Por Eliara Santana
Queridos,
eu tenho visto o rebuliço, e algumas pessoas têm me chamado in box para
conversar, aflitas que estão com o cenário e a possibilidade ou efetividade da
chapa Lula-Alckmin. Eu gostaria então de fazer alguns comentários a partir de
algumas coisas que tenho ouvido e lido. Já adianto – para evitar a falta de
educação – que não estou me colocando como porta-voz de nenhuma verdade
suprema, ok? São comentários, percepções que acho pertinente compartilhar para
pensarmos o momento político desafiador desta enorme Nação.
A
primeira questão para mim é que não se trata de um pleito apenas, não é uma
disputa para ganhar uma eleição. A disputa, na minha compreensão, é para termos
o poder e a chance de retomarmos o processo civilizatório no Brasil – o que o
bolsonarismo fez em quatro anos é devastador, o país está fraturado, a economia
em frangalhos, o tecido social totalmente esgarçado, a desigualdade aviltante.
Além desse quadro perceptível, há ainda toda a articulação e consolidação de um
projeto de poder de extrema-direita, em curso e com bastante grana, com suporte
da interface entre sistema religioso e sistema midiático, que ancora esse
ecossistema de desinformação.
Em
segundo lugar, penso também que este pleito de 2022 é a possibilidade concreta
de uma retomada significativa para o PT, Lula à frente, que, após mais de sete
anos de muita pancada, tem a chance de novamente eleger um presidente da
República, governadores de estado (com a chance de ganhar São Paulo) e bancadas
de apoio no Legislativo.
E
por mais críticas que tenhamos ao modus operandi do PT, às escolhas feitas, às
jogadas incoerentes, de minha parte, eu reconheço que foi a mais exitosa
experiência em termos de governos que colocaram o pobre no orçamento, que
pensaram políticas públicas inclusivas, que dialogaram com os movimentos
sociais e deram a eles condições de atuação, que pensaram que a educação deve
ser, sim, para todos, que reconheceram direitos das minorias (socialmente
colocadas nesse patamar) – mulheres, comunidade LGBTQIA+, negros. Portanto,
para mim, vale apostar de novo nessa experiência.
Em
terceiro lugar, cabe indagar se o PT, mesmo com Lula muito à frente nas
pesquisas, reconquistará o poder sem alianças com a centro-direita. Creio ser
impossível neste momento. O Brasil é gigante, está fraturado, tem uma base
grande conservadora. Se estivéssemos na Suécia, na Islândia, na Dinamarca ou na
Finlândia, em condições normais de temperatura e pressão, ter uma chapa pura de
esquerda raiz seria maravilhoso – Lula e Benedita, ou Lula e Jandira, ou Lula e
Manuela… haveria muitas possibilidades incríveis.
Mas
nós não estamos. Estamos no Brasil de Jair, o incomível, que detona a economia
e não quer vacina para crianças. Estamos no país em que milhares de pessoas
comem osso e pele de frango – quando podem pagar por isso. E antes que também
me lembrem, nós não somos o Chile, nossa trajetória é bastante distinta, somos
vários brasis aqui dentro.
Um
quarto ponto é que precisamos minar as bases do bolsonarismo, essa doença de
extrema-direta que vai perdurar mesmo sem Bolsonaro. Por isso, consolidar uma
chapa que tenha condições de levar a disputa já no primeiro turno é muito
importante. Pessoalmente, não gosto muito de Alckmin, tenho críticas à gestão
dele, mas reconheço plenamente que ele não é uma figura política abjeta como
Aécio Neves. Portanto, é sim um nome palatável. Ademais, ele não estando na disputa
pelo Palácio Bandeirantes amplia muito a chance de Haddad levar em São Paulo. O
que seria uma grande conquista.
O
editorial de hoje do Estadão fala que Bolsonaro quer sangrar as contas
públicas. Sim, ele quer e vai fazê-lo. Portanto, o Brasil deixado por Jair
estará numa situação dificílima, e quem herdar esse espólio terá de se
desdobrar. O ano de 2023 não será fácil – além de todas as gigantescas
dificuldades, haverá uma expectativa gigantesca acumulada – os brasileiros
querem pão, trabalho, alegria. Será preciso dar um choque de esperança para
começar a governar.
Para
mim, a única figura política simbólica capaz de fazer isso é o filho de dona
Lindu. E se ele vem acompanhado de Alckmin, Angélica, Xuxa, Huck, Neymar ou
Magazine Luiza pouco importa em termos do meu voto pessoal. Porque existe um
programa, que já foi bem-sucedido e foi capaz de levar o Brasil a ser a sexta
economia mundial e de possibilitar aos brasileiros de todas as cepas estudarem
no exterior e fazerem churrasco no domingo (sim, houve problemas e falhas, como
existe em várias configurações).
O
meu desejo pujante é que Lula e o programa do PT sejam capazes de dar esse
choque de esperança e que possam reafirmar com grandeza o compromisso de fazer
com que as pessoas neste país voltem a ter três refeições por dia.
O
resto se ajeita.
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