quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Apresento o Zé Ninguém para a vaga de Barroso no STF

Por Fernando Castilho




Com a saída de Luís Roberto Barroso do STF, Lula tem agora a chance de corrigir alguns erros do passado.

Comecemos por Barroso. Em 2021, ele declarou à Folha que Dilma Rousseff não caiu por crime de responsabilidade, mas por não saber fazer política. Traduzindo: foi deposta por falta de traquejo parlamentar, não por pedaladas. E Barroso, indicado por ela, diante dessa “injustiça”, fez o quê? Nada. Omitiu-se. Um silêncio que grita. Dilma errou ao escolhê-lo, e Lula, agora, pode consertar isso.

Aliás, Dilma também nos presenteou com Luiz Fux, grande professor e autor de importantes livros sobre direito processual que, vergonhosamente os rasgou para defender um golpista. Mais, sobre ele, prefiro não falar para poupar meus dedos e sua paciência.

Lula, por sua vez, teve seu momento de arrependimento com Dias Toffoli. Quando estava preso, foi impedido por Toffoli de comparecer ao velório do irmão. Só autorizou a ida quando faltavam 20 minutos para o enterro, e ainda sugeriu que o corpo fosse levado a um quartel para um velório improvisado. Lula, com razão, recusou. E essa mágoa, dizem, ainda ecoa no Planalto.

Agora, Lula tem uma nova lista de possíveis indicados: Jorge Messias, Rodrigo Pacheco, Bruno Dantas, Carol Proner... Nomes fortes. Mas vamos aos poréns.

Rodrigo Pacheco? Um político de direita que, de repente, virou um doce de pessoa, justo quando a vaga apareceu. Coincidência, claro. Já Bruno Dantas é cria de Gilmar Mendes. Precisa dizer mais?

— “Ah, Fernando, então você quer um ministro que diga amém a tudo que Lula fizer, como Nunes Marques e André Mendonça fazem com Bolsonaro?”

Não. A questão não é alinhamento cego. A verdadeira polarização não é entre esquerda e direita, mas entre quem defende a democracia e quem flerta com o autoritarismo; entre quem luta pelos vulneráveis e quem serve aos privilegiados; entre quem busca justiça e quem a transforma em privilégio.

Outros nomes correm por fora: Kakay, Lenio Streck, Pedro Serrano... Todos bons. Mas o que define um bom ministro do STF?

Além do tal “notório saber jurídico”, que, convenhamos, virou bordão, é preciso que o ministro saiba para que lado pender a balança: o lado dos que mais precisam de justiça. Hoje, ela pende para os patrões, os latifundiários, o INSS contra os aposentados. Gilmar, Toffoli, Fux, Barroso, Nunes Marques, Mendonça, Cármen Lúcia... todos muito comprometidos com a minoria abastada.

Por isso, minha aposta é Jorge Messias. Tem preparo, tem trajetória, tem compromisso. E Carol Proner, porque o STF precisa de mais mulheres, e porque ela é muito competente.

Mas, correndo totalmente por fora, e com chances rigorosamente nulas, apresento a candidatura do Zé Ninguém.

Sim, ele tem notório saber jurídico. Não no sentido tradicional, claro. Seu saber é notório justamente por ser... escasso. Mas ele conhece bem a lei da vida e da sobrevivência. E tem algo que falta a muitos togados: senso de justiça. Aquele impulso quase infantil de querer proteger os mais vulneráveis e punir quem os explora.

Portanto, se você acha que o mais importante para o STF é alguém que conheça leis, talvez o Zé Ninguém não seja o nome ideal. Mas se acredita que o essencial é ter compromisso com quem realmente precisa de justiça, então, quem sabe, ele mereça ao menos um voto de confiança. Ou um cafezinho no gabinete.

Mas, afinal, quem é o Zé Ninguém?

São milhões espalhados pelo Brasil. Gente que possui muito mais senso de justiça que a maioria dos ministros. Gente que não faz negócios com empresas por meio de escritórios de fachada. Gente que não organiza regabofes em Portugal. Gente que não acha que indígenas e aposentados sejam fardos para o país. Gente, enfim, que carrega nas costas, dia após dia, o peso de uma desigualdade de mais de quinhentos anos.

Lula, o Dom Juan da política brasileira

Por Fernando Castilho



Depois que ouvi Lula falar na então Rádio Bandeirantes, no programa O Trabuco do saudoso Vicente Leporace, acho que ainda nos anos 70, senti uma inquietação: quem era esse líder metalúrgico que ousava desafiar a ditadura em nome dos direitos de sua categoria? A curiosidade me levou à histórica assembleia no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. E ali, no meio da massa operária, comecei a entender que aquele homem não era só barulho, mas também pura estratégia.

Mais tarde, estive por duas vezes em reuniões na casa emprestada pelo advogado Roberto Teixeira a Lula, no bairro de Ferrazópolis. Ainda estudante, me vi hipnotizado ao ouvi-lo falar sobre economia com uma lógica tão simples e intuitiva que faria muito doutor engasgar com a própria tese.

O tempo passou, e Lula foi colecionando aliados como quem coleciona figurinhas raras. Seu poder de sedução política é digno de estudo, ou de uma tese de doutorado com direito a banca rendida.

Por mais improvável que parecesse, lá estava ele como presidente, trocando confidências com George W. Bush e recebendo elogios rasgados de Barack Obama, que não economizou: “Esse é o cara!” Pois é. O cara.

Com Emmanuel Macron, presidente da França e da ala direita, não foi diferente. Foram filmados de mãos dadas na Floresta Amazônica, em Belém, como dois adolescentes em passeio escolar. Faltou só o piquenique e a trilha sonora.

O senador Ciro Nogueira, bolsonarista de carteirinha, chegou a declarar: “Ele é capaz de me seduzir em 15 minutos. É macio e jeitoso.” Um elogio que até hoje causa urticária na ala mais radical do Congresso.

Em 2022, Lula fez o impossível parecer trivial. Bastaram algumas conversas para transformar Geraldo Alckmin, aquele mesmo, seu adversário em outras épocas, em seu vice. A conciliação, afinal, é uma das marcas registradas do Barba. E ele assina com estilo.

E quem não lembra da prisão em Curitiba? Lula, enclausurado na sede da Polícia Federal, acabou conquistando justamente o carcereiro. Horas e horas de conversa e, no fim, mais um fã. Se tivesse mais tempo, talvez saíssem de lá com um podcast.

A mais recente conquista do Dom Juan da política parece ser ninguém menos que o presidente norte-americano Donald Trump. Em uma conversa telefônica de 30 minutos, Trump saiu encantado: “Gostei da ligação. Nossos países vão se sair muito bem juntos!” Prometeu mais encontros, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Se isso não é charme, o que é então?

Nas entrevistas, seja com a imprensa progressista ou com os grandes veículos da mídia corporativa, o resultado é sempre o mesmo: entrevistadores saem satisfeitos, convencidos, quase convertidos. Lembro bem da entrevista com Reinaldo Azevedo durante a campanha de 2022. Justamente o cara que cunhou a expressão “petralha”. Tio Rei saiu de lá praticamente com uma estrela no peito.

Mas afinal, qual é o segredo desse poder de agregar?

Digo que é a verdade. A sinceridade no olhar. E uma biografia marcada pela coerência ou, no mínimo, pela habilidade de parecer coerente em qualquer cenário.

O poder do diálogo com Lula é tão surpreendente que os bolsonaristas evitam qualquer conversa com ele. E fazem bem. Porque se conversarem... é capaz que se apaixonem.

Pode ser até que Trump o traia. Afinal, isso não se descarta em nenhuma relação. Mas, por enquanto, parece que a coisa vai às mil maravilhas.

sábado, 11 de outubro de 2025

O grão-vizir e o ex-sultão manipulável – uma fábula da verdade

Por Fernando Castilho




A Polícia Federal, em um raro momento de dramaturgia institucional, revelou o áudio de uma conversa nada republicana entre o empresário da fé, Silas Malafaia, e o ex-presidente que muitos já chamam de Deve Jair Preso. O conteúdo, digno de um conto oriental, evoca imediatamente a fábula de O Rei Yunan e o Médico Ruyán — onde a gratidão é vencida pela intriga, e a razão, pela manipulação.

Yunan Bolsonaro, ex-sultão de uma terra outrora próspera, sofre de uma doença incurável – talvez erisipela, talvez ego inflamado. Os generais-médicos do reino, com suas fardas engomadas e diagnósticos patrióticos, são convocados para resolver o problema. Fracassam, claro.

Surge então Duduh Também Deve Ser Preso, o filho estrangeiro, que propõe uma cura sem bisturis nem poções – apenas conversas ao pé de ouvido com o rei maior para tentar que ele intervenha. O ex-sultão, isolado em seu palácio, aguarda ansioso uma solução. Ela não vem.

Mas eis que o grão-vizir, tomado pela inveja e pelo instinto de sobrevivência política, sussurra ao ex-sultão:

— Majestade, quem cura com facilidade também pode matar com facilidade. E se ele estiver tramando algo contra ti?

O ex-sultão, antes grato, agora é paranoico. E como toda fábula que se preze, a ingratidão vence: o filho estrangeiro é chamado de imaturo. Este, inconformado com a traição, manda um recado para o pai, digno de um trovador moderno:

— VAI TOMAR NO CU, SEU INGRATO DO CARALHO!

O grão-vizir Silas Mau Lafaia, então, em várias conversas, resolve conduzir Deve Jair Preso como quem leva um camelo teimoso pelo deserto: com firmeza, paciência e um chicote verbal disfarçado de elogio. Chama-o de “homem muito inteligente” — um elogio tão deslocado que nem o destinatário parece entender.

Deve Jair Preso, fiel à fama de manipulável, obedece a uma ordem de Silas Mau-Lafaia: Dá bronca no filho Duduh. Depois, perdoa. Porque o grão-vizir manda. Mau-Lafaia também ordena que o ex-sultão negue qualquer intenção de aumentar tarifas contra seu país. Ele escreve um texto, mas o grão-vizir ordena que ele grave um vídeo. É um ex-sultão sem vontade própria – governado por seu grão-vizir.

Os áudios sugerem que Malafaia talvez seja a mente por trás da tentativa de golpe. E o ministro Alexandre de Moraes, com a elegância de um gato brincando com o rato antes do bote, deixa o grão-vizir da fé à vontade para esbravejar. Cada palavra dita é uma corda a mais no laço que se aperta.

Se a fábula seguir seu curso, veremos o empresário da fé – outrora intocável – conhecer o lado menos celestial da justiça. E quando isso acontecer, não será apenas um desfecho jurídico. Será uma catarse narrativa.

Aleluia.

Já chega! Já basta!

Por Fernando Castilho



Outro dia escrevi um artigo em que dizia que Hugo Motta e Davi Alcolumbre eram pusilânimes paspalhos — bordão que o covarde Dr. Smith, da série Perdidos no Espaço, usava para se referir ao Robô.

Alcolumbre, com algum esforço e alguma articulação, conseguiu se livrar da alcunha.

Já Motta… só fez por merecê-la ainda mais.

Na cerimônia de lançamento do programa Brasil Soberano, no Palácio do Planalto, Lula anunciou R$ 30 bilhões em crédito para empresas brasileiras atingidas pelo tarifaço de 50% imposto por Donald Trump.

O pacote inclui linhas de crédito com juros baixos, compras governamentais e incentivos fiscais — tudo para segurar a economia enquanto o problema não se resolve. Ou seja, Um montante de recursos que poderia ser aplicado em saúde, educação ou outros programas sociais. Debite-se isso na conta de Bananinha.

Hugo Motta estava lá.

Presente, sim.

Mas discreto.

Quase tímido.

Talvez pela sua já célebre pusilanimidade paspalha.

Enquanto isso, no mesmo dia, Eduardo Bolsonaro — deputado que ainda recebe salários pagos por nós (!) — estava em Washington, pedindo sanções contra o Brasil.

Sim, contra o próprio país! Contra seu próprio povo!

Em vídeo, declarou que estava disposto a “sacrificar tudo e queimar toda a floresta” para salvar seu pai golpista.

A floresta, diga-se, somos nós.

E Hugo Motta?

Do alto — ou do baixo — de sua covardia institucional, nada fez.

Não moveu um dedo pela cassação do traidor da Pátria.

Nem uma vírgula.

Um pedido formal de cassação foi protocolado por ex-reitores e professores universitários.

Foi endereçado a ele.

Mas até agora, silêncio.

Mesmo que o Conselho de Ética não aprove a cassação, ele deveria ao menos tentar.

É seu dever.

Ou deveria ser.

Se a comissão não aprova, escancara-se que ela apoia traidores.

Se Motta teme sanções contra si, vindas dos Estados Unidos — como Dudu Bananinha prometeu — então, sim.

Faz jus à alcunha de pusilânime paspalho, ou melhor, de paspalhão covarde.

A banalidade do mal quando se morre atirando

Por Fernando Castilho



Há muitos anos, assisti a um filme que me deixou inquieto — não apenas pela brutalidade dos fatos históricos, mas pela revelação de uma verdade sombria: o ser humano pode persistir na maldade mesmo quando tudo está perdido, mesmo quando não há mais salvação possível.

O filme era Downfall (A Queda!), um drama histórico devastador que retrata os últimos dias de Adolf Hitler em seu bunker, em Berlim, abril de 1945.
A cidade estava em ruínas, bombardeada sem cessar. O fim do ditador era inevitável. Mas, em vez de recuar, ele se afundou ainda mais em sua loucura.
A iminência da derrota não o fez renunciar à crueldade — a intensificou.

Um dos atos mais insanos foi o Decreto Nero (o nome é muito apropriado) , assinado em 19 de março de 1945.
Hitler ordenou a destruição total da infraestrutura alemã — fábricas, pontes, ferrovias, depósitos — para que nada de valor caísse nas mãos dos Aliados.
Não era uma estratégia militar. Era vingança. A Alemanha, já destruída pela derrota, pagaria um preço ainda mais terrível.
Hitler acreditava que o povo alemão, por tê-lo “traído” ao perder a guerra, não merecia sobreviver.
Felizmente, muitos generais ignoraram a ordem, percebendo que não havia mais nada a salvar — nem o regime, nem o líder.

Uso esse filme como analogia para o que está acontecendo agora com Jair Bolsonaro.

O ex-presidente está condenado e será, sem sobra de dúvidas, preso por muitos anos. Já cumpre prisão domiciliar.
Mas, mesmo encurralado, não abandona o rancor, nem a sede de revanche.
Seu filho, com seu aval, permanece nos Estados Unidos articulando sanções contra o Brasil.
Sanções que não atingem apenas ministros do STF — atingem o povo brasileiro.
Empregos serão perdidos. Famílias serão prejudicadas. A economia será ferida.

Então, cabe perguntar:

De que valem essas ações, se não têm o poder de salvá-lo da prisão?
Por que insistir na maldade?
Por que Bolsonaro não ordena que seu filho pare com essa traição à Pátria?
Por que não pede a algum aliado — Malafaia, Tarcísio, Valdemar Costa Neto — que redija um discurso pedindo a Trump que cancele as sanções contra o Brasil?

Mesmo que não surta efeito, não seria um gesto digno?
Não pareceria, aos olhos do povo, um estadista preocupado com o país?

Mas não.
Mesmo diante da ruína — e sem qualquer perspectiva de reversão — o ódio, o rancor e o desejo de vingança são mais fortes. Seu caráter foi forjado nessas características.
Bolsonaro é aquele que morre, mas leva muita gente inocente junto.

Que ser humano é esse?

"Larga essa turma, menino, senão você vai perder o visto!”

Por Fernando Castilho



Minha avó era uma mulher dominada pelo medo, do mundo, do imprevisto, até da própria sombra. Qualquer ousadia minha era prontamente recebida com uma profecia catastrófica. Se eu subisse em uma árvore: "Desce daí, menino, senão você vai cair." E, uma vez, eu caí. Se eu demorasse para voltar para casa: "Vão te assaltar." E, uma vez, fui assaltado. Não era bruxaria, nem maldição, mas pura estatística. A Lei de Murphy em uma versão caseira, com sotaque de vó.

No último domingo, Élio Gaspari escreveu que o ministro Luiz Fux poderia pedir vistas ao processo contra Jair Bolsonaro. O prazo máximo para manter o processo em banho-maria é de 90 dias, o suficiente para adiar o julgamento para fevereiro de 2026, em pleno ano eleitoral. O timing é tão conveniente que parece piada. Não acho que Fux faria isso. Quer dizer... até ouvir a voz da minha avó ecoando na boca de Gaspari: "Pede vistas, menino!" E, pronto, ele pode decidir pedir.

Fux é, sem dúvida, o ministro mais vaidoso da corte. A vaidade não se revela apenas em sua fala empolada, que parece ter saído de um manual de latim para iniciantes. A peruca, um acessório para esconder o que Alexandre de Moraes ostenta com dignidade, é a prova. Fux age como se a calvície fosse uma falha moral e a peruca, sua armadura.

Sua retórica, tão ornamentada quanto a do bardo Chatotorix das aventuras de Asterix, o condena ao ostracismo. Assim como o personagem, Fux canta sozinho. Ninguém o acompanha e poucos o suportam. Em uma audiência sobre a tentativa de golpe, com Bolsonaro, Augusto Heleno e Braga Netto no banco dos réus da história, Fux se dedicou obsessivamente a perguntar se havia uma assinatura na minuta do golpe para tentar legitimá-la. Um comportamento digno de Chatotorix: muito barulho e pouca melodia.

Mas os tempos mudaram. Trump, em um gesto que mais parece um aceno do que um abraço, não cancelou o visto de Fux, uma espécie de "obrigado pelos serviços prestados." Só que agora, o nacionalismo bate mais forte no peito dos que não se renderam ao bolsonarismo. Com todas as provas escancaradas, qualquer voto contra a condenação será visto como um ato de sabotagem institucional pela corte, pela imprensa e pela população.

Então, a vaidade de Luiz Fux – aquele que já foi agraciado com o lema “In Fux We Trust”, cunhado por um Sérgio Moro desmascarado por sua parcialidade – resistiria ao peso de um voto solitário em defesa de Bolsonaro? Como a história registraria esse gesto? Como um ato de coragem ou como um epitáfio da vaidade?

Fux já fez o que pôde. Defendeu Bolsonaro até onde dava e já foi premiado por isso. Agora, não dá mais. Ele vai acabar votando com o resto da turma. Porque, no fim das contas, até a vaidade tem limite.

Minha avó já avisou: "Larga essa Turma, menino, senão você vai perder o visto!" Fux, no entanto, não sairá. Ele ainda tem alguns anos para conviver com a Turma antes de se aposentar. Ele precisa de reconhecimento. Se ficar isolado, sua vaidade não suportará.

Será que mata no peito?

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

EDUARDO – MAFIOSO OU MILICIANO? OU OS DOIS?

Por Fernando Castilho



É curioso – e um tanto deprimente – como certos episódios do século 21 parecem saídos diretamente de livros ou filmes clássicos. Desta vez, minha memória foi imediatamente puxada para Os Intocáveis (1987), dirigido por Brian De Palma e estrelado por Kevin Costner e Sean Connery.

No enredo, a máfia norte-americana, ao perceber que seus negócios estão ameaçados, parte para a retaliação brutal contra a polícia. Al Capone, o chefão, não hesita em ameaçar e atacar familiares de seus inimigos – inclusive tentando intimidar o agente Eliot Ness por meio de sua esposa e filha. A tensão cresce à medida que a equipe se aproxima de provas cruciais. É o retrato da criminalidade quando se vê acuada: ela não argumenta, ela ameaça. E se puder, manda flores com bilhete anônimo.

Por que essa lembrança veio à tona?

Porque acabei de assistir a um vídeo de um deputado que, atualmente, trai sua pátria diretamente dos Estados Unidos – aparentemente entre uma visita à Disney e outra. Nele, o sujeito — com olhos lacrimejantes e voz trêmula – ameaça o ministro do STF Alexandre de Moraes da seguinte forma:

“Eu vou provar para o Alexandre de Moraes que ele encontrou um cara de saco roxo que vai acabar com essa brincadeirinha dele. Moraes, você, a sua mulher, e depois dela, que quem será sancionado serão seus filhos, eu vou atrás de cada um de vocês.”

Sim, é isso mesmo. O parlamentar, em pleno solo estrangeiro, resolveu brincar de Al Capone versão TikTok. Só faltou o charuto e o terno risca de giz.

A pergunta que se impõe é simples: há alguma diferença entre ele e Al Capone?

Na verdade, nem precisamos recorrer a filmes sobre a máfia norte-americana – esse é o exato modus operandi das milícias do Rio de Janeiro, aquelas que a família Bolsonaro tanto admira e já homenageou oficialmente. A diferença? Capone ao menos tinha um senso de estética. E era mais gordo.

Assim como Eliot Ness não se intimidou diante das ameaças contra sua família, Alexandre de Moraes segue firme, sem recuar um milímetro de sua missão de defesa da Constituição e do Estado Democrático de Direito. E isso incomoda – incomoda profundamente quem vive da chantagem, da intimidação e da política do medo. Afinal, é difícil lidar com alguém que não treme diante de gritos histéricos e ameaças mal ensaiadas.

O que falta? Prender o meliante.

E é aqui que a ironia histórica se impõe: Al Capone não foi preso por assassinatos, extorsão ou ameaças. Foi pego por evasão fiscal. O crime mais burocrático de todos derrubou o maior mafioso da história americana. Um lembrete gentil de que a Receita Federal pode ser mais perigosa que qualquer revólver.

Talvez seja por aí que Eduardo Bolsonaro também será alcançado pela justiça. Afinal, muito dinheiro já foi transferido pela família para os Estados Unidos – dinheiro cuja origem permanece obscura, como os milhões recebidos via Pix. E se tem uma coisa que o Pix não faz é apagar rastros.

Porque no fim das contas, o que às vezes derruba um criminoso não é o grito – é o recibo. E esse, meu caro, não tem como negar.

 

GRANDE IMPRENSA COMEÇA A DESEMBARCAR DE TARCÍSIO

Por Fernando Castilho

 


Quando, em 2023, um colunista da Folha resolveu cunhar o termo “bolsonarista moderado” para definir Tarcísio de Freitas, muita gente torceu o nariz. Mas a senha estava dada: a grande imprensa, sempre ávida por um novo rosto palatável à elite, adotou o governador de São Paulo como seu queridinho para a sucessão de Lula. Afinal, nada como um “moderado” para manter o bolsonarismo.

Logo depois, foi a vez do mercado. Pesquisas mostravam que, embora os empresários estivessem nadando em lucros, o desprezo pelo governo Lula atingia níveis olímpicos. Já Tarcísio era visto como a joia rara — aquele que promete entregar o Estado em fatias generosas e, de quebra, mandar os pobres para o rodapé da história.

O tempo passou e o barco de Tarcísio navegava em águas calmas. Nenhuma onda, nenhuma notícia negativa. Nem mesmo as mortes causadas pela truculência policial conseguiram furar o bloqueio midiático. Tudo seguia conforme o script.

Mas eis que o julgamento de Jair Bolsonaro se aproximava, e o filho 03, Eduardo, resolveu cobrar fidelidade explícita de Tarcísio. O bolsonarismo, sempre faminto por lealdade cega, virou-se contra o governador. Tarcísio, então, fez o que qualquer político com ambições faria: colocou tudo na balança. De um lado, a moderação que agradava à imprensa. Do outro, os votos do bolsonarismo raiz.

Foi nesse clima que estourou uma operação revelando conexões entre o crime organizado e a Faria Lima — com possíveis ramificações que chegavam até o governador. A imprensa, que até então fazia vista grossa, entrou em pânico. Até quando esconder o escândalo? Continuar apoiando Tarcísio significaria, mais cedo ou mais tarde, parecer cúmplice.

Então veio o movimento audacioso: Tarcísio declarou que, se eleito presidente, seu primeiro ato seria conceder indulto a Jair Bolsonaro, em perfeita sintonia com o que preconizava o filho 01, Flávio. Ora, todos sabem que esse indulto seria barrado pelo STF por inconstitucionalidade. Mas Flávio já havia avisado: se isso acontecer, o presidente herdeiro do legado bolsonarista deve usar a força contra o tribunal.

Tarcísio, por sua vez, afirmou não reconhecer Justiça no Brasil. Para bom entendedor, isso soa como um aviso: seu governo, tal como o de Jair, seria pautado pelo confronto com o STF — e quem sabe até pela destituição de ministros ou pelo fechamento do tribunal, como sonha Eduardo.

Não por acaso, os editoriais dos grandes jornais agora estampam críticas ferozes a Tarcísio. A lua de mel parece que acabou. Nenhum desses veículos vive apenas de imprimir jornais — são conglomerados de mídia com interesses em tecnologia, publicidade, entretenimento e serviços digitais. O Globo, Estadão e Folha de S.Paulo pertencem a grupos empresariais que dependem de estabilidade econômica e previsibilidade institucional. E, convenhamos, uma ditadura não costuma ser boa para os negócios — a menos que se esteja do lado certo da baioneta.

O que se vê no horizonte é preocupante. Se Tarcísio conseguir libertar Jair em meio a uma crise com o Judiciário, quem governaria de fato? E qual seria o tamanho da insegurança jurídica que isso provocaria?

Por ora, os ventos sopram a favor da grande mídia, graças ao crescimento econômico. Mas será que ela está disposta a trocar estabilidade e previsibilidade por caos, só para manter um flerte com o bolsonarismo?

Hora de desembarcar da candidatura Tarcísio — antes que o barco afunde e leve junto a democracia.

 

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Malafaia participa do conclave

Por Fernando Castilho



Enquanto os cardeais debatem, Malafaia manda passar uma cestinha para o dízimo dos conclavistas


Vaticano, 2025. No coração da Praça de São Pedro, uma figura inesperada surge, carregando uma mala Louis Vuitton e uma bíblia com capa dourada: o pastor Silas Malafaia. Com um sorriso confiante e seu infalível tom oratório, ele se dirige ao portão, cumprimentando os guardas suíços com um entusiasmado "Povo amado do Vaticano!”

Ao descobrir o propósito da visita, os cardeais entram em um estado de perplexidade. Malafaia, sem hesitar, explica sua ideia: "Meus caros, sempre preguei que os caminhos do Senhor são misteriosos. Então, quem melhor do que eu para ser o papa conservador e defensor da moral da vez? Afinal, não sou eu que transformo centavos em milhões, digo, almas em bênçãos?"

Nos bastidores, corre o boato de que Malafaia trouxe como “carta de apresentação” uma planilha de arrecadação e uma proposta de "Dízimo 4.0", prometendo modernizar a Santa Sé com estratégias de marketing e lives interativas no Instagram. Ele até sugere um novo bordão para a Igreja: "Contribua com fé, pois aqui as indulgências são premium."

Enquanto os cardeais debatem, Malafaia manda passar uma cestinha para o dízimo dos conclavistas, justificando: "É para cobrir os custos do Espírito Santo em alta definição."

Surge uma tempestade de memes na internet. “Papa Malafaia 2025” vira trending topic, com hashtags como #FéEmpreendedora, #HabemusPastor e #DízimoDigital. Em um último ato de ousadia, Malafaia coloca um trio elétrico em plena Praça de São Pedro, decorado com luzes de LED piscando "Jesus é Top", e manda passar a cestinha para a multidão reunida enquanto entoa cânticos de sua igreja que ninguém compreende. O resultado? Um silêncio constrangedor, interrompido apenas pelo soar de um sino... mas era um vendedor de gelato.

No fim, os conclavistas, embora tenham achado a planilha Dízimo 4.0 interessante, consideraram um ultraje terem eles mesmos que pagar dízimo. O conclave se encerra com um novo papa escolhido: um cardeal idoso, gentil e genuinamente humilde, seguidor de Francisco.

Malafaia fica furioso e xinga o novo papa de “ditador da batina”. Antes de embarcar de volta ao Brasil, ele tenta vender aos cardeais um pacote de "orações personalizadas" com desconto para quem pagar em criptomoedas. De volta ao Brasil, murmura algo sobre ter "plantado a semente" para um dia liderar "o rebanho mundial". Até lá, ele promete lançar um curso online: "Como Evangelizar em Latim e Lucrar com Isso", com um bônus exclusivo: "10 passos para transformar água benta em receita líquida."

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A Revisão da Vida Toda e a 2ª Lei da Termodinâmica

Por Fernando Castilho



A 2ª Lei da Termodinâmica, uma lei fundamental da física, introduz o conceito de Entropia. Embora inicialmente pareça complexo, esse conceito pode ser compreendido de forma simples: a Entropia determina que tudo o que está organizado tende à desorganização ou ao caos.

Por exemplo, imagine que um artesão cria a mais perfeita e linda xícara. Por um descuido, ele a deixa cair no chão, quebrando-a em inúmeros pedaços. É impossível restaurar a xícara ao seu estado original. Isso ilustra por que o tempo só avança para o futuro. É por causa da Entropia que tudo se deteriora com o tempo, inclusive nós, que envelhecemos.

Agora, imagine uma cidade construída na base de um vulcão. Num belo dia, o vulcão entra em erupção e destrói a cidade. Um dos sobreviventes, ao se dirigir à biblioteca, felizmente afastada da área mais atingida, encontra um documento de 300 anos atrás. Nele, o prefeito da época assegurava aos cidadãos que o vulcão estava extinto e nunca mais entraria em erupção. Por isso, a cidade cresceu ao redor do vulcão.

O sobrevivente busca o atual prefeito, com o documento em mãos, acreditando que ele possa reverter a erupção e restaurar a cidade ao seu estado anterior. Evidentemente, ele falha, afinal, um documento do passado não possui força cogente capaz de reverter um fato ocorrido 300 anos mais tarde.

A Revisão da Vida Toda foi aprovada pelo STF em 2022. Em 2024, o presidente do tribunal utilizou duas ADIs com o intuito de anular a votação de 2022, um feito impossível, pois contraria a Entropia e, portanto, a 2ª Lei da Termodinâmica.

Embora as ciências sociais, como o direito, possuam princípios distintos das ciências naturais, como a física, esta metáfora demonstra a impossibilidade lógica da aplicação da força cogente das ADIs no Tema 1102, a Revisão da Vida Toda. Por isso, essa cogência forçada tem que ser derrubada.

 


segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Carta Aberta dos aposentados da Revisão da Vida toda ao presidente Lula

Por Fernando Castilho





Senhor presidente Lula, o senhor, por inúmeras vezes, demonstrou que sabe o que é passar fome e, por isso, seu governo está especialmente empenhado em garantir que todos os brasileiros tenham ao menos três refeições ao dia. Porém, o senhor realmente sabe o que é estar aposentado, com mãos que se tornaram rudes pelo esforço, com costas que se curvaram sob o peso dos anos e com dores que se tornaram nossas companheiras constantes, após trabalhar por 50, 60 anos, recebendo como aposentadoria apenas um salário-mínimo ou pouco mais?

Somos um grupo de cerca de 102 mil aposentados que trabalharam durante décadas alimentando o sonho de que um dia, quando nossa força de trabalho se exaurisse, teríamos direito a uma aposentadoria que nos garantisse, não a troca anual de carro, viagens internacionais ou outros luxos, algo que já ficou muito distante em nosso horizonte, mas pelo menos as três refeições diárias de que precisamos para continuar a sobreviver.

Senhor Presidente Lula, o senhor sofreu grandes injustiças na vida, desde que teve que se meter num pau de arara e chegar a São Paulo enfrentando todo tipo de discriminação e adversidades. Por quantas vezes o senhor foi discriminado por ser um operário nordestino?

Pois bem, nós aposentados nos sentimos também discriminados porque uma grande parte de nossos direitos foi cortada quando fomos lesados pelo INSS que não considerou nossas contribuições anteriores a 1994. Contribuímos durante mais de 20 anos numa época em que recebíamos salários mais altos, o que nos garantiria, pela média, uma aposentadoria mais segura. Como esses mais de 20 anos não foram computados, sentimos como se tivéssemos um braço decepado.

Senhor presidente Lula, o senhor sabe o que é ser preso injustamente sem provas. Não se deu por vencido e conquistou novamente o direito de caminhar com a cabeça erguida. Nós também sabemos o que é injustiça e, por isso, não nos demos por vencidos e ingressamos com uma ação no STJ, chamada de Revisão da Vida Toda. O tribunal, por unanimidade, reconheceu nosso direito.

O INSS, ignorando seu erro, recorreu ao STF, que nos garantiu nova vitória em 2022 por 6 a 5. Portanto, entendemos que a suprema corte deste país corrigiu a injustiça. O senhor percebe, o quanto, assim como o senhor, fomos resilientes?

Porém, a alegria durou pouco. O STF, munido de uma informação falsa de que a Revisão da Vida Toda acarretaria um rombo financeiro da ordem de 480 bilhões de reais, utilizou de um artifício para anular sua própria decisão de 2022. Chegou ao cúmulo de aguardar a entrada de dois novos ministros para desenterrar duas ADIs de 1999 para utilizá-las contra nós.

Assim como o senhor recusou a indignidade de voltar para casa com uma humilhante tornozeleira, recusamos também essa humilhante injustiça. Uma auditoria de alto nível foi contratada pelo Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários) para verificar o real impacto financeiro à União. E, pasme, senhor presidente, os 480 bilhões de reais são uma falácia, ou, como afirmou o ministro da previdência, Carlos Lupi, em entrevista, trata-se de um “chutômetro”. Os números verdadeiros são da ordem de apenas 3,1 bilhões de reais a serem dispendidos em 10 anos. Portanto, anular a RVT agora deixa de ser uma preocupação atuária para passar a ser algum tipo de punição. Como afirmou recentemente o ministro Barroso: quem insiste em ações no STF é oportunista.

Senhor presidente Lula, pode não parecer, mas nós, aposentados, representamos também, grosso modo, um programa social, na medida em que movimentamos a economia, e, muitos de nós, mesmo recebendo tão pouco, somos arrimos de família. Por isso, merecemos respeito.

Disso tudo que foi exposto, destacamos as consequências, caso o mérito a nosso favor, já julgado e com acórdão publicado seja anulado:

1 –Será cometida, em plena gestão de um governo voltado para os mais pobres, uma das maiores injustiças já cometidas contra um grupo vulnerável, invisibilizado e ignorado de que se tem notícia em nosso país;

2 - O STF, ao ignorar a Constituição, as próprias jurisprudências e seu próprio Regimento Interno, cria para si um enorme problema para todos os futuros julgamentos da corte: uma imensa insegurança jurídica;

3 – Teremos que continuar a fazer bicos para complementar nossa renda até que um dia, já não haja forças até para isso, contrariando o artigo 5º da Constituição.

Senhor presidente Lula, queremos afirmar e reafirmar que o que buscamos não é piedade nem esmolas, mas sim, tão somente o reconhecimento de nosso direito. Queremos nosso braço decepado de volta.

Por isso, senhor presidente Lula, dadas às nossas limitações por sermos um pequeno grupo de apenas 102 mil pessoas, vulnerável, invisibilizado pela grande mídia e tratado como desprezível pelo mercado financeiro, através desta carta, recorremos ao senhor, nosso grande exemplo de triunfo contra todas as injustiças já sofridas.

QUE NOSSO DIREITO CONQUISTADO SEJA PRESERVADO!


Adesões: 

https://www.change.org/p/carta-aberta-dos-aposentados-da-revis%C3%A3o-da-vida-toda-ao-presidente-lula