sábado, 29 de janeiro de 2022

Capitão Morte X Xandão

Por Fernando Castilho


É certo, porém, que o capitão cometeu crime de responsabilidade de acordo com a Polícia Federal. O presidente da Câmara, Arthur Lira, se sentará sobre mais um pedido de impeachment e tudo ficará na mesma


Bom dia, amigos!

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todos que têm visitado este blog que estava desativado e que volta agora com entusiasmo.

Bem, vamos lá!

28 de janeiro de 2022. Dia cheio, minha gente! Dia cheio.

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, já de saco cheio com os adiamentos do depoimento do presidente Jair Bolsonaro, determinou que ele comparecesse hoje às 14:00  para esclarecer sobre a live em que vazou informação sigilosa sobre o ataque hacker que o TSE sofreu, mas que não afetou em nada os dados das eleições.

O Capitão Morte havia pedido adiamento e concordado em comparecer.

Logicamente, de acordo com a Constituição, poderia ficar calado diante das perguntas, mas optou pelo não comparecimento.

Com isso abre nova crise com o STF e se coloca nas mãos de Moraes. Não se sabe ainda qual será a resposta do ministro.

É certo, porém, que o capitão cometeu crime de responsabilidade de acordo com a Polícia Federal. O presidente da Câmara, Arthur Lira, se sentará sobre mais um pedido de impeachment e tudo ficará na mesma.

Na mesma? Pera lá! Tudo converge, se não houver algum acontecimento excêntrico, para a derrota de Bolsonaro nas eleições. Esse será mais um dos crimes pelos quais terá que responder se perder o mandato.

Ontem, ainda, o ex-juiz, ex-ministro e ex-consultor, Sergio Moro fez uma live junto ao deputado Kim Kataguiri, em que tentou se defender das desconfianças que pairam acerca de seu trabalho de consultor junto a empresa Alvarez&Marsal, responsável pela liquidação extrajudicial da Odebrecht, justamente uma das empreiteiras quebradas pela Operação Lava Jato.

Moro não quis dar uma entrevista coletiva para esclarecer o caso. Preferiu a live porque não precisaria responder às indagações de repórteres.

O ex-juiz recebeu, segundo ele, por um ano de trabalho, a quantia de 3,5 milhões de reais, montante que ele próprio considera de acordo com os padrões americanos.

Negou haver um conflito de interesses, mas esse é o assunto do qual o TCU está se encarregando em desvendar. No mínimo, trabalhar para a liquidadora da Odebrecht foi antiético e isso será utilizado contra ele durante os debates que virão antes das eleições.

Ainda, em 28 de janeiro, o ex-presidente Lula teve seu processo sobre o tríplex do Guarujá encerrado atendendo a pedido do próprio MPF que não vê prazo hábil para reiniciar as ações devido à idade avançada de Lula.

A Rede Globo noticiou o fato de maneira correta, mesmo com certa expressão irônica de William Bonner. Desta vez, reportou corretamente que os supostos crimes prescreveriam. De outra feita, suprimiu o termo “supostos”.

Ao verificar a agenda do presidente para o dia de ontem, este blogueiro verificou o todo mundo anda comentando, ou seja, que desde as “férias”, há mais de um mês, o capitão praticamente não trabalha. Ontem se limitou a falar pela manhã no cercadinho (isso não consta da agenda), das 9:30 às 10:30, participou do lançamento do Programa Nacional de Prestação de Serviço civil Voluntário e das 15:00 às 15:30, encontrou-se com Pedro Cesar Sousa, Subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência da República. Uma hora e meia de trabalho, mais nada.

Ontem também, (ufa!) a Folha de São Paulo teve acesso a uma nota técnica da ministra Damares Alves que diz que pessoas que se sentirem "discriminadas" por serem contrários à vacinação contra Covid-19 poderão denunciar os casos ao Disque 100.

Um absurdo! A corrida negacionista no governo continua a todo vapor e vai na contra-mão do desejo das pessoas em se vacinar.

Trata-se de mais crime contra a saúde pública e certamente será contestado pelo STF.

Como vemos, meus amigos, as campanhas eleitorais para 2022 já começaram e prometem muto.



 

 


quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Ao mestre Chico, com açúcar e com afeto

Por Fernando Castilho




Chico Buarque, um de nossos maiores compositores, uma das maiores instituições de nossa Música Popular Brasileira, acaba de ser cancelado por um movimento feminista que não sei se representa realmente o coletivo.

O fato é que Chico acusou o golpe e decidiu não mais cantar a música Com Açúcar, Com Afeto, composta para a interpretação de Nara Leão e tida como machista.

O compositor carioca é um dos maiores especialistas em interpretar a alma, as paixões e angústias das mulheres brasileiras, em sua maioria negras, diaristas e muitas vezes abandonadas pelos maridos, tendo que sustentar seus filhos sozinhas. Feministas da classe média das grandes cidades não as conhecem, mas Chico, sim.

Entre outras letras que tratam de temas semelhantes, lembro-me de Teresinha que ficou excelente na voz de Maria Bethânia:

“Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro
Dentro do meu coração”

Um homem rude, machista, que invade a vida de uma mulher e dela se apossa como se apossa de um objeto qualquer.

Em Com Açúcar, Com Afeto, Chico mostra o homem que não compartilha, não soma, individualista ao extremo e que engambela sua mulher para manter seu estilo de vida.

“Você diz que é um operário
Sai em busca do salário
Pra poder me sustentar
Qual o quê
No caminho da oficina
Há um bar em cada esquina
Pra você comemorar
Sei lá o quê”

Daí perguntamos: o autor de A Banda está sendo machista ou está esfregando na cara dos homens tudo aquilo que eles são na verdade?

O que o movimento diz de um de nossos maiores clássicos, Se Acaso Você Chegasse, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, interpretada por ninguém menos que Elza Soares?

“Eu falo porque essa dona já mora no meu barraco

À beira de um regato e de um bosque em flor

De dia, me lava a roupa

De noite, me beija a boca

E assim nós vamos vivendo de amor”

Os homens das periferias, das comunidades, muitas vezes camelôs, pedreiros, operários, entregadores de aplicativos, etc., e que à noite vão para os botecos encontrar com os amigos para beber uma cachaça barata, deixando suas mulheres sozinhas com as crianças e que muitas vezes voltam bêbados para casa, pedem perdão ou as espancam, são os homens retratados por Chico ou Lupicínio. Eles existem de fato e Chico, classe média, filho de um dos maiores intelectuais do país, os conhece e denuncia o machismo com que tratam suas mulheres.

Esse movimento feminista não interpretou corretamente as letras de Chico que aceitou a truculência com afeto, recusando-se a enfrentar a polêmica.

A que isso vai nos levar?

Será que veremos o revisionismo geral de todas as letras de nosso cancioneiro popular? De Cartola a Lupicínio e a Chico, passando até por Erasmo Carlos em Coqueiro Verde?

Em frente ao coqueiro verde
Esperei uma eternidade
Já fumei um cigarro e meio
E Narinha não veio

Como diz Leila Diniz
O homem tem que ser durão
Se ela não chegar agora
Não precisa chegar

Pois eu vou me embora
Vou ler o meu Pasquim
Se ela chega e não me vê
Sai correndo atrás de mim

Será que essas músicas não são nosso patrimônio cultural devendo ser preservadas como o retrato da realidade de uma época?

Será que estamos vendo o nascimento de uma expressão do fascismo disfarçada?

Tratem Chico com açúcar e com afeto porque ele merece.

 

 


quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

O PT precisa ajudar Lula a vencer no primeiro turno

Por Fernando Castilho




Muita gente está questionando se o ex-presidente estará vivo após quatro anos de mandato. A dúvida tem sua razão, afinal, Lula completará 76 anos no mês do primeiro turno e estará com 80 ao final do mandato, se vencer.


Lula fechou questão sobre Geraldo Alckmin como seu vice na chapa à candidatura de presidente em 2022.

Imediatamente vieram as mais variadas críticas de várias vertentes do PT e da esquerda em geral.

Logicamente Alckmin não é o vice dos sonhos de ninguém que deseje que o país se recupere da destruição levada à cabo por Jair Bolsonaro e avance nos programas necessários a promover o cidadão brasileiro e reduzir as terríveis desigualdades entre as pessoas.

Mas será que Lula vê o ex-governador de São Paulo dessa forma também?

É preciso entender que há uma guerra a ser vencida. Precisamos enxotar os facínoras que se instalaram no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios porque ninguém aguenta mais tantos desmandos e atitudes genocidas contra o povo brasileiro. E não podemos correr o risco de composições serem urdidas durante a campanha para o segundo turno.

O ex-presidente tem também o governo de São Paulo em mente. Se Alckmin, o favorito nas pesquisas para o Palácio dos Bandeirantes, desistir da disputa, o caminho estará aberto para que Fernando Haddad seja o primeiro petista a morar lá.

É por isso que Lula vem trabalhando arduamente na costura de alianças, tentando trazer figuras como o senador Randolfe Rodrigues, por exemplo e acenando com Alckmin para a elite financeira do país para mostrar que a terceira via está a vista de todos.

Lula tem pressa.

Muita gente está questionando se o ex-presidente estará vivo após quatro anos de mandato. A dúvida tem sua razão, afinal, Lula completará 76 anos no mês do primeiro turno e estará com 80 ao final do mandato, se vencer. 

Se Lula vier a falecer durante seu mandato, Geraldo Alckmin assumirá a presidência. Este deve estar pensando nisso.

Mas Lula, com certeza, já avaliou sua condição física. Não vai jogar o Brasil numa aventura que ninguém sabe no que vai dar e comprometer sua história. Ele deve confiar que termina o mandato.

E a reeleição?

Acho que isso já foi pensado também.

Por isso que Lula quer Haddad governador. São Paulo pesa muito numa disputa presidencial e se Haddad fizer um bom governo, se cacifa para a presidência em 2026. Lula não deve estar pensando em dois mandatos.

Como Lula vem trabalhando muito já há alguns meses nessas costuras, seria mais lógico e até humano que as arestas entre os petistas fossem aparadas.

É imprescindível que agora todos unam forças contra o mal maior e trabalhem de maneira positiva para a eleição de Lula/Alckmin.

O projeto de Lula é maior que o PT neste momento.

É o projeto de salvação do país e de nosso povo.

É só nisso que ele pensa.




 

 


O xadrez de Bolsonaro

Por Fernando Castilho


Quando Jair Bolsonaro montou seu governo no final de 2018, se apoiou em vários pilares:

1 – Eleitores. 55% dos eleitores votaram no capitão, o que teoricamente significaria que cerca de 117 milhões de pessoas o apoiariam em seu governo. Num tabuleiro de xadrez, eles seriam os peões;

2 – Militares. Bolsonaro nunca escondeu de ninguém seu apreço e saudosismo pela ditadura militar. Por várias vezes o vimos enaltecer torturadores. A ideia é ter uma retaguarda que amedronte pela força qualquer um que se opusesse a sua forma de governar. Seriam os cavalos no xadrez.

3 – Lideranças evangélicas. Os pastores que têm amplo espaço nas TVs e também no congresso tratariam de estabelecer entre os fiéis um link dele com o divino. No ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o capitão colocou Damares Alves, evangélica fundamentalista. Seriam os bispos no xadrez;

4 – Mídia. Nas televisões a Rede Record do bispo Macedo da Universal e o SBT de Sílvio Santos se encarregariam entrevistá-lo sem questioná-lo sobre temas polêmicos sempre que ele quisesse e destacariam os feitos de seu governo. Alguns jornais menores e rádios populares Brasil afora também se prestariam ao mesmo serviço. Uma das torres;

5 – Olavo de Carvalho. A ala olavista do governo do Capitão Morte assumiria o papel de dar suporte teórico a sua ideologia. O chanceler Ernesto Araújo trataria de mostrar ao mundo a nova cara da diplomacia brasileira, isolacionista e antiglobalização, de acordo com Donald Trump. O ministro da Educação que sucedeu a Ricardo Veléz Rodriguez, Abraham Weintraub, se encarregaria de incutir na mente do brasileiro comum a mentira de que os estudantes brasileiros nada produzem e só consomem maconha plantada em suas faculdades. Trataria também de destruir o Enem e qualquer iniciativa que visasse a melhoria do ensino no país. Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, promoveria o desmonte da fiscalização do Ibama, incentivo ao desmatamento e ao garimpo na Amazônia legal e os incêndios criminosos Brasil afora. Descobriu-se depois que ele tentava vender madeira ilegal para os Estados Unidos. Outros menos importantes, mas nem por isso destruidores em suas ações como o secretário de cultura, Mário Frias, o quinto da pasta até agora. Mais uma torre;

6 – Elite financeira. O instrumento para ganhar a confiança dessa elite é o ministro da economia, Paulo Guedes. Este estaria encarregado de proceder às reformas que garantiriam o aumento dos lucros do mercado financeiro e dos donos do poder econômico do país. Essa era a rainha.

Pronto, estava montado o xadrez do governo.

Passados três anos, como está esse tabuleiro?

1 – Eleitores. Bolsonaro perdeu metade dos peões. Possui agora cerca de 25% a 30% do apoio popular que tinha antes. Agora tem 4 peões;

2 – Militares. Alguns saíram do governo, como o general Santos Cruz. Outros estão desembarcando agora e até flertando com Lula. Os que têm boquinha com altos salários, ainda se mantém fiéis. Agora o capitão tem apenas um cavalo;

3 – Lideranças evangélicas. Pesquisa recente mostrou que quase metade dos evangélicos já apoia Lula. Restam os Malafaias da vida. Um bispo agora, somente;

4 – Mídia. Os veículos que apoiavam o Capitão Morte há três anos atrás ainda o apoiam, porém outros maiores como a Globo e a Folha de São Paulo fazem oposição a ele, embora não contundente. Essa torre continua;

5 – Olavo de Carvalho morreu, mas antes disso declarou que não mais apoiava esse governo. Weintraub já concorre ao governo de São Paulo, rompido com o governo. Ernesto Araújo tem feito críticas fortes a Bolsonaro e seus filhos. Uma torre a menos;

6 – Elite financeira. A decepção com Paulo Guedes enfim chegou. O ministro não conseguiu fazer as reformas pretendidas e agora tem fama de falastrão e homem preocupado em enriquecer mais ainda. Essa elite começa a flertar com Lula e Alckmin, afinal, se lembra de que nos governos do ex-presidente, lucraram muito. Meio pilar agora. A rainha agora está debilitada;

Mas Bolsonaro substituiu a rainha por outra: o centrão liderado por Arthur Lira e Ciro Nogueira. Mas esta está começando a mudar de cor, passando pro outro lado. As campanhas dos deputados e senadores começam agora e estes vão continuar a levar a grana das emendas do orçamento, mas se desvincularão do capitão em seus redutos eleitorais. Muitos se ligarão a campanha de Lula.

Resumidamente, o capitão agora tem 4 peões, 1 bispo, 1 cavalo, 1 torre e 1 rainha.

Isso basta para se reeleger?



 

 

 

 


terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Olavo, o astrólogo, não previu a ômicron

Por Fernando Castilho



Passou também a escrever livros e um deles, O Que Você Precisa Aprender Para Não Ser Um Idiota, foi best-seller. Muitos compraram, mas poucos leram, pois como ele mesmo afirmava, seus seguidores eram todos idiotas


O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche se autointitulava um homem póstumo. Sabia que seus escritos só seriam valorizados após sua morte.

Olavo de Carvalho se autointitulava filósofo. Mas em pouco tempo será esquecido não totalmente porque sempre haverá quem insista em continuar sendo enganado.

Há muito tempo atrás assisti a um debate entre ele e o filósofo Mário Sérgio Cortella. Lembro-me que foi um debate com bom nível, mas Cortella o dominou. O que, então, de lá pra cá?

Olavo percebeu que era perda de tempo continuar a tentar ser filósofo e não ganhar dinheiro. Era hora de mudar de vida e faturar.

Descobriu que há muita gente disposta a ouvir bobagens sem contestar. Então, criou um curso pela Internet e passou a angariar suas vítimas.

Quem são as pessoas que se inscrevem em seus cursos?

Há empresários endinheirados, gente estudada como o ex-chanceler, Ernesto Araújo e os irmãos, Weintraub e políticos como os filhos do presidente. Mas o grosso mesmo é de jovens que precisam de um rumo a seguir e coisas estranhas em que acreditar, como a terra plana, por exemplo.

O que há em comum a todos eles? Eles não vão ler Kant para conferir se o que Olavo falou é verdade. Desta forma, a grana vinha fácil.

Porém, uma vez um de seus alunos, um estudante de filosofia, percebeu que o que Olavo falava sobre Kant numa de suas aulas não batia com o que seu professor na USP ensinava. Procurou o professor, um especialista no filósofo alemão e lhe relatou sua inquietação. O professor, então, acessou a aula de Olavo e descobriu que o que ele falava era para enganar incautos.

Esse professor, cujo nome já não me lembro, entrou em contato com Olavo e o convidou para um debate sobre Kant.

Qual foi a resposta do “filósofo”?

Sim, mandou-o tomar naquele lugar.

Essa era invariavelmente a resposta dele a qualquer questionamento.

Passou também a escrever livros e um deles, O Que Você Precisa Aprender Para Não Ser Um Idiota, foi best-seller. Muitos compraram, mas poucos leram, pois como ele mesmo afirmava, seus seguidores eram todos idiotas.

Em 2013 um desses exemplares chegou às mãos de Carlos e Eduardo Bolsonaro que ficaram muito impressionados com o escritor.

Durante a campanha presidencial de 2018, os filhos de Bolsonaro tentaram demonstrar ao pai a importância de ter uma base teórica anticomunista e de extrema-direita. E ainda por cima, era Trumpista roxo! O Capitão Morte a princípio não gostou da ideia porque jamais lhe passaria pela cabeça ler um livro daquele tamanho, mas foi convencido por Carlos.

Ao montar sua equipe de governo, lógico, o filho 02 impôs ao pai a necessidade de escalar a elite dos seguidores de Olavo para alguns ministérios. Assim, o governo Bolsonaro teria um pilar olavista e outro militar. Um nortearia as ideias de extrema-direita em que se destacariam nomes como Ernesto Araújo e Abraham Weintraub e outro as ações autoritárias.

O fato é que o capitão acabou, pressionado pela necessidade de se reeleger, abandonando a ala ideológica de Olavo e mantendo os militares porque estes jamais largariam o osso de seus altos salários acumulados com os das Forças Armadas. Foi preciso dar um cavalo de pau e se juntar aos políticos do centrão que evitariam que processos de impeachment fosse levados a cabo.

Olavo acusou o golpe e, numa live em que participaram Ernesto, Weintraub e Ricardo Salles, desabafou dizendo que Bolsonaro nunca leu sequer um livro seu e que seu governo agora pertencia ao centrão.

Após essa live Weintraub, já de olho no governo de São Paulo, entrou em rota de colisão com os filhos do capitão.

As últimas teses de Olavo que Bolsonaro seguiu fielmente foram a de que a pandemia não existia e que as vacinas eram ineficazes contra a Covid-19.

Mas Olavo viu que o capitão, embora corroborasse ardentemente de suas teses, não conseguia impor seu pensamento ao governo e, mesmo com Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, não pode impedir a compra de vacinas e a imunização de 70% dos brasileiros porque estes eram majoritariamente favoráveis aos imunizantes. Para Olavo, Bolsonaro era um fraco.

O que Olavo não conseguiu prever, mesmo sendo astrólogo, era que viria uma variante extremamente contagiante, a Ômicron que nem ele conseguiria vencer.

Como, ao contrário do fraco Bolsonaro (este afirma que não se vacinou, mas mantém sua caderneta de vacinação sob sigilo de estado por cem anos), Olavo se manteve fiel às suas teses, não se vacinando nem com uma primeira dose, contraiu o vírus com seus anticorpos totalmente despreparados para isso e faleceu.

Assim, a terra plana dá seu adeus a um enganador, negacionista, mentiroso, assassino de ursos, uma fraude e um dos responsáveis pelas mais de 400 mil mortes que poderiam ser evitadas se Bolsonaro abraçasse desde o início a política de vacinar rapidamente a população do país.

O imperativo categórico que se impõe agora é extirpar do poder essa gente que tanto mal fez ao povo brasileiro.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

"Rumorese”: A estratégia de controle mental mais sutil que opera em toda a sociedade

De Rincón De La Psicologia 




Em “O Grande Ditador”, Hynkel, o personagem interpretado por Charles Chaplin, fala Grammelot, uma linguagem composta de sons, palavras e rumores que têm significado que, no entanto, outros parecem entender.

No romance “1984”, George Orwell se referiu a uma “linguagem neo” a serviço do sistema de controle, na qual todas as palavras consideradas “perigosas” para o regime foram eliminadas. O lema do partido é: “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”.

Na verdade, essa linguagem sem sentido, que fala muito sem dizer nada, se espalhou entre nós a uma velocidade vertiginosa, como uma epidemia real. O filólogo Igor Sibaldi chamou de “rumorese”. E é importante ser capaz de detectá-lo, porque – sem perceber e de maneira sub-reptícia – pode acabar restringindo nosso pensamento e, portanto, limitando nossas decisões de vida.

O que é rumorese?

Rumorese é falar muito sem dizer nada, é a “capacidade” de colocar uma palavra após a outra, rapidamente, sem se preocupar que a mensagem seja consistente, tenha significado ou valor. Um discurso em rumorese é composto de palavras vazias ou termos excessivamente ambíguos que são frequentemente contraditórios entre si.

Rumorese é, portanto, a linguagem de todos aqueles que querem se destacar, mas não têm nada importante para contribuir com o mundo. É também a linguagem daqueles que querem exercer controle sem recorrer à razão ou ao entendimento. É uma linguagem em que os sons prevalecem e o significado é óbvio.

Vivendo na sociedade da loquacidade

Nos tempos em que conta mais quantidade do que qualidade, não deve nos surpreender que falar muito sem dizer nada tenha se tornado a norma. Como Thoreau disse, “parece que o importante é falar com rapidez e não com bom senso”.

Quem não aprende esse idioma, mas fala de maneira sensata, pode ser visto com desconfiança pelos outros. Seu discurso será classificado como muito complicado e raro, porque exige uma capacidade de atenção e reflexão perdida.

Assim, discursos razoáveis, lógicos e coerentes tornam-se incompreensíveis para a maioria, uma maioria que foi convenientemente lobotomizada graças a uma educação sistemática à loquacidade.

De fato, para funcionar em certos contextos sociais e ter “sucesso”, muitas pessoas são forçadas a aprender a falar mais e dizer menos. Quem não se sente perdido, como um peixe fora d’água, como se fosse o único são em um manicômio, testemunhando uma cena absurda que se desenrola com extraordinária normalidade. Quem não fala esse idioma acaba, portanto, se sentindo marginalizado, excluído e raro.

O “rumorese” cria o absurdo que nos lobotomiza

“Estamos prontos para fazer as modificações necessárias, de uma justiça por parte do cidadão, implementando reformas que não modificam o processo em andamento …”

Essas palavras, tiradas de um jornal, podem nos parecer familiares, uma vez que fazem parte dos rumores políticos, embora seja verdade que existem muitas outras variantes que falam muito sem dizer nada que se estenda a diferentes áreas de nossas vidas.

Nesse exemplo, embora o leitor possa se sentir feliz porque as “reformas necessárias” serão aplicadas, na realidade elas “não modificarão o processo em andamento”, o que significa que tudo mudará para que nada mude. A isto se acrescenta que o fato de a justiça ser da parte do cidadão é uma contradição, uma vez que a justiça não deve estar em lugar nenhum, mas ser imparcial.

O rumorese, portanto, serve apenas para gerar confusão e criar expectativas que nunca serão satisfeitas, por isso acaba gerando frustração. As contradições flagrantes e o absurdo que ele gera fazem com que uma parte do nosso cérebro se desligue, cansada de procurar uma lógica inexistente. E é precisamente esse tipo de lobotomização autoinfligida que se adapta a todos aqueles que aproveitam os rumores para alcançar seus objetivos.

A isto se acrescenta que, como os rumoreses não têm significado em si, geralmente é mais credível quem tem maior autoridade. Se não entendermos dois discursos antagônicos, teremos a tendência de fundamentar e acreditar no discurso institucionalizado e canonizado. O poder do referente trabalha sua mágica onde não há hábito do pensamento livre.

E isso significa que a razão e o diálogo não prevalecem, mas o poder. Como Thoreau advertiu, “o homem aceita não o que é verdadeiramente respeitável, mas o que é respeitado”.

A reflexão como arma contra palavras vazias

O rumorese é composto por uma série de ideias projetadas para serem acreditadas, independentemente de sua veracidade ou racionalidade. Geralmente, trata-se de especulações ou deturpações que se espalham porque causam impacto em nossas emoções mais atávicas.

De fato, o rumorese se espalha de maneira extremamente eficaz e é uma ferramenta de manipulação perfeita, porque geralmente ajustamos nossa visão de mundo à percepção que os outros têm. Pensamos que muitas mentes não podem estar erradas, portanto, quem eu estou errado sou eu.

O melhor antídoto para conter essa conversa vazia é a razão. Precisamos passar tudo pela peneira do nosso pensamento. Não importa de onde venham as palavras ou quem as disse, temos que questioná-las e, se necessário, refutá-las. É nesse ato de desconstrução do que foi dito que encontramos nossa verdade e nos tornamos livres.

 


A agromúsica é pop

Por Aquiles Marchel Argolo


Nos anos 90, o cantor Lulu Santos desabafou no programa do Faustão sobre como os sertanejos e a agromúsica ajudaram a eleger Fernando Collor. Como prêmio ele ficou anos na geladeira da emissora, só que ele estava certo e a coisa hoje é pior.

Acontece que esse estilo de música não domina as rádios, as paradas do Spotify à toa. Ele faz parte de um projeto do agronegócio para fazer sua boa imagem por meio da indústria cultural e sua maior arma é fazer acreditar que o agro é pop por meio do sertanejo universitário.

Nos anos 90 as duplas sertanejas dominaram as paradas e foram símbolo da era Collor, com os mais pobres perdendo suas poupanças, enquanto grandes latifundiários continuaram enriquecendo ao som de Leandro e Leonardo e Zezé Di Camargo e Luciano.

Nos anos 2000, novas duplas surgiram e com a saturação do estilo romântico pop, apareceram os universitários, que traziam roupagem mais pop, próxima ao rock e eletrônico e cooptava o visual vaqueiro mas jamais falando sobre as agruras do homem do campo.

Na verdade, o sertanejo pop romântico e o universitário sempre negaram pautas que seriam de interesse do homem comum do campo, como reforma agrária, grilagem de terra, morte de pequenos agricultores e focou a produção em falar de amores alcoólatras e sexo.

A pauta sempre foi não ter pauta e ser uma arma de alienação em massa.

Já repararam na quantidade de rádios sertanejas que existem? Não é como se houvesse escolha. Esses artistas são forçados goela abaixo, muitos ganhando prêmios sob critérios bem duvidosos.

Enquanto escrevia essa sequência de tweets, só três músicas entre as vinte mais tocadas do Spotify não eram de sertanejo universitário.

Enquanto esses artistas distantes politicamente da realidade do Brasil ganham dinheiro como clones um dos outros, artistas independentes são sufocados pela ausência de espaço e investimento.

A música "batom de cereja" da dupla Israel e Rodolfo concorreu a prêmios na Globo, enquanto trabalhos incríveis foram sumariamente ignorados.

E o público? Ah, o público...

O público jamais admite que seu gosto está sendo guiado. Que estamos em um mar de monocultura onde a variedade é tirada, consequentemente o poder de escolha.

A ilusão que o sertanejo universitário representa o Brasil serve aos interesses de homens por trás dessas duplas parecidas.

É coincidência que a classe sertaneja que apoiou Collor hoje apoia Bolsonaro, que por sua vez serve ao lobby dos grandes pecuaristas?

Pois é. A indústria cultural controla a gente como marionete e a gente engole bonitinho sem nem questionar"

Aquiles Marchel Argolo é jornalista


Título por Fernando Castilho

Os sonhos de Ciro

Por Fernando Castilho


"Creio que teremos um segundo turno de Lula contra Ciro.”

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT deu entrevista ao Uol em que afirmou, entre outras coisas, que Ciro vai até o fim das eleições porque, segundo ele, não há chances dele abandonar a disputa ao Palácio do Planalto em 2022. "Ciro passou a ser candidato desde que ele perdeu a eleição, em 2018. A candidatura dele vai até o dia da próxima eleição. E para vencer.”

"Hoje temos um cenário em que o Lula tem vantagem sobre Bolsonaro. Bolsonaro hoje está com um terço de eleitores que tinha em 2018. Isso é resultado do desmando de um governo antidemocrático e genocida. Creio que teremos um segundo turno de Lula contra Ciro.”

Realmente não dá pra entender o que se passa na cabeça dos pedetistas. Imaginar que Ciro Gomes, hoje com cerca de 3% das intenções de votos, vá com Lula para o segundo turno e o vença, é sonhar muito alto, embora não seja impossível.

Se é essa a estratégia do candidato, por que direciona suas baterias preferencialmente contra Lula em vez de atacar o segundo colocado, o Capitão Morte? Acaso imagina que conseguirá tirar votos dele? Vejam que, apesar de todos os disparates e as notórias mentiras, além do negacionismo que contribuiu para ceifar centenas de milhares de vidas, o presidente mantém cerca de 30% de eleitores. Ciro não conseguirá tirar um só voto dele.

Carlos Lupi ainda afirmou: "Lula não tocou nessa ferida, que é o sistema financeiro do Brasil. Precisamos taxar os grandes bancos, cobrar das grandes fortunas. Essa é nossa principal diferença e vamos explorar permanentemente."

Gente, Lula nem é oficialmente candidato ainda, embora esteja se movimentando para isso. Essa questão de sistema financeiro deve fazer parte de seu programa de governo e não será tratada agora. Se Ciro já se adiantou, problema dele.

Outra coisa a se discutir agora é pra onde vai a Rede Sustentabilidade.

A maioria do partido trabalha para um possível apoio a Lula (o senador Randolfe Rodrigues já está conversando com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann), mas Marina Silva se move no sentido contrário e, ao que parece, irá de Ciro, não se sabe se como vice dele.

Isso era de se esperar porque o rancor de muitos anos ainda predomina na mente da ex-senadora, algo que não combina com seu pensamento cristão.

Se Ciro e Marina decidissem apoiar Lula já, nem teríamos segundo turno e a fatura estaria liquidada.

Mas o ego e a ambição são muito maiores que a necessidade de livrar o Brasil do genocida que está no poder.

A mídia e a elite financeira ainda alimenta sonhos com Moro na presidência, uma espécie de Bolsonaro menos pândego, mas Lula já começa a penetrar nesses sonhos e a tendência é que com Geraldo Alckmin de vice ela passe a sorrir um pouco mais para o ex-presidente.

Dito isso tudo, talvez tenhamos que aguardar o resultado do primeiro turno.

Saberemos se Ciro viajará a Paris de novo (talvez o faça por pura provocação) e se Marina fará como fez em 2014 apoiando Aécio Neves contra Dilma Rousseff, agora trocando o mineiro por Bolsonaro. Improvável, mas não impossível.

 


 

 


domingo, 23 de janeiro de 2022

Cloroquina, temporada 2

Por Fernando Castilho


Quem diria que a cloroquina iria ter uma segunda temporada no Brasil, não?

A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS), embora por votação apertada, decidiu o que todo o mundo  científico já apregoava, ou seja, a hidroxicloroquina, a ivermectina e demais medicamentos que compunham o chamado kit-covid distribuído amplamente pelo governo, são ineficazes contra o coronavírus ao passo que as vacinas têm sua eficácia comprovada.

Mas o Ministério da Saúde comandado por um médico negacionista inverteu a decisão da Conitec.

A primeira reação dos brasileiros foi a expressão “INACREDITÁVEL!”

Sim, é inacreditável, surreal, absurdo e todos os sinônimos que vêm à mente.

Mas será que é só isso?

O que pode estar por trás além da necessidade que o ministro Queiroga e seus asseclas têm de agradar ao Capitão Morte, custe as vidas que custar?

É fato que o governo fez grande distribuição dos medicamentos, inclusive para indígenas. E é fato, porém fora das estatísticas, que grande parte das pessoas que usaram esses medicamentos tiveram sequelas e algumas morreram. Outras, por não se vacinarem e confiarem cegamente na hidroxicloroquina prescrevida pelo presidente, contraíram o vírus e vieram a óbito. Novamente, não há estatísticas sobre isso, mas os números devem ser alarmantes.

Também se sabe que o governo e os militares possuem grande quantidades de medicamentos do kit-covid que não foram desovadas e certamente o TCU (Tribunal de Contas da União) questionará o presidente sobre isso.

É óbvio que a decisão do Ministério da Saúde não salvaguardará o governo de seus ilícitos, portanto, não adianta tentar se vacinar contra os processos que virão.

O povo brasileiro, de maneira geral, aprendeu que a vacinação está sendo a grande responsável pela grande redução do número de mortes de pessoas infectadas. Dificilmente se deixará seduzir pela cloroquina como fez no passado.

De qualquer forma, o capitão, faltando sete meses para as eleições, segue cerca de 16 pontos atrás de Lula e se mantém fiel a seu cercadinho, embora 86% da população seja favorável à vacinação de seus filhos.

Resta saber se ele tem uma carta na manga capaz de reverter os índices ou se estuda um outro tipo de saída.

O que sabemos com certeza é que as emas do Palácio do Alvorada continuarão a fugir de seu ocupante.



sábado, 22 de janeiro de 2022

Lula e Alckmin

Por Eliara Santana


Queridos, eu tenho visto o rebuliço, e algumas pessoas têm me chamado in box para conversar, aflitas que estão com o cenário e a possibilidade ou efetividade da chapa Lula-Alckmin. Eu gostaria então de fazer alguns comentários a partir de algumas coisas que tenho ouvido e lido. Já adianto – para evitar a falta de educação – que não estou me colocando como porta-voz de nenhuma verdade suprema, ok? São comentários, percepções que acho pertinente compartilhar para pensarmos o momento político desafiador desta enorme Nação.

A primeira questão para mim é que não se trata de um pleito apenas, não é uma disputa para ganhar uma eleição. A disputa, na minha compreensão, é para termos o poder e a chance de retomarmos o processo civilizatório no Brasil – o que o bolsonarismo fez em quatro anos é devastador, o país está fraturado, a economia em frangalhos, o tecido social totalmente esgarçado, a desigualdade aviltante. Além desse quadro perceptível, há ainda toda a articulação e consolidação de um projeto de poder de extrema-direita, em curso e com bastante grana, com suporte da interface entre sistema religioso e sistema midiático, que ancora esse ecossistema de desinformação.

Em segundo lugar, penso também que este pleito de 2022 é a possibilidade concreta de uma retomada significativa para o PT, Lula à frente, que, após mais de sete anos de muita pancada, tem a chance de novamente eleger um presidente da República, governadores de estado (com a chance de ganhar São Paulo) e bancadas de apoio no Legislativo.

E por mais críticas que tenhamos ao modus operandi do PT, às escolhas feitas, às jogadas incoerentes, de minha parte, eu reconheço que foi a mais exitosa experiência em termos de governos que colocaram o pobre no orçamento, que pensaram políticas públicas inclusivas, que dialogaram com os movimentos sociais e deram a eles condições de atuação, que pensaram que a educação deve ser, sim, para todos, que reconheceram direitos das minorias (socialmente colocadas nesse patamar) – mulheres, comunidade LGBTQIA+, negros. Portanto, para mim, vale apostar de novo nessa experiência.

Em terceiro lugar, cabe indagar se o PT, mesmo com Lula muito à frente nas pesquisas, reconquistará o poder sem alianças com a centro-direita. Creio ser impossível neste momento. O Brasil é gigante, está fraturado, tem uma base grande conservadora. Se estivéssemos na Suécia, na Islândia, na Dinamarca ou na Finlândia, em condições normais de temperatura e pressão, ter uma chapa pura de esquerda raiz seria maravilhoso – Lula e Benedita, ou Lula e Jandira, ou Lula e Manuela… haveria muitas possibilidades incríveis.

Mas nós não estamos. Estamos no Brasil de Jair, o incomível, que detona a economia e não quer vacina para crianças. Estamos no país em que milhares de pessoas comem osso e pele de frango – quando podem pagar por isso. E antes que também me lembrem, nós não somos o Chile, nossa trajetória é bastante distinta, somos vários brasis aqui dentro.

Um quarto ponto é que precisamos minar as bases do bolsonarismo, essa doença de extrema-direta que vai perdurar mesmo sem Bolsonaro. Por isso, consolidar uma chapa que tenha condições de levar a disputa já no primeiro turno é muito importante. Pessoalmente, não gosto muito de Alckmin, tenho críticas à gestão dele, mas reconheço plenamente que ele não é uma figura política abjeta como Aécio Neves. Portanto, é sim um nome palatável. Ademais, ele não estando na disputa pelo Palácio Bandeirantes amplia muito a chance de Haddad levar em São Paulo. O que seria uma grande conquista.

O editorial de hoje do Estadão fala que Bolsonaro quer sangrar as contas públicas. Sim, ele quer e vai fazê-lo. Portanto, o Brasil deixado por Jair estará numa situação dificílima, e quem herdar esse espólio terá de se desdobrar. O ano de 2023 não será fácil – além de todas as gigantescas dificuldades, haverá uma expectativa gigantesca acumulada – os brasileiros querem pão, trabalho, alegria. Será preciso dar um choque de esperança para começar a governar.

Para mim, a única figura política simbólica capaz de fazer isso é o filho de dona Lindu. E se ele vem acompanhado de Alckmin, Angélica, Xuxa, Huck, Neymar ou Magazine Luiza pouco importa em termos do meu voto pessoal. Porque existe um programa, que já foi bem-sucedido e foi capaz de levar o Brasil a ser a sexta economia mundial e de possibilitar aos brasileiros de todas as cepas estudarem no exterior e fazerem churrasco no domingo (sim, houve problemas e falhas, como existe em várias configurações).

O meu desejo pujante é que Lula e o programa do PT sejam capazes de dar esse choque de esperança e que possam reafirmar com grandeza o compromisso de fazer com que as pessoas neste país voltem a ter três refeições por dia.

O resto se ajeita.




O que minha netinha teria a ensinar para Paulo Guedes



Por Fernando Castilho


A TV estava noticiando a tragédia de Brumadinho, quando a barragem da empresa mineradora Vale se rompeu causando mais de duzentas mortes ao longo do tempo.

A menina logo perguntou o que estava acontecendo.

Sophia, minha netinha, tinha apenas 5 anos à época.

Com muita paciência e procurando as palavras mais simples para lhe explicar, certamente perdi vários minutos, mas fui cada vez me sentindo mais encorajado a continuar porque ela foi ficando cada vez mais interessada.

Nos dias que se seguiram as notícias sobre Brumadinho continuavam. Invariavelmente Sophia parava imediatamente o que estava fazendo, ia para a frente da TV e ficava ali, parada, em pé, compenetrada, tentando compreender o que os narradores explicavam.

Hoje, com 8 anos, Sophia veio passar as férias em casa.

Durante o almoço contou que na escola municipal onde cursa o Fundamental I há crianças que às vezes não levam o lanchinho das 10:00 por suas mães não terem o que preparar.

A escola fornece uma espécie de complemento aos lanchinhos levados pelas crianças, geralmente salada e às vezes macarrão.

Sophia disse que costuma dividir sua merenda com a Tífani, uma das coleguinhas carentes. Revelou que as duas ficam muito felizes com isso. Para meu espanto, ela sabe a diferença entre estar sentindo fome e viver a fome.

Este texto não é para mostrar as qualidades de minha netinha, mas para falar sobre o que nossas crianças estão passando.

Provavelmente os pais de Tífani estão desempregados como milhões pelo país. Se estiverem, a probabilidade de que, se não conseguirem emprego logo, tenham que passar fome, entregar a casa onde moram e ir para a rua, no pior cenário, é alta.

Não há nada mais triste que isso.

E não há nada, absolutamente nada, que o governo esteja fazendo para resolver essa situação. Aliás, o ministro da Economia, Paulo Guedes ainda não voltou da férias e anda sumido. Ao contrário de Tífani e de Sophia, ele não tem a menor ideia do que é fome. Já chegou a defender  que se distribua restos de comida aos pobres, aquilo que antigamente chamávamos de lavagem. Isso num país que produz alimentos para todo o mundo.

Ah, mas Bolsonaro criou o Auxílio Brasil de 400 reais por família carente em substituição ao Bolsa Família, não é?

Sim, criou, mas somente neste ano eleitoral de 2022. Se vencer as eleições, provavelmente extinguirá o programa do qual é inimigo declarado (lembram de quanto ele execrava o Bolsa Família por considerar que o programa gerava vagabundos). Se perder, ficará para o próximo governante resolver sobre a continuidade ou não do auxílio.

O fato é que a economia está entregue aos cidadãos do país. Cada empresário que se vire. Cada empregado ou desempregado que se vire.

O Estado como instituição está totalmente ausente.

Não há uma política sequer de geração de empregos. Nada.

O pior é que assistimos a este estado de coisas inertes, como que paralisados diante das estupefações diárias a que somos expostos.

Felizmente, no momento em que escrevo, faltam 9 meses, cerca de 270 dias para voltarmos a ter esperança de que o Brasil, enfim, possa voltar a ser uma Nação e seu povo, alimentado.

Sophia ficará feliz, com certeza.