terça-feira, 10 de outubro de 2023

Jeová, onde estás que não vês o sofrimento de um povo?

Por Fernando Castilho


A cerveja rolava farta e, à certa altura fiz a pergunta que talvez não devesse ter feito: "em caso hipotético de uma guerra entre Brasil e Israel, de que lado você ficaria?"


Seria muito ruim se este texto fosse interpretado de maneira diferente da minha intenção em escrevê-lo, já que o assunto é extremamente delicado. Defendo veementemente que todos os povos tenham direito à sua cultura, ao exercício de sua religião, à sua soberania e ao seu território. Ponto.

Ao longo da vida convivi com alguns judeus e pude refletir sobre seus pensamentos e como encaravam a causa israelense.

Um deles, conheci ainda na década de 70. Eu havia sido convidado para uma festa numa república de estudantes. Um dos rapazes, judeu, estudante da USP, contou eufórico que havia passado uma temporada num kibutz e assentiu às indagações dos demais presentes em relatar sua experiência, segundo ele, muito boa e enriquecedora.

A cerveja rolava farta e, à certa altura fiz a pergunta que talvez não devesse ter feito: "em caso hipotético de uma guerra entre Brasil e Israel, de que lado você ficaria?"

Observei os olhares meio constrangidos, mas também ansiosos pela resposta.

O rapaz afirmou com toda a segurança que lutaria por Israel.

Fui mais fundo. Talvez não devesse. "Você mataria seus amigos brasileiros?"

Não houve hesitação. "Claro que sim", disse ele.

Duas décadas mais tarde, fui com minha esposa a um jantar na casa de uma amiga sua, judia.

Conversa vai, conversa vem, lá pelas tantas ela disse que estava inscrita num programa de assentamento de judeus na Palestina.

Eu sabia que Israel estava expulsando palestinos violentamente de suas casas para derrubá-las e construir nos terrenos novas moradias para assentar judeus. Só não sabia que havia um programa para assentar judeus de várias partes do mundo.

Cabe aqui lembrar que a cicerone vivia em uma casa muito grande de classe média alta.

Daí, mais uma vez, fiz a pergunta talvez indevida pelo momento, mas necessária: "você acha certo que tratores derrubem casas de palestinos, mesmo com famílias dentro, para que judeus que possuem moradias sejam contemplados nesse programa?"

Mais uma vez a resposta não foi hesitante: "claro que sim!".

Fui mais fundo e perguntei: "por quê?"

"Ora, nós somos o povo escolhido por Deus! Na Bíblia Deus falou que os descendentes de Abrahão são seu povo preferido."

Discordei e, por isso, o jantar azedou.

Houve mais algumas experiências semelhantes a essas. Mas, por que relato esses dois casos?

Parece haver uma espécie de lavagem cerebral em parte dos judeus. Em Israel nem tanto, já que há muitos nativos que fazem oposição à política ultradireitista de Netanyahu e são contrários às ocupações de terras palestinas. Porém, para pessoas que seguem a Torá desde crianças como lei, como contestar aquilo que Deus falou?

A unidade de pensamento dos judeus em todo o mundo vem se rompendo aqui e ali, mas ainda é muito forte. É um movimento contrário à diáspora que faz com que todo judeu se orgulhe de sua religião, de sua origem e de seu destino, qual seja, o de povo que, quando do apocalipse, será o primeiro a subir aos céus e ficar ao lado de Deus. Todo o resto é inferior.

Preste atenção ao que Moisés disse, guiado por Deus, ao povo de Israel no final do êxodo:

“Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos, mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito” (Dt 7.7-8)

Se Deus disse mesmo que um dos povos que habitavam a Terra era o seu escolhido, tornou todos os outros preteridos. Imaginemos um filho predileto de seu pai que comete bulliyng e espanca seu irmão. Podemos concordar com isso? Não seria muito mais aceitável que o pai não manifestasse sua predileção por um dos filhos e tratasse os dois de forma igual?

Obviamente, toda generalização é perigosa, mas esse pensamento religioso enraizado na cultura judia é ainda muito forte, mesmo em pleno século XXI, com toda a Ciência e tecnologia de que dispomos. E ele é uma das principais causas dos conflitos.

É também muito perigoso dizer que nesse aspecto Israel se aproxima do pensamento que fez com que a Alemanha exterminasse seis milhões de judeus. Críticas aparecerão, com certeza, mas é preciso lembrar que o líder dessa ideologia pregava justamente a superioridade ariana aos demais povos que, pela sua inferioridade, deveriam ser dizimados. Será que há como defender que não é isso que está sendo praticado contra o povo palestino?

Trata-se do mesmo pensamento que fez com que a África do Sul praticasse o apartheid durante décadas e que agora se repete contra a Palestina que sobrevive cercada em seu já minúsculo território.

Esse pensamento precisa ser repudiado pela comunidade internacional, mas podemos apostar sem medo de perder que isso não acontecerá por causa da defesa canina que os Estados Unidos fazem de Israel, seja pelos negócios que os judeus têm por lá, seja pela presença armamentista forte no Oriente Médio, interessante aos americanos, seja pelos evangélicos que abraçam a causa israelense, já que eles mesmos acham vantajoso se aliar aos não cristãos porque sonham com o paraíso, mandando Cristo às favas.

Esse capítulo de um conflito que se arrasta por décadas e que agora assusta novamente o mundo, em breve arrefecerá, como já aconteceu inúmeras vezes, e os dois povos voltarão à mesma rotina de exterminador e exterminado até que não reste no futuro mais nenhum palestino vivo porque sabemos que um dos lados é incomensuravelmente mais forte que o outro. Aliás, Netanyahu já apresentou à ONU um mapa de Israel em que não aparece mais a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

O futuro poderá revelar uma expansão maior dos territórios israelenses em direção a Síria e ao Líbano. E isso já deve estar no radar de Netanyahu.

Mais guerras intermináveis virão.

Não mais em nome da religião, mas em nome de poder e dinheiro.


Fique à vontade para comentar.


quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Execução dos médicos foi guerra de facções? Quem acredita nisso?

Por Fernando Castilho

Foto: reprodução de self dos médicos

A deputada federal Sâmia Bomfim, vinha denunciando que, devido à sua atuação, vinha sendo ameaçada de morte. Ameaças extensivas a seus familiares, diga-se de passagem.

Três médicos paulistas foram executados em um quiosque no Rio de Janeiro. Um deles, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim e cunhado do também deputado Gláuber Braga, ambos do Psol, partido de esquerda e base de sustentação do governo Lula.

Até aí todo mundo sabe.

Sâmia foi uma das deputadas mais combativas na CPI do MST. Por vezes teve seu microfone cortado durante suas falas, o que fere o regimento da Câmara dos Deputados. Os embates foram contundentes com o presidente da comissão, deputado coronel Zucco e com o relator, Ricardo Salles.

A parlamentar denunciou que, devido à sua atuação, vinha sendo ameaçada de morte. Ameaças extensivas a seus familiares, diga-se de passagem.

Normalmente as pessoas, ao lerem denúncias como essa, não exercem a empatia e costumam relegá-las ao esquecimento.

Eram quatro médicos que foram ao Rio para participar de um congresso de ortopedistas. Após um dia ouvindo vários ensinamentos, decidiram confraternizar tomando algumas cervejas num quiosque.

A polícia do Rio, instituição altamente confiável pelo seu histórico de resolução rápida de crimes como a execução da vereadora Marielle Franco, de maneira expressa, neste mesmo dia 5 de outubro, cravou que vinha monitorando há tempos os assassinos e que, por isso, implantou um grampo. No áudio, praticamente inaudível, há apenas duas palavras inteligíveis: “posto 8”.

Pronto! Foi o bastante para desvendar a motivação dos crimes! Um dos médicos fora confundido com um miliciano rival e, por isso, executado. Parabéns à polícia do Rio de Janeiro pela rapidez e pela facilidade em desvendar crimes. Fazem inveja à Scotland Yard e ao FBI.

Não está este articulista a afirmar que essa não é a verdade dos fatos, mas a realidade costuma ser mais complexa do que isso.

A própria matemática com seus cálculos probabilísticos já a desmente. A menos que uma conjunção de fatores (e aí não cito o destino) colocou o médico que veio de São Paulo, irmão de Sâmia Bomfim, deputada ameaçada de morte, no alvo de milicianos, o que possui uma probabilidade extremamente pequena e impossível de se calcular, a execução se deu por motivação política mesmo.

Ouso escrever isso.

A execução de um familiar de uma deputada da esquerda se presta, não somente a tentar calá-la, mas também calar a outros que têm falado grosso contra fascistas.

Lembro a CPMI dos atos golpistas quando parlamentares da base governista têm incomodado muito os deputados e senadores fascistas. Além disso, qual depoente saiu satisfeito depois que foi massacrado em uma oitiva?

Não, gente amiga, o golpe ainda não acabou. Essa extrema-direita está tentando se reorganizar, seja desmontando o STF, seja boicotando o governo Lula, seja, propagando mentiras absurdas, seja matando e ameaçando matar.

Por que o tenente-coronel Mauro Cid demorou tanto a fazer uma delação premiada? Teria ele segurança absoluta de que sua família não pagaria pela sua delação?

Gente, não estamos lidando com gente civilizada. Estamos lidando com milicianos!

Essa turba já esqueceu seu mito. Agora tenta se reerguer sem ele.

Espero que a Polícia Federal entre na jogada e esclareça que a execução dos médicos não se trata de guerra entre facções, mas sim, de crime político.


Fique à vontade para comentar.

 


sábado, 30 de setembro de 2023

O 2º turno da aventura golpista já começou

Por Fernando Castilho

Imagem: reprodução da Internet

O deputado pastor Marco Feliciano que chegou a chamar o tenente-coronel Mauro Cid de herói nacional e outros como o delegado Ramagem e Nicolas Ferreira que quase estenderam um tapete vermelho para o general Augusto Heleno. Isso não pode mais ser naturalizado!


Em meu texto do último 14 de setembro, https://bloganaliseeopiniao.blogspot.com/2023/09/o-relatorio-da-cpmi-poupara-os.html, defendi que a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama, em seu relatório a ser finalizado em 17 de outubro, cite como colaboradores diretos ou indiretos, alguns parlamentares bolsonaristas que compõem a própria comissão, já que deixam público e notório que defendem e apoiam golpistas e terroristas.

Há vários deles, mas os que chamam mais a atenção são o deputado pastor Marco Feliciano que chegou a chamar o tenente-coronel Mauro Cid de herói nacional e outros como o delegado Ramagem e Nicolas Ferreira que quase estenderam um tapete vermelho para o general Augusto Heleno. Bolsonaristas trocavam olhares, acenavam e sorriam para o depoente envolvido no transporte da bomba que iria matar muita gente caso explodisse próximo ao aeroporto de Brasília, Wellington Macedo!

Além disso, defendi que Parlamentares da base governista que compõem a CPMI deveriam convocar o deputado federal André Fernandes para depor, já que está sendo investigado pela Polícia Federal por estar presente no dia da tentativa de golpe de 8 de janeiro, gravando vídeo e insuflando a tomada do poder por bolsonaristas. Outro que também deveria ser convocado é o senador Marcos do Val, também investigado pela PF por confessar ter tentado, dentro do enredo do golpe, grampear o ministro do STF, Alexandre de Moraes.

TODOS esses deputados e senadores bolsonaristas TÊM que ser responsabilizados, já que cometem crimes que não deveriam ser atingidos pela imunidade parlamentar, pois não se trata de livre debate de ideias, mas sim, de defesa de terroristas e de gente que tentou dar um golpe de estado. E é notável como eles em suas redes sociais ajudaram a mobilizar pessoas para os acampamentos golpistas. Não dá mais para ficarmos assistindo discursos mentirosos destinados a manter a tentativa de golpe.

Porém, o fato novo é que essa corja está agora empenhada, não em defender seu mito, mas sim, em dar um novo golpe, desta vez, parlamentar.

Começa a tramitar uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que, se aprovada, dará ao Congresso a palavra final em casos que passem pelo Supremo Tribunal Federal.

Desta forma, o Marco Temporal, rejeitado pelo STF, teria agora condições para ser aprovado pelo Congresso. Outras votações polêmicas que digam respeito à pauta de costumes, principalmente, seriam revisadas pelos parlamentares. E é necessário lembrar que, embora os congressistas bolsonaristas não sejam maioria, os conservadores o são.

Essa PEC desrespeita a Constituição, portanto, nem deveria ser aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), mas caso seja, será apresentada em plenário para aprovação por 2/3 das casas legislativas em dois turnos, para mais tarde ser derrubada pelo STF. E é isso que os bolsonaristas querem. Confusão.

Só ingênuos imaginam que aloprados como aqueles que acamparam em frente aos quartéis não serão convocados para fazer manifestação em frente ao STF. Aliás, já há uma convocação para 15 de novembro circulando pelas redes bolsonaristas.

Rejeitado o projeto por inconstitucionalidade, os deputados golpistas poderão bradar a todos os cantos que o Brasil vive sob uma ditadura de toga, insuflando a massa ignara contra as instituições novamente.

É pelo risco que novamente corremos que a essa malta de parlamentares nenhum centímetro de espaço seja dado. É preciso, dentro do rigor da lei, colocar uma corrente e uma focinheira nos fascistas para que não ousem atentar novamente contra a democracia.

Que a maioria democrata da CPMI perceba que não basta fazer belos discursos inflamados nas sessões, mas que se comece a responsabilizar já deputados e senadores que insistem em golpear o Brasil.

A CPMI tem poder para isso!

 

Obrigado por ler. Peço para que comentem sobre exposto.

 


domingo, 24 de setembro de 2023

Estamos sendo extintos, sabemos disso e não nos importamos

Por Fernando Castilho


Mayke Toscano/Secretaria de Comunicação Social do mato Grosso/Divulgação


Os 0,75% de milionários garantirão, com a construção de bunkers climatizados, sua própria sobrevivência e a perpetuação da espécie humana quando as alterações climáticas não puderem mais ser reversíveis.

 

Há cerca de dez mil anos atrás o ser humano era nômade e vivia em pequenas tribos.

Sempre que determinado indivíduo sentia fome, saía para coletar tubérculos e frutas e para caçar.

Tudo mudou quando uma era do gelo comprometeu seriamente a alimentação dos seres humanos. Por pouco não fomos extintos. Mas quem sobreviveu?

Naturalmente os mais fortes e mais aptos puderam se refugiar em cavernas e adotar uma nova estratégia para se alimentar.

Agora não mais sairiam individualmente, mas em grupos para caçar animais de grande porte. Assim, uma vez caçado o mamute, este poderia ser consumido durante muitos dias e até semanas pela tribo.

Foi o surgimento da necessária cooperação entre os seres humanos que garantiu que estivéssemos vivos hoje.

De lá para cá muita coisa mudou, mas a principal mudança foi o modo de vida que passou do nomadismo para o sedentarismo.

A fixação do homem na terra deu origem à propriedade, à riqueza e às leis que favorecem ainda hoje os mais abastados.

Lula, em seu discurso na ONU, afirmou que 735 milhões de pessoas em todo o mundo vão dormir "sem saber se terão o que comer amanhã". As agências de checagem verificaram que esse número é absolutamente real. Assustadores 9% da população!

Na contrapartida há no mundo hoje, 59,4 milhões de milionários, ou seja, 0,75% de toda a população mundial. O resto é um espectro que vai desde o pobre até o classe média alta.

Toda essa introdução se presta a demonstrar que é essa a “grande” minoria de milionários que garantirá, com a construção de bunkers climatizados, sua própria sobrevivência e a perpetuação da espécie humana quando as alterações climáticas com seus desastres naturais e aquecimento acima do tolerado pelas espécies animais e vegetais não puderem mais ser reversíveis.

Já há vários relatos dessas fortalezas sendo construídas secretamente em todo o planeta. São projetadas para serem sustentáveis e resistirem às tentativas de invasão das hordas de famélicos e refugiados dos países mais quentes.

O IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas concluiu, entre os cenários estudados, que há mais de 50% de chance de a temperatura global atingir ou ultrapassar 1,5°C entre 2021 e 2040. Porém, como tudo está acontecendo de maneira acelerada, cientistas climáticos projetam esse aumento já para 2024 devido ao efeito El Niño 2.

Esse aumento é uma média global, o que nos faz raciocinar que em alguns lugares a temperatura se elevará ainda mais do que isso e em outros, menos.

É justamente o encontro entre massas de ar muito quentes e muito frias que cria os furacões e as grandes tempestades como o ocorrido no Rio Grande do Sul recentemente, causando grande número de mortos e desabrigados. Esse fenômeno será cada vez mais frequente e se estenderá por outras regiões do Brasil e do mundo. Tenho receio em pensar nas águas de março do ano que vem.

Tivemos este ano no Sudeste o inverno mais quente de que temos memória. Cabe lembrar que se projeta para o fim deste mês e início da primavera temperaturas da ordem de 36°C, o que é extremamente perigoso.

O que vai acontecer com o planeta nos próximos anos? (já não se fala em próximas décadas, mas sim, em próximos anos porque as mudanças estão ocorrendo exponencialmente)

- Mortes devido ao calor, principalmente crianças e idosos;

- Desastres naturais causando mortes, desabrigados e devastação;

- Desaparecimento de pequenas ilhas como as do Arquipélago de Tovalu que contava com 12 atóis e agora possui 2.

- Avanço do mar nas costas e litorais devido ao derretimento das geleiras. Quem vive em cidades litorâneas já testemunha esse processo;

- A médio ou longo prazo, desaparecimento de ilhas maiores como a da Madeira. Não é desproposital imaginar a perda da Inglaterra, de Taiwan e do Japão;

- Grande aumento de refugiados tentando escapar do calor e dos grandes desastres, causando revoltas, resistências e violência;

- Aparecimento de vírus que estavam aprisionados no permafrost das grandes geleiras aos quais não temos proteção, causando novas pandemias.

Enfim, a lista é grande e não é pessimista.

Lula tem razão ao denunciar ao mundo que muito pouco ou nada se fez de concreto ou eficaz para combater as mudanças climáticas. Há inúmeros discursos, mas nada se faz de maneira efetiva.

Infelizmente a busca incessante pelo lucro impede que governos adotem as atitudes radicais das quais precisamos agora para tentar reverter o caos que já está acontecendo.

Não há outro planeta no horizonte para o qual possamos nos mudar e continuar a humanidade. Temos que tentar consertar o erro que cometemos, principalmente após o início da década de 1960 quando imaginávamos que o mundo era um grande parque de diversões. Abusamos da queima de combustíveis fósseis sem nos preocuparmos com a poluição que estávamos causando. Construímos carros enormes que consomem grande volume de combustíveis. Erguemos, impulsionados pelas campanhas publicitárias, grandes fábricas poluidoras para produzirem aquilo que nem precisávamos. Abraçamos a ideia da obsolescência programada quando a mídia nos diz que está na hora de trocarmos nossos celulares. E produzimos lixo como nunca.

Enfim, aproxima-se o fim da farra, mas a ficha ainda não caiu.

Alguém pegou um sapo, colocou-o numa panela e acendeu o fogão.

O sapo não ligou, afinal, a água estava ficando quentinha e isso era muito confortável, a princípio.

À medida que a água esquentava, o sapo ia se adaptando ao aumento da temperatura e nem pensava em pular da panela. Até que a água ferveu e ele morreu.

Estamos nos comportando como o sapo.

Os 0,75% de milionários que teriam o poder de salvar o planeta estão se preocupando somente em salvar sua própria pele. Eles herdarão um mundo com menos gente e com menos gente é muito mais fácil reduzir drasticamente a emissão de gases de efeito estufa e reverter o caos climático. Depois continuarão a viver suas vidas privilegiadas.

É urgente que nós, sapos, pulemos agora da panela e façamos uma revolução capaz de nos salvar.

Em 2018 surgiu uma liderança jovem capaz de mobilizar milhares de outros jovens em defesa do planeta, afinal, o abacaxi ficará para eles descascarem.

Greta Thunberg, a ativista que foi presa recentemente um durante um protesto contra a demolição de uma vila para a construção de uma mina de carvão (um anacronismo, já que minas de carvão vêm sendo atualmente desativadas), tem sido duramente atacada pelos governantes dos países mais ricos por verem nela uma rebelde que simplifica demais questões tão complexas. Essa é a desculpa que os que não estão preocupados costumam adotar. Parece que só o Brasil de Lula está entendendo isso.

Se não aparecerem novas lideranças capazes de conscientizar os mais afetados pelas mudanças climáticas para que saiamos do marasmo e nos unamos numa verdadeira revolução pela nossa sobrevivência, ferveremos como o sapo na panela.

 

Gostaria que comentassem sobre o assunto.


domingo, 17 de setembro de 2023

Ao lado das medalhas, uma mancha indelével nas fardas verde-oliva

Por Fernando Castilho

Foto: Fernando Souza/AFP

Por que e como os acampamentos dos golpistas em frente aos quartéis foram permitidos? Quem articulou?


Em meu texto anterior, O relatório da CPMI poupará os parlamentares golpistas?, defendi que o relatório da senadora Eliziane Gama na CPMI do 8 de janeiro incluísse, além do indiciamento dos militares envolvidos, uma moção de repúdio ao exército por dar apoio à súcia golpista, destacando que a democracia no Brasil só não foi destruída porque no momento mais crucial, naquele fio da navalha em que o novo governo se encontrava, Lula não solicitou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que era somente o que as Forças Armadas estavam aguardando.

Por que essa punição, ainda que branda?

O exército, como instituição, não pode ser indiciado em sua totalidade. Somente aqueles militares que participaram direta ou indiretamente da intentona poderão ser condenados.

Porém, refletindo um pouco mais sobre como os acampamentos foram sendo montados em frente aos quartéis, podemos especular sobre como isso foi possível.

Todos sabemos – e isso foi explicado na última sessão da CPMI – que o exército não permite que nenhuma pessoa pare um carro ou permaneça por mais que alguns segundos em frente a um quartel porque o local é designado como área de segurança nacional. Se alguém ousar desobedecer, imediatamente soldados armados com fuzis poderão executar a prisão.

As pessoas inconformadas com a derrota de Jair Bolsonaro começaram aos poucos a montar acampamentos em frente aos quartéis, notadamente o de Brasília, sem que fossem incomodadas.  Pensando nisso, imagine a primeira pessoa que chegou com um carro para descarregar barracas e mantimentos. Ela deveria ter sido retirada dali no mesmo instante em que parou o carro, certo?

Mas, por que isso não aconteceu?

Só há uma possibilidade. Os soldados de plantão já tinham ordens para permitir a montagem dos acampamentos e os acampados já sabiam disso. Ou seja, já havia uma combinação prévia para que isso acontecesse.

Se essa suposição for verdadeira – e acredito que seja – os organizadores já tinham se reunido com o Alto Comando do Exército ou com o ministro da defesa, General Paulo Sérgio.

Quero dizer que essa combinação se deu entre o comando dos golpistas, muito provavelmente Jair Bolsonaro ou seus prepostos, generais Braga Netto e Augusto Heleno. Vale lembrar que os dois faziam parte do grupo que foi montado e que se reunia diariamente numa casa alugada para definir as estratégias após a vitória de Lula, enquanto Bolsonaro se refugiava nos Estados Unidos.

É a isso que a CPMI tem que chegar.

Uma vez permitidos os acampamentos, o exército forneceria água e energia elétrica e permitiria que empresas contribuíssem com alimentos, criando condições para que esses grupos fermentassem durante dois meses seu ódio e ousadia para que no dia 8 de janeiro agissem como ponta de lança do golpe, invadindo a Praça dos Três Poderes e implantando o terror.

Em seguida, num plano muito bem elaborado, diante da gravíssima situação, um presidente atônito e apavorado que havia tomado posse há somente 7 dias, não hesitaria em decretar a GLO.

Porém, o ministro Flávio Dino e Lula, escaldados que são, perceberam a armadilha.

Lula conclamou governadores e ministros do STF para se juntarem a ele para a defesa da democracia e nomeou um interventor para debelar os atos golpistas.

A essa altura, não foi possível mais insistir no golpe, já que as Forças Armadas como um todo a ele não aderiram, preferindo cumprir as novas ordens emanadas pelo interventor Capelli.

Lula parece ter hoje as forças sob seu comando, por isso, é fundamental que seja feita uma limpeza nelas.

Cabe à Polícia Federal indiciar militares golpistas como Braga Netto, Augusto Heleno e o general Dutra e cabe à CPMI indiciar todos e dar uma lição de moral que maculará para sempre a honra do exército através de uma moção de repúdio por ação e omissão por uma tentativa de golpe que colocaria de novo no poder um arruaceiro.

Ao lado das medalhas, uma mancha indelével nas fardas verde-oliva.

 


quinta-feira, 14 de setembro de 2023

O relatório da CPMI poupará os parlamentares golpistas?

Por Fernando Castilho

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Estado


Pergunta-se: aqueles que estiveram ao lado do ex-presidente em todas as suas falas em que defendeu a ruptura institucional constarão do relatório?


A CPMI dos atos golpistas de 8 de janeiro, caso não surja nenhum fato ou dado novo, deverá finalizar seus trabalhos em 17 de outubro com o relatório da senadora Eliziane Gama.

Espera-se que sejam indiciados todos aqueles envolvidos diretamente na tentativa de golpe como também os comandantes, os financiadores, os generais Braga Netto (este envolvido em um escândalo de enormes proporções que só agora começa a vir à tona) e Augusto Heleno, além do mentor principal da intentona, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Eliziane Gama deverá incluir outros militares golpistas que deverão ser presos, porém, como não há como indiciar todo o exército, na opinião deste articulista, a instituição deveria receber pelo menos uma moção de repúdio pela conivência e omissão, uma vez que permitiu de forma inédita e escandalosa os acampamentos golpistas em frente a seus quarteis.

Neste ponto pergunta-se: e aqueles que estiveram ao lado do ex-presidente em todas as suas falas em que defendeu a ruptura institucional? Serão também de alguma forma responsabilizados?

Vemos em todas as sessões da CPMI deputados e senadores bolsonaristas mentindo para tentar convencer a opinião pública de que os cerca de 4 mil vândalos violentos presentes na Praça dos Três Poderes naquele fatídico dia 8 eram velhinhas inofensivas com Bíblias na mão. Talvez tenha sido uma dessas Bíblias que, atirada em direção a Cabo Marcela da Polícia Militar do Distrito Federal, amassou seu capacete resistente até a balas. Fake news ao vivo!

O deputado Marco Feliciano chegou em uma das sessões a chamar o criminosos tenente-coronel Mauro Cid, então preso preventivamente, de herói nacional.

Outros parlamentares bolsonaristas elogiaram o general Dutra, envolvido até o pescoço, ao passo que tentaram apresentar pedido de prisão para o general Gonçalves Dias.

A tolerância com esses deputados e senadores tem que chegar ao fim. Já basta!

No relatório tem que constar pedido para o presidente da comissão enviar os nomes deles para a comissão de ética de suas respectivas casas legislativas. Eles foram corresponsáveis pela tentativa de golpe, pois insuflaram a população em suas redes sociais. Sabido e notório.

Parlamentares governistas que compõem a CPMI deveriam convocar o deputado federal André Fernandes para depor, já que está sendo investigado pela Polícia Federal por estar presente no dia da tentativa de golpe de 8 de janeiro, gravando vídeo e insuflando a tomada do poder por bolsonaristas. Outro que também deveria ser convocado é o senador Marcos do Val, também investigado pela PF por confessar ter tentado, dentro do enredo do golpe, grampear o ministro do STF, Alexandre de Moraes.

Além disso, outros personagens têm que ser no mínimo citados.

O empresário Luciano Hang e o ex-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, participaram ativamente da tentativa de golpe. Não esquecer de Valdemar Costa Netto, que chegou a colocar as urnas eletrônicas em dúvida e recebeu multa pesada por isso.

Outro que em suas redes sociais participou ativamente da desinformação enquanto atacava as urnas eletrônicas e o ministro do TSE, Alexandre de Moraes, foi o pastor Silas Malafaia.

Toda essa turma estava presente no palanque de Bolsonaro em 7 de setembro de 2021 quando ele tentou realmente um golpe, mas não conseguiu.

Esse relatório tem que ser duro para que fatos semelhantes nunca mais ocorram.

Que não poupe ninguém!


domingo, 10 de setembro de 2023

Ei, Sakamoto! Lula não foi passear de jet-ski!

Por Fernando Castilho



Há uma distância colossal entre ir à Índia para os fins descritos acima e passear de jet-ski da marinha com dinheiro público, enquanto pessoas morrem ou ficam desabrigadas, como fez Jair Bolsonaro.


Leonardo Sakamoto, colunista do Uol, é um dos jornalistas que mais sofreram ameaças de morte dos bolsonaristas. Foi também uma das poucas vozes do jornalismo tradicional a defender a candidatura de Lula.

Porém, parece que faz parte de uma esquerda namastê, aquela que vive num mundo de fantasia onde todo mundo tem que incondicionalmente ser uma vestal.

Sentir-se mal com a substituição da Ana Moser no Ministério dos Esportes por um elemento do centrão é direito, não só dele, mas de todo o espectro progressista, mas, se for incapaz de compreender as razões que levaram Lula a tomar essa decisão, revela o mundo de fantasia em que vive. O governo precisa de sustentação para aprovar projetos de interesse da população e isso só será possível se tiver maioria no Parlamento. Esse é o jogo político. Ponto.

Mas o que mais chamou a atenção foi a crítica feita a Lula por ter ido à reunião do G20 na Índia, enquanto os desastres climáticos aconteciam no Rio Grande do Sul.

O cara já passou para a oposição ou não entendeu que Lula precisava ir ao G20 porque iria assumir a presidência do grupo dos 20 países mais ricos. Isso é fundamental para que o Brasil se torne novamente uma potência econômica reconhecida mundialmente e investimentos sejam para cá atraídos. Lula nem queria ir devido ao seu problema no fêmur que lhe custará uma cirurgia, mas o evento já estava marcado há tempos.

O povo sofrido do RGS não ficou desamparado. O presidente em exercício (vejam bem, presidente, não um qualquer!) Geraldo Alckmin e um grupo de ministros está acompanhando no feriadão as vítimas, prestando socorros e liberando 800 reais aos desabrigados. Não houve, portanto, descaso do governo.

Há uma distância colossal entre ir à Índia para os fins descritos acima e passear de jet-ski da marinha com dinheiro público, enquanto pessoas morrem ou ficam desabrigadas, como fez Jair Bolsonaro (E daí? Não sou coveiro!) enquanto era presidente.

Uma desonestidade intelectual de Sakamoto.

Uma pena.


sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A utilidade e a ética da delação premiada

Por Fernando Castilho

Ilustração: Gustave Doré

Quando Mauro Cid delatar seus companheiros de crimes, os estará traindo. Na Divina Comédia de Dante Alighieri, vemos que está reservado o nono e último círculo do inferno aos traidores, portanto a traição seria o pecado mais grave de todos.


O tenente-coronel Mauro Cid decidiu, enfim, fazer delação premiada a ser avaliada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.

A imprensa lavajatista agora nos alerta, cinicamente, para o risco de Moraes repetir as ações de Sergio Moro e Deltan Dallagnol.

Lembramos que Moro e Dallagnol espremiam prisioneiros até obterem a delação que almejavam. Foi assim com Leo Pinheiro, dono da OAS.

Pinheiro fora preso e, para poder sair precisava delatar Lula como proprietário do tríplex do Guarujá, porém, em seu depoimento, afirmou que o atual presidente não tinha nada a ver com o imóvel. Somente tinha ido visitá-lo, mas como não gostou, desistiu da intenção de compra.

Moro mandou Pinheiro para o xilindró de novo.

Meses depois, pressionado a delatar, Pinheiro, em novo depoimento, disse que Lula era o dono do apartamento sem apresentar uma única prova. Hoje sabemos que o empresário mentiu para sair do inferno da prisão.

Mas o que é, para nós, leigos em direito, o instituto da delação premiada?

Vamos começar pelos filósofos da corrente utilitarista, Jeremy Benthan e John Stuart Mill que pregavam que toda ação teria justificativa caso se destinassem ao bem-estar das partes afetadas, neste caso, a elucidação dos crimes.

Por este prisma, a delação premiada se justifica juridicamente porque pode ter o poder de jogar luz nos crimes praticados por uma quadrilha e prender seu possível líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Porém, na outra mão se encontra uma questão ética difícil de se aceitar.

Sempre ensinamos, ou devíamos ensinar, nossos filhos a serem éticos. Isso significa não ser dedo-duro, não trair a confiança de seus amigos. Muitos presos políticos dos tempos da ditadura, como Dilma Rousseff, por exemplo, sofreram torturas cruéis, mas nunca delataram seus companheiros. Isso é ser ético.

Quando Mauro Cid delatar seus companheiros de crimes, os estará traindo. Na Divina Comédia de Dante Alighieri, vemos que está reservado o nono e último círculo do inferno aos traidores, portanto a traição seria o pecado mais grave de todos.

Mas esse traidor será PREMIADO! Esta é a questão.

Alguém só delata seus companheiros se não for inocente, portanto, Cid é culpado. Portanto, Cid é bandido como os outros, mas poderá receber um prêmio: a redução de talvez dois terços de sua pena.

Uma sociedade que premia um bandido que ainda por cima trai seus companheiros de crime não pode ser dita como sã. Há problemas éticos insuperáveis nisso.

Mas voltemos a Benthan e Stuart Mill.

Embora antiética, essa delação, caso chegue ao mandante do crime e tenha o poder de puni-lo, será útil para toda a sociedade. Vamos dar o devido desconto a isso, então.

Porém, não será essa delação a condenar Jair Bolsonaro pelo seu crime maior, o de, por ação e omissão, ceifar as vidas de centenas de milhares de vítimas da Covid-19.

Para esse crime, como já afirmei antes, não há pena proporcional.

 

E você, o que acha?

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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Ana Moser está fora. O que fazer?

Por Fernando Castilho

Foto: Ricardo Stuckert

A verdade é que nós que votamos em Lula estamos deixando o presidente sozinho na dificílima tarefa de negociar a governabilidade com Arthur Lira.


Lula, cedendo mais uma vez ao centrão, tirou Ana Moser do Ministério dos Esportes para dar lugar a um tal de Fufuca do PP.

As críticas estão vindo de quase todo lado. Grande mídia (que sempre gosta de ver Lula emparedado) e formadores de opinião da esquerda se unem contra a decisão. Menos os atletas. Ou alguém viu algum deles, a maioria bolsonarista, defender a Ana?

Ninguém procura saber os reais motivos de Lula ao ceder à pressão de Arthur Lira. E eles são claríssimos, não enxerga quem não quer. Ademais, já sabíamos que seria assim, em nome da governabilidade, não?

Lula, em 9 meses de mandato já transformou o Brasil. Seu governo, apesar de todos os obstáculos que o próprio centrão e a grande mídia lhe colocam pela frente, vai cumprindo suas promessas de campanha. O desfile de 7 setembro foi um grande exemplo da transformação do país.

Mas o presidente quer mais. Quer, ao deixar o governo, deixar a marca de melhor mandatário de todos os tempos no Brasil. Melhor ainda que Lula 1 e Lula 2.

Mas a verdade é que nós que votamos em Lula estamos deixando o presidente sozinho na dificílima tarefa de negociar com Arthur Lira. Somos somente críticos sem apontar um caminho, uma direção.

Não saímos às ruas para exigir Ana Moser no Ministério dos Esportes! Os atletas e as torcidas organizadas dos grandes clubes de futebol também não saíram e nunca sairiam porque ou são despolitizados ou são bolsonaristas.

Criticamos sentados confortavelmente em nossas poltronas. Me incluo nisso.

Não há sequer uma liderança que mobilize as pessoas a sair às ruas contra o centrão.

Somente as ruas têm o poder de anular o apetite de Arthur Lira. Os bolsonaristas já as abandonaram. Está na hora de as recuperamos.

Portanto, se não formos às ruas, é aceitar o que está acontecendo ou... aceitar.

A única saída para Lula se livrar do centrão é mandar fazer um monitoramento atento dos ministérios comandados pelo centrão e, ao menor indício de corrupção, denunciar, tornar público, exonerar o sujeito e esfregar na fuça do Arthur Lira.

Que Lula comece pelo Juscelino Filho, das Comunicações, envolvido até o pescoço com denúncias de desvio de dinheiro público.

 

 


quarta-feira, 6 de setembro de 2023

É Lula, gente. Confiem mais no que o velhinho diz

Por Fernando Castilho



Arrepia ver tantos colunistas de nossa esquerda crucificando o presidente por uma opinião ou um conselho, como ele mesmo disse.


“Se eu pudesse dar um conselho, é o seguinte: a sociedade não tem que saber como é que vota um ministro da Suprema Corte. Sabe, eu acho que o cara tem que votar e ninguém precisa saber. Votou a maioria 5 a 4, 6 a 4, 3 a 2. Não precisa ninguém saber foi o Uchôa que votou, foi o Camilo que votou. Aí cada um que perde fica com raiva, cada um que ganha fica feliz”.

Essas foram as frases proferidas por Lula em entrevista a Marcos Uchoa no Conversa com o Presidente.

Pronto! Acabou o mundo! Lula falou besteira!

Me arrepia ver tantos colunistas de nossa esquerda crucificando o presidente por uma opinião ou um conselho, como ele mesmo disse.

Em 1993 Lula, para escândalo da mídia e de parlamentares, disse que na Câmara havia 300 picaretas com anel de doutor. O tempo mostrou que ele só errou no número. Para menos.

É sempre preciso analisar com calma o que Lula quer dizer.

Foi durante o julgamento do mensalão que o então presidente da corte, Joaquim Barbosa, indicado por Lula, caprichou na pavonice ao transmitir as sessões pela TV. Os demais ministros, todos vaidosos como ele, perceberam que estava erguido ali o palco para que eles exibissem suas lustrosas togas.

De lá para cá, o que tem acontecido?

Luís Roberto Barroso, certa feita disse que o Judiciário deveria sentir o clamor do povo. Traduzindo, deveria ceder às pressões quando estas fossem fortes e que dane-se a Constituição.

Gilmar Mendes, o mais pavão de todos, não perde a oportunidade de agradar uns e outros quando lhe convém usando sempre sua erudição e hermenêutica para enganar quem ainda pensa que ele está lá para defender a Carta Magna. Em questões sociais, invariavelmente vota pelo lado do mais forte.

Será que já esqueceram que em 7 de setembro de 2021, Bolsonaro tentou um golpe? E que para insuflar as massas para isso, chamou o ministro Alexandre de Moraes de canalha? E que disse que não iria cumprir decisões dele?

Sabem por que Moraes e sua família são obrigados a manter um corpo de seguranças 24 horas por dia? Alguém sabe como é viver assim?

Sabemos que a fala de Lula contraria a transparência prevista na Constituição, mas ele não sugeriu mudança nenhuma na Carta.

Nos Estados Unidos e em vários países da Europa, todos ditos democráticos, a votação de cada ministro é secreta e só o resultado é divulgado.

Aqui no Brasil temos o instituto do voto monocrático que é aquele em que determinado ministro decide por si mesmo algo que deveria em tese ser decidido pela turma a que ele pertence ou ao plenário. Por quê? Holofotes, minha gente.

Se não foi por holofotes, por que Dias Toffoli, outro indicado por Lula, não permitiu que Lula, então preso pela Lava Jato, apoiada por toda a grande mídia, comparecesse ao velório do irmão? 

Moraes não visou holofotes porque só ganhou dores de cabeças. Corajosamente, teve que carregar muita coisa nas costas porque ele era o relator de vários processos, principalmente contra Jair Bolsonaro. Os demais ministros permaneceram quietinhos durante os anos do capitão por medo de que a súcia os ameaçasse como faz com Moraes. Vejam o que faz uma forte pressão.

Dizem que o novo ministro, Cristiano Zanin, andou votando como os reacionários Nunes Marques e André Mendonça para agradar bolsonaristas e, depois que recebeu críticas da esquerda, votou contra o Marco Temporal das terras indígenas para limpar sua barra. Agora fica bem com a esquerda. Amanhã pode mudar de novo. Não pode ser assim.

Se os votos fossem secretos, logicamente a transparência seria menor, teríamos menos textos a escrever sobre ministros da Suprema Corte e tudo pareceria mais enfadonho.

Não precisamos saber quem é o ministro que condenou o coitado por roubar um frango e votou a favor do Marco Temporal que prejudicaria toda uma população de indígenas que perderiam suas terras. Precisamos saber que, se o coitado foi condenado pelo plenário e o Marco Temporal foi aprovado, o STF como um todo se coloca do lado dos mais poderosos.

Se Lula fizer uma boa indicação para a vaga de Rosa Weber que se aposenta em outubro, a balança poderá pender para os mais desassistidos e é isso que importa.

Lula, como todo ser humano, não é infalível, mas neste caso, precisa ser ouvido com ouvidos que o compreendam segundo uma perspectiva histórica e não imediatista.

 

 

 

 

 

 

 




terça-feira, 5 de setembro de 2023

Doação de sangue para 6 de setembro seria apito de cachorro?

Por Fernando Castilho

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Flávio Bolsonaro, aquele deputado conhecido pela sua preocupação com as mortes pela Covid-19, agora convoca bolsonaristas para doação de sangue no dia 6/09.


A grande dúvida nas últimas semanas tem sido se a Polícia Federal está aguardando o 7 de setembro para prender Jair Bolsonaro preventivamente, já que há elementos suficientes para isso. Pode funcionar como um termômetro. Se houver manifestações significativas a favor do suspeito em mandar roubar e vender joias pertencentes ao Estado, aguarda-se mais um pouco para que provas mais robustas justifiquem a prisão. Se não houver manifestações, pode-se aguardar o encarceramento já para a segunda-feira seguinte, 11/09.

Porém, nas redes sociais bolsonaristas inicia-se um movimento de boicote às comemorações como protesto contra o que eles chamam de exército melancia, aquele que é verde por fora e vermelho por dentro. A cambada de golpistas esperava que as Forças Armadas como um todo dessem seu apoio ao golpe de 8 de janeiro, o que não aconteceu.

Há uma convocação feita pelo deputado Flávio Bolsonaro para doação de sangue no dia 6/09, aquele mesmo deputado que não se importou com mais de 700 mil mortes pela Covid-19. Teria ele mudado a ponto de sentir a necessidade de ser solidário com quem precisa de transfusão?

Se vivêssemos um momento de plena democracia, certamente elogiaríamos essa iniciativa, mas gato escaldado tem medo de água fria.

Aí tem. Ou pode ter.

Doar sangue, partindo do 01, tem mais jeito de apito de cachorro para convocação de malucos para que deem seu sangue em nome de um golpe impossível à esta altura, mas que continua latente, como vemos nas sessões da CPMI.

Seria paranoia imaginar atentados graves no dia 6/09?

Seria, caso não tivesse havido o precedente da tentativa de explodir um caminhão de combustível nas imediações do aeroporto de Brasília no final do ano passado, algo totalmente impensável naquele momento. Por pouco não houve centenas de mortos e feridos.

Certamente o deputado sairia com a desculpa de que convidou bolsonaristas a serem solidários com as pessoas que necessitam de doação de sangue nos hospitais, mas que foi mal compreendido. Uma vítima, portanto.

Sabemos, contudo, que o ministro Flávio Dino, que não nasceu ontem, felizmente já está, junto com a inteligência do GSI, da Abin e da PF, monitorando grupos insanos de extrema-direita.

Esperamos que tudo corra pacificamente, que estas desconfianças não se concretizem e que realmente os bolsonaristas, embora de sangue ruim, façam literalmente suas doações.