Por Fernando Castilho
A verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não ser pelo voto.
"É
necessário que as instituições não se deixem enganar pela falsa interpretação
de que este ano foi mais 'suave' pelo fato de Bolsonaro não ter dito coisas
como chamar um ministro do Supremo de canalha. Bolsonaro ontem [7/9] abusou do
seu poder como chefe de Estado, usou recursos públicos para a campanha, dividiu
o país em dia de união, apropriou-se de data nacional, desrespeitou códigos,
protocolos e leis. E, sim, ameaçou a todos com golpes de Estado".
"Se
Bolsonaro sair de novo impune de todo o escandaloso abuso de poder exibido
durante todo este infeliz Sete de Setembro, é porque o país se deixou
encurralar por um golpista que usa todas as técnicas de manipulação para
destruir a democracia".
A
fala da jornalista Miriam Leitão é forte, mas impotente e eivada da hipocrisia
daqueles que gritam “PEGA LADRÃO” enquanto eles mesmos foram os autores do
roubo.
Leio
os jornais e constato que jornalistas do naipe de Reinaldo Azevedo, Josias de
Oliveira e a própria Miriam Leitão, entre outros, se revoltam com as
ilegalidades cometidas pelo capitão e correm a escrever contra elas, como se
eles mesmos não fossem os artífices do estado de coisas em que nos encontramos
hoje.
Miriam,
porém, tem razão. Josias e Reinaldo também. Parecem gritar em uníssono: É
PRECISO QUE AS INSTITUIÇÕES FAÇAM ALGUMA COISA! QUE PUNAM BOLSONARO!
Mas
como?
O
que aconteceria se o TSE decidisse, acolhendo os pedidos dos partidos de
oposição, cassar a candidatura do presidente?
Mais
de 30% da população, aferida nas pesquisas, apoiam o canalha! Isso dá cerca de
64 milhões de pessoas! Muitas delas, armadas! Muitas delas, violentas!
Como
o TSE assumiria o risco de uma irresponsabilidade que poderia desencadear um
número de mortes que não se pode estimar?
A
verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido
abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem
alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não
ser pelo voto.
Foi
em maio de 2019, apenas 5 meses após sua vitória, que Jair Bolsonaro participou
de uma manifestação golpista em Brasília que pedia fechamento do Congresso e do
STF. Flagrante crime de responsabilidade, muitíssimo além das pedaladas fiscais
que derrubaram Dilma Rousseff e, que hoje até ministros do STF admitem, não
configuraram nenhuma ilegalidade.
Nenhuma
instituição, seja o Congresso, então presidido por Rodrigo Maia, seja o STF,
então presidido por Dias Toffoli, ou seja, a PGR, então presidida por Raquel
Dodge, foi capaz de cortar as asinhas do monstro que começava a engatinhar.
Limitaram-se sempre a notas de repúdio.
Agora
o monstro está maior que todos eles e se diz imbrochável, possivelmente uma
metáfora (não sei se ele tem habilidade para isso) para incontrolável ou
irrefreável.
Somente
o presidente do TSE vem travando uma árdua batalha contra esse monstro, mas,
infelizmente, não vem sendo seguido pelos ministros do STF. Luta sozinho, se
expõe sozinho, e, por isso, não tem força suficiente para contê-lo.
Assistimos
o capitão utilizar das comemorações do Dia da Independência, não só para
ameaçar um golpe, mas também para fazer comício e sugerir que, se eleito, não
deixará mais o poder, transformando o Brasil numa autocracia, eufemismo para
ditadura. Tudo isso, pago com dinheiro público.
Farta
exposição dada pela cobertura da imprensa lhe dará pontos nas próximas pesquisas,
creio eu. Ciro Nogueira até já aposta numa virada.
Infelizmente
precisamos esquecer as instituições. Nada poderão fazer a não ser aplicar
alguma multinha ao criminoso e emitir notas de repúdio.
Até
mesmo para a sobrevivência das delas, a esperança é Lula.
Para
nossa grande imprensa, tão atacada pelo presidente, a sobrevivência depende do
democrata Lula.
Somente
ele será capaz de restaurar a importância, o respeito e a independência das
instituições e da imprensa. E elas sabem disso.
É
preciso que a grande imprensa, que tem começado a atacar o presidente pelas
suas falas e atitudes golpistas, passe para a fase seguinte que é a de entrevistá-lo,
não só para ouvi-lo, como tem feito, mas para colocá-lo contra a parede em
casos dos imóveis adquiridos com dinheiro vivo e das rachadinhas, como fez a
jornalista Amanda Klein. Que escalem seus jornalistas investigativos para
esmiuçar a vida do capitão e de seus filhos, como fizeram Thiago Herdy e
Juliana Dal Piva do Uol. É preciso mais. O assassinato de Marielle Franco, por
exemplo, é assunto considerado tabu pela família do presidente e precisa ser
elucidado. Esse é o papel da imprensa.
Urge,
pois só faltam poucas semanas para o primeiro turno das eleições, que a maioria
dos ministros da suprema corte se uma em sua própria defesa e não deixe Moraes isolado
nessa luta.
Acima
de tudo, é necessário que a campanha de Lula convoque a população para sair às
ruas contra a possível reeleição do presidente.
O monstro
Bolsonaro, tal qual um Godzila, precisa ser atacado por todas as forças que desejam
a liberdade, a democracia e o estado de direito, sob pena de termos que viver
sob uma ditadura miliciana.