quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Lula, o Dom Juan da política brasileira

Por Fernando Castilho



Depois que ouvi Lula falar na então Rádio Bandeirantes, no programa O Trabuco do saudoso Vicente Leporace, acho que ainda nos anos 70, senti uma inquietação: quem era esse líder metalúrgico que ousava desafiar a ditadura em nome dos direitos de sua categoria? A curiosidade me levou à histórica assembleia no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. E ali, no meio da massa operária, comecei a entender que aquele homem não era só barulho, mas também pura estratégia.

Mais tarde, estive por duas vezes em reuniões na casa emprestada pelo advogado Roberto Teixeira a Lula, no bairro de Ferrazópolis. Ainda estudante, me vi hipnotizado ao ouvi-lo falar sobre economia com uma lógica tão simples e intuitiva que faria muito doutor engasgar com a própria tese.

O tempo passou, e Lula foi colecionando aliados como quem coleciona figurinhas raras. Seu poder de sedução política é digno de estudo, ou de uma tese de doutorado com direito a banca rendida.

Por mais improvável que parecesse, lá estava ele como presidente, trocando confidências com George W. Bush e recebendo elogios rasgados de Barack Obama, que não economizou: “Esse é o cara!” Pois é. O cara.

Com Emmanuel Macron, presidente da França e da ala direita, não foi diferente. Foram filmados de mãos dadas na Floresta Amazônica, em Belém, como dois adolescentes em passeio escolar. Faltou só o piquenique e a trilha sonora.

O senador Ciro Nogueira, bolsonarista de carteirinha, chegou a declarar: “Ele é capaz de me seduzir em 15 minutos. É macio e jeitoso.” Um elogio que até hoje causa urticária na ala mais radical do Congresso.

Em 2022, Lula fez o impossível parecer trivial. Bastaram algumas conversas para transformar Geraldo Alckmin, aquele mesmo, seu adversário em outras épocas, em seu vice. A conciliação, afinal, é uma das marcas registradas do Barba. E ele assina com estilo.

E quem não lembra da prisão em Curitiba? Lula, enclausurado na sede da Polícia Federal, acabou conquistando justamente o carcereiro. Horas e horas de conversa e, no fim, mais um fã. Se tivesse mais tempo, talvez saíssem de lá com um podcast.

A mais recente conquista do Dom Juan da política parece ser ninguém menos que o presidente norte-americano Donald Trump. Em uma conversa telefônica de 30 minutos, Trump saiu encantado: “Gostei da ligação. Nossos países vão se sair muito bem juntos!” Prometeu mais encontros, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Se isso não é charme, o que é então?

Nas entrevistas, seja com a imprensa progressista ou com os grandes veículos da mídia corporativa, o resultado é sempre o mesmo: entrevistadores saem satisfeitos, convencidos, quase convertidos. Lembro bem da entrevista com Reinaldo Azevedo durante a campanha de 2022. Justamente o cara que cunhou a expressão “petralha”. Tio Rei saiu de lá praticamente com uma estrela no peito.

Mas afinal, qual é o segredo desse poder de agregar?

Digo que é a verdade. A sinceridade no olhar. E uma biografia marcada pela coerência ou, no mínimo, pela habilidade de parecer coerente em qualquer cenário.

O poder do diálogo com Lula é tão surpreendente que os bolsonaristas evitam qualquer conversa com ele. E fazem bem. Porque se conversarem... é capaz que se apaixonem.

Pode ser até que Trump o traia. Afinal, isso não se descarta em nenhuma relação. Mas, por enquanto, parece que a coisa vai às mil maravilhas.

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