sábado, 22 de janeiro de 2022

Lula e Alckmin

Por Eliara Santana


Queridos, eu tenho visto o rebuliço, e algumas pessoas têm me chamado in box para conversar, aflitas que estão com o cenário e a possibilidade ou efetividade da chapa Lula-Alckmin. Eu gostaria então de fazer alguns comentários a partir de algumas coisas que tenho ouvido e lido. Já adianto – para evitar a falta de educação – que não estou me colocando como porta-voz de nenhuma verdade suprema, ok? São comentários, percepções que acho pertinente compartilhar para pensarmos o momento político desafiador desta enorme Nação.

A primeira questão para mim é que não se trata de um pleito apenas, não é uma disputa para ganhar uma eleição. A disputa, na minha compreensão, é para termos o poder e a chance de retomarmos o processo civilizatório no Brasil – o que o bolsonarismo fez em quatro anos é devastador, o país está fraturado, a economia em frangalhos, o tecido social totalmente esgarçado, a desigualdade aviltante. Além desse quadro perceptível, há ainda toda a articulação e consolidação de um projeto de poder de extrema-direita, em curso e com bastante grana, com suporte da interface entre sistema religioso e sistema midiático, que ancora esse ecossistema de desinformação.

Em segundo lugar, penso também que este pleito de 2022 é a possibilidade concreta de uma retomada significativa para o PT, Lula à frente, que, após mais de sete anos de muita pancada, tem a chance de novamente eleger um presidente da República, governadores de estado (com a chance de ganhar São Paulo) e bancadas de apoio no Legislativo.

E por mais críticas que tenhamos ao modus operandi do PT, às escolhas feitas, às jogadas incoerentes, de minha parte, eu reconheço que foi a mais exitosa experiência em termos de governos que colocaram o pobre no orçamento, que pensaram políticas públicas inclusivas, que dialogaram com os movimentos sociais e deram a eles condições de atuação, que pensaram que a educação deve ser, sim, para todos, que reconheceram direitos das minorias (socialmente colocadas nesse patamar) – mulheres, comunidade LGBTQIA+, negros. Portanto, para mim, vale apostar de novo nessa experiência.

Em terceiro lugar, cabe indagar se o PT, mesmo com Lula muito à frente nas pesquisas, reconquistará o poder sem alianças com a centro-direita. Creio ser impossível neste momento. O Brasil é gigante, está fraturado, tem uma base grande conservadora. Se estivéssemos na Suécia, na Islândia, na Dinamarca ou na Finlândia, em condições normais de temperatura e pressão, ter uma chapa pura de esquerda raiz seria maravilhoso – Lula e Benedita, ou Lula e Jandira, ou Lula e Manuela… haveria muitas possibilidades incríveis.

Mas nós não estamos. Estamos no Brasil de Jair, o incomível, que detona a economia e não quer vacina para crianças. Estamos no país em que milhares de pessoas comem osso e pele de frango – quando podem pagar por isso. E antes que também me lembrem, nós não somos o Chile, nossa trajetória é bastante distinta, somos vários brasis aqui dentro.

Um quarto ponto é que precisamos minar as bases do bolsonarismo, essa doença de extrema-direta que vai perdurar mesmo sem Bolsonaro. Por isso, consolidar uma chapa que tenha condições de levar a disputa já no primeiro turno é muito importante. Pessoalmente, não gosto muito de Alckmin, tenho críticas à gestão dele, mas reconheço plenamente que ele não é uma figura política abjeta como Aécio Neves. Portanto, é sim um nome palatável. Ademais, ele não estando na disputa pelo Palácio Bandeirantes amplia muito a chance de Haddad levar em São Paulo. O que seria uma grande conquista.

O editorial de hoje do Estadão fala que Bolsonaro quer sangrar as contas públicas. Sim, ele quer e vai fazê-lo. Portanto, o Brasil deixado por Jair estará numa situação dificílima, e quem herdar esse espólio terá de se desdobrar. O ano de 2023 não será fácil – além de todas as gigantescas dificuldades, haverá uma expectativa gigantesca acumulada – os brasileiros querem pão, trabalho, alegria. Será preciso dar um choque de esperança para começar a governar.

Para mim, a única figura política simbólica capaz de fazer isso é o filho de dona Lindu. E se ele vem acompanhado de Alckmin, Angélica, Xuxa, Huck, Neymar ou Magazine Luiza pouco importa em termos do meu voto pessoal. Porque existe um programa, que já foi bem-sucedido e foi capaz de levar o Brasil a ser a sexta economia mundial e de possibilitar aos brasileiros de todas as cepas estudarem no exterior e fazerem churrasco no domingo (sim, houve problemas e falhas, como existe em várias configurações).

O meu desejo pujante é que Lula e o programa do PT sejam capazes de dar esse choque de esperança e que possam reafirmar com grandeza o compromisso de fazer com que as pessoas neste país voltem a ter três refeições por dia.

O resto se ajeita.




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