Por Fernando Castilho
Foto: Alexey Furman |
Antes de tudo, é sempre um pisar em ovos escrever sobre o conflito da Ucrânia com a necessária imparcialidade, já que se trata de uma guerra e guerras significam retrocesso no processo civilizatório da humanidade.
Wladimir Putin é um presidente autoritário, misógino, homofóbico, cruel, insensível. Cometeu crime internacional ao invadir a Ucrânia. Que um dia seja punido por isso.
Volodymyr Zelensky é um presidente que tolera grupos neonazistas como o Svoboda e, segundo matérias jornalísticas anteriores à guerra, apoia o Batalhão Azov, o principal deles, com ramificações inclusive no sul do Brasil.
Esclarecido? Então vamos prosseguir.
Depois que a guerra começou, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, foi preciso um tempo para acompanhar as informações que chegavam, quase que na totalidade, do Ocidente, para poder detectar possíveis linhas soltas que podem, caso amarradas, tecer uma rede para uma melhor compreensão dos fatos históricos que estamos vivenciando.
1 – Segundo a BBC, "o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ajudou o então candidato republicano Donald Trump a vencer as eleições nos Estados Unidos. A informação é do relatório de uma investigação liderada pelos serviços de inteligência americanos, divulgado em janeiro de 2017.
Conforme o documento, o líder russo "encomendou" uma campanha com o objetivo de influenciar a eleição.
Foto: Mikhail Klimentyev/Sputnik/AFP |
Ainda de acordo com o relatório - de 25 páginas -, o Kremlin desenvolveu uma "preferência clara" por Trump. Os objetivos da Rússia com isso seriam "minar a fé do povo americano" no processo democrático do país e "denegrir" a imagem da adversária democrata Hillary Clinton, prejudicando sua candidatura e possível mandato".
Quem quiser mais informações, pode acessar https://www.bbc.com/portuguese/internacional-38525951
Parecia claro o interesse de Vladimir Putin em desestabilizar a democracia americana, através de Trump. O objetivo em parte foi alcançado quando o ex-presidente se negou a aceitar sua derrota nas eleições de 2020 e insuflou seus seguidores a invadir o Capitólio, num claro atentado à Democracia.
2 – Segundo o site Poder 360, "Joe Biden, candidato à Presidência dos EUA, teria influenciado nas relações comerciais de seu filho Hunter Biden com o grupo Burisma. A empresa é uma grande produtora de gás natural sediada na Ucrânia. As informações foram obtidas de uma troca de e-mails existente em 1 laptop que Hunter Biden teria deixado para consertar em uma loja de Delaware, nos EUA, em abril de 2019. O aparelho não foi buscado pelo dono e o conserto nunca foi pago. A informação foi publicada pelo jornal New York Post na 4ª feira (14.out.2020).
O presidente dos EUA à época, Donald Trump, fez acusações relacionadas ao caso. O ex-vice-presidente, por sua vez, negou qualquer atuação que teria influenciado os negócios de seu filho." Mais em https://www.poder360.com.br/internacional/entenda-a-historia-sobre-a-possivel-ligacao-de-joe-biden-e-de-seu-filho-com-a-ucrania/
Pode haver, embora Biden negue, uma ligação entre o rpesidente norte-americano e a construção do gasoduto Nord Stream 2, a menina dos olhos de Putin.
3 – De acordo com a Deutsche Weller, “o Nord Stream 2 é o segundo gasoduto de gás natural entre o oeste da Rússia e o nordeste da Alemanha, passando sob o Mar Báltico. Assim como o Nord Stream 1, inaugurado em 2011, ele tem uma capacidade de transportar 55 bilhões de metros cúbicos de gás natural por ano. Ao todo, as duas instalações enviariam 110 bilhões de metros cúbicos de gás natural anualmente à Alemanha. Desde o início dos planos, os Estados Unidos e vários parceiros europeus da Alemanha se posicionaram contrários ao Nord Stream 2 e pressionaram o governo da então chanceler federal alemã Angela Merkel a desistir do acordo.
© Sputnik / Sergei Guneev |
Os aliados alertaram que o Nord Stream 2 tornaria a Europa dependente demais do gás russo, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, poderia usar essa dependência como ferramenta de persuasão e pressão em disputas com o Ocidente.
Atualmente, grande parte do gás natural da Europa chega ao bloco via Ucrânia, que recebe taxas de trânsito de Moscou.
Cerca de 18 empresas europeias desistiram, incluindo a alemã Wintershall, por medo de sanções financeiras. A russa Gazprom declarou que continuaria a instalação do gasoduto, e o projeto foi concluído, apesar das ameaças americanas.”
Leia mais em https://www.dw.com/pt-br/nord-stream-2-e-a-luta-pelo-poder-entre-ocidente-e-r%C3%BAssia/a-60662250
Os EUA ainda não engoliram a construção do gasoduto e ela só não foi sabotada por agentes americanos por causa das fortes vigilâncias da Rússia e da Alemanha.
Com a entrada em operação do Nord Stream 2, vários países da Europa passarão a comprar gás russo, o que significará fortalecimento do comércio e entrada de grandes divisas na Rússia.
4 – Segundo a CNN, “a República Tcheca se comprometeu no sábado a realizar um “envio de armas para a Ucrânia” no valor de mais de US$ 8,5 milhões para um “local de escolha dos ucranianos”.
A Holanda fornecerá à Ucrânia 200 mísseis antiaéreos Stinger. Outros materiais de defesa já estão a caminho”, tuitou o conselheiro de defesa e relações exteriores do primeiro-ministro, Geoffrey van Leeuwen.
O governo holandês também fornecerá 50 armas antitanque Panzerfaust-3 e 400 foguetes, disse o ministério em uma carta ao parlamento.
O país também está considerando em conjunto com a Alemanha enviar um sistema de defesa aérea Patriot para um grupo de batalha da OTAN na Eslováquia. É nosso dever apoiar a Ucrânia tanto quanto pudermos nos defender contra o exército de invasão de Putin. Portanto, entregaremos 1.000 armas antitanque e 500 mísseis Stinger para nossos amigos na Ucrânia”, disse o chanceler alemão Olaf Scholz”.
Portanto, vários países da Europa estão enviando armamento pesado para a Ucrânia, burlando as próprias normas da OTAN que proíbem estados membros de interferir em guerras entre países que não fazem parte da aliança. E esse número ainda vai crescer com a adesão da Finlânia, Suécia (não membros ainda) e de outros.
O resultado disso é que esses países, por estarem sendo desfalcados de suas armas, estão propondo revisão de seus orçamentos de guerra a seus parlamentos para que possam renovar seus estoques.
Pergunto: comprarão de quem?
Bingo! Você acertou! Comprarão dos EUA, o país responsável por 36% das exportações de armamentos pesados no mundo e, de longe, os mais sofisticados e mortíferos.
Agora, outras pontinhas captadas nos noticiários locais. E por que elas?
Porque às vezes é nas entrelinhas que conseguimos captar alguma informação importante.
5 – No Jornal Nacional da última segunda-feira, a correspondente na Itália, Ilze Scamparini, rompeu, deliberadamente ou não, o padrão do noticiário totalmente alinhado ao Ocidente, que deveria ser jornalístico e imparcial.
A repórter afirmou que a Itália não possui nenhuma ogiva nuclear, mas, por ser integrante da OTAN, há em seu território quatro bases da aliança, leia-se, Estados Unidos, com um total de 50.
Imagem: Partners-LA STAMPA |
Fica claro que, quando um país ingressa na aliança, automaticamente permite que os EUA construam bases e instalem armas nucleares. A OTAN confunde-se com os Estados Unidos.
Dá pra sentir a insegurança de estar cercado por 14 dos 30 países integrantes da OTAN, espalhados e cada um com muitas ogivas nucleares? Mais em https://www.youtube.com/watch?v=RV_uF5U36Oc
6 – Um jornalista brasileiro que está na Ucrânia, Gabriel Chaim, aproveitou que a Rede Globo não enviou, por questões de segurança, nenhum correspondente àquele país e decidiu vender material jornalístico à emissora.
No Jornal Nacional da segunda-feira, mostrou em vídeo a população ucraniana e as, segundo ele, milícias, se armando. Essas milícias são as nazistas alimentadas pelo presidente Volodymyr Zelensky que nega seguir essa ideologia por ser judeu. Mais em https://www.youtube.com/watch?v=RV_uF5U36Oc
Batalhão Azov - Foto: Azov.org.ua |
7 – Zelensky conclamou a que a população se arme e defenda seu país. Imagino como seria um confronto entre cidadãos e soldados russos fortemente treinados e armados com metralhadoras.
Segundo o JN, “Volodymyr Zelensky afirmou nesta segunda-feira (28) que vai soltar prisioneiros com experiência militar que estiverem dispostos a se unir à luta contra a Rússia”. Leia mais aqui https://g1.globo.com/mundo/ucrania-russia/noticia/2022/02/28/ucrania-vai-soltar-prisioneiros-que-aceitem-lutar-contra-a-russia-diz-presidente.ghtml
Imaginem prisioneiros de todos os graus de periculosidade portando armas? Isso não funciona mais como retórica para tentar demonstrar ao mundo que o povo ucraniano é heróico e está disposto a morrer por seu país?
8 – Conforme noticiou o Midiamax do UOL, “o tanque apontado como russo nas redes sociais, que aparece atropelando um carro nas ruas de Kiev é, na verdade, ucraniano. Um vídeo que circula nas redes sociais mencionava que um tanque russo havia passado por cima do carro na capital da Ucrânia. Mas o correspondente de guerra, Elijah J Magnier, que tem 37 anos de janela cobrindo conflitos no Irã, no Líbano, na Síria e outros país, disse se tratar de um Tanque Estrela 10 ucraniano. “E o motorista não estava prestando atenção, então passou por cima de um carro que vinha do outro lado”, relatou.
Em seu perfil no Twitter, o correspondente fez diversas postagens comentando o conflito e respondeu a um internauta, que havia mostrado o suposto vídeo. “Ainda não há tanques russos nas ruas de Kiev. 1.780 retuítes e 2.353 curtidas O motorista do carro sobreviveu ao acidente. Cuidado com as informações (falsas) nas redes sociais”, escreveu". Para ler mais, acesse https://midiamax.uol.com.br/mundo/2022/video-tanque-que-atropelou-carro-em-kiev-era-ucraniano-e-nao-russo
9 – Ainda na segunda-feira, houve uma reunião de representantes da Rússia e da Ucrânia em Belarus para negociar o fim da guerra.
De acordo com o Jornal Nacional “os ucranianos colocaram na mesa o objetivo deles para o encontro: um cessar-fogo imediato, mas não só. Também a retirada de todas as tropas russas, incluindo da Crimeia, península anexada pela Rússia oito anos atrás, e também da região de Donbass, dominada por separatistas russos e reconhecida como independente por Vladimir Putin.
Já os diplomatas russos não divulgaram os objetivos de Putin nessa conversa. O encontro terminou com o anúncio de que haveria uma segunda rodada de negociação Ou seja, de combinado mesmo, só que eles vão continuar se falando. E foi só as conversas terminarem para as sirenes voltarem a soar em Kiev”. Veja mais em https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/02/28/ucrania-e-russia-se-reunem-pela-primeira-vez-para-negociar-a-paz-nova-reuniao-e-marcada.ghtml
10 - No mesmo dia, segundo o UOL, “o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, assinou nesta segunda-feira (28) um pedido para que o país faça parte da União Europeia. A informação foi divulgada pelo canal verificado do governo no Telegram. Nas imagens divulgadas pelo país, Zelensky assina o documento. Mais cedo, ele havia pedido que a UE admitisse "urgentemente" a entrada do país no bloco". Veja mais em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2022/02/28/zelensky-ucrania-entrada-uniao-europeia.htm
Telegram/Reprodução |
Essa é a atitude de quem deseja o fim imediato da guerra?
O objetivo deste texto, embora alguns possam não reconhecer, não é definir por um lado de uma questão geopolítica extremamente complexa, mas mostrar que em todo conflito sempre há dois lados, e que neste momento só um deles nos está sendo mostrado pelos veículos de imprensa. Seria extremamente salutar que a cobertura jornalística fosse profissional abrangendo as razões que causaram a guerra em sua origem.
Ainda muita água vai rolar e em breve teremos mais informações.
Continuamos a ficar atentos a todas os noticiários de nossa imprensa ocidental, afinal como dizia William Shakespeare, há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar.
Fonte: BBC |
Publicado também em Piauí Hoje