Por Fernando Castilho
Há muitos anos, assisti a um filme que me deixou inquieto —
não apenas pela brutalidade dos fatos históricos, mas pela revelação de uma
verdade sombria: o ser humano pode persistir na maldade mesmo quando tudo está
perdido, mesmo quando não há mais salvação possível.
O filme era Downfall (A Queda!), um drama
histórico devastador que retrata os últimos dias de Adolf Hitler em seu bunker,
em Berlim, abril de 1945.
A cidade estava em ruínas, bombardeada sem cessar. O fim do ditador era
inevitável. Mas, em vez de recuar, ele se afundou ainda mais em sua loucura.
A iminência da derrota não o fez renunciar à crueldade — a intensificou.
Um dos atos mais insanos foi o Decreto Nero (o nome é muito
apropriado) , assinado em 19 de março de 1945.
Hitler ordenou a destruição total da infraestrutura alemã — fábricas, pontes,
ferrovias, depósitos — para que nada de valor caísse nas mãos dos Aliados.
Não era uma estratégia militar. Era vingança. A Alemanha, já destruída pela
derrota, pagaria um preço ainda mais terrível.
Hitler acreditava que o povo alemão, por tê-lo “traído” ao perder a guerra, não
merecia sobreviver.
Felizmente, muitos generais ignoraram a ordem, percebendo que não havia mais
nada a salvar — nem o regime, nem o líder.
Uso esse filme como analogia para o que está acontecendo
agora com Jair Bolsonaro.
O ex-presidente está condenado e será, sem sobra de dúvidas,
preso por muitos anos. Já cumpre prisão domiciliar.
Mas, mesmo encurralado, não abandona o rancor, nem a sede de revanche.
Seu filho, com seu aval, permanece nos Estados Unidos articulando sanções
contra o Brasil.
Sanções que não atingem apenas ministros do STF — atingem o povo brasileiro.
Empregos serão perdidos. Famílias serão prejudicadas. A economia será ferida.
Então, cabe perguntar:
De que valem essas ações, se não têm o poder de salvá-lo da
prisão?
Por que insistir na maldade?
Por que Bolsonaro não ordena que seu filho pare com essa traição à Pátria?
Por que não pede a algum aliado — Malafaia, Tarcísio, Valdemar Costa Neto — que
redija um discurso pedindo a Trump que cancele as sanções contra o Brasil?
Mesmo que não surta efeito, não seria um gesto digno?
Não pareceria, aos olhos do povo, um estadista preocupado com o país?
Mas não.
Mesmo diante da ruína — e sem qualquer perspectiva de reversão — o ódio, o
rancor e o desejo de vingança são mais fortes. Seu caráter foi forjado nessas
características.
Bolsonaro é aquele que morre, mas leva muita gente inocente junto.
Que ser humano é esse?