Por Fernando Castilho
Dizem
que Lula embarcou para o Oriente sem decidir se Jorge Messias será o novo
iluminado do STF. Dizem também que o impasse tem nome e sobrenome: Davi
Alcolumbre, o presidente do Congresso que, aparentemente, sonha acordado com
Rodrigo Pacheco de toga. Será verdade? Vai saber. Brasília é o único lugar onde
boatos têm mais credibilidade que comunicados oficiais.
Jorge
Messias, é aquele tipo raro: técnico, discreto, sem ambições políticas. Um
espécime em extinção. Já Pacheco... ah, Pacheco é político até o último fio de
cabelo. E como todo político que se preze, sonha com voos altos. O governo de
Minas Gerais, atualmente um cenário pós-apocalíptico graças à gestão Zema,
seria o trampolim ideal para Pacheco se lançar à presidência em 2030. Se
conseguir consertar o caos mineiro, claro. Mas virar ministro do STF? Isso
seria como trancar um pássaro político numa gaiola dourada até os 75 anos. Um
pesadelo para quem vive de articulação e holofote. Por isso, talvez Alcolumbre
deseje Pacheco no STF mais do que o próprio Pacheco. Vai entender.
Enquanto
isso, Luís Fux, lavajatista raiz, migrou para a segunda turma do tribunal. Lá,
vai se juntar a Nunes Marques e André Mendonça, formando o que alguns chamariam
de “clube do bolsonarismo gourmet”. Mas nem tudo são flores: Fux terá que
dividir o cafezinho com Gilmar Mendes, seu desafeto de longa data. E como
bônus, ainda tem Dias Toffoli, o ministro que parece sempre estar procurando a
saída de emergência da Corte.
Toffoli,
no entanto, tem se reinventado como o “consertador de estragos da Lava Jato”,
uma espécie de zelador jurídico. E pode acabar levando Sérgio Moro ao tribunal
para responder por crimes que, segundo dizem, começaram antes mesmo da
operação. Ironia das ironias: o herói da Lava Jato sendo julgado. E não é certo
que Nunes Marques e Mendonça vão sair em defesa de Moro. Afinal, o bolsonarismo
o trata com o mesmo carinho que se dá a um ex-amigo que virou delator. E ainda
tem o detalhe de que Moro saiu do governo acusando Bolsonaro de manipular a
Polícia Federal para blindar os filhos. Um gesto que os filhos do capitão e
gente como Malafaia não perdoam.
Fux,
por sua vez, talvez não consiga nem defender Bolsonaro. A maioria dos processos
do capitão está na primeira turma, sob a batuta de Alexandre de Moraes, que,
digamos, não é exatamente fã do ex-presidente. Há quem diga que a segunda turma
pode reverter a inelegibilidade de Bolsonaro. Eu, sinceramente, não apostaria
nem um centavo. O capitão foi condenado e pode acabar atrás das grades ainda
este ano. Depois disso, entra na Lei da Ficha Limpa e só volta a sonhar com
eleições após cumprir seus 27 anos e 3 meses de pena. Com bom comportamento,
pode até ir para o semiaberto em quatro anos e meio. Mas, mesmo assim,
inelegível. A menos que mudem a Lei da Ficha Limpa para beneficiá-lo.
Fux
não escapará dos encontros com seus desafetos da primeira turma. O plenário
será seu purgatório. Lá, será lembrado, com toda pompa e circunstância, de como
jogou sua carreira no lixo após seu voto talhado para defender Bolsonaro. Aos
71 anos, talvez decida mandar tudo às favas e se aposentar antes dos 75. Com
muita grana no bolso, quem não faria isso?
A
ver. Ou melhor: a assistir, porque esse roteiro está digno de série.