Por Carlos Fernandes
O mico da vez retrata o comandante-chefe da República sentado como um jeca numa birosca de meio de estrada se lambuzando com um espetinho de frango e coberto dos pés à cabeça de farinha de qualidade muito duvidosa.
O presidente Jair Bolsonaro está em franca campanha presidencial.
Peças de puro marketing eleitoral, ainda que não oficiais, estão sendo montadas e veiculadas nas redes com o intuito de sempre: criar a aparência de um homem do povo, gente como a gente.
Em absolutamente nada se diferencia dos medalhões da direita liberal e "sudestina" a cada vez que esses vão ao nordeste brasileiro andar de jumento e usar chapéu de couro ainda que isso, hoje em dia, seja apenas uma caricatura mal acabada e um tanto quanto preconceituosa dos nordestinos.
Neste final de semana não foi diferente. Numa direção digna de Carlos Bolsonaro, um sujeito que no meio político ganhou o apelido de Tonho da Lua, o atual presidente aparece naquilo que deverá entrar para os anais da política brasileira como uma das coisas mais patéticas e inapropriadas de sua história.
E olha que estamos falando do homem que já chegou a questionar em suas redes oficiais o que viria a ser Golden Shower veiculando, inclusive, um vídeo bastante autoexplicativo.
O mico da vez retrata o comandante-chefe da República sentado como um jeca numa birosca de meio de estrada se lambuzando com um espetinho de frango e coberto dos pés à cabeça de farinha de qualidade muito duvidosa.
Cena, vale dizer, que contrasta muito com o presidente que já torrou cerca de R$ 30 milhões só em despesas com cartões corporativos cuidadosamente submetidos a um sigilo secular.
Mas o fato é que não há aqui nenhuma novidade. Definitivamente não é a primeira vez (e certamente não será a última) que Bolsonaro e seu staff mais próximo buscam construir cenários que retratam um presidente "que não liga para o luxo". Como não lembrar do sujeito, junto com uma plêiade ministerial, comendo pizza numa esquina de Nova York às vésperas da abertura da Conferência Anual da ONU?
Esse de tipo de estratagema é tão usual ainda hoje, apesar de tão manjado, porque traz resultados práticos. O povo gosta de empatia, de ser representado de alguma forma, de saber que não está sozinho no seu sofrimento e que o presidente da República, apesar de todas as benesses que o cercam, não esquece as suas origens e participa de forma real do seu cotidiano.
Ainda que no fundo saiba que tudo, ao fim e ao cabo, não passa de representação, há um efeito psicológico que remete a um certo acolhimento.
Mas é exatamente aí que Bolsonaro erra a mão e acaba revelando justamente aquilo que mais quer esconder.
Se a vida imita a arte, é a arte, por conseguinte, quem com mais perfeição representa a vida. Ao querer imitar os pobres, Bolsonaro revela e materializa a imagem que este possui daqueles. E o resultado é o que temos.
Para Jair Bolsonaro o pobre é tão somente isso: um sub-humano miserável, iletrado e mal-educado incapaz de utilizar garfo e faca e que uma vez colocado à frente de um mísero prato de comida que seja, se atira sobre ele como se não houvesse amanhã ao ponto de criar sujeira num raio de 5 metros de diâmetro.
E esse é um conceito tão enraizado na canalha que hoje ocupa os mais altos cargos da República que até agora ainda não entenderam o que de errado deu dessa vez.
De toda forma, vendo que a coisa deu ruim, os ministros que primeiro publicaram o vídeo, já o deletaram de suas redes fingindo que nada aconteceu.
O problema é que o estrago já foi feito. Ao querer se fantasiar de pobre, Bolsonaro deixou nu o asco que sente pelas classes mais necessitadas desse país e que, não por acaso, tem se empenhado com tanto afinco em simplesmente exterminá-la.
Que a imensa massa de pobres desse país lembre-se muito bem disso quando outubro chegar.
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