sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Get Back, o filme (episódio 2) - The smiles returning to their faces

Por Fernando Castilho



As lágrimas vieram aos olhos de Paul. “Restaram só dois”


Bem amigos, continuando a análise de Get Back, vamos ao segundo episódio.

No episódio anterior George havia deixado o grupo na sexta-feira. Os três Beatles restantes demonstraram sua preocupação com o fato e, é claro, Paul havia sido o principal responsável por isso.

Houve uma reunião no domingo, mas nada ficou resolvido.

Na segunda-feira encontramos a equipe com Ringo, Paul e Linda. Todos cabisbaixos.

Ninguém conseguiu falar com John Lennon que estava o tempo todo com seu telefone ocupado.

Paul acha que John está curtindo mais Yoko do que os Beatles e ele não o censura por isso. “Vai ser divertido ver daqui a 50 anos disserem que Yoko sentava no amplificador”.

As lágrimas vieram aos olhos de Paul. “Restaram só dois”.

Interessante que após a morte de John e George, hoje só restaram dois.

Lá pela hora do almoço Lennon chega.

Não se sabe quem colocou um microfone num vaso de flores para gravar a conversa entre Paul e John, uma indiscrição.

John reclama do tratamento autoritário que Paul dispensa a George. Ele reconhece. Há acusações e muita roupa suja sendo lavada, mas no fim, eles se acertam, pois há muito amor envolvido. Decidem ir os três à casa de George.

Agora estão nos estúdios da Apple em Londres e isso faz toda a diferença. Lá é menos frio, o astral melhora e eles tocam músicas antigas suas e de seus ídolos, enquanto que o engenheiro de som, Glyn Johns acerta as mixagens.

No episódio anterior George havia manifestado sua preocupação com o show ao vivo durante o qual os Beatles gravariam seu próximo álbum. Seria ao vivo, mas se Paul tocasse baixo, quem tocaria os teclados?

George relembrou ao grupo que eles conheceram um cara que tocava com Little Richard em Hamburgo e que integrava o grupo de Ray Charles, mas que ele considerava melhor que o mestre: Billy Preston.

Por incrível que pareça, Billy apareceu no estúdio alguns dias depois e foi recebido de maneira esfuziante. Os Beatles sempre demonstraram humildade diante de seus ídolos. Apesar de estarem no topo, não se colocavam acima de outros.

Billy, convidado por John, logo sentou-se ao teclado e sua maneira de tocar, sua facilidade em “pegar” as músicas deixou todos muito animados. Foi uma verdadeira injeção de alegria em todos. E ele estaria no álbum.

Os sorrisos voltaram às faces dos Beatles e agora estava tudo bem entre eles.

Aqueles esboços confusos de músicas e letras do primeiro episódio agora tomavam corpo e os Beatles começaram a sentir outras possibilidades com a presença de Billy Preston.

O diretor Michael Lindsay-Hogg ainda insistia quase todos os dias em fazer um show grandioso fora da Inglaterra, mas ninguém se empolgava com a ideia.

George, talvez estimulado pela sua sugestão que deu muito certo, começou a mostrar suas músicas agora mais elaboradas. John, como sempre, aproveitou para brincar com ele sobre I Me Mine, que seria uma valsa. Mas foi justamente George que havia dito que a inspiração fora de um filme que tinha visto na TV em que as pessoas dançavam nesse ritmo.

Os Beatles tinham muito disso. Viam notícias nos jornais, assistiam a filmes e já vinha a inspiração para as letras.

Se alguém ainda acha que Yoko atrapalhou as gravações, deveria ter visto Heather, a filha de Linda. Ela detonou o estúdio sem que qualquer um interferisse.

Foi nesse episódio que Paul demonstrou todo seu virtuosismo e sua fonte inesgotável de canções da mais alta qualidade, como Let it Be e The Long and Winding Road. Fica claro que ninguém mais conseguia acompanhá-lo.

John Lennon já não era a metade do homem que costumava ser. Isto é, de relapso e preguiçoso, se tornou um beatle de novo e um dos mais entusiasmados.

Glyn caprichava nas gravações piloto enquanto que George Martin se mantinha discreto, à distância. Certamente ele não foi aproveitado no álbum Let it Be.

É nesse clima de volta dos Beatles aos velhos tempos que termina o segundo episódio.

Aguardem a análise e opinião do terceiro e último.





quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O golpe, com o Supremo, com Barroso, com tudo

Por Fernando Castilho



Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período

Domingo, 17 de abril de 2016, um dos dias mais vergonhosos da história do Brasil.

Foi nesse dia que a Câmara, abarrotada de deputados, votou o impeachment de Dilma Rousseff.

Vimos com indignação e horror, parlamentares citarem a família, a esposa, os filhos, o cachorro, o papagaio para darem seus votos a favor da derrubada da presidenta.

Não faltou, claro, o voto do então deputado Jair Bolsonaro que prestou homenagem ao maior torturador do país, aquele mesmo que torturou Dilma barbaramente, o coronel Brilhante Ustra.

Voltando mais ainda no passado, uma conversa telefônica gravada do então senador Romero Jucá com um empresário expunha como as coisas eram tramadas nas sombras. Jucá afirmava que era preciso tirar Dilma e por Temer. Que era preciso estancar a sangria. Que tinha que ser com o Supremo, com tudo, embora poupasse o então ministro Teori Zavascki que, segundo ele, não compactuaria do golpe.

Ou seja, o ministro Luís Roberto Barroso, indicado pela própria Dilma, estaria no bolso do colete de Jucá.

Quem acompanhou todo o processo que começou bem lá atrás em 2013 quando inicialmente pessoas ligadas ao Movimento Passe Livre saíram às ruas para protestar contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus e metrô em São Paulo. O movimento cresceu, impulsionado pela mídia e tomou as ruas de todo o Brasil. Agora não seria mais o preço das passagens, mas um descontentamento com a presidenta que viu sua aprovação cair de 60 para 30% em apenas um mês.

A partir daquele ano, os ataques contra Dilma começaram a aumentar e tornaram sua reeleição bem mais difícil do que se pensava.

Uma vez reeleita, Dilma viu não só aumentarem os ataques, mas também os boicotes a sua administração. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha trabalho para que nenhum projeto fosse aprovado, amarrando as mãos do governo e criando o clima favorável para o impeachment.

Dilma seria defenestrada pelo poder devido a um crime de responsabilidade inventado de última hora, as tais pedaladas fiscais que não significaram apropriação indébita de recursos, ou seja, sem corrupção.

Mas o que deputados e senadores queriam de fato era espaço para corrupção, já que Dilma fechara as comportas do dinheiro ilegal.

Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período.

Agora a Folha de São Paulo publicou um artigo que reaviva aqueles tempos.

O ministro Barroso resolveu escrever um artigo para a revista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) em que defende que o motivo real para o impeachment não foram as pedaladas, mas sim, a falta de apoio político.

“Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas, sim, foi afastada por falta de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que seguiu seria uma ironia da história”.

Em artigo publicado em 2019 no livro Estado, Democracia e Direito no Brasil, Barroso já tinha defendido essa mesma tese. 

Ora, se não houve crime de responsabilidade nem corrupção, houve motivo razoável para o impeachment? Por que essa gente insiste em não usar o termo “golpe”? Pior, ele sustenta que não houve golpe!

Essa reflexão de Barroso acontece somente agora porque só agora ele tem um termo de comparação com Jair Bolsonaro, perto de quem, Dilma é uma madre Tereza?

Ou Barroso já tinha essa opinião em 2016, mas guardou para si, mesmo tendo sido indicado por Dilma?

Ele não poderia pelo menos declarar que não havia crime de responsabilidade?

Realmente Romero Jucá tinha razão. O golpe seria com o Supremo, com tudo.

Com cinismo, com tudo.

 


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

O horror, o horror, o horror!

Por Marcos Bagno



É no Congo que se desenvolve a trama do romance “The Heart of Darkness” ("O Coração das Trevas", 1899), de Joseph Conrad (1857-1924), no qual aparece a exclamação tantas vezes citada: “O horror, o horror, o horror!”. 

Entre 1885 e 1908, o que é hoje a República Democrática do Congo (RDC) foi propriedade pessoal do rei Leopoldo II da Bélgica (1835-1909). Durante esse período, e para explorar ao máximo as enormes riquezas do país, especialmente o marfim e a borracha, os belgas (e outros europeus) cometeram atrocidades que deixariam com inveja muitos carrascos nazistas: trabalhos forçados, tortura, amputação de membros de crianças, mulheres e homens que não alcançassem as impossíveis cotas estabelecidas pelos exploradores, envenenamento, assassinatos em massa. As cifras variam, mas os cálculos de historiadores atuais giram em torno dos 10.000.000 de pessoas mortas naquele período. O horror! O horror! O horror! 

Em 1960, a RDC se tornou independente, mas a manipulação da política local pelos belgas não se interrompeu: o primeiro chefe de governo do país, Patrice Lumumba (1925-1961), de ideias progressistas e nacionalistas, foi deposto e assassinado sob supervisão belga e com o patrocínio dos Estados Unidos. 

O controle do país foi parar nas mãos de Mobutu Sese Seko (1930-1997), que mudou o nome do país para Zaire e implantou uma ditadura que durou de 1965 a 1997, durante a qual acumulou uma fortuna de dezenas de bilhões de dólares (devidamente depositados na "neutra" Suíça). 

A RDC abriga imensas reservas minerais: tem a maior reserva mundial de cobalto, além de grandes jazidas de cobre e diamantes. A exploração dessas riquezas tem sido, desde sempre, a causa principal do horror, horror, horror de que a população congolesa é vítima há séculos (foi do Congo que vieram muitos milhares das pessoas escravizadas que os portugueses trouxeram para o Brasil). 

Um país riquíssimo, mas que ocupa a posição 175 de 189 no índice de desenvolvimento humano. Diversos conflitos ocorridos desde 1997 já provocaram a morte de mais de 5.000.000 de pessoas, numa guerra em que o estupro das mulheres tem sido uma das principais armas empregadas. 

Na RDC existe um exército de crianças-soldados, algo como 30.000. Nossos telefones celulares e outos aparelhos ultramodernos têm componentes que são frutos diretos dessa imensa tragédia humanitária, um holocausto ininterrupto, sobre o qual Hollywood até o momento não produziu nenhum filme, já que nenhum congolês é dono de estúdio e a exploração dos minerais é de primordial interesse das maiores empresas do mundo, que produzem alta tecnologia ao custo de vidas humanas. 

Se tem sido possível falar de “diamantes de sangue” quando as pedras preciosas são extraídas de países em guerra (Angola, Serra Leoa, Libéria etc.), também é possível falar dos “chips de sangue”, produzidos pela máquina de guerra congolesa, posta em marcha pelo capitalismo globalizado (50% das exportações de minério da RDC vão para a China). 

Leia-se o livro “Les minerais de sang: les esclaves du monde moderne” ("Os minerais de sangue: os escravos do mundo moderno, 2014) de Christopher Boltanski, um relato sobre a exploração da cassiterita, indispensável para a produção de telefones, rádios, televisores etc. É desse cenário de horror que centenas de milhares de pessoas como Moïse Mungenyi Kabamgabe e sua família têm fugido. 

Mas como encontrar abrigo num país igualmente trágico, marcado por séculos de atrocidades e genocídios, uma sociedade entranhadamente racista, em que 77% das pessoas assassinadas em 2021 são negras, assim como 67% das mulheres mortas também são negras? O quinto país em número de feminicídios, o primeiro em número de assassinatos de homossexuais e pessoas trans? 

Num país desgovernado pelo que pode haver de mais abjeto, corrupto, desprezível, ignorante e brutal na espécie humana? Que tipo de refúgio pode oferecer o Brasil, especialmente a Barra da Tijuca, a pessoas negras que tentam escapar da guerra e da violência? O horror, o horror, o horror!

 

Marcos Bagno é escritor


Get Back, o filme (episódio 1)

Por Fernando Castilho



Bem, terminei de assistir a Get Back dos Beatles e resolvi escrever aqui o que achei do episódio 1. Mais tarde escreverei sobre os demais.

Alerto que é inevitável que haja spoilers, pois sem eles seria impossível escrever uma análise e opinião.

Não poderia ter sido escolhido título melhor. Voltar àquela época, uma viagem no tempo há 53 anos atrás é uma experiência única. Ainda mais com som perfeito e imagens que parece que foram gravadas agora (aliás, o concerto no rooftop foi convertido para 4K!). O resultado são 3 episódios que somam cerca de sete horas e meia de duração.

Ver os quatro de Liverpool no convívio do trabalho, da criação, da arte, é algo maravilhoso e serve muito para as gerações que não viveram a época, verem como as coisas aconteciam analogicamente, sem os requintes de uma tecnologia avançada como a de hoje.

Peter Jackson, o diretor do filme teve um trabalhão para escolher as cenas que mais representassem o ânimo do quarteto em 1969, entre 56 horas de imagens e 150 de áudios, mas o resultado foi excelente, embora haja trechos sem grande importância que poderiam ter sido excluídos.

No primeiro episódio fica bem claro que os Beatles não estavam a fim de produzirem nada naquele momento. Talvez a exceção fosse Paul McCartney que já demonstrava estar se tornando o workaholic que conhecemos hoje, mesmo aos 79 anos.

O diretor Michael Lindsay-Hogg, responsável pelo filme Let It Be (uma edição baixo astral que mostrava os Beatles se desentendendo o tempo todo) que aproveita cenas das muitas horas de fitas que resultaram em Get Back, tinha como meta original gravar um show ao vivo (hoje seria um DVD) em um local remoto no Saara para onde seriam levadas muitas pessoas em um navio e depois, sabe-se lá como) para servir de público. Uma loucura.

O fato é que o quarteto precisava compor e gravar músicas suficientes para um álbum em apenas três semanas. Ringo tinha compromisso para estrelar o filme The Magic Christian (que aqui se chamou Um Beatle no Paraíso), junto com Peter Sellers. George não estava a fim de se apresentar e John parecia absorto em outras coisas. Mas durante todo esse primeiro episódio Michael Lindsay-Hogg insiste num show distante da Inglaterra.

O estúdio para compor as músicas era o de Twickenham, um grande galpão sem nenhuma mobília localizado em uma área muito fria de Londres, o que influenciava o humor dos quatro.

Foi justamente em Twickenham que Paul teve uma discussão com George em que até a separação do grupo foi cogitada. Paul queria que George tocasse de uma certa forma e este parecia não estar conseguindo. John e Ringo permaneceram inertes só observando. Aliás, o tempo todo Ringo fica solitário em sua bateria só observando os movimento dos companheiros e tocando sua bateria.

Paul ficava irritado porque John sempre chegava muito atrasado, visivelmente anulado pela heroína da noite anterior, o que comprometia o prazo exíguo.

Não achei que a presença de Yoko, sempre junto a Lennon, fosse algo que atrapalhasse ou determinante para o mau humor ou constrangimento dos demais. Ela fica quieta e não dá palpite nenhum. Acho que houve muita injustiça com ela. Peter Jackson também acha.

Um belo dia acontece uma mágica. Paul chega antes dos outros e começa a tocar sua guitarra com um esboço muito cru de uma possível música. A ele se juntam um George bocejante e Ringo.

Aos poucos surge o embrião do que viria a ser Get Back. Note-se que George e Ringo percebem isso e se juntam a Paul nos instrumentos.

Reparei em algo que me chamou muito a atenção. John já tinha as linhas gerais de Gimme Some Truth que só seria lançada no álbum Imagine com crédito só para ele. Mas o que se vê é Paul ajudando John, inclusive na letra. Deveria ser Lennon/McCartney.

George estava sempre irritado. Talvez porque suas composições não emplacassem. Mas o que percebi é que, ao contrário de Lennon/McCartney, que traziam composições já mais ou menos delineadas, Harrison trazia suas músicas ainda cruas demais. É por isso que John brinca com ele sobre a letra de Something (atracts me like a cauliflower). All Things Must Pass não tinha nada a ver com o grande sucesso que integrou o álbum de mesmo nome.

Aliás, é meio estranho ver George tentando convencer os demais que ele já conseguia tocar tão bem quanto Eric Clapton. Este ainda seria melhor que ele pela sua capacidade de improvisação, mas mesmo isso seria fruto de padrões já desenvolvidos e estabelecidos. Os outros só olharam.

Os demais brincavam com George pelo fato de ter agredido um fotógrafo. Não esperava isso dele.

Também se nota que os Beatles gostavam muito de tocar composições de outros autores como Chuck Berry e Carl Perkins, além de músicas antigas de Lennon/McCartney que nunca foram aproveitadas.

O fato é que o estúdio de Twickenham quase foi responsável pelo fim mais precoce ainda da banda. Lá quase nada deu certo.

George sai do grupo, Ringo não se manifesta, John está anulado e Paul tenta puxar a banda para trabalhar.

Assim termina o episódio 1.

Aguardem a análise e a opinião sobre os demais episódios.




Sergio Moro e a verdade sobre os processos de Lula

Por Cristiano Zanin Martins e Valeska T. Z. Martins



O ex-juiz, ex-ministro, ex-consultor e atual pré-candidato Sergio Moro (Podemos) tem feito afirmações em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que achamos importante corrigir para restabelecer a verdade sobre os julgamentos de Lula nos quais Moro atuou.

O ex-juiz tem dito que os processos foram anulados por questões meramente processuais. Não é verdade. A incompetência da 13º Vara Federal de Curitiba é questão processual, para qual Moro foi alertado pela defesa desde sua primeira manifestação, em 2016. Mas a declaração de suspeição de Moro significa que os processos não foram justos e que houve violação de um elemento estruturante da própria Justiça.

As condenações de Lula não estão “confirmadas” pelo TRF-4 e STJ, como tem dito Moro. Esses julgamentos também foram anulados por sua atuação durante a tramitação na primeira instância, inclusive na sua fase de coleta de provas.

O ex-ministro também tem dito que Lula não foi “inocentado”. É uma afirmação que desrespeita a Constituição, que considera todos inocentes a menos que haja condenação transitada e julgada. Não existindo acusação válida Lula é inocente, não cabendo a Moro ou a terceiros “inocentá-lo”.

O ex-consultor também iniciou campanha para que Lula “abra as suas contas” e suas palestras. Em 2016, Moro, ostensivamente e de forma ilegal, quebrou o sigilo de Lula e seus familiares, além de ordenar busca e apreensão em suas residências. Esse material foi analisado pela Lava Jato, operação do Ministério Público que Moro, confirmando a parcialidade, gosta de dizer que “comandou”. Depois de mais de quatro anos de análise, a Polícia Federal concluiu que as palestras aconteceram, foram legais e não tiveram irregularidades. Moro sabe disso e finge não saber. Ou está com amnésia.

Moro também tem cobrado ” explicações” sobre casos onde a defesa apresentou provas documentais de inocência, todas elas ignoradas. Entre elas, um documento da empresa Alvarez & Marsal, atestando a propriedade da OAS do célebre “tríplex”. Moro não explica porque ignorou esse documento ou a garantia fiduciária da OAS em operação financeira à qual estava vinculado o valor do imóvel, nem conceitos como “ato de ofício indeterminado” ou a base legal para grampear advogados e vazar escutas ilegais.

O pré-candidato tem pedido também explicações sobre valores devolvidos por delatores, como se tais fatos não tivessem sido objeto de investigação e análise da Justiça, e Lula absolvido da acusação de envolvimento em desvios da Petrobras em processo já encerrado na Justiça Federal em Brasília.

Por fim, o ex-juiz diz que as mensagens que acessamos nos arquivos oficiais da Operação Spoofing não teriam comprovação nem revelariam provas de inocência. O material foi obtido por operação da PF quando ele próprio era ministro da Justiça e contém diálogos, dados, detalhes e documentação checados por jornalistas, advogados e peritos.

No caso do ex-presidente Lula revelam não apenas conluio de juiz e promotores para um julgamento parcial e farsesco, com ciência de que não tinham materialidade ou provas para uma denúncia, como uma aliança do juiz e acusação contra a defesa do réu na mídia, na seleção de procuradores nas audiências e nas estratégias do julgamento. Mais que isso: a título de exemplo, citamos um caso em que o procurador da República Athayde Ribeiro Costa discute com Deltan Dallagnol a ocultação de interceptação telefônica da funcionária da OAS Mariuza Aparecida Marques. Escreve o procurador: ” O diálogo pode encaixar na tese do Lula de que não quis o apartamento. Pode ser ruim para nós”.

Os procuradores não sumiram apenas com essa frase. Não há, no processo, autorização ou registro de tal interceptação. O que indica que ou os procuradores fizeram um grampo ilegal que seria depois “esquentado” ou, ao menos, que foi ocultada uma prova favorável à defesa do ex-presidente Lula.

É um caso claro de embuste processual que Moro diz não existir. Assim como já disse que jamais entraria na política e que não teria animosidade pessoal nem política contra Lula.


Cristiano Zanin Martins e Valeska T. Z. Martins – Advogados, cofundadores do Lawfare Institute e integrantes da defesa técnica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

 


terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Globo já joga com a hipótese Lula?

Por Fernando Castilho


"Se a terceira via não conseguir se organizar, como tudo indica, Bolsonaro irá para o segundo turno perder para Lula. Mesmo porque, não há candidato na oposição que empolgue o eleitorado."


"Tudo parece se encaminhar para uma vitória do ex-presidente Lula na eleição presidencial de outubro, a não ser que o inesperado faça uma surpresa, como cantava Johnny Alf. Nem tão inesperada assim seria uma desistência de Bolsonaro, prevendo a derrota certa e sem chance de tornar-se, como Trump nos Estados Unidos de Biden, a liderança contra o PT sem foro privilegiado que o proteja. Eleito senador, Bolsonaro poderia liderar a oposição. Derrotado, pode ir para a cadeia. Sua saída do páreo mudaria a cena eleitoral".

Assim Merval Pereira escreveu em sua coluna de hoje no O Globo.

O jornalista é uma espécie de porta-voz não oficial dos irmãos Marinho que comandam a Rede Globo. Dificilmente sua opinião divergirá das de seus patrões.

Ele tem razão ao dizer que, a menos que o inesperado aconteça, Lula deve vencer. E é aí que mora o perigo. Bolsonaro não se esmera nem um pouco em fazer a coisa certa para melhorar seus índices nas pesquisas eleitorais, talvez contando que o Auxílio Brasil e o reajuste aos servidores vão trabalhar a seu favor. Não será se emporcalhando com frango e farofa que deslanchará e ultrapassará Lula.

Merval compartilha a desconfiança deste blogueiro já manifestada anteriormente de que Bolsonaro pode ter uma carta na manga e, que na hora H, resolva se candidatar ao Senado com medo de não se reeleger e ter que responder a inúmeros processos e até ser preso no próximo ano.

"Lula está fazendo tudo certo, inclusive contendo sua turma mais radical que, inebriada pelo clima de já ganhou, começou a anunciar medidas que não combinam com o que Lula anuncia que está planejando. Pretende, segundo diz, fazer um governo mais amplo que o PT, assim como ele é maior que o partido que criou".

Embora eu discorde que este seja o momento certo para Lula falar em rever as reformas trabalhistas e previdenciária porque é justamente neste momento que ele precisa se mostrar palatável ao mercado financeiro (e isso não significa que essas medidas não devam fazer parte de seu plano de governo), é certíssimo que Lula está realmente fazendo tudo certo. Trabalha muito para unir forças que o apoiem pelo Brasil afora costurando com lideranças as mais variadas. É assim que ele vai destruindo as chances do Capitão Morte ao mesmo tempo que aniquila a possibilidade da tal terceira via aparecer.

O perigo do já ganhou em primeiro turno existe de fato já que a militância pode se desmobilizar.

"O governo de Bolsonaro é tão desastroso e pernicioso ao país que se torna palatável qualquer candidato que possa derrotá-lo. Se a terceira via não conseguir se organizar, como tudo indica, Bolsonaro irá para o segundo turno perder para Lula. Mesmo porque, não há candidato na oposição que empolgue o eleitorado. Assim como Bolsonaro levou os votos dos antipetistas em 2018 porque nenhum outro candidato conseguiu se mostrar mais eficaz na tarefa de derrotar o PT, agora Lula pode levar os votos dos que não querem Bolsonaro de jeito nenhum. A não ser que Bolsonaro saia do páreo".

Aqui Merval fala de uma espécie de antibolsonarismo, algo parecido com o antipetismo que dominou as eleições de 2018 desembocando na eleição de Bolsonaro.

A terceira via não emplaca, mesmo com certas tentativas da própria Rede Globo de esquentar Sergio Moro, como aconteceu na edição de ontem do Jornal Nacional que funcionou como uma espécie de marketing do candidato, mostrando ao Brasil que o ex-juiz foi transparente em demonstrar seus ganhos na Alvarez & Marsal e dando ampla oportunidade de defesa a ele das acusações de que teria atuado para favorecer a Odebrecht, empresa que ele próprio ajudou a destruir através da operação Lava Jato.

Fica o importante registro de Merval Pereira que, de certa forma, acena a Lula após este se negar a dar uma entrevista à emissora devido aos noticiários sempre tendenciosos e nocivos a ele.

Parece que a Rede Globo trabalha com a hipótese de quatro anos de Lula.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Militares baterão continência a Lula?

Por Fernando Castilho


A Folha noticiou hoje que o comandante da Força Aérea Brasileira, Carlos de Almeida Baptista Junior, em entrevista afirmou que os militares baterão continência caso Lula ou qualquer outro candidato assuma o lugar de Bolsonaro no ano que vem. Observem que ele fala em nome de todos os demais.

O colunista Josias de Souza apressou-se em dizer que a afirmação seria pleonástica e que por isso mesmo deve ser ouvida com cuidado.

Carlos de Almeida é tido como um dos militares mais bolsonaristas da Aeronáutica. Suas redes sociais estão repletas de postagens de Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e tantos outros.

Para Josias, a afirmação, antes de nos assossegar, provoca desassossego pela obviedade.

O que o colunista teme?

Será que era de se esperar uma revolta nos quartéis e um golpe para evitar que qualquer outro que não Bolsonaro tome posse em janeiro de 2023?

Será que os militares embarcariam numa aventura golpista?

O Capitão Morte bem que tentou um golpe em 7 de setembro último, mas não obteve o apoio imaginado das Forças Armadas e recuou.

Hoje se sabe que, além de divididas, boa parte dos militares já acenam para Lula porque já têm indícios suficientes de que ele tem reais possibilidades de vender a disputa.

Não há dúvida de que foi durante os dois governos do ex-presidente que as Forças Armadas receberam maior volume de recursos e se reequiparam.

Carlos de Almeira poderia ter desconversado e deixado de responder à pergunta da Folha, mas preferiu dizer o que acha sobre o papel dos militares quanto ao resultado das eleições porque essa deve ser a atual postura dos generais, exceto os que estão mamando nas tetas do governo, recebendo altos salários acumulados com seus soldos da caserna.

De qualquer forma, seria interessante que Lula intensificasse a interlocução com os mais importantes representantes das Forças Armadas para tentar pulverizar o ranço que alguns sentem por ele.

Partindo de um militar bolsonarista, a entrevista, antes de desassossegar, nos assossega. E desassossega o presidente

Será que essa entrevista ocorreu antes ou depois do episódio do frango com farofa?




Ao encenar, Bolsonaro revela suas verdades

Por Carlos Fernandes


O mico da vez retrata o comandante-chefe da República sentado como um jeca numa birosca de meio de estrada se lambuzando com um espetinho de frango e coberto dos pés à cabeça de farinha de qualidade muito duvidosa.


O presidente Jair Bolsonaro está em franca campanha presidencial.

Peças de puro marketing eleitoral, ainda que não oficiais, estão sendo montadas e veiculadas nas redes com o intuito de sempre: criar a aparência de um homem do povo, gente como a gente.

Em absolutamente nada se diferencia dos medalhões da direita liberal e "sudestina" a cada vez que esses vão ao nordeste brasileiro andar de jumento e usar chapéu de couro ainda que isso, hoje em dia, seja apenas uma caricatura mal acabada e um tanto quanto preconceituosa dos nordestinos.

Neste final de semana não foi diferente. Numa direção digna de Carlos Bolsonaro, um sujeito que no meio político ganhou o apelido de Tonho da Lua, o atual presidente aparece naquilo que deverá entrar para os anais da política brasileira como uma das coisas mais patéticas e inapropriadas de sua história.

E olha que estamos falando do homem que já chegou a questionar em suas redes oficiais o que viria a ser Golden Shower veiculando, inclusive, um vídeo bastante autoexplicativo.

O mico da vez retrata o comandante-chefe da República sentado como um jeca numa birosca de meio de estrada se lambuzando com um espetinho de frango e coberto dos pés à cabeça de farinha de qualidade muito duvidosa.

Cena, vale dizer, que contrasta muito com o presidente que já torrou cerca de R$ 30 milhões só em despesas com cartões corporativos cuidadosamente submetidos a um sigilo secular.

Mas o fato é que não há aqui nenhuma novidade. Definitivamente não é a primeira vez (e certamente não será a última) que Bolsonaro e seu staff mais próximo buscam construir cenários que retratam um presidente "que não liga para o luxo". Como não lembrar do sujeito, junto com uma plêiade ministerial, comendo pizza numa esquina de Nova York às vésperas da abertura da Conferência Anual da ONU?

Esse de tipo de estratagema é tão usual ainda hoje, apesar de tão manjado, porque traz resultados práticos. O povo gosta de empatia, de ser representado de alguma forma, de saber que não está sozinho no seu sofrimento e que o presidente da República, apesar de todas as benesses que o cercam, não esquece as suas origens e participa de forma real do seu cotidiano.

Ainda que no fundo saiba que tudo, ao fim e ao cabo, não passa de representação, há um efeito psicológico que remete a um certo acolhimento.

Mas é exatamente aí que Bolsonaro erra a mão e acaba revelando justamente aquilo que mais quer esconder.

Se a vida imita a arte, é a arte, por conseguinte, quem com mais perfeição representa a vida. Ao querer imitar os pobres, Bolsonaro revela e materializa a imagem que este possui daqueles. E o resultado é o que temos.

Para Jair Bolsonaro o pobre é tão somente isso: um sub-humano miserável, iletrado e mal-educado incapaz de utilizar garfo e faca e que uma vez colocado à frente de um mísero prato de comida que seja, se atira sobre ele como se não houvesse amanhã ao ponto de criar sujeira num raio de 5 metros de diâmetro.

E esse é um conceito tão enraizado na canalha que hoje ocupa os mais altos cargos da República que até agora ainda não entenderam o que de errado deu dessa vez.

De toda forma, vendo que a coisa deu ruim, os ministros que primeiro publicaram o vídeo, já o deletaram de suas redes fingindo que nada aconteceu.

O problema é que o estrago já foi feito. Ao querer se fantasiar de pobre, Bolsonaro deixou nu o asco que sente pelas classes mais necessitadas desse país e que, não por acaso, tem se empenhado com tanto afinco em simplesmente exterminá-la.

Que a imensa massa de pobres desse país lembre-se muito bem disso quando outubro chegar.




O paradoxo de Lula: um programa de esquerda na base de um amplo arco de alianças

Por Mauro Lopes


Lula surpreende e aponta para um programa à esquerda como base para uma política de alianças com o centro, a centro-direita e a direita, escreve Mauro Lopes


Nesta altura do campeonato, tudo caminha para uma chapa Lula-Alckmin. Apenas um evento inesperado de impacto poderá alterar o que, conforme Lula e a direção do PT têm sinalizado, está politicamente decidido, faltando apenas sacramentar e operacionalizar.

O ponto de indefinição é apenas qual será o partido ao qual Alckmin se filiará. O movimento em curso guarda semelhança com o realizado em 2002. Na época, José de Alencar era filiado ao PMDB e deixou o partido, que tinha aliança com o PSDB, para abrigar-se no PL. Agora, Alckmin deixou o PSDB e estão em andamento as conversas sobre qual será seu destino partidário.

Foto: Ricardo Stuckert

Da mesma forma que com José de Alencar, não se trata de uma aliança partidária nos moldes tradicionais, mas de um acordo político-social com capacidade de sinalizar ao país o espírito do governo que virá, se as urnas o confirmarem. 


No caso do PT, a presença de Alckmin terá a virtude extra de auxiliar na campanha para eleger Haddad em São Paulo. Para Lula, governar com um apoio do líder do estado-país que São Paulo representa, terá uma potência inédita. De quebra, começa-se a construir a “passagem do bastão” interna no partido. 

Um dos elementos mais relevantes -e até surpreendentes- da operação política em curso foi captado pelo cientista político Mathias Alencastro no programa Giro das 11 da TV 247 da última terça-feira (25): “ “Fiquei surpreso quando em plenas férias de janeiro, o PT colocou na mesa dois temas estruturantes e difíceis: o teto de gastos e a reforma trabalhista. Foi um movimento perfeito, porque o PT sinalizou para a esquerda que a política de alianças será feita com base num programa de esquerda para o governo.”

Isso é inovador e, de fato, surpreendente. Uma política de alianças ampla, com setores do centro, centro-direita e até direita tradicional que terá como pano de fundo um programa de governo que deve ser o mais à esquerda das quatro eleições que levaram Lula e Dilma ao Planalto. 

De fato, em suas entrevistas, Lula tem indicado que não fará concessões neoliberais no programa de governo para receber Alckmin na chapa ou articular mais amplamente as alianças eleitorais. A entrevista de Lula à CBN Vale do Paraíba nesta quarta (26), foi exemplar deste ponto de vista. Nela, Lula foi ainda mais explícito quanto a Alckmin: "“Eu tenho confiança no Alckmin. Fui presidente por oito anos, tive relações com Alckmin e sempre foram relações de respeito, institucionais. Se der certo da gente construir essa aliança, eu tenho certeza que vai ser bom para o Alckmin, vai ser bom para mim, vai ser bom para o Brasil e sobretudo deve ser bom para o povo brasileiro”.

Com sensibilidade, o professor Alencastro pontuou algo de aparência paradoxal: quanto mais for sendo construído e consolidado um programa de governo à esquerda, mais haverá espaço para ampliação da política de alianças, pois a bússola estará apontando para o norte, mesmo com uma tripulação de alta diversidade no navio eleitoral de Lula.

Estaremos ao mar, até as eleições. 


Mauro Lopes é jornalista e editor da TV 247


sábado, 29 de janeiro de 2022

A jogada ensaiada de Bolsonaro para provocar uma nova crise com o STF

Por Walter Maierovitch


Em futebol, os comentaristas diriam que foi jogada ensaiada, preparada nos treinamentos.

Sim, de caso pensado, Bolsonaro deixou, hoje, de comparecer à Polícia Federal.

Assim agiu para voltar à sua guerra antidemocrática e paranóica. Guerra que fora suspensa em 7 de setembro, quando tentou golpear o Estado de Direito.

Agora e desafiando ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro volta à carga e joga para desmoralizar a Corte excelsa.

Poucas semanas atrás, Bolsonaro retomou os ataques e voltou a ofender a honra dos ministros Alexandre de Moraes e Roberto Barroso.

Com essas provocações recentes, Bolsonaro busca, de imediato, uma crise institucional e cavar os impedimentos legais de Moraes e Barroso.

Sob o prisma legal e relativamente ao não comparecimento à Polícia Federal, o caso é de solução simples. Bolsonaro é investigado.

Como todo mortal comum, o investigado tem de comparecer à delegacia para prestar depoimento. Se o cidadão comum não comparece, é conduzido coercitivamente e, à luz do Código Penal, comete crime de desobediência.

A Constituição faculta a todo suspeito ou acusado o direito de silenciar. Na velha forma romana do "meno tenetur se detegere": ninguém está obrigado a se auto a acusar. O ônus de comprovar é do acusador, em resumo.

Como explicou o então ministro decano do STF, Celso de Mello, o presidente, como testemunha, tem o direito de enviar o seu relato por escrito, ou seja, não precisa comparecer.

No caso, Bolsonaro não é testemunha, mas, sim, suspeito. É objeto de uma investigação. Tem de comparecer, como um brasileiro comum.

Além do foro especial, o presidente da República tem outra prerrogativa. A prerrogativa de marcar dia, local e hora para comparecer perante a autoridade de polícia judiciária.

Na verdade, a determinação de Moraes, - depois de anteriormente atender Bolsonaro e adiar a sua ouvida pela Polícia Federal -, veio de bandeja para um presidente que sente a derrota eleitoral se aproximar. pelas pesquisas mostradas no momento, Bolsonaro, não emplacará a sua reeleição à presidência do Brasil.

criar crise institucional, trombar com o STF e os seus ministros, é o caldo em preparação e, na visão de Bolsonaro, ideal para um golpe.

Moraes será, a partir de 17 de agosto, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por consequência, presidirá as eleições deste ano.

Tornando-se inimigo público e notório de Moraes, Bolsonaro tudo fará para afastá-lo dos julgamentos. a inimizade capital é causa legal de suspeição.

atenção: o vice presidente do TSE será o ministro Kássio Nunes Marques, observado o critério de rodízio costumeiro.

Kássio Nunes Marques, como se sabe e apontam as suas decisões, é, como se diz no popular, bolsonarista "desde menininho".

Por último. Bolsonaro sente, e por isso se anima para as suas ilegítimas e ilegais lutas, ter "costas quentes".

No caso, o crime de desobediência fica sujeito à avaliação de Augusto Aras, procurador-geral da República e filobolsonarista.

Crime de responsabilidade, a gerar impeachment, é sempre brecado pelo presidente da Câmara, o bolsonarista Arthur Lira.

Caso denunciado e em face de crime comum por Aras, existe a barreira dos 2/3 da Câmara. Ou seja, os deputados podem não autorizar o recebimento da denúncia.

 

Walter Maierovitch é professor, desembargador e jurista




Sergio Moro e o paradoxo de Kate Lyra

Por Sérgio Batalha Mendes



Kate Lyra é uma atriz norte-americana que fez sucesso em programas humorísticos no Brasil dos anos 70 com um bordão: “Brasileiro é tão bonzinho!”, pronunciado com forte sotaque americano.

O bordão era pronunciado como fecho do quadro no qual ela interpretava uma americana ingênua, que era atraída por cantadas de brasileiros, sempre com o pretexto de “ajudá-la” com algum problema.

Sérgio Moro protagonizou esta semana a personagem de Kate Lyra ao avesso, revelando que recebeu 3,5 milhões por cerca de um ano de trabalho na empresa de consultoria americana Alvarez & Marsal. Afirmou que não enriqueceu e que não fez nada de errado.

A empresa americana é conhecida por abrigar antigos membros da comunidade de informações nos EUA e recebeu neste período R$ 65 milhões das empresas investigadas na Lava-Jato, o que representou mais de 77% de seu faturamento no Brasil.

No entanto, Moro quer nos convencer de que foi contratado apenas pelo seu conhecimento jurídico e que a empresa pagou esta bolada para ele atuar em questões que não tinham relação com a Lava-Jato. Como diria nossa Kate Lyra revisitada: “Americano é tão bonzinho!”.

O conflito de interesses é gritante, com forte suspeitas de extorsão e também de remuneração por trabalhos anteriores, como juiz, para o governo americano.

Sim, hoje não é absurdo cogitar que Moro tenha atuado como juiz à serviço do governo dos EUA para desestabilizar o governo brasileiro e impedir seu crescente protagonismo na diplomacia e na política mundial, em uma linha que não atendia aos interesses americanos.

Registre-se que entre 2018 e 2021 a família de Sergio Moro viveu em uma casa em Maryland, EUA, cujo aluguel mensal custaria quase 50 mil reais por mês em valores de mercado. A pergunta seguinte é óbvia: Como Moro conseguia custear esta despesa e ainda se manter com um alto padrão de vida no Brasil? Aduza-se que, até atuar na Lava-Jato, Moro não tinha um patrimônio que destoasse do patamar remuneratório de um juiz federal.

Logo, é importante que a Justiça e o Congresso investiguem a origem nebulosa dos recursos de Moro, não apenas porque ele será candidato a presidente, como principalmente porque há fortes indícios de crimes de corrupção e até contra a soberania nacional.

Afinal, o americano não “é tão bonzinho” e nenhuma firma americana pagaria uma remuneração milionária para um ex-juiz brasileiro atuar em questões irrelevantes. A personagem da Kate Lyra perdeu sua graça nos anos 70 e Moro nada tem de ingênuo. É chegada a hora da verdade para o “juiz lava-jato”.


Sérgio Batalha Mendes é advogado e sócio gerente na Batalha Advogados Associados