Imagem: Tiago Toh |
Se
Temer imaginou posar de estadista e se apresentar como o homem capaz
de unir a Nação neste momento, apressando-se em trair a presidenta
e tentando sentar-se na cadeira antes que ela dela se levante, compõe
com Cunha a dupla sem ética ou moral perfeita a conduzir o país ao inferno que se seguirá.
Acabamos
de conhecer o resultado da votação do impeachment de Dilma Rousseff
pela comissão da Câmara dos Deputados. Os 38 a favor e 27
contrários já eram esperados.
Resta
agora acompanhar os debates que se iniciarão na sexta-feira (15) e
terminarão em votação nominal no domingo (17).
Algumas
coisas a destacar.
O
resultado da votação da comissão não chegou aos dois terços
necessários para derrubar a presidenta. Logicamente se se transpuser
esta proporção para domingo, que é o que vale, quando os golpistas
precisarão garantir 342 votos, a oposição será derrotada.
Além
disso, pelas contas feitas pela mídia e pela própria oposição
faltam mais de 20 votos para que o processo vá para o Senado.
Porém,
enquanto os golpistas de Cunha comemoravam o resultado da votação,
aonteceram dois fatos que podem definitivamente pender para Dilma no
domingo.
O
ato com Lula realizado em frente aos Arcos da Lapa, em defesa da
democracia, convocado pela Frente Brasil Popular, com a presença de
vários artistas e intelectuais, dentre eles, Chico Buarque teve
presença recorde de público. Este ato e mais o de domingo deverão
demonstrar a todo o país e também aos deputados que o golpe não
será aceito.
Não
pensem que a classe média que saiu às ruas com suas camisas
oficiais da seleção, com sua renda média, sua cútis branca e
unhas bem cuidadas representam a massa da população brasileira.
Esta,
embora tivesse sua vida melhorada em uma década, é majoritariamente
morena, de baixa renda e não saiu às ruas porque reconhece os
avanços dos governos Dilma e Lula. São professores e alunos de
escolas estaduais que apanham de policiais, empregados do mésticos
(em cada casa de paneleiro há sempre pelo menos um), parentes e
amigos de negros da periferia que morrem todos os dias nas mãos das
polícias militares, torcedores dos times que protestam com faixas
nos estádios, crianças que ficam sem merenda, etc..
Esperemos
que os deputados mais sensatos, menos inclinados a aventuras
políticas e mesmo os que receiam perder bases eleitorais em seus
estados, se sensibilizem com a possibilidade do país entrar em
convulsão social, caso Dilma caia, mesmo sem ter cometido crimes. O
recado está sendo e será dado no domingo.
Mas
outro fato ocorreu, este de leitura um pouco mais complexa.
O
vice presidente, Michel Temer teve uma gravação sua de cerca de 14
minutos vazada não se sabe se intencionalmente ou não.
Nessa
sua fala, Temer já se posiciona como mandatário supremo da Nação
e até já adianta, mesmo que de maneira um pouco velada, algumas
medidas de seu futuro governo como privatizações, sacrifícios da
população e outras.
Embora
garanta que não interromperá programas sociais (para ele o Bolsa
Família durará ainda alguns anos), não há como confiar nas
palavras de um traidor. Afinal, traidor trai.
Não
se sabe o que Temer pretende com esse áudio.
Se
foi um vazamento não proposital, ficam claras aqui sua soberba e seu
mau caráter.
Não
há como prever a reação da população e até mesmo da opinião da
classe média que deseja o fim do governo Dilma.
Não
há como não voltar àquele ano de 1985 quando FHC, líder
nas pesquisas de opinião à prefeitura de São Paulo e munido de
grande vaidade e soberba, chegou a se sentar na cadeira de prefeito e
posar para fotos dos jornais. A população ficou indignada e deu seu
voto a Jânio Quadros que, ao assumir, perante a imprensa desinfetou
a cadeira.
Se
as pessoas que verdadeira e ingenuamente acreditavam que tudo era por
causa do combate à corrupção, resolverem repudiar a atitude de
Temer e juntarem-se ao movimento que defende a democracia, no domingo
teremos a maior manifestação de que já tivemos notícia e o golpe
será definitivamente enterrado.
Agora,
se Temer vazou propositalmente o áudio, não há como saber o que
ele pretende.
Como
ingênuo e neófito ele não é, em alguma coisa ele pensou.
Porém,
se ele imaginou posar de estadista e se apresentar como o homem capaz
de unir a Nação neste momento, apressando-se em trair a presidenta
e tentando sentar-se na cadeira antes que ela dela se levante, acaba
de fazer uma trapalhada (como aquela carta) e dar um tiro no próprio
pé.
De
qualquer forma, aos 75 anos, Michel Temer, que poderia passar
esquecido pela História como um vice presidente apagado, o que seria
bom para ele, será lembrado como um golpista, mentiroso e traidor.
Afinal,
se Joaquim Silvério dos Reis não traísse Tiradentes, seu nome não
constaria nos livros de História.
Aqui, matéria com o áudio de Temer
Aqui, matéria com o áudio de Temer