Imagino
que para recuperar o controle do país, estabeleceu-se um consórcio
que vem atuando como uma máquina muito bem azeitada, com todas as
peças bem encaixadas em seus lugares, funcionando num timing até
agora perfeito.
Eu
imagino se pudessem vazar videoconferências realizadas pelos irmãos
Marinho, Otavinho Frias, Fernão Mesquita, Giancarlo Civita, Gilmar
Mendes, Sérgio Moro, Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer, Paulo Skaf, Rodrigo Janot et caterva.
Para
que o consórcio golpista funcione é necessário que o grupo se
reúna regularmente para combinar a estratégia para o golpe em Dilma
e o timing para sua aplicação.
Há
mais ou menos 190 dias as denúncias contra Eduardo Cunha começaram
a surgir.
Foi
necessário que as provas de crimes contra ele aparecessem. Afinal
ele teria que se sentir acuado para poder agir colocando em votação
o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.
O
procurador geral da República, Rodrigo Janot não agiria e o STF
manteria Cunha com uma espada permanentemente sobre sua cabeça. Se
pisasse na bola, seria preso. O risco de que ele se insurgisse para
fazer uma delação premiada não preocupou o consórcio, afinal
Cunha sabia com quem estava lidando. Ele não teria sua pena reduzida
e ainda perderia sua grana. Valia a pena arriscar.
Enquanto
isso, Moro, juntamente com a Polícia Federal e Ministério Público, trataria de conseguir alguma delação premiada, mínima
que fosse para justificar o impeachment.
As
prisões de medalhões das empreiteiras durante meses serviriam a
tentar extorqui-los para entregar Dilma ou Lula.
Moro
tentou como pode, mas não conseguiu. Só obteve delações contra o
ex-tesoureiro do PT, Vaccari e alguns efeitos colaterais imprevistos e
indesejáveis, como a citação do nome de Aécio. Mas não veio ao
caso.
Timing
perfeito.
Enquanto
isso, a vida do filho de Lula seria devassada e uma busca e apreensão
seria feita em sua empresa e apartamento sem surtir resultado.
A
posse de um apartamento tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia,
seriam atribuídas a Lula, mesmo que ele não tivesse nenhum
documento de propriedade e suas palestras pelo mundo afora seriam
consideradas crime.
Tudo
isso amplamente divulgado durante meses pela grande mídia para
distrair a opinião pública enquanto Cunha tratava o mais rápido
possível de preparar o golpe contra Dilma.
Todos
fomos tolamente distraídos.
Timing
perfeito.
Mas
Moro, no afã de agradar a seus chefes e mostrar serviço, cometeu o
grave erro de conduzir Lula coercitivamente de maneira irregular para
depor no aeroporto de Congonhas e de divulgar os grampos de conversas
entre o ex-presidente e Dilma. Tomou um pito público de Otavinho
Frias através de editorial na Folha.
Após
isso, Lula não se fez de intimidado e passou a fazer discursos e a
mobilizar os movimentos para a resistência. O consórcio tomou um
susto pela consequência do erro de Moro. Estaria o plano em risco e
seu timing quebrado?
Então
o ministro Teori Zavascki, que não se sabe se faz parte do consórcio
golpista, exigiu que a investigação contra Lula fosse tirada das
mãos de Moro e fosse entregue ao STF, onde jaz até agora.
Timing
perfeito.
Dilma,
que até parece que contribui com o timing do golpe, pois demorou
demais a substituir o ministro Cardozo no ministério da Justiça,
resolveu muito tardiamente convidar Lula a ser ministro chefe da Casa
Civil.
Não
estava nos planos do consórcio, mas Gilmar Mendes rapidamente se
apresentou e impediu a posse. Esta deverá acontecer na próxima
quarta-feira (27), já com Dilma impedida pela Câmara.
Vejam
só como o timing é mesmo perfeito.
Mas
antes do impedimento, Temer tratou de vazar uma gravação em que já
assumia a postura de presidente da República. Ele sabia que a mídia
não o chamaria de traidor, pelo contrário, o pouparia e divulgaria
seus planos para recuperar o governo. Além disso, com a gravação
ele não precisou comunicar pessoalmente à presidenta seu golpe,
covarde que é.
O
ministro Marco Aurélio Mello compareceu ao programa Roda Viva onde,
em entrevista, questionou falhas de Moro, não sem antes elogiá-lo.
Atuou como uma espécie de limpa-barra do STF. Este não impediria
Cunha de levar adiante seu espetáculo deprimente no domingo.
Novas
videoconferências devem estar acontecendo agora a todo momento para
combinar os próximos passos.
Cunha
já trata de articular na Câmara sua anistia e acaba de chantagear o
Senado para que vote já o impeachment sob pena de não votar mais
nada do governo, que não reconhece mais.
De
qualquer forma ele já foi útil para o projeto e pode ser
descartado. Não ficaria nem um pouco admirado se Janot nos próximos
dias pedir sua prisão junto ao STF.
Moro
sumiu das manchetes. Não conseguiu prender Dilma nem Lula, mas já
cumpriu seu papel enquanto juiz de primeira instância. Assim,
esquecido pela mídia, soltará aos poucos os empreiteiros e
esvaziará a Lava Jato, talvez sem que percebamos. Acho que Cunha e
Moro já nem participam mais das reuniões.
As
manifestações pela Democracia em todo o país demonstraram aos
golpistas que há a possibilidade de reação.
Além
disso, muita gente, ao assistir à votação de domingo, ficou
indignada por não ouvir menção das tais pedaladas fiscais nos
arrazoados dos deputados.
A
repercussão na mídia internacional foi extremamente negativa e o
país se tornou motivo de chacota.
Muita
gente agora começa a perceber que a chapa Temer-Cunha não leva o
Brasil a nenhuma situação melhor que a atual. Muito pelo contrário.
Temer
já é pressionado a aumentar impostos, entregar o pré-sal às
empresas estrangeiras e, a cereja do bolo, criar a CPMF, que Dilma
não pode criar.
O
processo de impeachment já foi enviado ao Senado onde, se o povo não
aumentar a pressão, Dilma certamente sairá impedida e a Democracia
novamente golpeada.
Por
isso, é imprescindível que as forças democráticas consigam aliados
entre aqueles que agora se sentem enganados pelo consórcio e ampliem
dia a dia as manifestações até tomar todo o país.
Não
há outra saída.
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