O Datafolha acaba
de divulgar uma pesquisa de opinião que dá conta de que o prefeito
de São Paulo, Fernando Haddad tem rejeição de 49% dos paulistanos.
Na contrapartida, apenas 15% avaliam sua administração como ótima
ou boa.
Aina Cruz, que não
vive em São Paulo, após uma de suas visitas, acabou por registrar
suas impressões.
Compara ainda as iniciativas do prefeito com as
melhores práticas urbanas que acontecem nos ditos países top e que
todos quando viajam ao exterior, admiram. Fora do Brasil é legal,
mas no Brasil não tá com nada, talvez pensem.
Ainda estou preparando meu próprio texto sobre a administração Haddad, mas gostei muito deste pois é muito interessante.
Vamos a ele.
Esses dias, nessas
minhas idas à cidade de São Paulo, conversando sobre a vida com M.,
uma grande amiga, ela me contou do quanto a coisa estava difícil por
lá e do quanto ela estava apavorada com a possibilidade do
racionamento de água. Minha amiga estava, na verdade, em pânico com
a possibilidade de ter de conviver com os dejetos de outrem no
trabalho e em casa, já que divide o apartamento com mais duas
pessoas. Eu apenas escutava e achava compreensível aquele mal-estar.
Então, não sei
explicar como e nem por que, mas nossa conversa foi assumindo
acepções políticas e encontrei minha amiga totalmente inconformada
com o fato de nossa amada cidade cinza rejeitar e desaprovar a
administração do prefeito Haddad e, em contrapartida, desejar a
reeleição do atual governador do estado. Ela discorria
continuamente sobre as ciclovias, o corredor de ônibus e comparava
essas iniciativas louváveis aos feitos do atual governador. Por fim,
já completamente desesperada, ela olhou para mim com seus olhos
nipônicos e expressivos e disse: "por que essas pessoas querem
isso, Ni!?"
Como a nossa
profissão é teorizar sempre muito sobre tudo aquilo que não
compreendemos, assim nasceu a teoria das exclusividades, que, estou
certa, é o que justifica a incansável perseguição da elite
paulistana ao atual e, na minha opinião, admirável prefeito da
cidade.
Ora, em São Paulo
sempre foi assim: quem podia pagar, se divertia, chegava no horário,
e com folga, aos seus compromissos, frequentava os lugares públicos
protegido e blindado dentro de seu automóvel e, não disputava o
espaço com a "ralé". Higienópolis era um bairro pertinho
do centro, mas protegido por fronteiras invisíveis bem mais
poderosas do que qualquer construção física. Essa gente que não
tem dinheiro ficava lá no lugar dela, sem nem se aproximar dos
bairros nobres. E dessa forma, tudo era muito bom. Sampa era uma
Bélgica brasileira, afinal, nem se cruzava com aquela gente feia e
desgrenhada que não é igual "a gente".
Mas aí, um belo
dia, surgiu um "esquerda-caviar" que, apesar de ter
crescido em meio à elite, achou que a cidade devia ser de todos e
não apenas de uns poucos. Foi aí que toda a discórdia começou.
Ele teve umas
ideias estapafúrdias de implantar em plena São Paulo todas aquelas
coisas bonitas que vemos na Europa e achamos um banho de civilidade.
Começou a dificultar as pessoas a circularem em suas Pajeros, para
privilegiar o transporte público. Em seguida, esse senhor, teve a
audácia de diminuir as faixas de estacionamento de carros, como a
zona azul, para transformá-las - veja só - em ciclovias. Pintadas,
ainda por cima, de vermelho. Mas de onde esse "cara" estava
tirando tamanha loucura?
Pois é,
infelizmente, é assim que nossa elite pensa. E o que é mais
engraçado é que são justamente essas pessoas que vivem a enaltecer
países europeus e os Estados Unidos por suas iniciativas de
privilegiar sempre o público em detrimento ao privado. Daí,
realmente, tenho que concordar com o surto aterrorizado e
incompreendido de minha amiga. Por que essas pessoas acham todas
essas iniciativas são tão lindas lá fora e as rejeitam tão
veementemente quando são implantadas aqui dentro?
Porque a nossa
elite, infelizmente, vive a lógica atrasada e pequena da manutenção
das exclusividades e dos privilégios. Ficam extremamente chateados
com o fato de demorarem no trânsito e acreditam que quem é pobre e
não tem um carro, tem mais é que perder duas horas mesmo no
trânsito dentro do ônibus. "Ah, eles já estão acostumados
com isso! Moram lá longe! Deixa eles...!". Defendem que a
prefeitura deveria criar mais vias de acesso rápido para carros,
como as marginais, por exemplo, e não desperdiçar o dinheiro
público investindo num tipo de transporte que contemple todos os
cidadãos da cidade. E acham essa "coisa" de
sustentabilidade uma grande pieguice. Afinal, não estamos em Oslo,
né, pessoal?
Para eles é muito
penoso saber que agora também precisarão se programar para sair com
antecedência de casa. E, o que mais lhes incomoda, é pensar que
"Marias e Joãos" vão demorar, talvez, menos tempo para
atravessarem a cidade, sentados, também, confortavelmente em um meio
de transporte público. Apesar de eles terem dinheiro suficiente para
pagar estacionamentos e taxis, eles queriam continuar parando na rua,
porque a cidade sempre foi deles. Vagam agora, inconformados, com o
fato de outras pessoas se refestelarem assim, do nada, ocupando o seu
espaço. E ficam profundamente tristes em se deparar com essa gente
comum em seus bairros, porque, afinal, ali não é o lugar deles.
A questão é que,
fora da lógica da exclusividade está a maioria da população da
cidade e, sendo assim, o prefeito está coberto de razão em destinar
o seu governo para aqueles que, de fato, representam São Paulo.
É impressionante como o Brasil ainda mantém, de forma tão arraigada, suas origens coloniais, aristocráticas e coronelistas. Porém, é tão bom quando aparece alguém com coragem de enfrentar e acabar com essa ditadura oligárquica.
São Paulo está
tão mais bonita com seus ciclistas, skatistas e afins pelas ruas.
Com as pessoas indo e vindo livremente e ocupando o espaço público
como se fosse suas casas, porque de fato, ele é!
Haddad representa
uma das minhas vontades de voltar a viver em SP um dia. Esse prefeito
porreta é a prova de que existe sim muito amor em SP.