Por Fernando Castilho
As lágrimas vieram aos olhos de Paul. “Restaram só dois”
Bem amigos, continuando a análise de Get Back, vamos ao segundo episódio.
No episódio anterior George havia deixado o grupo na sexta-feira. Os três Beatles restantes demonstraram sua preocupação com o fato e, é claro, Paul havia sido o principal responsável por isso.
Houve uma reunião no domingo, mas nada ficou resolvido.
Na segunda-feira encontramos a equipe com Ringo, Paul e Linda. Todos cabisbaixos.
Ninguém conseguiu falar com John Lennon que estava o tempo todo com seu telefone ocupado.
Paul acha que John está curtindo mais Yoko do que os Beatles e ele não o censura por isso. “Vai ser divertido ver daqui a 50 anos disserem que Yoko sentava no amplificador”.
As lágrimas vieram aos olhos de Paul. “Restaram só dois”.
Interessante que após a morte de John e George, hoje só restaram dois.
Lá pela hora do almoço Lennon chega.
Não se sabe quem colocou um microfone num vaso de flores para gravar a conversa entre Paul e John, uma indiscrição.
John reclama do tratamento autoritário que Paul dispensa a George. Ele reconhece. Há acusações e muita roupa suja sendo lavada, mas no fim, eles se acertam, pois há muito amor envolvido. Decidem ir os três à casa de George.
Agora estão nos estúdios da Apple em Londres e isso faz toda a diferença. Lá é menos frio, o astral melhora e eles tocam músicas antigas suas e de seus ídolos, enquanto que o engenheiro de som, Glyn Johns acerta as mixagens.
No episódio anterior George havia manifestado sua preocupação com o show ao vivo durante o qual os Beatles gravariam seu próximo álbum. Seria ao vivo, mas se Paul tocasse baixo, quem tocaria os teclados?
George relembrou ao grupo que eles conheceram um cara que tocava com Little Richard em Hamburgo e que integrava o grupo de Ray Charles, mas que ele considerava melhor que o mestre: Billy Preston.
Por incrível que pareça, Billy apareceu no estúdio alguns dias depois e foi recebido de maneira esfuziante. Os Beatles sempre demonstraram humildade diante de seus ídolos. Apesar de estarem no topo, não se colocavam acima de outros.
Billy, convidado por John, logo sentou-se ao teclado e sua maneira de tocar, sua facilidade em “pegar” as músicas deixou todos muito animados. Foi uma verdadeira injeção de alegria em todos. E ele estaria no álbum.
Os sorrisos voltaram às faces dos Beatles e agora estava tudo bem entre eles.
Aqueles esboços confusos de músicas e letras do primeiro episódio agora tomavam corpo e os Beatles começaram a sentir outras possibilidades com a presença de Billy Preston.
O diretor Michael Lindsay-Hogg ainda insistia quase todos os dias em fazer um show grandioso fora da Inglaterra, mas ninguém se empolgava com a ideia.
George, talvez estimulado pela sua sugestão que deu muito certo, começou a mostrar suas músicas agora mais elaboradas. John, como sempre, aproveitou para brincar com ele sobre I Me Mine, que seria uma valsa. Mas foi justamente George que havia dito que a inspiração fora de um filme que tinha visto na TV em que as pessoas dançavam nesse ritmo.
Os Beatles tinham muito disso. Viam notícias nos jornais, assistiam a filmes e já vinha a inspiração para as letras.
Se alguém ainda acha que Yoko atrapalhou as gravações, deveria ter visto Heather, a filha de Linda. Ela detonou o estúdio sem que qualquer um interferisse.
Foi nesse episódio que Paul demonstrou todo seu virtuosismo e sua fonte inesgotável de canções da mais alta qualidade, como Let it Be e The Long and Winding Road. Fica claro que ninguém mais conseguia acompanhá-lo.
John Lennon já não era a metade do homem que costumava ser. Isto é, de relapso e preguiçoso, se tornou um beatle de novo e um dos mais entusiasmados.
Glyn caprichava nas gravações piloto enquanto que George Martin se mantinha discreto, à distância. Certamente ele não foi aproveitado no álbum Let it Be.
É nesse clima de volta dos Beatles aos velhos tempos que termina o segundo episódio.
Aguardem a análise e opinião do terceiro e último.
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