Por Fernando Castilho
O
Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, foi impecável ao oferecer denúncia
contra Jair Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado. Palmas.
Aplausos. Medalha de mérito jurídico. Mas agora, parece que resolveu dar uma
pausa estratégica, e está deixando Alexandre de Moraes com um abacaxi
institucional para descascar.
Bolsonaro
está em prisão domiciliar desde 18 de julho, no inquérito que investiga seu
filho Eduardo e o sempre performático e traidor da pátria Paulo Figueiredo, por
obstrução da ação penal relacionada ao golpe. Entre os motivos da prisão
preventiva está o risco de fuga e, convenhamos, não seria exatamente
surpreendente se o ex-presidente fugisse.
Só
que os advogados de Bolsonaro, percebendo que Gonet sumiu da cena, pediram a
revogação das medidas cautelares. Moraes, claro, negou. Mas, ironicamente, os
advogados têm um ponto: sem denúncia formal, a prisão preventiva começa a
parecer uma peça de teatro jurídico sem roteiro. E isso coloca Moraes numa
sinuca de bico: se revogar, Bolsonaro pode fugir e o caos estará armado. Se
mantiver, será acusado de manter uma prisão ilegal. E lá vem o discurso de
perseguição política.
A
situação de Bolsonaro hoje é bem diferente daquela de três meses atrás, quando
muita gente estourou champanhe acreditando que ele iria direto para a Papuda.
Hoje, essa certeza evaporou. Além dos problemas de saúde alegados (com boletins
médicos dignos de novela), há uma tendência crescente e preocupante de
normalizar a ideia de que ele cumpra pena em prisão domiciliar. Afinal, já está
lá.
Essa
normalização vem sendo empurrada por setores da grande imprensa e por políticos
de vários naipes. É claro que Bolsonaro não vai cumprir pena pelo genocídio
durante a pandemia, nem pelo desfile de joias desviadas. Mas, para quem
acompanhou a trajetória do traste por quatro longos anos, a condenação de 27
anos soa como uma espécie de acerto simbólico, uma tentativa de justiça
acumulada.
Agora,
se essa pena virar prisão domiciliar num condomínio de luxo em Brasília, com
aluguel bancado pelo Fundo Partidário do PL, ou seja, com o nosso dinheiro,
então não é punição, é prêmio. E ainda há o projeto que reduz a dosimetria da
pena, podendo colocar Bolsonaro de volta à sociedade em cerca de três anos.
Três curtos anos. Depois voltará a sua habitual sandice provocando nossa
sanidade mental.
Não.
Paulo Gonet precisa oferecer a denúncia ao STF, para que Bolsonaro se torne réu
também por obstrução de justiça. Isso aliviaria a pressão que os advogados
estão jogando sobre Moraes e, quem sabe, evitaria mais uma reviravolta digna de
série política.
Vamos
lá, Gonet. É pra ontem. Antes que a Papuda vire só mais uma miragem
institucional.
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