Por Fernando Castilho
O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já
registrado em nosso sistema solar, tem despertado grande curiosidade entre os
astrônomos. Recentemente, ele passou a cerca de 30 milhões de quilômetros de
Marte e foi observado por sondas como a Mars Express, ExoMars TGO
e até pelo rover Perseverance. Mas o que mais chama atenção não é sua
rota, mas seu comportamento.
As observações mostraram que o cometa desenvolveu uma cauda
anti-solar, ou seja, apontando na direção oposta ao que seria esperado. Isso
desafia os modelos tradicionais sobre como cometas interagem com o vento solar
e levanta dúvidas sobre sua estrutura interna ou possíveis fenômenos
eletromagnéticos ainda desconhecidos.
Outro ponto intrigante é sua composição química: o 3I/ATLAS
é rico em níquel, mas praticamente não tem ferro. Isso sugere que ele pode ter
se formado em um ambiente muito diferente do nosso, talvez ao redor de uma
estrela exótica ou nas regiões mais distantes de um sistema planetário.
Para os cientistas, esse cometa não é apenas um corpo
errante. Ele pode ser uma janela para outros mundos, uma peça que ajuda a
repensar como os sistemas estelares se formam. E como há chance de ele carregar
moléculas orgânicas complexas, também reacende discussões sobre a origem da
vida.
Como todo mistério, o 3I/ATLAS também virou alvo de
especulações, inclusive de nomes respeitados na astronomia. O professor Avi
Loeb, de Harvard, conhecido por suas ideias ousadas, levantou a hipótese de que
o cometa poderia ser uma sonda enviada por uma civilização extraterrestre,
talvez até com intenções hostis. Ele baseia essa ideia em características
incomuns do objeto: sua velocidade altíssima, a composição química fora do
padrão e o comportamento estranho da cauda.
Para Loeb, essas anomalias podem indicar que o 3I/ATLAS não
é natural, mas sim um artefato artificial, como ele já sugeriu sobre outro
visitante interestelar, o Oumuamua. Segundo ele, a ciência deve estar
aberta a hipóteses não convencionais quando os dados desafiam os modelos
tradicionais.
Mas essa teoria enfrenta um grande obstáculo: as imensas
distâncias entre as estrelas, como já abordei em outros artigos. Mesmo a 220
mil km/h, velocidade estimada do cometa, uma sonda levaria milhares ou até
milhões de anos para chegar até aqui. Para isso, uma civilização teria que ter
uma tecnologia extremamente avançada, um motivo muito claro para a missão e uma
precisão absurda para acertar um alvo tão pequeno como o nosso sistema solar.
Além disso, não há sinais de controle, comunicação ou
estrutura artificial no objeto. Os dados obtidos por telescópios e sondas
indicam que ele tem características físicas compatíveis com cometas naturais,
embora incomuns.
A maioria dos cientistas vê a hipótese de Loeb como uma
provocação interessante, mas improvável. O consenso atual é que o 3I/ATLAS seja
um fragmento natural de um sistema planetário distante, lançado ao espaço por
forças gravitacionais intensas.
De qualquer forma, em breve o 3I/ATLAS deixará nosso sistema
solar. Se for mesmo uma sonda, já terá cumprido sua missão: observar, mapear e
talvez identificar a Terra como um dos raros planetas com vida em sua longa
jornada pela galáxia.