terça-feira, 19 de abril de 2016

O timing perfeito do golpe

Por Fernando Castilho





Imagino que para recuperar o controle do país, estabeleceu-se um consórcio que vem atuando como uma máquina muito bem azeitada, com todas as peças bem encaixadas em seus lugares, funcionando num timing até agora perfeito.


Eu imagino se pudessem vazar videoconferências realizadas pelos irmãos Marinho, Otavinho Frias, Fernão Mesquita, Giancarlo Civita, Gilmar Mendes, Sérgio Moro, Aécio Neves, Eduardo Cunha, Michel Temer, Paulo Skaf, Rodrigo Janot et caterva.

Para que o consórcio golpista funcione é necessário que o grupo se reúna regularmente para combinar a estratégia para o golpe em Dilma e o timing para sua aplicação.

Há mais ou menos 190 dias as denúncias contra Eduardo Cunha começaram a surgir.

Foi necessário que as provas de crimes contra ele aparecessem. Afinal ele teria que se sentir acuado para poder agir colocando em votação o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

O procurador geral da República, Rodrigo Janot não agiria e o STF manteria Cunha com uma espada permanentemente sobre sua cabeça. Se pisasse na bola, seria preso. O risco de que ele se insurgisse para fazer uma delação premiada não preocupou o consórcio, afinal Cunha sabia com quem estava lidando. Ele não teria sua pena reduzida e ainda perderia sua grana. Valia a pena arriscar.

Enquanto isso, Moro, juntamente com a Polícia Federal e Ministério Público, trataria de conseguir alguma delação premiada, mínima que fosse para justificar o impeachment.

As prisões de medalhões das empreiteiras durante meses serviriam a tentar extorqui-los para entregar Dilma ou Lula.

Moro tentou como pode, mas não conseguiu. Só obteve delações contra o ex-tesoureiro do PT, Vaccari e alguns efeitos colaterais imprevistos e indesejáveis, como a citação do nome de Aécio. Mas não veio ao caso.

Timing perfeito.

Enquanto isso, a vida do filho de Lula seria devassada e uma busca e apreensão seria feita em sua empresa e apartamento sem surtir resultado.

A posse de um apartamento tríplex no Guarujá e um sítio em Atibaia, seriam atribuídas a Lula, mesmo que ele não tivesse nenhum documento de propriedade e suas palestras pelo mundo afora seriam consideradas crime.

Tudo isso amplamente divulgado durante meses pela grande mídia para distrair a opinião pública enquanto Cunha tratava o mais rápido possível de preparar o golpe contra Dilma.
Todos fomos tolamente distraídos.

Timing perfeito.

Mas Moro, no afã de agradar a seus chefes e mostrar serviço, cometeu o grave erro de conduzir Lula coercitivamente de maneira irregular para depor no aeroporto de Congonhas e de divulgar os grampos de conversas entre o ex-presidente e Dilma. Tomou um pito público de Otavinho Frias através de editorial na Folha.

Após isso, Lula não se fez de intimidado e passou a fazer discursos e a mobilizar os movimentos para a resistência. O consórcio tomou um susto pela consequência do erro de Moro. Estaria o plano em risco e seu timing quebrado?

Então o ministro Teori Zavascki, que não se sabe se faz parte do consórcio golpista, exigiu que a investigação contra Lula fosse tirada das mãos de Moro e fosse entregue ao STF, onde jaz até agora.

Timing perfeito.

Dilma, que até parece que contribui com o timing do golpe, pois demorou demais a substituir o ministro Cardozo no ministério da Justiça, resolveu muito tardiamente convidar Lula a ser ministro chefe da Casa Civil.

Não estava nos planos do consórcio, mas Gilmar Mendes rapidamente se apresentou e impediu a posse. Esta deverá acontecer na próxima quarta-feira (27), já com Dilma impedida pela Câmara.

Vejam só como o timing é mesmo perfeito.

Mas antes do impedimento, Temer tratou de vazar uma gravação em que já assumia a postura de presidente da República. Ele sabia que a mídia não o chamaria de traidor, pelo contrário, o pouparia e divulgaria seus planos para recuperar o governo. Além disso, com a gravação ele não precisou comunicar pessoalmente à presidenta seu golpe, covarde que é.

O ministro Marco Aurélio Mello compareceu ao programa Roda Viva onde, em entrevista, questionou falhas de Moro, não sem antes elogiá-lo. Atuou como uma espécie de limpa-barra do STF. Este não impediria Cunha de levar adiante seu espetáculo deprimente no domingo.

Novas videoconferências devem estar acontecendo agora a todo momento para combinar os próximos passos.

Cunha já trata de articular na Câmara sua anistia e acaba de chantagear o Senado para que vote já o impeachment sob pena de não votar mais nada do governo, que não reconhece mais.

De qualquer forma ele já foi útil para o projeto e pode ser descartado. Não ficaria nem um pouco admirado se Janot nos próximos dias pedir sua prisão junto ao STF.

Moro sumiu das manchetes. Não conseguiu prender Dilma nem Lula, mas já cumpriu seu papel enquanto juiz de primeira instância. Assim, esquecido pela mídia, soltará aos poucos os empreiteiros e esvaziará a Lava Jato, talvez sem que percebamos. Acho que Cunha e Moro já nem participam mais das reuniões.

As manifestações pela Democracia em todo o país demonstraram aos golpistas que há a possibilidade de reação.

Além disso, muita gente, ao assistir à votação de domingo, ficou indignada por não ouvir menção das tais pedaladas fiscais nos arrazoados dos deputados.

A repercussão na mídia internacional foi extremamente negativa e o país se tornou motivo de chacota.

Muita gente agora começa a perceber que a chapa Temer-Cunha não leva o Brasil a nenhuma situação melhor que a atual. Muito pelo contrário.

Temer já é pressionado a aumentar impostos, entregar o pré-sal às empresas estrangeiras e, a cereja do bolo, criar a CPMF, que Dilma não pode criar.

O processo de impeachment já foi enviado ao Senado onde, se o povo não aumentar a pressão, Dilma certamente sairá impedida e a Democracia novamente golpeada.

Por isso, é imprescindível que as forças democráticas consigam aliados entre aqueles que agora se sentem enganados pelo consórcio e ampliem dia a dia as manifestações até tomar todo o país.

Não há outra saída.


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