segunda-feira, 9 de maio de 2016

Cunha fora?

Por Gabriel Priolli


Charge: Aroeira

Eduardo Cunha construiu seu enorme poder nas sombras, das quais emergiu apenas em fevereiro de 2015, para presidir a Câmara. Sabe melhor do que ninguém os caminhos subterrâneos da política. Não precisa de exposição pública para agir.

É inteiramente justo o júbilo nacional pelo afastamento de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados. Mas será que ele é mesmo carta fora do baralho?

Juntemos os pontos:

1) Cunha não perdeu o mandato. Foi suspenso do exercício dele por tempo indeterminado, graças a uma inovação interpretativa, visto que a possibilidade não existe na Constituição. Segundo a BBC Brasil, “a suspensão dura até quando Zavascki entender que persistem os riscos de que o peemedebista use seu mandato para interferir nas investigações”.

2) Cunha não perdeu privilégios. O site Congresso em Foco diz que ele “continuará recebendo salário e outros benefícios garantidos aos deputados, que somam mais de R$ 160 mil por mês. Fora isso, seguirá com as garantias previstas para um presidente da Câmara, como ocupar a residência oficial, locomover-se em carro oficial e jato da Força Área Brasileira (FAB) e ter à sua disposição uma equipe de seguranças”.

3) As condições de trabalho para o deputado seguem excelentes. “Cunha receberá o salário de R$ 33,7 mil, a verba de R$ 35,7 mil para gastar com alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do mandato, entre outras despesas. Também estão assegurados os R$ 92 mil reservados para a contratação e manutenção de até 25 funcionários em seu gabinete de apoio. Não entram nessa conta os servidores que atuam por livre escolha do peemedebista na presidência da Câmara”.

4) Cunha controla uma bancada “pessoal” de, no mínimo 160 deputados, para cujas campanhas carreou recursos e dos quais conhece os podres.

5) O processo de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, para cassação de seu mandato, foi instalado em 3 de novembro de 2015. Anda a passo de tartaruga, de protelação em protelação. Já é o mais longo processo no conselho em toda a história da Câmara Federal.

6) O presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, é uma incógnita. Alguns dizem que ele é bem diferente do titular afastado e até sonham que anule o processo de impeachment. Mas, há menos de 20 dias, Maranhão manobrou no Conselho de Ética para limitar a investigação contra Cunha. Não parece exatamente hostil ao colega.

Esse conjunto de circunstâncias sugere que Cunha pode montar um bunker de resistência na Residência Oficial, do mesmo modo que Dilma montará o dela no Palácio do Alvorada.

Mas, ao contrário da Presidenta, que não tem mais força no Congresso, Cunha poderá influir na presidência de Waldir Maranhão e seguir controlando a sua bancada, para manter a obstrução de seu julgamento no Conselho de Ética e decidir as votações em plenário que desejar.

Enquanto não for cassado, portanto, Cunha poderá sustentar um poder considerável, até porque é completamente inédita e esdrúxula a sua situação. Incontáveis políticos morrem de medo de que ele abra a boca e conte o que sabe.

É claro que o ministro Teori Zavascki pode mandar prendê-lo, se entender que tudo acima vai de fato conhecer, configurando a reincidência no delito que levou ao afastamento: uso do cargo para obstruir a Justiça, em proveito próprio.

Mas Teori sabe perfeitamente que, se entregar Cunha a Moro, ele pode negociar a delação premiada. E o risco de derrubar a República com isso, tantas vezes apontado em outros delatores, será real. Ele, sim, tem bala para derrubar dezenas, senão centenas de políticos.

Bancará o ministro a prisão de Cunha? Ateará fogo no circo político inteiro? Para por Lewandowski no Palácio do Planalto?

Eduardo Cunha construiu seu enorme poder nas sombras, das quais emergiu apenas em fevereiro de 2015, para presidir a Câmara. Sabe melhor do que ninguém os caminhos subterrâneos da política. Não precisa de exposição pública para agir.

Assim é que, se houver alguma plausibilidade nesta especulata, o Brasil terá a honra de inaugurar o "home working" parlamentar. E logo com o presidente da Câmara Federal.

De chinelão e bermuda na piscina da residência Nº 171, notebook e celular ao alcance, seguirá Cunha com o país nas mãos.


Gabriel Priolli é Jornalista, consultor político e diretor de televisão
 




domingo, 8 de maio de 2016

''Professora, como é estudar? Me ensina?''

Por Elika Takimoto



A ficha caiu quando um menino de boné e cordão prata veio até mim e falou: “Professora, você fala que eu tenho que estudar. O que seria exatamente isso? Eu não quero perder essa oportunidade. Me ajuda…”

Há quatro anos, tivemos no CEFET/RJ nossos primeiros alunos cotistas. Para entrar lá, os jovens fazem uma prova de seleção. Naquele ano, 50% das vagas foram destinadas para alunos negros, de escolas públicas e com renda baixa.

Lembro-me que levei um susto ao entrar em sala. Havia negros e alunos extremamente diferentes na forma de se expressar. Eu simplesmente não sabia como lidar. Pensei em escrever uma carta para Dilma reclamando. Se esse governo quer colocar cotistas em sala, que ao menos nos dê uma certa infra-estrutura para recebê-los! Psicólogos, pedagogos, assistentes sociais… cadê esse time para nos ajudar? Nada? Como assim?

Da mesma forma que sempre fazia com a minha turma, eu mandava o meu aluno estudar. Dizia que se ele não fizesse a parte dele, não passaria porque bababá bububú… muitos alunos cotistas não mexiam o dedo mesmo eu repetindo o discurso: você tem que estudar! Você tem que estudar!!!

Percebi que muitos não sabiam o que era “estudar” porque, meodeos, nunca haviam estudado. Era como eu virar para qualquer outro na rua que nunca, por exemplo, estudou música e falar: você tem que treinar piano! Você tem que treinar piano! O cara ia sentar em frente ao piano e fazer o quê? Não saberia nem por onde começar! Quando percebi isso entrei em desespero porque o problema era muito maior do que pensava…

O que fazer? Desistir? Deixar que todos repetissem? Mas seriam muitos! O desespero une os seres humanos que estão sob o mesmo inferno. Nós, professores, fomos conversando e juntamente com parte da equipe pedagógica, criando subsídios para esses alunos.

A ficha caiu quando um menino de boné e cordão prata veio até mim e falou: “Professora, você fala que eu tenho que estudar. O que seria exatamente isso? Eu não quero perder essa oportunidade. Me ajuda…”

Esse menino mal sabia pegar no lápis por falta de hábito…

Tivemos que lidar também com tensões e preconceitos que existiam entre eles. Por exemplo, alguns alunos que vieram de escolas particulares com família bem estruturada não entendiam por quê o colega não fazia o trabalho direito. Inicialmente, houve, em algumas turmas, segregação. No jogo de xadrez, por exemplo, onde temos peças pretas e brancas, eles perguntavam quem seria os cotistas e os não-cotistas…

Sei que criamos aulas de atendimento… preparamos nossos monitores para atender a esse novo perfil de aluno. Ensinei a aluno segurar no lápis e organizar o raciocínio para aprender física e fazer problemas de IME e ITA como fazia em todos os outros anos e dá-lhe conversas com todos os demais privilegiados para entender que não é excluindo que incluímos ninguém. Não é fazendo o mal que faremos um bem…

O que nenhum professor do CEFET admitia era baixar o nível de nossa instituição. Eles, os alunos cotistas, teriam que alcançar os demais. Foi preciso muita dedicação, hora extra, mais avaliações para o aluno ter oportunidade de recuperar a nota – dentre outras coisas maiores como, por exemplo, amor ao próximo e empatia à causa – para que o equilíbrio, enfim, fosse alcançado.

Foi preciso muito mais trabalho…

Fizemos um forte levantamento sobre o rendimento desses alunos. Quanta emoção ver as notas deles no segundo semestre se igualando aos demais colegas que tiveram muito mais oportunidades e condições para estudar. Quanta emoção… conseguimos, gente, conseguimos… estamos conseguindo…

Percebi claramente que falta de base nada tem a ver com capacidade intelectual e me surpreendi muito quando vi minha cara se esfarelando e a poesia sambando na cara do meu preconceito ou melhor, do meu desespero – no sentido, aqui, de negar a esperança.

Este ano (como em outros nas minhas turmas do primeiro ano), minha primeira avaliação foi coletiva e não individual. Os alunos tinham que fazer um grupo, estudar entre eles e, no dia da prova, eu faria uma pergunta em que somente um deles, sorteado por mim na hora, resolveria no quadro a questão por mim colocada. A nota do aluno escolhido seria a nota de todos os demais componentes daquele grupo. Essa foi uma forma que encontrei de forçar os alunos privilegiados a me ajudarem a ajudar os menos privilegiados.

Para um jovem de 15 anos, isso beirou o absurdo das injustiças. Uma aluna veio falar comigo: “professora, eu vou ter que convencer o outro a estudar como? Eu tô chamando e ele, quando vem, nada fala!”

Com muito amor e já mais experiente e segura, expliquei a ela que estávamos lidando com uma pessoa que vinha de uma realidade completamente diferente e que a forma de incluí-la não seria fazendo um chamado comum porque esse ser já tinha sofrido na pele o diabo da exclusão social e se sentia amedrontado perante os demais. “Você vai ser o diferencial na vida dele. Dependendo da forma em que se chegue a ele, você pode despertar um artista, um sábio, um colega pensante ou minar qualquer coisa boa que possa emergir.” A menina de 15 anos me olhou assustada. Nunca talvez ninguém havia lhe dado tanta responsabilidade. Continuei: “Sim. Temos que, acima de tudo, cuidar uns dos outros sempre. Isso se aprende também na escola.”

A prova foi ontem. Sem querer, escolhi o aluno com maior dificuldade. Ele foi ao quadro e falou com certa timidez natural, mas com uma segurança que eu mesma não esperava.
Ao final da aula, a aluna veio emocionada falar comigo: “Professora, fiz o que a senhora falou. Chamei o menino de outra forma e com jeitinho fui tirando dele o que ele sabia e mostrando a ele como agir. Estudamos a tarde toda. Você viu como ele falou bem?”.

Havia o orgulho e a felicidade em ter ajudado o próximo e incluir um que, em outra época, seria completamente jogado às margens da nossa sociedade sendo o que chamamos de “marginal” em sua essência.

Escrevo isso sob uma emoção ainda muito forte. Quando vejo a primeira turma de cotistas se formando com louvor sem nada mais ter do que se envergonhar em termos de conhecimento em relação aos seus colegas, eu devo agradecer por essa oportunidade que esse governo me deu de fazer com que eu fosse uma verdadeira educadora. Devo agradecer pela oportunidade de me fazer unir e dialogar com os colegas e crescermos todos como um verdadeiro centro de ensino. Devo agradecer por ter me feito um ser humano infinitamente mais sensível e melhor.

Reclama da política das cotas quem nunca sentiu na pele e testemunhou o desabrochar da dignidade de um cidadão…


Informados e inteligentes

Por Aderbal Freire-Filho 


Charge: Bruno Barros


Ao me considerar relativamente bem informado, quero dizer que não sou informado da situação política do Brasil exclusivamente pela chamada grande imprensa. Se me orientasse pela Folha, por exemplo, ia saber que o fato mais importante do dia primeiro de maio foi que uma mosca pousou na testa, no olho, no queixo, no nariz da presidente da República.

Em respeito a grandeza da poesia de Ferreira Gullar, não me animo a comentar suas opiniões políticas, expostas semanalmente no jornal Folha de São Paulo e das quais discordo. No entanto, lendo sua coluna do domingo, 01/05, me considerei, talvez indevidamente, parte do diálogo que ele de certa forma propôs. Digo indevidamente porque não devo ser, com certeza, uma das pessoas "reconhecidamente inteligentes e bem informadas" a que Gullar se referia, mesmo me considerando relativamente bem informado e tendo uma inteligência mediana, suficiente ao menos para juntar lé com cré.
Gullar é a favor do impeachment e se surpreende com a reação dessas "pessoas reconhecidamente etc...." em face da crise pela qual passa o país e com "os tipos de argumentos que adotam, contrários aos fatos e aos princípios constitucionais que regem a nossa vida politica e social". E diz que "a única explicação para tal atitude só pode ser a necessidade de, fora de toda lógica, insistir na defesa de determinada posição ideológica, seja ela razoável ou não".
Ao me considerar relativamente bem informado, quero dizer que não sou informado da situação política do Brasil exclusivamente pela chamada grande imprensa. Se me orientasse pela Folha, por exemplo, ia saber que o fato mais importante do dia primeiro de maio foi que uma mosca pousou na testa, no olho, no queixo, no nariz da presidente da República. Um estudante de jornalismo que se dedicasse a preparar uma tese sobre a manipulação da imprensa nesse período e para isso compulsasse as coleções dos jornais dessa época, teria um material abundante, extravagante, caudaloso para fundamentar sua tese.
Gullar, em sua coluna, reproduz de boa-fé a frase "o maior fenômeno de corrupção da história", como fazem os muitos brasileiros informados pelos grandes jornais. Um leitor do The Guardian, comentando matéria publicada naquele jornal inglês que denuncia o golpe brasileiro, é certeiro: diz que essa falsa premissa sozinha é suficiente para desacreditar os argumentos da imprensa brasileira. Considerando que propina e corrupção são quase invariavelmente não documentados, ele se pergunta como alguém pode asseverar que um esquema é o maior da história? E sugere que a imprensa deveria parar de divulgar como fato o que não passa de uma hipérbole.
De fato, não é preciso ir longe para comprovar que essa hipérbole faz parte da Gramática Portuguesa pelo Método de Confundir da Imprensa. Basta estar informado sobre tantos desvios bilionários de patrimônio público, sobre a origem de inúmeros dos personagens dos escândalos de hoje, sobre as práticas de ocultação que, ao longo da nossa história, passaram pela censura e a perseguição na ditadura militar, indo até a conivência judicial, etc.
A corrupção – em qualquer partido, nas empresas, nas igrejas, no futebol, na imprensa, onde quer que ele exista – deve ser combatida tenazmente. Não pode ser bandeira exclusiva de um partido. É uma bandeira da sociedade. Apoio os partidos de esquerda e voto neles, mas não acredito na imunidade de nenhum partido a contaminação pela corrupção. Para combater a corrupção só acredito no aperfeiçoamento dos organismos de combate a corrupção (nem eles imunes, aliás). Aperfeiçoamento que vi acontecer pela primeira vez nos governos do PT.
O que é escandaloso é ir para as ruas ao lado dos políticos e partidos historicamente corruptos, que nunca foram investigados seriamente, defendendo ingenuamente ou hipocritamente o combate a corrupção. A hipocrisia é comprovada sempre no dia seguinte: com o prefeito de Montes Claros, o deputado da merenda, o candidato a prefeito com milhões não declarados e tantos outros fotografados na véspera nas manifestações da TV.
A grande diferença do PT está nos seus programas de governo. Programas que se cumprem, como o PT comprovou. Um exemplo: os governos de Lula e Dilma abriram 18 universidades públicas, os de FHC nenhuma; FHC criou 11 escolas técnicas, Lula e Dilma 214.
(As vezes me pergunto o que pensa Fernando Henrique quando lê seu ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, em Paris, um dos fundadores do PSDB, eleito Intelectual do Ano, em 2015, escrever que: "em nome da Economia, estamos trocando um ministro da Fazenda competente, Nelson Barbosa, que está buscando retomar o investimento público e impedir a revalorização do real para enfrentar a recessão..."; "a direita e a classe média tradicional venceram. Paralisaram o Brasil, desestabilizaram a democracia, tornaram o país sujeito a crises políticas sempre que a popularidade do presidente da República cair, trocaram o acordo pela luta de classes, mas satisfizeram seu desejo de poder. Que desastre, que loucura, que irresponsabilidade!")
O PT, sobretudo, não foi na conversa de que é preciso aumentar o bolo para depois distribuir. Com o PT, o povo, finalmente, começou a comer o bolo.
A propósito. Lembro de um almoço há muitos anos em que um candidato a prefeito convidou uma meia dúzia de artistas para uma conversa às vésperas da eleição. O Gullar era um dos convidados. Eu, outro. Lembro do Gullar calado durante o almoço. E nós, os outros, a dizer a cultura precisa disso e daquilo, é preciso apoiar o cinema, o teatro, etc e tal. Já na sobremesa, finalmente, o Gullar falou. Foi curto e grosso: "prefeito, e o povo? Eu só quero saber o que o senhor vai fazer pelo povo". Um silencio, o candidato titubeou, tal e coisa, até logo, obrigado, boa sorte. Eu lembro que saí dali pensando: porra, eu falando de nós e o Gullar... esse é o cara. E o povo, o que o senhor vai fazer pelo povo? Nunca esqueci.
Sei que falta muito bolo ainda por dividir. No Brasil, por exemplo, a maioria da estrutura tributária está baseada em impostos indiretos. Assim, um pobre paga o mesmo imposto que um rico. O PT não conseguiu mudar isso, mas seu lema é continuar mudando. Vem daí a reação dos poderosos: pelo que esses caras já fizeram, vão chegar nos nossos "sagrados direitos".
No domingo, 10/04, a Ilustríssima, caderno da própria Folha, ouviu intelectuais –inteligentes e informados – sobre suas posições em relação ao impeachment. Eram cerca de 30. Alguns não se definiram. Mas 20 se declararam contra o impeachment e 7 a favor (entre os 7 estava o Fernando Henrique, cujo voto talvez fosse melhor anular, pois ele é parte; então, votos válidos a favor do impeachment: Ferreira Gullar e mais 5). Ou seja, entre os bem informados e inteligentes a grande maioria votou contra o impeachment. Uns poucos votaram como os deputados que vimos desfilar naquele domingo vergonhoso: aparentemente nada inteligentes, desonestos, obscurantistas...
Não parece mais lógico, então, que esses 20 homens que se declaram contra o impeachment se surpreendam com pessoas reconhecidamente inteligentes e bem informadas como o Gullar adotando argumentos contrários aos fatos e aos princípios constitucionais que regem a nossa vida política e social?
Não consigo atinar com a razão que qualquer deles iria sugerir para tal atitude do grande poeta. Não acredito que dissessem ser a "necessidade de, fora de toda lógica, insistir na defesa de determinada opção ideológica, seja ela razoável ou não". Não vejo Ferreira Gullar ao lado dos defensores de uma ideologia de direita, como Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado e tantos, tantos outros."

Aderbal Freire-Filho é diretor e autor teatral, ator e apresentador.


quinta-feira, 5 de maio de 2016

Após a direita decepar o braço, restará a cabeça do PT?

Por Fernando Castilho





Há uma cena de Monty Python e o Cálice Sagrado em que o cavaleiro negro, após terem sido decepados todos os seus membros, ainda encontra forças para lutar através da sua fala. Resta saber o que sobra após o corte de sua cabeça.

Lembrei-me de uma cena do filme Monty Python e o Cálice Sagrado em que Sir Lancelot, ao encontrar o famoso cavaleiro negro, corta-lhe um braço e este ainda tem disposição de lutar com o outro.

Em seguida, é cortado o segundo braço, mas o cavaleiro negro insiste em lutar com as pernas.

Corta-se na sequência uma das pernas mas mesmo assim o homem não desiste.

Por fim, a última perna é cortada e nada mais resta a fazer do que usar de sua fala.

Humildemente defendo aqui minha tese de que um plano destinado a acabar com o PT e consequentemente com o que existe ainda de esquerda (ma non troppo), foi urdido ainda naquele longínquo 2005.

Tudo começou quando do episódio do mensalão.

Há várias polêmicas em torno do escândalo, mas de concreto o que existe é que duas lideranças emergentes poderiam significar a continuidade do partido no poder: Palocci e Dirceu. Este, com certeza, estaria se preparando para o cargo.

Sobre Dirceu vale afirmar que ele foi condenado sem provas, somente através do controvertido Domínio do Fato.

Há uma tese que afirma que todo partido político precisa ter mais de uma liderança importante para que sobreviva, pois quando seu nome mais expressivo morre, há forte tendência de acabar ou se enfraquecer. Foi assim com o PTB de Getúlio e com o PDT de Brizola.

E o fato é que, à maneira do cavaleiro negro, o PT, após perder dois de seus braços, ficou somente com a cabeça chamada Lula. Mas essa cabeça, de alguma forma, ainda conseguira criar um braço chamado Dilma, que lhe possibilitasse continuar na luta por mais alguns anos.

Mas esse braço nem de longe tinha a capacidade de atuar de maneira sincronizada com os estímulos que a cabeça lhe enviava. Era como aquela mão que se voltava contra seu próprio dono em outro filme, Dr. Fantástico, com Peter Sellers.

Mas era o que Lula tinha para o momento.

As forças que lutavam para derrotar o PT criaram toda uma operação midiática com o pretexto de acabar com a corrupção no país, imaginando que Dilma Rousseff fosse ser atingida. Não deu.

A presidenta, para espanto desse consórcio que fora formado para destruir a esquerda, era honesta...

Como a cabeça começou a se utilizar de seu grande poder de articulação (e todo mundo conhece o poder da língua), e como passou a aglutinar forças em torno dela visando as eleições de 2018, foi preciso então trabalhar em duas frentes.

Corta-se o braço e coloca-se uma corda no pescoço da cabeça.

O braço, ao que tudo indica, será inexoravelmente cortado nos próximos 180 dias.

Restará a cabeça Lula que pode a qualquer momento, dentro do estado de exceção em que ora vivemos, sem prova alguma de crimes, ser preso e impedido de disputar as eleições em 2018.

Sem a possibilidade de fazer crescer de forma rápida outro braço, o PT se desmanchará.
Será em cascata.

Senadores, deputados, prefeitos e vereadores se transferirão para outros partidos.

Vários mudarão sua convicção ideológica, afinal, o ser humano é assim mesmo.

Mas outros poderão migrar para outras legendas progressistas como o PcdoB ou o Psol, ou seja, uma pulverização.

De qualquer forma a esquerda sofrerá um baque muito grande.

Fica a esperança de novos braços surgindo, emergindo mesmo da crise, Jandira Feghali, Jean Wyllys, Gleisi Hoffmann e até mesmo Ciro Gomes.

A disposição das forças de direita em rapidamente impor políticas neoliberais que prejudicarão o povo, faz crer que poderá haver muita resistência da população que mais sofrerá com as medidas, porém, já começa a ser demonstrado a que essas forças vêm.

Os estudantes secundaristas estão ocupando escolas públicas e sendo duramente reprimidos pelas Polícias Militares em seus estados.

Em São Paulo, estudantes ocuparam a Assembleia Legislativa exigindo a aprovação da CPI da Merenda e também estão sendo reprimidos pela truculência de deputados da direita como o coronel assassino, Telhada.

E no Senado, a juventude faz uma ocupação na tentativa de impedir o desrespeito à Democracia. Mas será reprimida em breve.

Se a geração que lutou contra a ditadura militar já não tem a mesma força para a luta, os jovens (sempre eles) demonstram que poderá haver resistência.

Porém, o que mais assusta é a disposição da direita em retomar o poder, custe o que custar, inclusive vidas.

E se sonhávamos com uma intervenção do STF para fazer valer a Constituição e acabar com a palhaçada, será melhor acordarmos. Cunha deverá ser afastado da presidência da Câmara para dar alguma satisfação à população e mais nada. Acovardados e comprados.

Nosso futuro próximo será sombrio, já não tenho mais dúvidas.

Nossa esperança se reside na rapaziada.





domingo, 1 de maio de 2016

O que a borra de café revelou sobre o futuro de Dilma e de Temer

Por Fernando Castilho





Se o golpe se concretizar, qual será o futuro de Dilma e de Temer? Qual dos dois, em função de atitudes e comportamentos que adotaram no passado, será agraciado por dias felizes e qual dos dois enfrentará o inferno de ter que conviver com sua consciência até o fim de seus dias? A borra revela.


Tudo indica que, apesar da fantástica e incrivelmente didática defesa que o ministro da AGU, José Eduardo Cardozo fez da presidenta Dilma no Senado, ela deverá ser afastada do governo pois, para a maioria dos senadores o que menos importa é se ela cometeu ou não crime de responsabilidade.

A verdade é que os partidos de direita querem e vão forçar sua volta ao poder no Brasil.

Bem, mas após o golpe o que poderá acontecer a Dilma? E a Temer?

Todos sabem que Dilma Rousseff é uma pessoa com características muito mais técnicas do que políticas. Durante sua passagem pelo Ministério de Minas e Energia mostrou grande competência de gestão. E durante seu exitoso primeiro governo, justamente a acusação que lhe faziam era de que ela era ''gerentona'' e incapaz de compreender que às vezes as coisas não andam devido à entraves que necessitam de negociação política.

Se ela for mesmo derrubada podem haver dois caminhos a seguir.

- Ela se aposenta, cansada da vida pública, dos xingamentos injustos que recebeu durante a abertura da Copa do Mundo (que ela viabilizou com galhardia), das acusações ridículas de crime de responsabilidade e das traições várias ao longo de seus governos e passa a cuidar melhor de sua mãe idosa e a se ocupar de seu neto.

- Ela dá um tempo para descanso, para se recuperar das feridas mas não resistirá a um dos vários convites que certamente receberá para atuar em alguma secretaria tipo Ciência e Tecnologia de algum governo progressista, por exemplo, Minas Gerais. Afinal, ela sai com uma espécie de atestado de idoneidade conferido por ter sua honestidade atravessado incólume todo este período.

Ademais, Dilma é guerreira e não se entrega.

E Temer?

Bem, este pode ter um futuro realmente problemático e difícil de analisar.

O vice-presidente que esteve ao lado de Dilma em todos os programas sociais, criados ou continuados por ela, vê-se agora pressionado pelo consórcio golpista criado somente para derrubá-la e entregar o poder aos seus.

O consórcio, formado pela grande mídia, a oposição de Aécio e Agripino, FIESP e setores do Judiciário já estão apresentando a fatura.

No início foi só o plano ''Uma ponte para o futuro'', que já pregava uma guinada do governo à direita, sinalizando com a supressão de direitos trabalhistas, privatizações e a suspensão ou mesmo cancelamento de programas sociais.

Mas diariamente lemos nos jornais (que parecem exultantes) pressões para privatização do Ensino Médio e universitário, privatizações em massa de estatais, entrega do pré-sal à empresas americanas, saída do Brasil do Brics, revisão das demarcações de terras indígenas, revisão da lei que pune o trabalho escravo, aprovação da terceirização, fim do reajuste automático do salário mínimo e outras medidas terrivelmente impopulares. É a orgia descontrolada de quem ficou celibatário por 14 anos.

Seria a volta do governo FHC com um upgrade. 2.0.

Por enquanto, segundo o Vox Populi, cerca de 14% da população que era a favor do impeachment de Dilma migrou para o outro lado e passou a se posicionar contra o golpe. São os que já tiveram a percepção do que está por vir.

Mas quando o povo que ao longo de 14 anos viu sua vida ser melhorada, descobrir que, de uma hora para outra poderá perder tudo que conquistou, vai sair às ruas juntamente com os que já resistem diariamente ao golpe.

Daí, a coisa que já está feia vai se superlativizar e não há limites para imaginar o que poderá acontecer.

Temer terá que convocar as forças armadas às ruas e a repressão será massiva e violenta.

Mas, por ser ilegítimo e não ter apoio da população, o governo Temer cairá.

Terá então acabado de maneira dramática e talvez trágica a aventura do ex-vice decorativo.

Cunha também não assumiria pois seria defenestrado junto com Temer.

Porém, sobre Cunha paira ainda hoje a possibilidade real de prisão.

O STF pediu ao presidente da Câmara a aprovação do aumento de 70% nos salários que Dilma havia negado. Cunha deixou o aumento para depois do golpe. Portanto, após a votação do impeachment há a possibilidade de ele enfim ser preso.

Com a queda de Temer, assumiria o ministro do STF, Ricardo Lewandowski que teria a missão de convocar eleições num prazo de 3 meses.

Mas depois disso, a borra de café não revelou mais nada.

Todavia, esta borra de café apareceu hoje mas amanhã vai ser outro dia. Hoje você é quem manda falou tá falado...

Amanhã ela vai revelar que no 1° de maio, no dia do Trabalhador, a resistência ao golpe foi tão grande, mas tão grande que assustou os golpistas.

Que o Datafolha estimou o comparecimento em 10 mil pessoas mas a mídia estrangeira falou em milhões pelo Brasil afora.

Que o STF ao constatar tanta gente nas ruas, sentiu-se envergonhado e encorajado afinal, com respaldo do povo, a acabar com a palhaçada e cancelar o processo de impeachment por desrespeito à Constituição.

E que Dilma fez um pronunciamento à Nação, desta vez sem paneleiros, propondo união nacional para solução dos problemas do país, ao lado de seu novo chefe da Casa Civil, Luís Inácio Lula da Silva.




sábado, 30 de abril de 2016

Um divã no Senado, por favor.

Por Fernando Castilho





Fica claríssimo que Janaína é uma militante apaixonada e que nada vai impedi-la de derrubar Dilma. Ainda que a única acusação contra a presidenta fosse passear com seu neto pelo Alvorada, ela toparia a empreitada, com certeza. Afinal, 45 mil reais é uma boa grana.

Depois de assistir à fala da advogada e professora Janaína Paschoal no Senado, fiquei por longo tempo meditando e tentando analisar a personalidade complexa dessa mulher.

Não sou psicólogo nem psiquiatra, motivo pelo qual não há aqui nenhuma tentativa de diagnóstico, deixo claro.

Janaína já tinha dado mostras de descontrole emocional quando de sua fala em frente à Faculdade de Direito da USP em 5 de abril. Como o fato ocorreu logo após a matéria da IstoÉ que vendia a imagem de uma Dilma tresloucada, causando indignação geral, muita gente aliviou com Janaína preferindo caracterizá-la ''apenas'' como fascista, mas nunca como louca. Afinal, há uma ideia injusta e machista de que as mulheres às vezes têm ataques de nervos e perdem o controle.

Janaína no Senado, começa falando dos motivos pelos quais ela tomou a decisão de lutar contra Dilma, Lula e o PT. Isso mesmo, ela está envolvida em uma batalha pessoal.

Tudo teria começado ainda no início do primeiro mandato de Dilma. A presidenta havia revelado em entrevista que seu maior sonho quando criança era ser bailarina mas sentia uma frustração por não ter conseguido realizá-lo.

Janaína então afirma que chorou durante essa entrevista com pena de Dilma. Chegou a escrever-lhe uma carta, que nunca chegou à presidenta por falta de portador.

Com o decorrer do tempo e com um governo que não lhe agradava, Janaína começou a discordar das medidas implantadas por Dilma.

Era então chegada a hora de pesquisar se havia alguma corrupção no governo.

E ela teria ''descoberto'' que Dilma enviava secretamente dinheiro à Cuba e à Venezuela.

Janaína não chega a apresentar nenhuma prova do que afirmou, mas percebe-se claramente que ela sofre (não é diagnóstico, gente) da mesma neurose das pessoas vestidas de verde-amarelo dos protestos.

Janaína disse que na Câmara tomou um chá de cadeira de Cunha, juntamente com o pessoal do MBL, Vem pra Rua e Revoltados online. Percebe-se então por quem ela vem sendo manipulada.

À certa altura ela muda de tom e revela todo o seu ódio para com Dilma. Ela assusta.

Sente-se traída pela presidenta e vai lutar com todas as suas forças para derrubá-la. Afinal, como Dilma ousou trair sua confiança, justamente quem chorou por ela. É evidente que seu ego é muito forte.

Fica então claríssimo que Janaína é uma militante apaixonada e que nada vai impedi-la de derrubar Dilma. Ainda que a única acusação contra a presidenta fosse passear com seu neto pelo Alvorada, ela toparia a empreitada, com certeza.

A advogada revelou que recebeu 45 mil reais (45 é o número do PSDB) para elaborar seu parecer. Neste momento cabe uma reflexão sobre ética profissional.

Os coxinhas dizem não ver nada anormal no fato, pois ela trabalhou e mereceu receber.

Mas não é tão simples assim. Pelo contrário, é muito grave.

Janaína, como todo advogado que se preze, pode ser contratada para dar seu parecer sobre se as pedaladas fiscais podem ou não se configurar em crime de responsabilidade.
Caso chegasse ao crime, poderia seguir em frente e elaborar o parecer.

Não foi o caso. Janaína foi contratada apenas para elaborar um parecer que afirmasse que as pedaladas são crime.

Creio ser falta de ética profissional.

Fora o fato de que o PSDB tem o relator, Anastasia no Senado. Tudo em família.

Ao final de sua explanação, a fala mais patética. Como uma deputada ao declarar seu voto pelo ''sim'', naquele fatídico domingo, ela invocou as criancinhas do Brasil e chorou.

Janaína ainda viria a sofrer um ''golpe'' do senador Randolfe Rodrigues.

Randolfe lhe fez algumas perguntas sobre se determinadas ações configurariam crime de responsabilidade. Ela, após ouvir, respondeu que não havia dúvidas. Seriam mesmo crime de responsabilidade. Randolfe então, placidamente, lhe revelou que estava falando do vice Michel Temer que também assinou decretos na ausência de Dilma.

Mais tarde Janaína viria a afirmar que Temer teria agido à mando de Dilma e que ele não teria culpa. Muito tosco este argumento, não?

Mas vamos falar brevemente sobre Miguel Reale Jr.

Este falou por meia hora e ficou estranho ver que a todo momento assessores do PSDB lhe ajudavam com o texto. Ficou claríssimo que ele não sabia do que se tratava!

Ao final, ouviu sem esboçar reação, do senador Lindbergh, que cometera vários erros no parecer. A expressão do jurista era de uma pessoa distante.

Senadores teriam comentado que ele está senil. Será?

O tucano filiado Reale Jr, segundo Janaína, não cobrou do PSDB pelo parecer.

Por fim, Hélio Bicudo não compareceu. Motivo de saúde?

Sabe-se que Bicudo move-se por rancor contra Lula, conforme afirmou um de seus filhos.

Mas não se descarta também senilidade.

Então, será que o golpe se escora em três figuras que necessitam de ajuda?

Ou será que, como alguns defendem, Janaína se faz passar por louca? Mas qual seria a utilidade disso? Escapa-me a estratégia.

De qualquer forma, a meu ver, pela exposição de Janaína no Senado, caberia uma intervenção do STF por desvio de motivos, uma vez que ao invés de comprovar que as pedaladas fiscais realmente são crime de responsabilidade, ela demonstrou que o que a move é só ódio e vingança.

Vingança por ter sido ''traída'' por Dilma.

Que coisa!





domingo, 24 de abril de 2016

Afinal, assistimos ao fim da corrupção no Brasil?

Por Fernando Castilho





Aquele espetáculo horroroso em que deputados que enfrentam processos na Justiça votaram a favor do impeachment de Dilma não fez com que a maioria das pessoas que queriam a deposição da presidenta mudassem de opinião, o que convenhamos, seria o caminho mais lógico e ético a seguir.

Quando começou a corrupção no Brasil? Agora?

Não, há 516 anos atrás, navegantes aventureiros portugueses aportaram nestas terras e encontraram índios, seres humanos em seu estado mais puro de consciência. Com espelhinhos ficou fácil corrompê-los e fazê-los crer que estavam diante de seres mais desenvolvidos.

Alguns dizem que a corrupção no Brasil deixou de existir durante o regime militar simplesmente porque nenhuma notícia aparecia nos jornais. Mas é justamente por causa da censura que as notícias sobre corrupção, que talvez tenha sido a maior da História, não apareciam nos jornais.

Às vezes acontecia um furo na rígida censura imposta à mídia. Por exemplo, quando um viaduto construído no Rio de Janeiro, obra superfaturada, simpesmente ruiu. A imprensa não noticiou mas a dupla Aldir Blanc e João Bosco tratou de denunciar e eternizar na musica O bêbado e a equilibrista.

Momento semelhante o Brasil viveu no período do governo Fernando Henrique Cardoso, quando o procurador geral da República, Geraldo Brindeiro simplesmente engavetava toda e qualquer denúncia contra o governo FHC.

Candidatos à presidência como Marina Silva se comprometeram a acabar com a corrupção. Seria por decreto? A partir de hoje ninguém mais será corrupto no Brasil!
Para quem acredita, Moisés voltou com uma tábua contendo dez mandamentos que ninguém nunca seguiu.

Os governos Lula e Dilma foram os mais empenhados em combater a corrupção, liberando Ministério Público, Polícia Federal e Procuradoria Geral da União para que investigassem todo e qualquer indício de crime, não podemos negar.

E no resto do mundo a corrupção acontece nos mesmos níveis do Brasil?

Não há dados confiáveis. Há países que minoraram o problema, mas a maioria, e isso é muito importante, mascara os índices exatamente como fez FHC.

Mas a corrupção no Brasil é sistêmica e não adianta querer combatê-la puntualmente.

Assisti a uma palestra em que o professor citava um exemplo.

Um pai e um filho estavam na fila de um brinquedo num parque de diversões.

Se o menino tivesse menos de oito anos, entraria sem pagar.

Então o funcionário perguntou ao pai a idade do menino. Sete!

O menino, corretamente disse ao pai: já tenho oito, pai.

O pai então deu um tapa no filho e disse: quando eu digo que você ainda tem sete anos, é porque tem!

Começa com os pais e passa aos filhos.

Dito isto, já posso afirmar que as pessoas que saíram às ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff são falsas e hipócritas. Nunca se posicionaram realmente contra a corrupção.

Isto é facilmente demonstrado após a votação da Câmara que se posiciomou majoritariamente pelo impeachment.

Aquele espetáculo horroroso em que deputados que enfrentam processos na Justiça votaram a favor do impeachment de Dilma não fez com que a maioria das pessoas que queriam a deposição da presidenta mudassem de opinião, o que convenhamos, seria o caminho mais lógico e ético a seguir.

O fato de Eduardo Cunha, o presidente, bandido comprovado, da Câmara ter conduzido o processo tampouco impressionou essas pessoas.

Além disso, o vice-presidente, Michel Temer, que já se posiciona como mandatário da Nação, descumpre todas as regras mínimas da Ética, o que já revela muito do que pode vir pela frente em seu eventual governo.

Por último, o ex-presidente do STF, Ayres Brito afirmou que o que está acontecendo é uma pausa na Democracia para uma arrumação.


Ao ouvir isso de alguém que chegou lá, chegou ao topo de uma carreira e se aposentou, mas mesmo assim depõe contra a Democracia, percebemos que a corrupção, na verdade, está mais enraizada do que imaginamos. 

sábado, 23 de abril de 2016

A GRANDE DÚVIDA CONSTITUCIONAL DE QUE O SUPREMO FUGIRÁ

Por Wanderley Guilherme dos Santos, em seu blog



Qualquer decisão majoritária seria constitucional. Esta é a mácula do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff: o rito criou o crime a ser punido. Vale? Não devia, pois a verdade de juízos de existência não é matéria plebiscitária. 

Avalio como inoportuna, inviável, e ilegal, exceto se por decisão do Superior Tribunal Eleitoral, a sugestão à esquerda de que reivindique “eleições, já”. Inoportuna porque lançada em meio ao processo decisório, primeiro, do Senado da República, e depois, se for o caso, do Supremo Tribunal Federal; inviável porque a Câmara, os partidos que votaram de forma truculenta a favor do impedimento de Dilma Rousseff, não irão introduzir tal mudança na Constituição; e ilegal porque se trata de mudança na regra do jogo ao fim do segundo tempo. Perder a bandeira da legalidade é presentear os golpistas com o argumento de que não dispõem e buscam desesperadamente forjar: o de que a presidente Dilma comete crime de responsabilidade, atentando contra a letra da Carta Magna. E sem ele não há justa causa para a violência impeditiva.

Tenho escassa esperança de que o Senado, julgando o mérito do pedido de impedimento, aceite o óbvio: por nenhuma evidência atual ou histórica, e até biográfica, a presidente Dilma Rousseff jamais violou ou tentou violar as instituições representativas democráticas. Nada até agora pôs em dúvida esse fato, cuja tonelagem de verdade é brutal. Por declarações de mais de um dos integrantes da partidariamente insuspeita força-tarefa da Lava-Jato, jamais houve tentativas de interferência do Executivo no andamento da investigação. Delações interesseiras, assinadas por tipos que acreditam na clemência do algoz quanto mais fabulam historietas para agradá-lo, transformam conversas cotidianas em conspiratas clandestinas em calabouços do Planalto. Mas a denúncia de conveniência será tratada como pepita pelos impolutos senadores, especialmente porque a acusação de deslize administrativo padece de precária virtude, assentada em ilegalidade não comprovada e anã.

Tampouco acredito no discernimento do Supremo. Em matéria de extenso conflito social, só os ministros autoritários costumam içar bandeiras. Os liberais, como de hábito, se escafedem. Dirão todos, ou a maioria esmagadora deles que o rito foi respeitado e não lhes cabe apreciar o mérito da decisão congressual. O dedo do demônio golpista está precisamente neste detalhe. Pode ser difícil encontrar fissura nos trâmites adotados pelo Presidente da Câmara dos Deputados. E não tenho segurança para julgar se é ilegal um réu de processo no Supremo presidir à votação de um pedido de impedimento da Presidente da República, sendo, ademais de réu ele próprio, declarado inimigo político dela. Mas a lisura do rito tem sido reivindicada, até com obsequiosa cautela, não obstante os espasmos alucinados que a TV registrou.

O atentado ao contrato social básico é outro, de cujo exame o Supremo fugirá como lebre. Cabe a qualquer maioria interpretar como lhe convier a forma de aplicar preceitos constitucionais? O rito pode criar o objeto a que se aplica? Se dois terços da Câmara dos Deputados decidirem que as contas do atual presidente da Casa não são contas e que a Suiça não existe, vale a anistia com que pretendem presenteá-lo? Se valer, para quê serve um Supremo Tribunal? Qualquer decisão majoritária seria constitucional. Esta é a mácula do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff: o rito criou o crime a ser punido. Vale? Não devia, pois a verdade de juízos de existência não é matéria plebiscitária. É matéria jurídica, de lógica e da fé contratual que funda as sociedades. Mas os eminentes ministros vão fingir que ela não existe. A seriedade das instituições republicanas se dilui no despudor de um Legislativo que convive com a propaganda da tortura e na prolixidade capciosa dos tribunais de justiça. A república se esfarela e o amanhã promete ser violento.




terça-feira, 19 de abril de 2016

O timing perfeito do golpe

Por Fernando Castilho





Imagino que para recuperar o controle do país, estabeleceu-se um consórcio que vem atuando como uma máquina muito bem azeitada, com todas as peças bem encaixadas em seus lugares, funcionando num timing até agora perfeito.


Eu imagino se pudessem vazar videoconferências realizadas pelos irmãos Marinho, Otavinho Frias, Fernão Mesquita, Giancarlo Civita, Gilmar Mendes, Sérgio Moro, Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer, Paulo Skaf, Rodrigo Janot et caterva.

Para que o consórcio golpista funcione é necessário que o grupo se reúna regularmente para combinar a estratégia para o golpe em Dilma e o timing para sua aplicação.

Há mais ou menos 190 dias as denúncias contra Eduardo Cunha começaram a surgir.

Foi necessário que as provas de crimes contra ele aparecessem. Afinal ele teria que se sentir acuado para poder agir colocando em votação o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

O procurador geral da República, Rodrigo Janot não agiria e o STF manteria Cunha com uma espada permanentemente sobre sua cabeça. Se pisasse na bola, seria preso. O risco de que ele se insurgisse para fazer uma delação premiada não preocupou o consórcio, afinal Cunha sabia com quem estava lidando. Ele não teria sua pena reduzida e ainda perderia sua grana. Valia a pena arriscar.

Enquanto isso, Moro, juntamente com a Polícia Federal e Ministério Público, trataria de conseguir alguma delação premiada, mínima que fosse para justificar o impeachment.

As prisões de medalhões das empreiteiras durante meses serviriam a tentar extorqui-los para entregar Dilma ou Lula.

Moro tentou como pode, mas não conseguiu. Só obteve delações contra o ex-tesoureiro do PT, Vaccari e alguns efeitos colaterais imprevistos e indesejáveis, como a citação do nome de Aécio. Mas não veio ao caso.

Timing perfeito.

Enquanto isso, a vida do filho de Lula seria devassada e uma busca e apreensão seria feita em sua empresa e apartamento sem surtir resultado.

A posse de um apartamento tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia, seriam atribuídas a Lula, mesmo que ele não tivesse nenhum documento de propriedade e suas palestras pelo mundo afora seriam consideradas crime.

Tudo isso amplamente divulgado durante meses pela grande mídia para distrair a opinião pública enquanto Cunha tratava o mais rápido possível de preparar o golpe contra Dilma.
Todos fomos tolamente distraídos.

Timing perfeito.

Mas Moro, no afã de agradar a seus chefes e mostrar serviço, cometeu o grave erro de conduzir Lula coercitivamente de maneira irregular para depor no aeroporto de Congonhas e de divulgar os grampos de conversas entre o ex-presidente e Dilma. Tomou um pito público de Otavinho Frias através de editorial na Folha.

Após isso, Lula não se fez de intimidado e passou a fazer discursos e a mobilizar os movimentos para a resistência. O consórcio tomou um susto pela consequência do erro de Moro. Estaria o plano em risco e seu timing quebrado?

Então o ministro Teori Zavascki, que não se sabe se faz parte do consórcio golpista, exigiu que a investigação contra Lula fosse tirada das mãos de Moro e fosse entregue ao STF, onde jaz até agora.

Timing perfeito.

Dilma, que até parece que contribui com o timing do golpe, pois demorou demais a substituir o ministro Cardozo no ministério da Justiça, resolveu muito tardiamente convidar Lula a ser ministro chefe da Casa Civil.

Não estava nos planos do consórcio, mas Gilmar Mendes rapidamente se apresentou e impediu a posse. Esta deverá acontecer na próxima quarta-feira (27), já com Dilma impedida pela Câmara.

Vejam só como o timing é mesmo perfeito.

Mas antes do impedimento, Temer tratou de vazar uma gravação em que já assumia a postura de presidente da República. Ele sabia que a mídia não o chamaria de traidor, pelo contrário, o pouparia e divulgaria seus planos para recuperar o governo. Além disso, com a gravação ele não precisou comunicar pessoalmente à presidenta seu golpe, covarde que é.

O ministro Marco Aurélio Mello compareceu ao programa Roda Viva onde, em entrevista, questionou falhas de Moro, não sem antes elogiá-lo. Atuou como uma espécie de limpa-barra do STF. Este não impediria Cunha de levar adiante seu espetáculo deprimente no domingo.

Novas videoconferências devem estar acontecendo agora a todo momento para combinar os próximos passos.

Cunha já trata de articular na Câmara sua anistia e acaba de chantagear o Senado para que vote já o impeachment sob pena de não votar mais nada do governo, que não reconhece mais.

De qualquer forma ele já foi útil para o projeto e pode ser descartado. Não ficaria nem um pouco admirado se Janot nos próximos dias pedir sua prisão junto ao STF.

Moro sumiu das manchetes. Não conseguiu prender Dilma nem Lula, mas já cumpriu seu papel enquanto juiz de primeira instância. Assim, esquecido pela mídia, soltará aos poucos os empreiteiros e esvaziará a Lava Jato, talvez sem que percebamos. Acho que Cunha e Moro já nem participam mais das reuniões.

As manifestações pela Democracia em todo o país demonstraram aos golpistas que há a possibilidade de reação.

Além disso, muita gente, ao assistir à votação de domingo, ficou indignada por não ouvir menção das tais pedaladas fiscais nos arrazoados dos deputados.

A repercussão na mídia internacional foi extremamente negativa e o país se tornou motivo de chacota.

Muita gente agora começa a perceber que a chapa Temer-Cunha não leva o Brasil a nenhuma situação melhor que a atual. Muito pelo contrário.

Temer já é pressionado a aumentar impostos, entregar o pré-sal às empresas estrangeiras e, a cereja do bolo, criar a CPMF, que Dilma não pode criar.

O processo de impeachment já foi enviado ao Senado onde, se o povo não aumentar a pressão, Dilma certamente sairá impedida e a Democracia novamente golpeada.

Por isso, é imprescindível que as forças democráticas consigam aliados entre aqueles que agora se sentem enganados pelo consórcio e ampliem dia a dia as manifestações até tomar todo o país.

Não há outra saída.