Depois
que ouvi Lula falar na então Rádio Bandeirantes, no programa O Trabuco
do saudoso Vicente Leporace, acho que ainda nos anos 70, senti uma inquietação:
quem era esse líder metalúrgico que ousava desafiar a ditadura em nome dos
direitos de sua categoria? A curiosidade me levou à histórica assembleia no
Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. E ali, no meio da massa
operária, comecei a entender que aquele homem não era só barulho, mas também
pura estratégia.
Mais
tarde, estive por duas vezes em reuniões na casa emprestada pelo advogado
Roberto Teixeira a Lula, no bairro de Ferrazópolis. Ainda estudante, me vi
hipnotizado ao ouvi-lo falar sobre economia com uma lógica tão simples e
intuitiva que faria muito doutor engasgar com a própria tese.
O
tempo passou, e Lula foi colecionando aliados como quem coleciona figurinhas
raras. Seu poder de sedução política é digno de estudo, ou de uma tese de
doutorado com direito a banca rendida.
Por
mais improvável que parecesse, lá estava ele como presidente, trocando
confidências com George W. Bush e recebendo elogios rasgados de Barack Obama,
que não economizou: “Esse é o cara!” Pois é. O cara.
Com
Emmanuel Macron, presidente da França e da ala direita, não foi diferente.
Foram filmados de mãos dadas na Floresta Amazônica, em Belém, como dois
adolescentes em passeio escolar. Faltou só o piquenique e a trilha sonora.
O
senador Ciro Nogueira, bolsonarista de carteirinha, chegou a declarar: “Ele é
capaz de me seduzir em 15 minutos. É macio e jeitoso.” Um elogio que até hoje
causa urticária na ala mais radical do Congresso.
Em
2022, Lula fez o impossível parecer trivial. Bastaram algumas conversas para
transformar Geraldo Alckmin, aquele mesmo, seu adversário em outras épocas, em
seu vice. A conciliação, afinal, é uma das marcas registradas do Barba. E ele
assina com estilo.
E
quem não lembra da prisão em Curitiba? Lula, enclausurado na sede da Polícia
Federal, acabou conquistando justamente o carcereiro. Horas e horas de conversa
e, no fim, mais um fã. Se tivesse mais tempo, talvez saíssem de lá com um
podcast.
A
mais recente conquista do Dom Juan da política parece ser ninguém menos que o
presidente norte-americano Donald Trump. Em uma conversa telefônica de 30
minutos, Trump saiu encantado: “Gostei da ligação. Nossos países vão se sair
muito bem juntos!” Prometeu mais encontros, tanto no Brasil quanto nos Estados
Unidos. Se isso não é charme, o que é então?
Nas
entrevistas, seja com a imprensa progressista ou com os grandes veículos da
mídia corporativa, o resultado é sempre o mesmo: entrevistadores saem
satisfeitos, convencidos, quase convertidos. Lembro bem da entrevista com
Reinaldo Azevedo durante a campanha de 2022. Justamente o cara que cunhou a
expressão “petralha”. Tio Rei saiu de lá praticamente com uma estrela no peito.
Mas
afinal, qual é o segredo desse poder de agregar?
Digo
que é a verdade. A sinceridade no olhar. E uma biografia marcada pela coerência
ou, no mínimo, pela habilidade de parecer coerente em qualquer cenário.
O
poder do diálogo com Lula é tão surpreendente que os bolsonaristas evitam
qualquer conversa com ele. E fazem bem. Porque se conversarem... é capaz que se
apaixonem.
Pode
ser até que Trump o traia. Afinal, isso não se descarta em nenhuma relação.
Mas, por enquanto, parece que a coisa vai às mil maravilhas.