domingo, 19 de outubro de 2025

3I/ATLAS: Um estranho no sistema solar

Por Fernando Castilho

 


O cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar já registrado em nosso sistema solar, tem despertado grande curiosidade entre os astrônomos. Recentemente, ele passou a cerca de 30 milhões de quilômetros de Marte e foi observado por sondas como a Mars Express, ExoMars TGO e até pelo rover Perseverance. Mas o que mais chama atenção não é sua rota, mas seu comportamento.

 As observações mostraram que o cometa desenvolveu uma cauda anti-solar, ou seja, apontando na direção oposta ao que seria esperado. Isso desafia os modelos tradicionais sobre como cometas interagem com o vento solar e levanta dúvidas sobre sua estrutura interna ou possíveis fenômenos eletromagnéticos ainda desconhecidos.

 Outro ponto intrigante é sua composição química: o 3I/ATLAS é rico em níquel, mas praticamente não tem ferro. Isso sugere que ele pode ter se formado em um ambiente muito diferente do nosso, talvez ao redor de uma estrela exótica ou nas regiões mais distantes de um sistema planetário.

 Para os cientistas, esse cometa não é apenas um corpo errante. Ele pode ser uma janela para outros mundos, uma peça que ajuda a repensar como os sistemas estelares se formam. E como há chance de ele carregar moléculas orgânicas complexas, também reacende discussões sobre a origem da vida.

 Como todo mistério, o 3I/ATLAS também virou alvo de especulações, inclusive de nomes respeitados na astronomia. O professor Avi Loeb, de Harvard, conhecido por suas ideias ousadas, levantou a hipótese de que o cometa poderia ser uma sonda enviada por uma civilização extraterrestre, talvez até com intenções hostis. Ele baseia essa ideia em características incomuns do objeto: sua velocidade altíssima, a composição química fora do padrão e o comportamento estranho da cauda.

 Para Loeb, essas anomalias podem indicar que o 3I/ATLAS não é natural, mas sim um artefato artificial, como ele já sugeriu sobre outro visitante interestelar, o Oumuamua. Segundo ele, a ciência deve estar aberta a hipóteses não convencionais quando os dados desafiam os modelos tradicionais.

 Mas essa teoria enfrenta um grande obstáculo: as imensas distâncias entre as estrelas, como já abordei em outros artigos. Mesmo a 220 mil km/h, velocidade estimada do cometa, uma sonda levaria milhares ou até milhões de anos para chegar até aqui. Para isso, uma civilização teria que ter uma tecnologia extremamente avançada, um motivo muito claro para a missão e uma precisão absurda para acertar um alvo tão pequeno como o nosso sistema solar.

 Além disso, não há sinais de controle, comunicação ou estrutura artificial no objeto. Os dados obtidos por telescópios e sondas indicam que ele tem características físicas compatíveis com cometas naturais, embora incomuns.

 A maioria dos cientistas vê a hipótese de Loeb como uma provocação interessante, mas improvável. O consenso atual é que o 3I/ATLAS seja um fragmento natural de um sistema planetário distante, lançado ao espaço por forças gravitacionais intensas.

 De qualquer forma, em breve o 3I/ATLAS deixará nosso sistema solar. Se for mesmo uma sonda, já terá cumprido sua missão: observar, mapear e talvez identificar a Terra como um dos raros planetas com vida em sua longa jornada pela galáxia.

Procurando o procurador Gonet. Cadê você?

Por Fernando Castilho



O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, foi impecável ao oferecer denúncia contra Jair Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado. Palmas. Aplausos. Medalha de mérito jurídico. Mas agora, parece que resolveu dar uma pausa estratégica, e está deixando Alexandre de Moraes com um abacaxi institucional para descascar.

Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 18 de julho, no inquérito que investiga seu filho Eduardo e o sempre performático e traidor da pátria Paulo Figueiredo, por obstrução da ação penal relacionada ao golpe. Entre os motivos da prisão preventiva está o risco de fuga e, convenhamos, não seria exatamente surpreendente se o ex-presidente fugisse.

Só que os advogados de Bolsonaro, percebendo que Gonet sumiu da cena, pediram a revogação das medidas cautelares. Moraes, claro, negou. Mas, ironicamente, os advogados têm um ponto: sem denúncia formal, a prisão preventiva começa a parecer uma peça de teatro jurídico sem roteiro. E isso coloca Moraes numa sinuca de bico: se revogar, Bolsonaro pode fugir e o caos estará armado. Se mantiver, será acusado de manter uma prisão ilegal. E lá vem o discurso de perseguição política.

A situação de Bolsonaro hoje é bem diferente daquela de três meses atrás, quando muita gente estourou champanhe acreditando que ele iria direto para a Papuda. Hoje, essa certeza evaporou. Além dos problemas de saúde alegados (com boletins médicos dignos de novela), há uma tendência crescente e preocupante de normalizar a ideia de que ele cumpra pena em prisão domiciliar. Afinal, já está lá.

Essa normalização vem sendo empurrada por setores da grande imprensa e por políticos de vários naipes. É claro que Bolsonaro não vai cumprir pena pelo genocídio durante a pandemia, nem pelo desfile de joias desviadas. Mas, para quem acompanhou a trajetória do traste por quatro longos anos, a condenação de 27 anos soa como uma espécie de acerto simbólico, uma tentativa de justiça acumulada.

Agora, se essa pena virar prisão domiciliar num condomínio de luxo em Brasília, com aluguel bancado pelo Fundo Partidário do PL, ou seja, com o nosso dinheiro, então não é punição, é prêmio. E ainda há o projeto que reduz a dosimetria da pena, podendo colocar Bolsonaro de volta à sociedade em cerca de três anos. Três curtos anos. Depois voltará a sua habitual sandice provocando nossa sanidade mental.

Não. Paulo Gonet precisa oferecer a denúncia ao STF, para que Bolsonaro se torne réu também por obstrução de justiça. Isso aliviaria a pressão que os advogados estão jogando sobre Moraes e, quem sabe, evitaria mais uma reviravolta digna de série política.

Vamos lá, Gonet. É pra ontem. Antes que a Papuda vire só mais uma miragem institucional.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Apresento o Zé Ninguém para a vaga de Barroso no STF

Por Fernando Castilho




Com a saída de Luís Roberto Barroso do STF, Lula tem agora a chance de corrigir alguns erros do passado.

Comecemos por Barroso. Em 2021, ele declarou à Folha que Dilma Rousseff não caiu por crime de responsabilidade, mas por não saber fazer política. Traduzindo: foi deposta por falta de traquejo parlamentar, não por pedaladas. E Barroso, indicado por ela, diante dessa “injustiça”, fez o quê? Nada. Omitiu-se. Um silêncio que grita. Dilma errou ao escolhê-lo, e Lula, agora, pode consertar isso.

Aliás, Dilma também nos presenteou com Luiz Fux, grande professor e autor de importantes livros sobre direito processual que, vergonhosamente os rasgou para defender um golpista. Mais, sobre ele, prefiro não falar para poupar meus dedos e sua paciência.

Lula, por sua vez, teve seu momento de arrependimento com Dias Toffoli. Quando estava preso, foi impedido por Toffoli de comparecer ao velório do irmão. Só autorizou a ida quando faltavam 20 minutos para o enterro, e ainda sugeriu que o corpo fosse levado a um quartel para um velório improvisado. Lula, com razão, recusou. E essa mágoa, dizem, ainda ecoa no Planalto.

Agora, Lula tem uma nova lista de possíveis indicados: Jorge Messias, Rodrigo Pacheco, Bruno Dantas, Carol Proner... Nomes fortes. Mas vamos aos poréns.

Rodrigo Pacheco? Um político de direita que, de repente, virou um doce de pessoa, justo quando a vaga apareceu. Coincidência, claro. Já Bruno Dantas é cria de Gilmar Mendes. Precisa dizer mais?

— “Ah, Fernando, então você quer um ministro que diga amém a tudo que Lula fizer, como Nunes Marques e André Mendonça fazem com Bolsonaro?”

Não. A questão não é alinhamento cego. A verdadeira polarização não é entre esquerda e direita, mas entre quem defende a democracia e quem flerta com o autoritarismo; entre quem luta pelos vulneráveis e quem serve aos privilegiados; entre quem busca justiça e quem a transforma em privilégio.

Outros nomes correm por fora: Kakay, Lenio Streck, Pedro Serrano... Todos bons. Mas o que define um bom ministro do STF?

Além do tal “notório saber jurídico”, que, convenhamos, virou bordão, é preciso que o ministro saiba para que lado pender a balança: o lado dos que mais precisam de justiça. Hoje, ela pende para os patrões, os latifundiários, o INSS contra os aposentados. Gilmar, Toffoli, Fux, Barroso, Nunes Marques, Mendonça, Cármen Lúcia... todos muito comprometidos com a minoria abastada.

Por isso, minha aposta é Jorge Messias. Tem preparo, tem trajetória, tem compromisso. E Carol Proner, porque o STF precisa de mais mulheres, e porque ela é muito competente.

Mas, correndo totalmente por fora, e com chances rigorosamente nulas, apresento a candidatura do Zé Ninguém.

Sim, ele tem notório saber jurídico. Não no sentido tradicional, claro. Seu saber é notório justamente por ser... escasso. Mas ele conhece bem a lei da vida e da sobrevivência. E tem algo que falta a muitos togados: senso de justiça. Aquele impulso quase infantil de querer proteger os mais vulneráveis e punir quem os explora.

Portanto, se você acha que o mais importante para o STF é alguém que conheça leis, talvez o Zé Ninguém não seja o nome ideal. Mas se acredita que o essencial é ter compromisso com quem realmente precisa de justiça, então, quem sabe, ele mereça ao menos um voto de confiança. Ou um cafezinho no gabinete.

Mas, afinal, quem é o Zé Ninguém?

São milhões espalhados pelo Brasil. Gente que possui muito mais senso de justiça que a maioria dos ministros. Gente que não faz negócios com empresas por meio de escritórios de fachada. Gente que não organiza regabofes em Portugal. Gente que não acha que indígenas e aposentados sejam fardos para o país. Gente, enfim, que carrega nas costas, dia após dia, o peso de uma desigualdade de mais de quinhentos anos.

Lula, o Dom Juan da política brasileira

Por Fernando Castilho



Depois que ouvi Lula falar na então Rádio Bandeirantes, no programa O Trabuco do saudoso Vicente Leporace, acho que ainda nos anos 70, senti uma inquietação: quem era esse líder metalúrgico que ousava desafiar a ditadura em nome dos direitos de sua categoria? A curiosidade me levou à histórica assembleia no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. E ali, no meio da massa operária, comecei a entender que aquele homem não era só barulho, mas também pura estratégia.

Mais tarde, estive por duas vezes em reuniões na casa emprestada pelo advogado Roberto Teixeira a Lula, no bairro de Ferrazópolis. Ainda estudante, me vi hipnotizado ao ouvi-lo falar sobre economia com uma lógica tão simples e intuitiva que faria muito doutor engasgar com a própria tese.

O tempo passou, e Lula foi colecionando aliados como quem coleciona figurinhas raras. Seu poder de sedução política é digno de estudo, ou de uma tese de doutorado com direito a banca rendida.

Por mais improvável que parecesse, lá estava ele como presidente, trocando confidências com George W. Bush e recebendo elogios rasgados de Barack Obama, que não economizou: “Esse é o cara!” Pois é. O cara.

Com Emmanuel Macron, presidente da França e da ala direita, não foi diferente. Foram filmados de mãos dadas na Floresta Amazônica, em Belém, como dois adolescentes em passeio escolar. Faltou só o piquenique e a trilha sonora.

O senador Ciro Nogueira, bolsonarista de carteirinha, chegou a declarar: “Ele é capaz de me seduzir em 15 minutos. É macio e jeitoso.” Um elogio que até hoje causa urticária na ala mais radical do Congresso.

Em 2022, Lula fez o impossível parecer trivial. Bastaram algumas conversas para transformar Geraldo Alckmin, aquele mesmo, seu adversário em outras épocas, em seu vice. A conciliação, afinal, é uma das marcas registradas do Barba. E ele assina com estilo.

E quem não lembra da prisão em Curitiba? Lula, enclausurado na sede da Polícia Federal, acabou conquistando justamente o carcereiro. Horas e horas de conversa e, no fim, mais um fã. Se tivesse mais tempo, talvez saíssem de lá com um podcast.

A mais recente conquista do Dom Juan da política parece ser ninguém menos que o presidente norte-americano Donald Trump. Em uma conversa telefônica de 30 minutos, Trump saiu encantado: “Gostei da ligação. Nossos países vão se sair muito bem juntos!” Prometeu mais encontros, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Se isso não é charme, o que é então?

Nas entrevistas, seja com a imprensa progressista ou com os grandes veículos da mídia corporativa, o resultado é sempre o mesmo: entrevistadores saem satisfeitos, convencidos, quase convertidos. Lembro bem da entrevista com Reinaldo Azevedo durante a campanha de 2022. Justamente o cara que cunhou a expressão “petralha”. Tio Rei saiu de lá praticamente com uma estrela no peito.

Mas afinal, qual é o segredo desse poder de agregar?

Digo que é a verdade. A sinceridade no olhar. E uma biografia marcada pela coerência ou, no mínimo, pela habilidade de parecer coerente em qualquer cenário.

O poder do diálogo com Lula é tão surpreendente que os bolsonaristas evitam qualquer conversa com ele. E fazem bem. Porque se conversarem... é capaz que se apaixonem.

Pode ser até que Trump o traia. Afinal, isso não se descarta em nenhuma relação. Mas, por enquanto, parece que a coisa vai às mil maravilhas.

sábado, 11 de outubro de 2025

O grão-vizir e o ex-sultão manipulável – uma fábula da verdade

Por Fernando Castilho




A Polícia Federal, em um raro momento de dramaturgia institucional, revelou o áudio de uma conversa nada republicana entre o empresário da fé, Silas Malafaia, e o ex-presidente que muitos já chamam de Deve Jair Preso. O conteúdo, digno de um conto oriental, evoca imediatamente a fábula de O Rei Yunan e o Médico Ruyán — onde a gratidão é vencida pela intriga, e a razão, pela manipulação.

Yunan Bolsonaro, ex-sultão de uma terra outrora próspera, sofre de uma doença incurável – talvez erisipela, talvez ego inflamado. Os generais-médicos do reino, com suas fardas engomadas e diagnósticos patrióticos, são convocados para resolver o problema. Fracassam, claro.

Surge então Duduh Também Deve Ser Preso, o filho estrangeiro, que propõe uma cura sem bisturis nem poções – apenas conversas ao pé de ouvido com o rei maior para tentar que ele intervenha. O ex-sultão, isolado em seu palácio, aguarda ansioso uma solução. Ela não vem.

Mas eis que o grão-vizir, tomado pela inveja e pelo instinto de sobrevivência política, sussurra ao ex-sultão:

— Majestade, quem cura com facilidade também pode matar com facilidade. E se ele estiver tramando algo contra ti?

O ex-sultão, antes grato, agora é paranoico. E como toda fábula que se preze, a ingratidão vence: o filho estrangeiro é chamado de imaturo. Este, inconformado com a traição, manda um recado para o pai, digno de um trovador moderno:

— VAI TOMAR NO CU, SEU INGRATO DO CARALHO!

O grão-vizir Silas Mau Lafaia, então, em várias conversas, resolve conduzir Deve Jair Preso como quem leva um camelo teimoso pelo deserto: com firmeza, paciência e um chicote verbal disfarçado de elogio. Chama-o de “homem muito inteligente” — um elogio tão deslocado que nem o destinatário parece entender.

Deve Jair Preso, fiel à fama de manipulável, obedece a uma ordem de Silas Mau-Lafaia: Dá bronca no filho Duduh. Depois, perdoa. Porque o grão-vizir manda. Mau-Lafaia também ordena que o ex-sultão negue qualquer intenção de aumentar tarifas contra seu país. Ele escreve um texto, mas o grão-vizir ordena que ele grave um vídeo. É um ex-sultão sem vontade própria – governado por seu grão-vizir.

Os áudios sugerem que Malafaia talvez seja a mente por trás da tentativa de golpe. E o ministro Alexandre de Moraes, com a elegância de um gato brincando com o rato antes do bote, deixa o grão-vizir da fé à vontade para esbravejar. Cada palavra dita é uma corda a mais no laço que se aperta.

Se a fábula seguir seu curso, veremos o empresário da fé – outrora intocável – conhecer o lado menos celestial da justiça. E quando isso acontecer, não será apenas um desfecho jurídico. Será uma catarse narrativa.

Aleluia.

Já chega! Já basta!

Por Fernando Castilho



Outro dia escrevi um artigo em que dizia que Hugo Motta e Davi Alcolumbre eram pusilânimes paspalhos — bordão que o covarde Dr. Smith, da série Perdidos no Espaço, usava para se referir ao Robô.

Alcolumbre, com algum esforço e alguma articulação, conseguiu se livrar da alcunha.

Já Motta… só fez por merecê-la ainda mais.

Na cerimônia de lançamento do programa Brasil Soberano, no Palácio do Planalto, Lula anunciou R$ 30 bilhões em crédito para empresas brasileiras atingidas pelo tarifaço de 50% imposto por Donald Trump.

O pacote inclui linhas de crédito com juros baixos, compras governamentais e incentivos fiscais — tudo para segurar a economia enquanto o problema não se resolve. Ou seja, Um montante de recursos que poderia ser aplicado em saúde, educação ou outros programas sociais. Debite-se isso na conta de Bananinha.

Hugo Motta estava lá.

Presente, sim.

Mas discreto.

Quase tímido.

Talvez pela sua já célebre pusilanimidade paspalha.

Enquanto isso, no mesmo dia, Eduardo Bolsonaro — deputado que ainda recebe salários pagos por nós (!) — estava em Washington, pedindo sanções contra o Brasil.

Sim, contra o próprio país! Contra seu próprio povo!

Em vídeo, declarou que estava disposto a “sacrificar tudo e queimar toda a floresta” para salvar seu pai golpista.

A floresta, diga-se, somos nós.

E Hugo Motta?

Do alto — ou do baixo — de sua covardia institucional, nada fez.

Não moveu um dedo pela cassação do traidor da Pátria.

Nem uma vírgula.

Um pedido formal de cassação foi protocolado por ex-reitores e professores universitários.

Foi endereçado a ele.

Mas até agora, silêncio.

Mesmo que o Conselho de Ética não aprove a cassação, ele deveria ao menos tentar.

É seu dever.

Ou deveria ser.

Se a comissão não aprova, escancara-se que ela apoia traidores.

Se Motta teme sanções contra si, vindas dos Estados Unidos — como Dudu Bananinha prometeu — então, sim.

Faz jus à alcunha de pusilânime paspalho, ou melhor, de paspalhão covarde.

A banalidade do mal quando se morre atirando

Por Fernando Castilho



Há muitos anos, assisti a um filme que me deixou inquieto — não apenas pela brutalidade dos fatos históricos, mas pela revelação de uma verdade sombria: o ser humano pode persistir na maldade mesmo quando tudo está perdido, mesmo quando não há mais salvação possível.

O filme era Downfall (A Queda!), um drama histórico devastador que retrata os últimos dias de Adolf Hitler em seu bunker, em Berlim, abril de 1945.
A cidade estava em ruínas, bombardeada sem cessar. O fim do ditador era inevitável. Mas, em vez de recuar, ele se afundou ainda mais em sua loucura.
A iminência da derrota não o fez renunciar à crueldade — a intensificou.

Um dos atos mais insanos foi o Decreto Nero (o nome é muito apropriado) , assinado em 19 de março de 1945.
Hitler ordenou a destruição total da infraestrutura alemã — fábricas, pontes, ferrovias, depósitos — para que nada de valor caísse nas mãos dos Aliados.
Não era uma estratégia militar. Era vingança. A Alemanha, já destruída pela derrota, pagaria um preço ainda mais terrível.
Hitler acreditava que o povo alemão, por tê-lo “traído” ao perder a guerra, não merecia sobreviver.
Felizmente, muitos generais ignoraram a ordem, percebendo que não havia mais nada a salvar — nem o regime, nem o líder.

Uso esse filme como analogia para o que está acontecendo agora com Jair Bolsonaro.

O ex-presidente está condenado e será, sem sobra de dúvidas, preso por muitos anos. Já cumpre prisão domiciliar.
Mas, mesmo encurralado, não abandona o rancor, nem a sede de revanche.
Seu filho, com seu aval, permanece nos Estados Unidos articulando sanções contra o Brasil.
Sanções que não atingem apenas ministros do STF — atingem o povo brasileiro.
Empregos serão perdidos. Famílias serão prejudicadas. A economia será ferida.

Então, cabe perguntar:

De que valem essas ações, se não têm o poder de salvá-lo da prisão?
Por que insistir na maldade?
Por que Bolsonaro não ordena que seu filho pare com essa traição à Pátria?
Por que não pede a algum aliado — Malafaia, Tarcísio, Valdemar Costa Neto — que redija um discurso pedindo a Trump que cancele as sanções contra o Brasil?

Mesmo que não surta efeito, não seria um gesto digno?
Não pareceria, aos olhos do povo, um estadista preocupado com o país?

Mas não.
Mesmo diante da ruína — e sem qualquer perspectiva de reversão — o ódio, o rancor e o desejo de vingança são mais fortes. Seu caráter foi forjado nessas características.
Bolsonaro é aquele que morre, mas leva muita gente inocente junto.

Que ser humano é esse?

"Larga essa turma, menino, senão você vai perder o visto!”

Por Fernando Castilho



Minha avó era uma mulher dominada pelo medo, do mundo, do imprevisto, até da própria sombra. Qualquer ousadia minha era prontamente recebida com uma profecia catastrófica. Se eu subisse em uma árvore: "Desce daí, menino, senão você vai cair." E, uma vez, eu caí. Se eu demorasse para voltar para casa: "Vão te assaltar." E, uma vez, fui assaltado. Não era bruxaria, nem maldição, mas pura estatística. A Lei de Murphy em uma versão caseira, com sotaque de vó.

No último domingo, Élio Gaspari escreveu que o ministro Luiz Fux poderia pedir vistas ao processo contra Jair Bolsonaro. O prazo máximo para manter o processo em banho-maria é de 90 dias, o suficiente para adiar o julgamento para fevereiro de 2026, em pleno ano eleitoral. O timing é tão conveniente que parece piada. Não acho que Fux faria isso. Quer dizer... até ouvir a voz da minha avó ecoando na boca de Gaspari: "Pede vistas, menino!" E, pronto, ele pode decidir pedir.

Fux é, sem dúvida, o ministro mais vaidoso da corte. A vaidade não se revela apenas em sua fala empolada, que parece ter saído de um manual de latim para iniciantes. A peruca, um acessório para esconder o que Alexandre de Moraes ostenta com dignidade, é a prova. Fux age como se a calvície fosse uma falha moral e a peruca, sua armadura.

Sua retórica, tão ornamentada quanto a do bardo Chatotorix das aventuras de Asterix, o condena ao ostracismo. Assim como o personagem, Fux canta sozinho. Ninguém o acompanha e poucos o suportam. Em uma audiência sobre a tentativa de golpe, com Bolsonaro, Augusto Heleno e Braga Netto no banco dos réus da história, Fux se dedicou obsessivamente a perguntar se havia uma assinatura na minuta do golpe para tentar legitimá-la. Um comportamento digno de Chatotorix: muito barulho e pouca melodia.

Mas os tempos mudaram. Trump, em um gesto que mais parece um aceno do que um abraço, não cancelou o visto de Fux, uma espécie de "obrigado pelos serviços prestados." Só que agora, o nacionalismo bate mais forte no peito dos que não se renderam ao bolsonarismo. Com todas as provas escancaradas, qualquer voto contra a condenação será visto como um ato de sabotagem institucional pela corte, pela imprensa e pela população.

Então, a vaidade de Luiz Fux – aquele que já foi agraciado com o lema “In Fux We Trust”, cunhado por um Sérgio Moro desmascarado por sua parcialidade – resistiria ao peso de um voto solitário em defesa de Bolsonaro? Como a história registraria esse gesto? Como um ato de coragem ou como um epitáfio da vaidade?

Fux já fez o que pôde. Defendeu Bolsonaro até onde dava e já foi premiado por isso. Agora, não dá mais. Ele vai acabar votando com o resto da turma. Porque, no fim das contas, até a vaidade tem limite.

Minha avó já avisou: "Larga essa Turma, menino, senão você vai perder o visto!" Fux, no entanto, não sairá. Ele ainda tem alguns anos para conviver com a Turma antes de se aposentar. Ele precisa de reconhecimento. Se ficar isolado, sua vaidade não suportará.

Será que mata no peito?

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

EDUARDO – MAFIOSO OU MILICIANO? OU OS DOIS?

Por Fernando Castilho



É curioso – e um tanto deprimente – como certos episódios do século 21 parecem saídos diretamente de livros ou filmes clássicos. Desta vez, minha memória foi imediatamente puxada para Os Intocáveis (1987), dirigido por Brian De Palma e estrelado por Kevin Costner e Sean Connery.

No enredo, a máfia norte-americana, ao perceber que seus negócios estão ameaçados, parte para a retaliação brutal contra a polícia. Al Capone, o chefão, não hesita em ameaçar e atacar familiares de seus inimigos – inclusive tentando intimidar o agente Eliot Ness por meio de sua esposa e filha. A tensão cresce à medida que a equipe se aproxima de provas cruciais. É o retrato da criminalidade quando se vê acuada: ela não argumenta, ela ameaça. E se puder, manda flores com bilhete anônimo.

Por que essa lembrança veio à tona?

Porque acabei de assistir a um vídeo de um deputado que, atualmente, trai sua pátria diretamente dos Estados Unidos – aparentemente entre uma visita à Disney e outra. Nele, o sujeito — com olhos lacrimejantes e voz trêmula – ameaça o ministro do STF Alexandre de Moraes da seguinte forma:

“Eu vou provar para o Alexandre de Moraes que ele encontrou um cara de saco roxo que vai acabar com essa brincadeirinha dele. Moraes, você, a sua mulher, e depois dela, que quem será sancionado serão seus filhos, eu vou atrás de cada um de vocês.”

Sim, é isso mesmo. O parlamentar, em pleno solo estrangeiro, resolveu brincar de Al Capone versão TikTok. Só faltou o charuto e o terno risca de giz.

A pergunta que se impõe é simples: há alguma diferença entre ele e Al Capone?

Na verdade, nem precisamos recorrer a filmes sobre a máfia norte-americana – esse é o exato modus operandi das milícias do Rio de Janeiro, aquelas que a família Bolsonaro tanto admira e já homenageou oficialmente. A diferença? Capone ao menos tinha um senso de estética. E era mais gordo.

Assim como Eliot Ness não se intimidou diante das ameaças contra sua família, Alexandre de Moraes segue firme, sem recuar um milímetro de sua missão de defesa da Constituição e do Estado Democrático de Direito. E isso incomoda – incomoda profundamente quem vive da chantagem, da intimidação e da política do medo. Afinal, é difícil lidar com alguém que não treme diante de gritos histéricos e ameaças mal ensaiadas.

O que falta? Prender o meliante.

E é aqui que a ironia histórica se impõe: Al Capone não foi preso por assassinatos, extorsão ou ameaças. Foi pego por evasão fiscal. O crime mais burocrático de todos derrubou o maior mafioso da história americana. Um lembrete gentil de que a Receita Federal pode ser mais perigosa que qualquer revólver.

Talvez seja por aí que Eduardo Bolsonaro também será alcançado pela justiça. Afinal, muito dinheiro já foi transferido pela família para os Estados Unidos – dinheiro cuja origem permanece obscura, como os milhões recebidos via Pix. E se tem uma coisa que o Pix não faz é apagar rastros.

Porque no fim das contas, o que às vezes derruba um criminoso não é o grito – é o recibo. E esse, meu caro, não tem como negar.

 

GRANDE IMPRENSA COMEÇA A DESEMBARCAR DE TARCÍSIO

Por Fernando Castilho

 


Quando, em 2023, um colunista da Folha resolveu cunhar o termo “bolsonarista moderado” para definir Tarcísio de Freitas, muita gente torceu o nariz. Mas a senha estava dada: a grande imprensa, sempre ávida por um novo rosto palatável à elite, adotou o governador de São Paulo como seu queridinho para a sucessão de Lula. Afinal, nada como um “moderado” para manter o bolsonarismo.

Logo depois, foi a vez do mercado. Pesquisas mostravam que, embora os empresários estivessem nadando em lucros, o desprezo pelo governo Lula atingia níveis olímpicos. Já Tarcísio era visto como a joia rara — aquele que promete entregar o Estado em fatias generosas e, de quebra, mandar os pobres para o rodapé da história.

O tempo passou e o barco de Tarcísio navegava em águas calmas. Nenhuma onda, nenhuma notícia negativa. Nem mesmo as mortes causadas pela truculência policial conseguiram furar o bloqueio midiático. Tudo seguia conforme o script.

Mas eis que o julgamento de Jair Bolsonaro se aproximava, e o filho 03, Eduardo, resolveu cobrar fidelidade explícita de Tarcísio. O bolsonarismo, sempre faminto por lealdade cega, virou-se contra o governador. Tarcísio, então, fez o que qualquer político com ambições faria: colocou tudo na balança. De um lado, a moderação que agradava à imprensa. Do outro, os votos do bolsonarismo raiz.

Foi nesse clima que estourou uma operação revelando conexões entre o crime organizado e a Faria Lima — com possíveis ramificações que chegavam até o governador. A imprensa, que até então fazia vista grossa, entrou em pânico. Até quando esconder o escândalo? Continuar apoiando Tarcísio significaria, mais cedo ou mais tarde, parecer cúmplice.

Então veio o movimento audacioso: Tarcísio declarou que, se eleito presidente, seu primeiro ato seria conceder indulto a Jair Bolsonaro, em perfeita sintonia com o que preconizava o filho 01, Flávio. Ora, todos sabem que esse indulto seria barrado pelo STF por inconstitucionalidade. Mas Flávio já havia avisado: se isso acontecer, o presidente herdeiro do legado bolsonarista deve usar a força contra o tribunal.

Tarcísio, por sua vez, afirmou não reconhecer Justiça no Brasil. Para bom entendedor, isso soa como um aviso: seu governo, tal como o de Jair, seria pautado pelo confronto com o STF — e quem sabe até pela destituição de ministros ou pelo fechamento do tribunal, como sonha Eduardo.

Não por acaso, os editoriais dos grandes jornais agora estampam críticas ferozes a Tarcísio. A lua de mel parece que acabou. Nenhum desses veículos vive apenas de imprimir jornais — são conglomerados de mídia com interesses em tecnologia, publicidade, entretenimento e serviços digitais. O Globo, Estadão e Folha de S.Paulo pertencem a grupos empresariais que dependem de estabilidade econômica e previsibilidade institucional. E, convenhamos, uma ditadura não costuma ser boa para os negócios — a menos que se esteja do lado certo da baioneta.

O que se vê no horizonte é preocupante. Se Tarcísio conseguir libertar Jair em meio a uma crise com o Judiciário, quem governaria de fato? E qual seria o tamanho da insegurança jurídica que isso provocaria?

Por ora, os ventos sopram a favor da grande mídia, graças ao crescimento econômico. Mas será que ela está disposta a trocar estabilidade e previsibilidade por caos, só para manter um flerte com o bolsonarismo?

Hora de desembarcar da candidatura Tarcísio — antes que o barco afunde e leve junto a democracia.

 

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Malafaia participa do conclave

Por Fernando Castilho



Enquanto os cardeais debatem, Malafaia manda passar uma cestinha para o dízimo dos conclavistas


Vaticano, 2025. No coração da Praça de São Pedro, uma figura inesperada surge, carregando uma mala Louis Vuitton e uma bíblia com capa dourada: o pastor Silas Malafaia. Com um sorriso confiante e seu infalível tom oratório, ele se dirige ao portão, cumprimentando os guardas suíços com um entusiasmado "Povo amado do Vaticano!”

Ao descobrir o propósito da visita, os cardeais entram em um estado de perplexidade. Malafaia, sem hesitar, explica sua ideia: "Meus caros, sempre preguei que os caminhos do Senhor são misteriosos. Então, quem melhor do que eu para ser o papa conservador e defensor da moral da vez? Afinal, não sou eu que transformo centavos em milhões, digo, almas em bênçãos?"

Nos bastidores, corre o boato de que Malafaia trouxe como “carta de apresentação” uma planilha de arrecadação e uma proposta de "Dízimo 4.0", prometendo modernizar a Santa Sé com estratégias de marketing e lives interativas no Instagram. Ele até sugere um novo bordão para a Igreja: "Contribua com fé, pois aqui as indulgências são premium."

Enquanto os cardeais debatem, Malafaia manda passar uma cestinha para o dízimo dos conclavistas, justificando: "É para cobrir os custos do Espírito Santo em alta definição."

Surge uma tempestade de memes na internet. “Papa Malafaia 2025” vira trending topic, com hashtags como #FéEmpreendedora, #HabemusPastor e #DízimoDigital. Em um último ato de ousadia, Malafaia coloca um trio elétrico em plena Praça de São Pedro, decorado com luzes de LED piscando "Jesus é Top", e manda passar a cestinha para a multidão reunida enquanto entoa cânticos de sua igreja que ninguém compreende. O resultado? Um silêncio constrangedor, interrompido apenas pelo soar de um sino... mas era um vendedor de gelato.

No fim, os conclavistas, embora tenham achado a planilha Dízimo 4.0 interessante, consideraram um ultraje terem eles mesmos que pagar dízimo. O conclave se encerra com um novo papa escolhido: um cardeal idoso, gentil e genuinamente humilde, seguidor de Francisco.

Malafaia fica furioso e xinga o novo papa de “ditador da batina”. Antes de embarcar de volta ao Brasil, ele tenta vender aos cardeais um pacote de "orações personalizadas" com desconto para quem pagar em criptomoedas. De volta ao Brasil, murmura algo sobre ter "plantado a semente" para um dia liderar "o rebanho mundial". Até lá, ele promete lançar um curso online: "Como Evangelizar em Latim e Lucrar com Isso", com um bônus exclusivo: "10 passos para transformar água benta em receita líquida."