangrenta imbecilidade - a Europa de hoje, nunca antes sitiada por tantos estrangeiros, desde pelo menos os tempos da queda de Roma e das invasões bárbaras, não está colhendo mais do que plantou, ao secundar a política norte-americana de intervenção, no Oriente Médio e no Norte da África.

Não tivesse ajudado a invadir, destruir, vilipendiar, países como o Iraque, a Líbia, e a Síria; não tivesse equipado, com armas e veículos, por meio de suas agências de espionagem, os terroristas que deram origem ao Estado Islâmico, para que estes combatessem Kadafi e Bashar Al Assad, não tivesse ajudado a criar o gigantesco engodo da Primavera Árabe, prometendo paz, liberdade e prosperidade, a quem depois só se deu fome, destruição e guerra, estupros, doenças e morte, nas areias do deserto, entre as pedras das montanhas, no profundo e escuro túmulo das águas do Mediterrâneo, a Europa não estaria, agora, às voltas com a maior crise humanitária deste século, só comparável, na história recente, aos grandes deslocamentos humanos que ocorreram no fim da Segunda Guerra Mundial.

Lépidos e fagueiros, os Estados Unidos, os maiores responsáveis pela situação, sequer cogitam receber - e nisso deveriam estar sendo cobrados pelos europeus - parte das centenas de milhares de refugiados que criaram, com sua desastrada e estúpida doutrina de "guerra ao terror", de substituir, paradoxalmente, governos estáveis por terroristas, inaugurada pelo "pequeno" Bush, depois do controvertido atentado às Torres Gêmeas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Que tragédia é preciso acontecer para que se comece a prender fascistas?

Por Fernando Castilho


Eles começaram, ainda de maneira um tanto tímida, fazendo críticas à presidenta e ao PT nos comentários feitos nos jornalões.

Ainda preferiam se esconder no anonimato (alguns ainda o fazem), sob pseudônimos ao lado do quadradinho sem foto.

Após as chamadas jornadas de junho em 2013, encorajados pela mídia que enxergou nas manifestações sua grande oportunidade de desbancar a popularidade de Dilma Rousseff, que àquela altura era alta, eles começaram a sair aos poucos da toca fétida em que se encontravam.

Durante a Copa do Mundo os recém-saídos vaiaram e xingaram a presidenta em rede mundial, deixando o mundo perplexo não só pela falta de educação mas também pela injustiça que se cometia, afinal ela acabava de viabilizar aquela que seria a copa das copas.

Passaram-se dois anos desde aquele junho, com a imprensa diuturnamente batendo de pau na presidenta, sendo ela Chico e Francisco ao mesmo tempo.

sábado, 29 de agosto de 2015

Uma leitura semiótica do boneco inflável de Lula

Por Fernando Castilho



Todo boneco é um símbolo, vamos combinar. Até a Barbie simboliza o sonho de toda menina em se tornar bela.

Mas talvez não haja abundância maior de signos em nenhum dos acontecimentos recentes da República do que nesse episódio do boneco inflável de Lula.

Lula por si só já é um símbolo, um ícone. Não há como desvincular sua figura da luta contra a pobreza. É seu símbolo maior.

Mas na História recentíssima do Brasil, há quem esteja tentando transformar esse símbolo em algo deplorável, tentando ligar a imagem de Lula ao crime.

As razões para isso?

Bem, quase que parafraseando Carlos Lacerda que declarou na televisão: "Juscelino [Kubitschek] não será candidato, se for candidato não será eleito, se for eleito não tomará posse, se tomar posse não governará", a elite brasileira viu com desdém a eleição de Lula em 2002.

Diziam: ''é presidente mas quem vai governar é sua equipe porque ele é analfabeto.''

Depois que os dois principais nomes de seu governo, Palocci e Dirceu caíram, a direita, tendo que reconhecer que era ele quem realmente governava, começou a dizer: ''este governo vai afundar o país''.

O país não afundou, muito pelo contrário, foram os melhores anos para a economia, a distribuição de renda, a justiça social e a realização de obras importantíssimas.

Então a conversa mudou: ''Lula é o chefe da quadrilha do mensalão.'' Mesmo tendo sido inocentado pelo delator Roberto Jeferson.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Para ler em 2050

Por Boaventura de Sousa Santos

26 de agosto de 2015

Quando um dia se puder caracterizar a época em que vivemos, o espanto maior será que se viveu tudo sem antes nem depois, substituindo a causalidade pela simultaneidade, a história pela notícia, a memória pelo silêncio, o futuro pelo passado, o problema pela solução. Assim, as atrocidades puderam ser atribuídas às vítimas, os agressores foram condecorados pela sua coragem na luta contra as agressões, os ladrões foram juízes, os grandes decisores políticos puderam ter uma qualidade moral minúscula quando comparada com a enormidade das consequências das suas decisões. Foi uma época de excessos vividos como carências; a velocidade foi sempre menor do que devia ser; a destruição foi sempre justificada pela urgência em construir. O ouro foi o fundamento de tudo, mas estava fundado numa nuvem. Todos foram empreendedores até prova em contrário, mas a prova em contrário foi proibida pelas provas a favor. Houve inadaptados, mas a inadaptação mal se distinguia da adaptação, tantos foram os campos de concentração da heterodoxia dispersos pela cidade, pelos bares, pelas discotecas, pela droga, pelo facebook.

A opinião pública passou a ser igual à privada de quem tinha poder para a publicitar. O insulto tornou-se o meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente igual a um sábio.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O suicídio que a grande mídia comete todos os dias

Por Fernando Castilho


Os blogueiros progressistas vêm durante anos denunciando, através de seus textos, a parcialidade com que a mídia trata qualquer assunto que envolva o governo, o partido da presidenta Dilma e a oposição.

Este blogueiro não foge à regra. Já publiquei vários textos sobre a maneira sórdida com que os órgãos de imprensa manipulam o indivíduo comum.

Responsável direta por fatos que ocorreram na História nas últimas décadas, como o suicídio de Getúlio Vargas, e o golpe militar que colocou o país nas trevas durante 21 anos, só para citar dois exemplos dos mais graves, a mídia parece não se importar com o destino do país e de seu povo. E não se importa mesmo.

Seus objetivos são inconfessáveis e prioritários em relação a todo o resto.

Fala-se muito que os órgãos de imprensa estão caminhando para um fim próximo devido ao fenômeno internet. É verdade, mas não é a única.

Pesquisa recente apontou que apenas 13,2% da população sempre acredita no que a mídia publica. Quase o dobro disso, 21,2%, nunca confia no que é dito pelos jornais.

domingo, 23 de agosto de 2015

Gilmar Mendes, o Eduardo Cunha do Judiciário

Por Fernando Castilho


Imagem: Neto Sampaio
Muito interessante esse personagem da nossa República. Muito semelhante a um outro, nefasto....

Em 1987 Gilmar Dantas, digo, Mendes concluiu o curso de mestrado em Direito e Estado com a dissertação "Controle de Constitucionalidade: Aspectos Jurídicos e Políticos" (grifo meu), Universidade de Brasília. Pode estar aí a explicação de por quê o ministro faz mais política que direito.

Embora contrarie a Lei da Magistratura, que diz que nenhum ministro do STF pode manter empresa em seu nome, Gilmar Mendes é proprietário, juntamente com dois sócios, do IDP, Instituto Braziliense de Direito Público, uma escola de graduação e pós-graduação. Irregular, fora da lei.

Gilmar foi indicado ao STF pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2002, ao apagar as luzes de seu governo.

Na época o jurista Dalmo Dallari criticou muito a indicação do ministro, afirmando, entre outras coisas que ele é figura muito conhecida na comunidade jurídica, não só por ocupar o cargo de advogado-geral da União, de confiança da presidência da República, mas, sobretudo, por suas reiteradas posições contrárias ao Direito, à Constituição, às instituições jurídicas e à ética que deve presidir as relações entre personalidades públicas. Forte, não? Leia mais, aqui

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Quadro comparativo entre as manifestações de 16 e 20 de agosto

Por Fernando Castilho


Duas manifestações, dias diferentes, público diferente.

Uma ocorrida num domingo, dia de descanso, com boa participação, embora bem menor que anteriores. Outra, num dia de semana, uma quinta-feira, mesmo assim com boa participação.

Mas quanta diferença.

Aqui vão somente algumas que consegui captar. Outras pessoas talvez tenham captado algo mais.

Quem sabe, você?


Sem violência. violência pra que? Pluralidade de ideias.
foto: Sérgio Mendes









quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dirceu está quebrado?

Por Fernando Castilho

Foto: Folha de São Paulo
Deu na Folha:
O juiz federal Sergio Moro mandou bloquear R$ 20 milhões do ex-ministro José Dirceu, mas o Banco Central só encontrou R$ 103.777,40 em duas contas dele, mantidas na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil. O valor equivale a 0,5% do montante que o juiz mandara bloquear.

A maior parte dos recursos de Dirceu (cerca de R$ 96 mil) foi encontrada na conta que ele abriu para receber doações para pagar a multa aplicada pelo Supremo no julgamento do mensalão, de R$ 971 mil.

Sem os R$ 96 mil que sobraram da vaquinha, ele ficaria com um saldo de R$ 7.834,74. Antes de ser preso, Dirceu dizia que devolveria o valor além da multa que recebera de seus apoiadores.


Além disso, a Folha lembra que não há histórico de movimentação, então não dá pra saber se as contas foram esvaziadas antes de sua prisão.

Como não dá pra saber? Pelo que me consta, se não há histórico de movimentação, então não há movimentação. Como ele poderia então ter esvaziado a conta?

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Não fui à manifestação. Não sou louco.

Por Fernando Castilho


Laerte
Não fui à manifestação do dia 16. Não sou louco.

Após os protestos de março, ao ver algumas fotos de cartazes e faixas, comentei dizendo que parecia que abriram a porta do hospício.

Fui criticado por isso. Alegaram a tal liberdade de expressão. Alegaram que todos tem o direito de protestar. Alegaram, enfim, que é preciso defender o pluralismo de ideias. Claro que é preciso.

Porém ao ver as fotos dos cartazes e faixas, além de vídeos dos manifestantes do dia 16 último, não há como não dizer que estão loucos.

Uma pessoa com quem comentei alegou que os fotógrafos e videomakers estavam justamente atrás das figuras folclóricas e que estas seriam não mais que 10% dos manifestantes. Os outros seriam pessoas sérias.

Bem, fazendo as contas, se havia mesmo 700 mil pessoas protestando contra Dilma no país todo, então 10% dariam 70 mil pessoas, o que serviria para encher um estádio em decisão do Brasileirão, entre Corínthians e Palmeiras ou Flamengo e Fluminense. E certamente todos ao final estariam mortos após uma batalha campal movida a ódio.

Ângelo Cavalcanti: O diploma de Lula

Por Ângelo Cavalcanti
Agora ficou fácil! Todo idiota com um diplomazinho de curso superior se vê no direito de atacar o Lula; e o ataca com uma ferocidade impiedosa que vai do "analfabeto", "burro" a cretinices similares. Todo bobão preconceituoso e cheio de ódios interiores e que cursou "nas coxas" uma graduaçãozinha de quinta categoria se vê na legitimidade de atacar pessoas mais simples e que, pelas mais diversas razões não puderam estudar e mesmo seguir seus estudos.

Não raro, vemos por aí um "formado" esperneando em meio a uma contenda com alguém mais simples: "Sabe com quem você está falando?" ou "Ponha-se no seu lugar!" ou "Eu sou parente do fulano de tal e você está ferrado!". São frases que se inscrevem naquilo que a sociologia irá definir como "discurso da ordem". E que "ordem" é essa? A do mandonismo, da hierarquia social, das assimetrias sociais que deitam raízes na predação sobre a vida indígena, negra ou popular. Na ordem social e política, toda ela elitista e segregacionista, e que prega direitos sem-fim aos brancos e bem-nascidos e deveres eternos e somente deveres aos do "andar de baixo".

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Cuba voltará a ser a ''ilha dos prazeres''?

Por Fernando Castilho


Nunca estive em Cuba, porém vários amigos já lá estiveram e puderam dar seu testemunho do que viram e sentiram. Fui com o tempo traçando um mosaico de impressões sobre o país.

Para mim, porém, ainda fica a impressão causada pelo livro ''A Ilha'' do escritor Fernando Morais, editado em 1976. Naquela época Cuba ainda usufruía do apoio soviético, mas não tinha ainda alcançado os êxitos em saúde e educação que ostenta hoje.

O tempo passou e as benesses do relacionamento com a União Soviética acabaram junto com o fim do bloco em 1991.

Cuba então experimentou um período bastante difícil em sua economia, ao mesmo tempo que os Estados Unidos, de maneira implacável, lhe impunha um embargo econômico cruel.

Mas a ilha aprendeu a sobreviver do que tinha e mesmo com seu diminuto tamanho, com seu isolamento comercial em relação ao resto do mundo, soube se virar para si mesma e ostenta hoje índices invejáveis naquilo que as pessoas mais simples dos países capitalistas sentem mais carência, justamente saúde, educação, moradia e alimentação.