sábado, 19 de março de 2022

O depoimento de Lucas Coelho sobre o transe geracional

Por Lucas Coelho




Sabe, sou de outra geração. Hoje com 40, em 2013, nos arrogantes 30, me peguei a querer entender política.

Geraçãozinha cu essa minha. Doutrinada pelo neoliberalismo paterno - no meu circulo - daqueles que fizeram dinheiro na ditadura.

Aí o choque: o empreendedorismo que me foi vendido não se sustentava como diziam. Muitos, eu entre eles, quebraram e se colocaram a culpar os que dissessem serem os culpados.

Nos achamos o máximo e marchamos de modo errático pelas ruas, gados hipsters, antes de ser modinha.

Um erro enorme. A educação que nos foi dada era enviezada, numa doutrinação que nada tinha de comunista.

Ficamos perdidos em meio ao mar de opiniões de nossa imatura imersão transitória pro universo digital das redes e opiniões inflamadas. Achávamos que tinha valor o que dizíamos. Daí as bolhas que nos fechamos.

Aos poucos, emergimos ou submergimos ao que nos era dito.

Por sorte, ou acaso, calhou de eu ser jornalista nesses tempos. Me envolvi com gente que minha mãe não gostava e achei que algo de errado não estava certo.

Tarde, é claro. Dos amigos de colégio, sofreguidão. Dos pares ideológicos, utopia que brilhava os olhos.

Dessa minha geração que hoje inunda as redes com opiniões irresponsáveis, salvam-se poucos ou nenhum.

Mas hoje somos o que chamamos de geração vigente, nos cargos relevantes para decisões relevantes pautadas em opiniões irrelevantes.

Eu, que sempre fui amigo do tempo, optei pelo caminho difícil: ouvir e pensar “mas e se?”.

Descobrimos um país paralelo que existe aqui ao lado, na rua, no boteco. Primeiro romantizamos e construímos longos textos compartilhados que nos inflou o ego.

Alguns, de tão inflados, foram alçados a comentaristas políticos.

Essa geração frágil, medrosa e infantilizada que é a minha, surgiu de boas intenções e nenhuma teoria.

Desembocou na próxima, que nem boas intenções promove como artigo de fé.

A gente fodeu o rolê. Fodeu bonito.

E serão poucos os que irão assumir responsabilidade por ter dado voz ao reflexo de nossa própria vaidade ignorante.

Nos deram espelhos e vimos um mundo doente. Tentei chorar, mas ao contrário do Renato - hoje memeticamente ucraniano - consegui.

Resta pedir desculpas, ouvir a voz mais velhos e contar aos de menor idade.

Mas essa resignação também leva tempo.

 


A acertada decisão de Alexandre de Moraes

Por Fernando Castilho


Foto: Cristiano Mariz/Veja


Carlos Bolsonaro, o responsável pelo marketing de campanha do pai, apostava todas suas fichas em poder utilizar este ano milhares de robôs, chamados de bots, para disparar as mais constrangedoras e caluniosas notícias falsas contra Lula e, assim, reverter a desvantagem nas pesquisas de opinião.


Antes de tudo, segundo o dicionário Michaelis, censura é o exame de trabalhos artísticos ou de material de caráter informativo, a fim de filtrar e proibir o que é inconveniente, do ponto de vista ideológico ou moral.

Na quinta-feira, 17 de março, o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, decidiu bloquear o aplicativo Telegram em todo o Brasil.

As reações do presidente Jair Bolsonaro, seus ministros e seus seguidores, foram imediatas. O capitão considerou a decisão como inadmissível.

Não poderia ser de outra forma, afinal, foi, principalmente, através das fake news divulgadas por compartilhamentos em massa pelo WhatsApp e demais redes sociais, que ele se elegeu presidente, além da condenação de Lula pelo ex-juiz Sergio Moro para afastá-lo das eleições.

Carlos Bolsonaro, o responsável pelo marketing de campanha do pai, apostava todas suas fichas em poder utilizar este ano milhares de robôs, chamados de bots, para disparar as mais constrangedoras e caluniosas notícias falsas contra Lula e, assim, reverter a desvantagem nas pesquisas de opinião.

É preciso lembrar que o Telegram, responsável por abrigar grupos de pedófilos, contrabandistas e todo aquele lixo que não encontraria guarida em outras redes, foi notificado a se comprometer em se enquadrar nas leis e normas eleitorais vigentes, mas não respondeu aos inúmeros e-mails enviados pelo TSE.

Como foi bloqueado e, de um dia para o outro perdeu milhões de usuários, o aplicativo apressou-se em pedir desculpas alegando que as notificações foram enviadas para endereço errado.

Mas, se a turma do Bolsonaro se revoltou contra o bloqueio, parte da esquerda não fez por menos.

Sob a alegação de que Alexandre de Moraes estaria promovendo a censura, muita gente fez coro com o capitão.

Como consta no primeiro parágrafo, não houve censura, mas bloqueio por desobediência às leis do país.

Outra alegação é que a liberdade de expressão, constante da Constituição, foi violada.

Liberdade de expressão é um conceito relativo. Ou acaso, divulgar mentiras para reeleger um presidente, ao mesmo tempo que se destrói uma reputação, é liberdade de expressão? 

Portanto, há muito equívoco sendo propagado nas redes sociais.

O que vai acontecer daqui pra frente?

O Telegram vai se adaptar às exigências do TSE, como as demais redes sociais, e voltará ao ar.

Desta forma, poderemos ter eleições mais limpas com a vitória de quem tiver melhores propostas para nosso sofrido povo e as expuser.

                                                                                                


quinta-feira, 17 de março de 2022

O mito da terceira via

Por Fernando Castilho




A última pesquisa Genial/Quaest mostrou Moro e Ciro, praticamente empatados em dois cenários, mas muito atrás de Bolsonaro, o segundo colocado. Parece que não decolarão mesmo.


Já muito se escreveu e se falou sobre a tal terceira via para as eleições presidenciais de 2022, mas gostaria de dar minha contribuição para esse debate.

Em primeiro lugar, sou taxativo: não existe a terceira via!

Por quê?

Vamos raciocinar. O termo surgiu porque nossa elite ficou desesperada por ter de escolher entre Bolsonaro e Lula. Acreditam que um está numa ponta e outro na outra. A isso a mídia deu o nome de polarização.

Mas será que ela existe de fato?

É certo e tranquilo que o capitão está realmente na ponta chamada de extrema-direita. Mas é um grande equívoco dizer que Lula está na outra ponta, ou seja, na extrema-esquerda.

Lula já governou o país por duas vezes e sua sucessora, Dilma Rousseff, por um mandato completo e outro interrompido pela metade devido ao golpe que sofreu. Em nenhum momento o ex-presidente assumiu posições que nos levaram ao socialismo e, muito menos, ao comunismo. Pelo contrário, enquanto, com seus programas sociais, tirava 35 milhões de pessoas da linha da miséria, conferia bem-estar à classe média e possibilidades de lucro à elite econômica do país. Ninguém saiu perdendo com Lula.

Então, o ex-presidente se situa no ponteiro da centro-esquerda.

Para reafirmar essa posição junto ao mercado, leva junto à tiracolo, o ex-governador e ex-tucano, Geraldo Alckmin, como seu vice.

Para se estabelecer a terceira via, ou seja, um meio-termo entre Bolsonaro e Lula, seria preciso um candidato não de centro, mas de direita!

Vamos analisar quais seriam os pretendentes a essa vaga.

Sergio Moro já demonstrou, por suas posições, principalmente em relação à segurança pública, como a excludente de ilicitude, entre outras posturas próximas ao fascismo, que se situa no mesmo lugar onde o ponteiro do espectro político aponta para Bolsonaro. Ele é um Bolsonaro com um pouco mais de verniz, embora fale também muita besteira. Além disso, já foi ministro do capitão por ter ideias parecidas.

Ciro Gomes se situa no mesmo lugar de Lula, a centro-esquerda, embora pessoalmente fale mais como direita. Poderia muito bem ser vice dele, mas a vaidade o impede.

Sobrou quem? João Doria? Este, durante a campanha de 2018 adotou o codinome de Bolsodoria, justamente por se confundir com o capitão.

Então fica demonstrado que não há terceira via.

A última pesquisa Genial/Quaest mostrou Moro e Ciro, praticamente empatados em dois cenários, mas muito atrás de Bolsonaro, o segundo colocado. Parece que não decolarão mesmo.

Se não decolarem, há possibilidade de desistência antes do primeiro turno?

Não há dúvida, pela personalidade, que Ciro não desiste de jeito nenhum, mas, na hipótese improvável de sua desistência, creio que, dos 7% que ostenta hoje, uns 5% poderiam ir para Lula, que ficaria com confortáveis 49%, podendo vencer já no primeiro turno.

Deputados do Podemos, partido de Moro, já deram um prazo para ele esboçar reação. Caso desista, poderá tentar uma vaga no Senado. Mas seus eleitores, para onde irão?

Essa é uma pergunta dificílima de responder, pois eles odeiam tanto Lula quanto Bolsonaro. Possivelmente, votariam em branco ou anulariam o voto, favorecendo Lula para vencer no primeiro turno devido à contagem dos votos válidos.

Agora que já se percebe que a terceira via não vai mesmo emplacar, aqueles que lançaram essa hipótese vão ter que se decidir por Lula ou por Bolsonaro.

Já há pelo menos um mês, o capitão se mantém mais quieto para evitar falar bobagens e a mídia parou de atacá-lo.

Isso sinaliza que a opção de nossa elite já é por Bolsonaro, embora haja dúvidas porque o capitão não conseguiu implementar a política neoliberal de Paulo Guedes na sua totalidade.

E é preciso por nesse tabuleiro a memória que ela tem dos tempos em que ganhava muito dinheiro durante os governos Lula.

Enquanto outubro não chega, vamos acompanhando o andar da carruagem, analisando os fatos novos que vão surgindo.

 


A culpa é da vítima?

Por Arialdo Pacello




Gosto muito de Filosofia, assim como, nas obras que tratam de Economia, aprecio as teorias que determinam a política econômica dos governos, com suas específicas regulamentações e ações supostamente planejadas e executadas com o propósito de viabilizar as atividades laborais e as transações mercantis, industriais e financeiras em seus países, na condição de nações politicamente organizadas, soberanas. Entretanto, analisando os fatos ocorridos conforme a nossa realidade, vejo que os que são considerados “pais” do capitalismo, Adam Smith, p.ex., e do neoliberalismo, tais como Ludwig von Mises, Friedrich Hayek, da Escola Austríaca, e Milton Friedman, da Escola de Chicago, não passam de teóricos do imaginário.

Acredito que Adam Smith foi um sonhador honesto e bem-intencionado, mas errático. Quanto aos outros três, tudo indica que seus principais objetivos eram combater as teorias de Karl Marx e Engels; combater a formação de estados cujos sistemas econômicos estejam voltados à prática de justiça social, além de patrocinar empresários gananciosos e exploradores. No Brasil, atualmente, eles são representados pelo banqueiro Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro, e pelos demais banqueiros que dominam as principais instituições públicas brasileiras.

Não tenho a menor dúvida sobre o fato de que o Brasil vem sendo governado pelas elites bilionárias. São latifundiários e grileiros tais como Ronaldo Caiado e Tereza Cristina. Existem também os mais abonados empresários membros da FIESP/CNI, de Paulo Skaf. Os que exercem maior influência nas decisões governamentais sobre a Economia são, provavelmente, os banqueiros da FEBRABAN, que cobram os juros e taxas mais criminosos do planeta e arruínam a vida de milhões de pequenos empresários e dezenas de milhões de famílias. O lado "espiritual" do governo brasileiro fica sob a responsabilidade de falsos bispos neopentecostais, elementos como Edir Macedo, Silas Malafaia, Valdemiro Santiago, entre outros que se enriqueceram à custa de enganar fiéis, gente ingênua, muitos até bem-intencionados; outros nem tanto, estes são, em muitos casos, pessoas exploradas tentando aprender como se tornar explorador do seu semelhante.

Parte dos militares agaloados, muito especialmente aqueles que estão faturando um extra nos gabinetes do governo, mancomunados com Jair Bolsonaro, demonstra satisfação pela atual situação político-econômica vigente no Brasil, em que o povo trabalhador, no momento uma massa de desempregados, sente-se aviltado, desonrado. Essa gente poderosa que está mamando nas tetas estatais é muito ignorante ou tão mal-intencionada quanto parte dos congressistas. Não quero generalizar, pois não sei o que pensam os militares que estão fora do governo, mas o “bloco” governamental está mais "preocupado" em acabar com uma suposta "ameaça comunista” (o que certamente não ocorre no Brasil) do que combater sonegadores, corruptos e grileiros.

Quando perdem nas urnas promovem golpes, como aconteceu em 1964 (contra Jango) e em 2016 (contra Dilma e contra Lula). Em 2016, o Congresso era liderado por Eduardo Cunha (falso evangélico), possivelmente o mais corrupto parlamentar da história brasileira. E tudo foi forjado para eleger o pior presidente do Brasil em todos os tempos – Jair Bolsonaro – o mais ignorante, o mais despótico, o mais desastrado!

O Parlamento Brasileiro conta com significativa participação de representantes de latifundiários, de grileiros, de banqueiros criminosos, gente detentora de fortunas que, em muitos casos, resultam de falcatruas engendradas em conluio com gente do governo, portanto, em geral, são obtidas de forma ilícita e depositadas em paraísos fiscais, a fim de sonegar impostos, como os próprios falsos patriotas às vezes são obrigados a confessar. Bem representados também estão os pseudo-evangélicos.

Muitas “autoridades” brasileiras (não se sabe ao certo quantas), algumas na condição de membros do gabinete do atual governo central, mantêm fortunas depositadas em paraísos fiscais. O atual ministro da Economia, Paulo Guedes (banqueiro privado) e o atual Secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles (banqueiro privado, ex-diretor do Bank of Boston) – são (maus) exemplos de como o Brasil está envolvido com a sonegação de impostos.

Não é mera coincidência o Brasil ter um Parlamento com a força de uma Bancada Ruralista (na verdade, deveria chamar-se Bancada dos Latifundiários e Grileiros); não é mera coincidência o Brasil ter uma bem fortalecida Bancada Evangélica (na verdade, deveria chamar-se Bancada dos Falsos Pastores Milionários e Sonegadores).

O mundo inteiro sabe que o Brasil está entre os cinco países mais injustos, desiguais e perversos do Planeta. As causas são óbvias: injustiça tributária, sonegação de impostos, cujas alíquotas são altas para quem ganha pouco e baixas para quem ganha muito. Aqui se pratica isenções de imposto injustificáveis e tantos outros privilégios aos ricos, que gozam da mais escancarada impunidade.

O art. 153 da Constituição do Brasil de 1988 prevê, entre outros tributos da competência da União, o Imposto sobre Grandes Fortunas. Ora, 34 anos são passados, e até agora tal imposto não foi regulamentado. Sequer entra na pauta dos projetos a serem discutidos.

Vários países já colocaram em prática tal imposto: Alemanha, Dinamarca, Áustria, Noruega, Islândia, Suécia, Suíça, Holanda, Argentina, Uruguai e Colômbia. Na França, o governo Emmanuel Macron revogou esse imposto em 2017 (aqui no Brasil não poderá ser revogado, simplesmente porque o que ocorre aqui é taxa mais alta para assalariados e mais baixas para os detentores de grande fortunas). Mas a França cobra altas alíquotas sobre heranças, ganhos de capital e renda. O que não acontece no Brasil e nunca acontecerá com o país sob a gestão de governos vira-latas. Sobre as fortunas dessa gente privilegiada deveria incidir uma alíquota que signifique reforço aos cofres públicos para investir em educação, saúde e segurança públicas.

A alegação dos países que não cobram tal imposto é o receio da “fuga de capitais” para outros países, em especial para os paraísos fiscais. Esse é um dos graves problemas do capitalismo neoliberal, que não só tolera como apoia os mecanismos institucionalizados de sonegação. Ou seja, o mundo atual, do neoliberalismo, está baseado na ganância, no lucro, na sonegação. Adam Smith, se voltasse hoje, iria envergonhar-se de suas teses que tentam fundamentar o capitalismo como o conhecemos. A maior parte delas são verdadeiros fracassos. O capitalismo está baseado no egoísmo e na ganância, que leva à injustiça e à desigualdade.

Não me preocupo tanto com a taxação das grandes fortunas, apesar de ser totalmente favorável a que ela seja instituída em nosso País. Porém, minha maior preocupação nesse sentido é com a imensa diferença entre o Brasil e as demais nações desenvolvidas, em se tratando de imposto sobre herança, imposto sobre ganhos de capital (dividendos) e o imposto sobre a renda de pessoas físicas, com as cobranças relativamente pequenas (ínfimas) para os que dispõem de grande fortunas e muito alta para os níveis salariais de trabalhadores brasileiros.

É certo que o Brasil é um dos países que mais cobram impostos. Só que o Brasil cobra dos pobres e da classe média, através de altíssimos impostos indiretos sobre o consumo. Os ricos, os milionários, os banqueiros, os latifundiários, os falsos pastores neopentecostais, ou não, pagam impostos sob alíquotas ridículas, eles são praticamente isentos; por isso mesmo, conseguem acumular e aumentar suas fortunas pessoais constantemente – e não são molestados.

Vejamos, em primeiro lugar, o insignificante imposto brasileiro sobre herança, que nos envergonha como Nação e deveria envergonhar o nosso Parlamento, em que se aboletam meros representantes das elites dominantes.

Imposto Sobre Herança: No Reino Unido, a alíquota é de 40,00%, na França 32,50%, nos Estados Unidos, 29,00%, na Alemanha, 28,50%, na Suíça 25,00%, no Japão, 24,00%, já no Brasil o tributo é de apenas 3,86%.

A respeito do imposto sobre herança, há um fato interessante ocorrido na Inglaterra, que ironicamente é o berço do capitalismo: “Em 31 de agosto de 1997, há mais de 20 anos, Diana, a Princesa de Gales, faleceu em trágico acidente de trânsito. Além de inúmeros admiradores, deixou também seus dois filhos ainda adolescentes, os príncipes William e Harry, que se tornaram os herdeiros diretos de sua grande fortuna. Na época, a revista Time colocava a princesa na lista de mulheres mais ricas do Reino Unido. De acordo com a publicação, ela teria obtido grande parte desse dinheiro por consequência do acordo de divórcio com Charles e uma possível herança de seu pai. O valor era de quase 13 milhões de libras. No entanto, ele foi reduzido após a cobrança de impostos e chegou aos 8,5 milhões de libras, que valem, hoje, quase 56 milhões de reais.” Ou seja, a Inglaterra cobrou 4,5 milhões de libras em imposto, cerca de R$ 30 milhões. Acontece que a alíquota máxima do imposto sobre herança é de 40% na Inglaterra, enquanto no Brasil cobra-se, em média, apenas 4%. Não sou favorável que se cobre imposto sobre heranças de patrimônios, digamos até R$ 1 milhão. A alíquota, nesses casos, poderia ser dos atuais 3% ou 4%. Mas, a partir disso, deveria haver um imposto progressivo, até atingir 40%, como na Inglaterra!

Sobre a fortuna da princesa Diana (13 milhões de libras = R$ 87 milhões), tal valor nominal seria pequeno, se comparado ao que poderia acontecer com as fortunas dos mega milionários brasileiros. Só para citar um exemplo: a avaliação mais baixa da fortuna do bispo Macedo é de R$ 2 bilhões, 300 milhões de libras esterlinas! Ou seja, mais de 20 vezes a fortuna da princesa Diana! A revista Forbes, por sua vez, diz que o bispo tem patrimônio de R$ 5 bilhões!

Qual será a fortuna, por exemplo, do presidente do Banco Itaú? A CVM – Comissão de Valores Mobiliários informa que ele ganha R$ 50 milhões por ano (R$ 4,16 milhões por mês). Isso, oficialmente. Sabe-se lá qual é a sua renda real! Procurem saber quanto esse cidadão paga de impostos. Com absoluta certeza, muito menos, proporcionalmente, do que um professor universitário, cujo salário varia de R$ 4.000,00 a R$ 7.000,00 por mês. Dizem que a média é de R$ 4.900,00. (800 vezes menos que a renda do presidente do Itaú!). Isso significa que um professor universitário precisaria trabalhar 70 anos para conseguir o que o presidente do Banco Itaú ganha num só mês! Um verdadeiro absurdo! Um opróbrio. Uma ignomínia. Esse é neoliberalismo!)

Já nem vou falar da fortuna dos outros bilionários brasileiros relacionados pela Forbes!

Comparativo de alíquotas de imposto sobre dividendos (pessoa física) e imposto sobre a renda (pessoa física) do Brasil com outros países:

Imposto sobre ganhos de capital (dividendos), pessoas físicas: no Brasil esse imposto é 0,0%. Isto mesmo: zero por cento. Na Dinamarca é de 42,00%, na França de 38,50%, no Canadá é de 31,70%, na Alemanha é de 26,40%, na Bélgica é de 25,0%, nos Estados Unidos, é de 21,20%. No Brasil esse imposto tem alíquota “0”, isso mesmo, ZERO! Era de 15% até 1995, mas foi zerada no governo de Fernando Henrique Cardoso, o FHC, a partir daquele ano. O Brasil é o ÚNICO país, em todo o mundo, que não cobra esse imposto.

Imposto sobre a renda, alíquotas máximas (pessoas físicas): Áustria, 50%; Bélgica, 53,70%; Chile, 40%; EUA, 40%; Dinamarca, 55,60%; Finlândia, 51,50%; Holanda, 52%; Itália, 47,90; Reino Unido, 45%; Israel, 50% Suécia, 56,90; Brasil, 27%.

CONCLUSÃO: O Brasil precisa fazer uma urgente e verdadeira reforma tributária. Chega de mentiras e de engodo. Entretanto, isso só será possível com um Parlamento honesto, digno, forte, soberano, que realmente represente o povo, e não apenas as classes dominantes. Portanto, precisamos ter muito cuidado nas eleições, pois creio que as forças de Belzebu tentarão novamente enganar os eleitores menos esclarecidos, com suas estratégias diabólicas e muito dinheiro público para comprar consciências na política e na mídia encarregada de maquiar as más intenções deste governo, fazendo a população acreditar que a culpa das desgraças que assolam o nosso País é dela própria, ou, pior: isentando o ápice da pirâmide social, e botando a culpa nas classes mais chegadas à base da pirâmide, ou seja, a culpa é da vítima.


Arialdo Pacello é advogado e servidor público aposentado do Banco do Brasil.

 


quarta-feira, 16 de março de 2022

Nossa inércia diante dos preços dos combustíveis

Por Fernando Castilho




Por que os entrevistados pelos grandes grupos de mídia são sempre contrários à interferência na política de preços da Petrobras?


Agora virou moda. Todos os colunistas e economistas entrevistados vão comentar sobre a alta dos combustíveis, mas sempre defendendo a política de preços atualmente praticada pela Petrobras que os reajusta automaticamente assim que eles sobem lá fora.

Eu havia perguntado nas redes sociais, se essas pessoas abastecem seus carros de graça ou se são acionistas da empresa.

Ontem, no Uol, o ex-presidente do Banco Central nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Loyola, numa entrevista, firmou sua posição contra subsídios para a gasolina e condenou a interferência na política de preços da Petrobras.

Muito bem, concordo com ele na questão dos subsídios.

Realmente, subsidiar a gasolina com dinheiro público significa, na prática, injetar recursos advindos dos impostos que todos pagam, principalmente os mais pobres. Desta forma, serão, na maioria, os mais necessitados, aqueles que utilizam transporte público, que ajudaram os proprietários de carro a encher seu tanque. E isso não seria justo.

Agora, por que ele defende a não interferência na política de preços?

Antes de mais nada, vamos lembrar que Dilma Rousseff praticou essa interferência, segurando os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha e isso foi absolutamente necessário durante o período em que os preços internacionais não paravam de subir. Afinal, para que serve uma empresa como a Petrobras, que detém, 28,7% do capital da empresa, se não pode cumprir também sua função social?

Gustavo Loyola afirma que, se segurarmos os preços dos combustíveis, uma hora teremos que liberá-los de uma só vez com um impacto enorme.

É verdade, mas uma meia verdade.

Os preços internacionais dos barris Brent não sobem ad eternum. Na realidade, eles também baixam, como neste momento. É justamente durante os períodos de baixa que o governo pode compensar as perdas da companhia que foram acumuladas durante os períodos de alta.

Mas por que, na verdade, Loyola se posiciona dessa forma? Será porque é um patriota que se preocupa com a economia de seu país?

Loyola é hoje presidente da Tendências Consultoria e, como tal,  oferece, segundo seu site, análises e projeções confiáveis, baseadas na neutralidade, independência e rigor técnico, que ajudam a compreender as questões econômicas e as especificidades dos setores, permitindo identificar oportunidades de negócios e investimentos. 

A Tendência Consultoria possui uma carteira de clientes, muitos dos quais, são acionistas da Petrobras. E não duvido que Gustavo Loyola também seja.

Portanto, as opiniões de economistas como ele, com o perdão do trocadilho, serão sempre tendenciosas.

Mas por que os entrevistados pelos grandes grupos de mídia são sempre contrários à interferência na política de preços da Petrobras?

Todo grande veículo possui grandes patrocinadores e eles são poderosíssimos e influenciam diretamente nas opiniões dos donos dos jornais. Principalmente os maiores acionistas que são Itaú/Unibanco, Santander e Bradesco.

É óbvio que eles estão ganhando muito dinheiro e não querem ver essa fonte secar.

Enquanto isso, motoristas de aplicativos, taxistas, motoboys e caminhoneiros continuam a comprar com dificuldade seus combustíveis. E os pobres começam a parcelar a compra do gás.

Num governo democrático, todos eles já estariam fazendo manifestações nas ruas, mas neste, autoritário como o de Bolsonaro, o máximo que fazem é perguntar: “fazer o quê, né?”

 

 


segunda-feira, 14 de março de 2022

Paulo Guedes e os iPhones dos brasileiros

Por Fernando Castilho


UNICEF/BRZ/Ratão Diniz


"Tem mais iPhones no Brasil do que população”, declarou o ministro neoliberal de Pinochet.


Temos um mandatário que praticamente não trabalha, como constatamos diariamente na agenda presidencial, que não conhece nem faz questão de conhecer as leis brasileiras, que não tem a mínima ideia do que significa governar e que vive numa realidade paralela, distante daquela vivida pela maior parte da sofrida população brasileira.

Para poder continuar a se fazer de presidente, Bolsonaro terceiriza o governo. Hoje, quem realmente fala alto e decide para onde vai o orçamento da União, é o centrão do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira.

Antes deles, o capitão havia terceirizado a economia para Paulo Guedes. Este engambelou por três anos o empresariado mais ignorante e retrógrado do país, como afirmou Ricardo Semler, num arguto artigo na Folha de São Paulo de domingo, 13 de março.

Assusta que industriais da mais alta casta do setor vejam sua produção cair, ano após ano, percam muito dinheiro e tenham que demitir funcionários acreditando que nossa economia tenha grandes perspectivas de crescimento a curto prazo, como Guedes afirma desde 2019.

Se o presidente vive numa realidade paralela, guiando-se pelos elogios que partem de seu cercadinho, Paulo Guedes não fica atrás.

Em fevereiro de 2020, quando o dólar fechou em 4,35 reais, o ministro afirmou que, com a moeda numa cotação mais baixa, até mesmo “empregada doméstica” estava viajando para a Disney, nos Estados Unidos.

Se com essa declaração as mulheres pobres do Brasil que enfrentam mais de uma condução para irem trabalhar em casas de famílias mais endinheiradas, recebendo parcos salários e, muitas vezes sem carteira assinada, teriam motivo para se indignar com a fala do ministro, devem ter sentido muita raiva quando ele falou sobre o iPhone na sexta-feira, 12.

"Tem mais iPhones no Brasil do que população”, declarou o ministro neoliberal de Pinochet.

De acordo com ele, tem brasileiro que possui 2 ou 3 iPhones.

Talvez ele tenha até mais que 3, mas quantas pessoas no Brasil podem desembolsar mais de 14 mil reais pelo aparelho?

Anteriormente ele já tinha proferido outras bobagens tipo “os ricos capitalizam seus recursos, os pobres consomem tudo".

São frases inaceitáveis pela insensibilidade e crueldade com que são proferidas.

Seu chefe também é mestre em declarações desse tipo.

Recentemente, ao visitar as áreas atingidas pelas chuvas em São Paulo, afirmou que faltou “visão do futuro” por parte de “quem construiu” residências nas áreas de risco.

É essa gente que tenta agora permanecer mais 4 anos no poder e que possui, apesar de tudo, espantosos 28% de intenção de votos.

Enquanto isso, Lula, o homem que prometeu (e cumpriu) que em seu primeiro mandato, todo brasileiro teria direito a 3 refeições por dia e que tirou cerca de 35 milhões de pessoas da linha da miséria, lidera com 43%, uma diferença de 15% e que, ao que tudo indica, vem diminuindo.

Esses números não refletem a real diferença de qualidade entre os currículos dos dois candidatos, não é mesmo?

Todo presidente deveria ter como preocupação maior o bem-estar dos governados e isso deveria ser encarado como marca de governo, a exemplo de Lula.

Uma obra monumental que Bolsonaro e Paulo Guedes são incapazes de construir.


sábado, 12 de março de 2022

Rede Globo, uma meretriz disfarçada de vestal

Por Fernando Castilho


Jacques-Louis David 



A diferença entre a Vênus Platinada e as prostitutas é que essas últimas nunca escondem o que são de fato, realizando seu trabalho com naturalidade e honestidade, enquanto a Globo tenta se passar por vestal.


Todos sabemos como Rede Globo atua na política para colocar no poder seus afetos e retirar seus desafetos.

O grande segredo é a pauta dos telejornais.

Inclui ou exclui, de acordo com sua conveniência.

Noticia na íntegra, ou pela metade.

Fala a verdade ou mente.

Omite ou bate todos os dias na mesma tecla.

Foi assim com Dilma Rousseff. Não teve um dia sequer em que a Globo não a malhasse.

Gasolina foi a 2,80/L? Vamos entrevistar as pessoas descontentes e deixá-las xingar a presidenta à vontade.

PIB foi 2,5%? Vamos dar voz aos economistas de direita que querem privatizar a Petrobras e implantar o neoliberalismo.

E Dilma caiu, não só por causa da Globo, mas também por causa da Globo.

A emissora, desde o começo do governo Bolsonaro, quando este a criticou e preferiu dar entrevistas somente aos concorrentes, vinha malhando o presidente.

Mas não vamos nos enganar. Malhar pra valer, como fez com Lula e Dilma, nunca.

Bolsonaro foi responsável indireto e direto por mais de 450 mil mortes por Covid-19. Mesmo assim, a Globo nunca o responsabilizou, nunca colocou críticos contundentes para falar contra ele.

Desde o final do ano passado, quando as candidaturas à presidência começaram a serem postas na mesa, a emissora apostou em Sergio Moro, a tal terceira via, contrária a Lula e a Bolsonaro, mas agora, em março, o ex-juiz se inviabiliza e, na falta deste, investe no capitão mesmo.

Lógico, o presidente bocó, agora comandado pelo centrão, soltou uma boa verba publicitária do governo para a Globo e agora ele se tornou o queridinho da emissora.

A diferença entre a Vênus Platinada e as prostitutas é que essas últimas nunca escondem o que são de fato, realizando seu trabalho com naturalidade e honestidade, enquanto a Globo tenta se passar por vestal.

Ontem, 11 de março, no Jornal Nacional, a repórter falou sobre o abusivo aumento do gás que vai prejudicar mais ainda as famílias pobres.

Bolsonaro havia prometido que iria interferir nos preços da Petrobras, mas não tem a coragem de Dilma para isso. E em nenhum momento a repórter o responsabilizou, preferindo culpar a guerra da Ucrânia, o que representa uma mentira porque os efeitos do conflito ainda não chegaram a nós e o gás que utilizamos não é importado da Rússia.

A Globo omitiu que Bolsonaro gastou 1,8 milhão de dinheiro público para se esbaldar em Santa Catarina enquanto o Brasil afundava nas enchentes.

Não fala que o capitão praticamente não trabalha, fato facilmente comprovável pela sua agenda presidencial cujos compromissos raramente ultrapassam 2 horas por dia. Todo o resto do tempo é gasto em campanha eleitoral antecipada com dinheiro público e uso da máquina governamental.

Escondeu que o ministro do STF, Nunes Marques, comandado por Bolsonaro, deu um golpe nos colegas ao pedir destaque faltando meia hora para o encerramento da votação sobre a Revisão da Vida Toda que poderia beneficiar milhões de aposentados no país e que já tinha finalizado com 6 a 5 em favor deles. Resultado: vai haver nova votação. Uma esculhambação total.

Bolsonaro é o candidato da Rede Globo.

Essa conclusão é muito importante para os acontecimentos futuros, principalmente quando Lula realmente entrar em campo com a sua campanha.

Daí veremos as maiores baixarias da emissora em favor de seu candidato.


quinta-feira, 10 de março de 2022

A mídia ocidental fez de Putin um boneco de vodu

Por Fernando Castilho




Enquanto aguardava que lhe trouxessem o café quente, tentou se acalmar e refletir. Precisava extravasar sua ira, exorcizar os demônios que tinham tomado conta de sua mente naquela manhã. O dedinho inchado do pé doía muito e alguém precisava pagar por isso.

De repente, gritou: JÁ SEI! UCRÂNIA!


Era uma típica manhã de inverno em Moscou. O céu estava encoberto e o vento frio e cortante, castigava as pequenas e blindadas janelas do Kremlin.

Vladimir Putin havia dormido bem naquela noite. Sonhara que era verão, estava de bermudas, o Sol já estava alto e a piscina de águas límpidas, convidativa.

Abriu a janela, viu a paisagem cinza e percebeu que acordara. Fim do sonho. Se quisesse nadar um pouco teria que ser na piscina aquecida do palácio. Muito chato, pensou.

Logo o mau-humor se instalou nele.

Fechou a janela, deu meia volta, topou com o dedinho do pé na quina da enorme cama, e tropeçou nas pantufas. Caiu de nariz na pele de urso que fazia as vezes de tapete e gritou: Сукин сын!

Nisso, o ajudante de ordens entrou no aposento trazendo o café.

Estava frio.

Putin esmurrou a mesa de 8 metros com raiva. Nada dá certo por aqui, Блядь!?

Mandou executar o pobre homem.

Enquanto aguardava que lhe trouxessem o café quente, tentou se acalmar e refletir. Precisava extravasar sua ira, exorcizar os demônios que tinham tomado conta de sua mente naquela manhã. O dedinho inchado do pé doía muito e alguém precisava pagar por isso.

De repente, gritou: JÁ SEI! UCRÂNIA!

Sim, ordenaria que seu exército invadisse a Ucrânia para aplacar seu mau-humor. Em seguida, já mais calmo, dominaria todos os demais países da Europa e, mais tarde, todo o planeta!

Deu um sorrisinho maligno dos tempos da KGB, do James Bond e do agente 86.

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Tirando a galhofa, parece que é essa a impressão que a mídia ocidental tenta vender. Putin, o ditador sanguinário, o novo Hitler, o bicho-papão, invadiu a Ucrânia somente para se divertir e dominar o mundo.

Não só os brasileiros, mas todo o Ocidente parece acreditar nisso. Basta ver as reportagens da televisão.

É preciso que o novo herói do mundo, Volodymyr Zelensky, juntamente com a OTAN, destruam Putin.

 

Embora não tenhamos a clareza necessária para analisar as causas do conflito, já que manipulações de informações acontecem dos dois lados, não devemos adotar a visão simplória e maniqueísta do mundo propagada pela mídia ocidental com seus interesses econômicos. Tudo tem sempre uma motivação.

Para tentar desatar esse nó, precisamos voltar um pouco no tempo para uma melhor compreensão desse imbróglio.

Com a queda da União Soviética, o então presidente Mikhail Gorbachev fez um trato verbal com o então secretário de Estado norte-americano James Baker. Foi acordado que a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não avançaria “nem uma polegada em direção ao Leste da Europa”, afinal, o Ocidente, comandado pelos EUA, havia vencido a guerra fria.

Com o fim do Pacto de Varsóvia, seu oponente, a OTAN, havia perdido a razão de existir.

Mas a Rússia nunca foi convidada a integrar a aliança, continuando a ser tratada como inimiga. Além disso, havia ainda outro inimigo silencioso, a China.

Em 1997, a OTAN, enfim, decidiu desrespeitar o acordo entre Gorbachev e Baker, iniciando sua expansão e anexando, aos poucos, Polônia, Hungria e República Tcheca.

Mais tarde, agregaria mais 10 países, totalizando os 30 membros atuais.

A Rússia, aos poucos, se viu acuada pelos países membros da aliança, mas a Ucrânia ainda vinha se mantendo como o último obstáculo entre a OTAN e ela, servindo-lhe como uma espécie de barreira.

Putin assistia a isso sempre preocupado e com um olho no país vizinho.

Em 2014, os EUA decidiram iniciar uma manobra mais agressiva, enviando o então secretário de estado, John Kerry para Kiev, para manifestar o apoio dos EUA aos rebeldes que tomaram o poder na capital ucraniana.

Durante os anos que se seguiram, milícias neonazistas surgiram e assassinaram cerca de 14 mil russos, entre eles, muitas crianças, como foi noticiado à época, mas sem ter provocado a mesma comoção dos acontecimentos atuais.

Era preciso que os EUA impedissem a construção do gasoduto Nord Stream 2 porque ele seria responsável por dobrar a capacidade de fornecimento de gás para a Europa, tornando-a ainda mais dependente da Rússia e aumentando a entrada de vultosas divisas para o país de Putin.

O comediante Zelensky foi eleito presidente fantoche dos EUA para justamente trabalhar para que se iniciassem as tratativas para integrar seu país a OTAN, o que seria o mesmo que apontar uma arma para a cabeça da Rússia, tamanha a proximidade de Kiev com Moscou (800 km em linha reta). A barreira deixaria de existir.

O timing preciso de Putin para impedir esse ingresso se deu quando Zelensky manifestou publicamente que iria tornar a Ucrânia um país membro. Não foi antes nem depois.

Se Putin agisse depois de firmado o acordo, o conflito não ficaria restrito a Ucrânia, mas ganharia proporções mundiais com uma guerra entre a Rússia e a OTAN.

É preciso lembrar que há centenas, talvez milhares de ogivas nucleares espalhadas pela Europa, todas apontadas para Rússia, China e Coreia Popular. E numa eventual guerra, todas entrariam em ação.

Por que a China apoia as ações de Putin?

Se a Rússia for tomada, todas as suas mais de 6 mil ogivas passarão para a OTAN, o que a tornará uma força inexpugnável até para a  China. É isso que Xi Jinping teme.

Será que há dúvidas de que Putin está realizando uma ação preventiva e com visão de longo alcance? Não se trata somente de defender a Rússia contra possíveis ataques da OTAN, mas talvez de também salvaguardar o planeta contra uma quase inevitável guerra nuclear em que perderíamos todos.

Já se passaram mais de duas semanas desde a invasão da Ucrânia e nada, absolutamente nada, foi feito por Zelensky para por fim ao conflito. Pelo contrário. Ele convoca a população civil a lutar como uma espécie de linha de frente contra os preparadíssimos soldados russos, apoia ações terroristas das milícias neonazistas que têm matado conterrâneos para culpar a Rússia e o tempo todo exige a entrada da OTAN na guerra.

A mídia brasileira deixou de se importar com a ética jornalística, esquecendo seus manuais de redação. Ela não diz que “a Ucrânia alega que foi a Rússia que bombardeou uma maternidade”, mas sim, que “foi a Rússia a autora do bombardeio”, incorporando a versão de Zelensky, sem o contraditório. Tornou-se icônica a divulgação do G1 de que um tanque russo esmagou o carro de um civil, quando, na verdade, o veículo militar era ucraniano. O portal de notícias nunca se retratou.

A OTAN, por outro lado, envia armamento pesado para a Ucrânia, prolongando ainda mais o conflito e enriquecendo os EUA pelo aumento da produção e comercialização desses artefatos bélicos que precisam ser repostos. Além disso, convida a Finlândia e a Suécia para engrossarem suas fileiras, num sinal inequívoco de provocação.

Para por fim à guerra, segundo Putin, a Zelensky bastaria tão e somente a assinatura de um acordo abrindo mão de se tornar país membro da OTAN, o reconhecimento de que a Crimeia é território russo e a independência de Donetsk e Luhansk (que já são independentes).

Embora não se possa cravar que, mesmo com um acordo assinado, a Putin não interessa incorporar a Ucrânia como parte da Rússia, isso a tornaria ainda muito mais próxima das ogivas da OTAN. Seria ilógico.

Estaria, ainda, Putin montando uma estratégia para reviver a antiga União Soviética, como Joe Biden afirmou?

Possível, mas improvável devido justamente ao gigantesco poderio bélico da aliança.

Na verdade, não está tão difícil acabar com esse conflito, mas ele só está se estendendo justamente porque o plano dos aliados americanos, que agora parece se  confirmar, era mesmo sufocar a Rússia num futuro próximo. Isso, a cada dia parece estar sendo demonstrado.

Será que daria certo?

Faltou combinar com os russos.


Também publicado no Jornal GGN:

https://jornalggn.com.br/cronica/a-midia-ocidental-fez-de-putin-um-boneco-de-vodu-por-fernando-castilho/


Também publicado no Piauí Hoje:

https://piauihoje.com/blogs/e-o-que-eu-acho/a-imprensa-ocidental-esta-fazendo-de-putin-um-boneco-de-vodu-394518.html

 

Também publicado no Medium:

https://medium.com/@fernandocastilho/a-m%C3%ADdia-ocidental-fez-de-putin-um-boneco-de-vodu-995c96647562

 


terça-feira, 8 de março de 2022

Mamãe, não devia ter falado, mas falei...

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


Mamãe Falei foi um dos grandes responsáveis pelo golpe contra Dilma Rousseff, na medida em que o enorme alcance de seu canal instigava jovens a saírem às ruas junto com os rapazes do MBL para protestar contra a ex-presidenta e exigir sua saída


O deputado estadual paulista e pré-candidato ao governo do estado de São Paulo, Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, foi pego com a boca na botija.

Muita gente já escreveu sobre o fato, mas gostaria de dar meus pitacos, pois, quem sabe, haja ainda mais algumas coisas a serem comentadas.

Antes de mais nada, vamos rememorar algumas coisas.

Em 2015, Arthur criou um canal no YouTube chamado Mamãe Falei. Com uma câmera de vídeo nas mãos, o rapaz caminhava pelas ruas para ouvir a população sobre temas políticos e econômicos. O canal hoje tem mais de 2,7 milhões de inscritos.

Não demorou para o pessoal do MBL perceber seu potencial e cooptá-lo.

Mamãe Falei foi um dos grandes responsáveis pelo golpe contra Dilma Rousseff, na medida em que o enorme alcance de seu canal instigava jovens a saírem às ruas junto com os rapazes do MBL para protestar contra a ex-presidenta e exigir sua saída.

Durante as manifestações da esquerda, Arthur costumava inquirir petistas sobre assuntos polêmicos, justamente para tentar expor suas contradições. E é claro que as edições dos vídeos deixavam à mostra somente as respostas incoerentes, discrepantes ou fora da realidade.

Em 2018, aproveitando o grande engajamento que Jair Bolsonaro obtinha em sua campanha à presidência do Brasil, Arthur se candidatou a deputado estadual, obtendo mais de 470 mil votos, ficando atrás somente de Janaína Paschoal, mais uma que se aproveitou da maré bolsonarista. Foi um período em que qualquer um que causasse polêmica, desde que estivesse junto com o capitão, se elegia a algum cargo.

Como deputado, Mamãe Falei segue o exemplo do presidente quando ainda era parlamentar, trabalhando pouco, criando polêmicas, ofendendo colegas e ferindo o decoro.

Em 2019, Arthur, assim como Janaína, rompe com Bolsonaro, mas não com o bolsonarismo, corrente de extrema-direita que já se materializou e sobrevive sem seu principal mentor. Aliás, muitos parlamentares, sejam estaduais ou federais, que romperam com Bolsonaro, como Alexandre Frota e Joice Hasselmann, ainda compartilham de ideias semelhantes a seu ex-mito.

Em 2020, Arthur foi condenado pela Justiça Eleitoral por ataques ao padre Júlio Lancellotti.  Em campanha eleitoral antecipada, o parlamentar não hesitou em  caluniar, difamar e injuriar o abnegado Padre que desenvolve um trabalho muito importante junto aos moradores de rua.

Bem, esta é a ficha do Mamãe.

Vamos ao acontecimentos recentes.

Sentindo-se à vontade ao gravar um áudio, Arthur afirmou, entre outras coisas,  que as ucranianas "são fáceis porque são pobres", e que a fila de refugiados teria mais mulheres bonitas do que a "melhor balada do Brasil". Entre várias outras coisas, alega, ainda, que Renan Santos, do MBL, viajava pelos países europeus "só pra pegar loira".

Reprodução: Instagram

O áudio foi vazado e compartilhado para o mundo todo ouvir o que pensa um parlamentar que representa 470 mil paulistas.

Nunca assisti a nenhum vídeo de Mamãe Falei, mas duvido que em nenhum deles ele já tenha manifestado sua maneira de pensar em relação às mulheres ou demonstrado seus preconceitos. Mesmo assim, ele tem 2,7 milhões de inscritos.

A namorada de Arthur apressou-se em dizer que rompera com ele.

Pergunto: será que nunca, nem uma vezinha sequer, o Mamãe demonstrou ser o que é com ela? Será que nunca foi machista?

Hipocrisia.

Ele tentou se explicar em um vídeo, mas como não tinha explicação nenhuma para dar, ficou mais do mesmo.

O inferno astral do bolsonarista apenas começou.

Sergio Moro, candidato da terceira via, que vem avançando para trás nas pesquisas, dizendo-se surpreendido, foi obrigado a romper com Arthur. Pode ser que os dois nunca tenham conversado sobre mulheres, mas todos sabemos que, em conversas informais, as personalidades de alguma forma se revelam e, em apenas alguns minutos já sabemos com que tipo de pessoa estamos conversando.

Mamãe já renunciou à candidatura ao governo de São Paulo.

O atual partido dele, o Podemos, presidido por uma mulher, pode expulsá-lo nos próximos dias e só não o fará se for muito hipócrita. É possível que ele seja obrigado a se adiantar e pedir sua desfiliação. Mas não pensem que ele ficará sem partido, pois sempre haverá algum disposto a acolhê-lo. Afinal, o Podemos não acolheu o ex-ministro que vinha destruindo o meio ambiente, Ricardo Salles, candidato a deputado federal?

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo tem o dever moral de iniciar processo por quebra de decoro parlamentar. Vamos acompanhar pra ver se isso realmente acontece.

Por fim, aqueles eleitores que fizeram vaquinha para que ele viajasse para socorrer ucranianos, têm que cobrá-lo sobre como os valores foram empregados.

Ah, mas há ainda a curiosa manifestação do presidente da República no cercadinho.

Bolsonaro condenou a fala de Mamãe Falei com a cara mais lavada do mundo. “É tão asquerosa que nem merece comentário”, disse.

O comentário é tão falso como uma nota de 3 reais, pois em várias ocasiões o presidente se referiu às mulheres de forma desrespeitosa, como quando, ainda deputado, afirmou que só não estupraria a deputada Maria do Rosário por ela ser feia.

Arthur do Val é um avatar do capitão. Uma espécie de genérico mais jovem, ou um filho não consanguíneo. Não há muita diferença entre ele e os 01, 02 ou 03, podem reparar.

Mas, no que diz respeito ao que pensa sobre as mulheres (ou como Bolsonaro diz, no tocante a isso daí), compartilha com o capitão o mesmo DNA.



Publicado também no Jornal GGN: 


 

 


sábado, 5 de março de 2022

A paz... invadiu o meu coração...

Por Fernando Castilho


Obra de Susan Boerner



A paz... invadiu o meu coração...

Give Peace a Chance.

War Is Over, If You Want It.

Os poetas sempre são os primeiros a pedir paz.

Nestes tempos temos ouvido falar muito em paz. NÃO À GUERRA! DEEM UMA CHANCE À PAZ! Vejam como sai muito fácil das bocas.

Todos nos tornamos pacifistas, mesmo que nem sempre sejamos, não é?

A Rússia invadiu a Ucrânia e até parece que é a primeira vez em que o mundo assiste a uma guerra.

Durante a guerra fria, havia duas forças antagonistas: a OTAN, patrocinada pelos Estados Unidos, e o Pacto de Varsóvia, liderado pela hoje extinta União Soviética. E esse termo “extinta” é muito importante para que possamos compreender o que está em jogo hoje, 31 anos após.

O Pacto de Varsóvia, que impunha um equilíbrio no mundo, apesar do temor constante de que um dos loucos apertasse o botão vermelho que destruiria o mundo, acabou.

Mas a OTAN permaneceu, apesar dos protestos de Mikhail Gorbatchov, o homem que deu início à queda da URSS e do Pacto de Varsóvia e que foi traído pela aliança.

Naquela época, ela congregava 16 países e de lá pra cá, embarcou mais 14.

A pergunta que não quer calar é: se não existe mais o Pacto de Varsóvia, qual o sentido de uma OTAN cada vez mais forte?

Seria pelo fato de que podemos ser, a qualquer momento, atacados por alienígenas?

Não, porque nesse caso, o mundo todo teria que se unir, inclusive a Rússia e a China.

Então, qual é o inimigo da OTAN? E por que cresce cada vez mais?

QUAL É O INIMIGO DA OTAN?

Sabem o que ela prega? Pois é, a paz!

Mas o que é que ela está neste momento fazendo no Iêmen? Promovendo a paz, enquanto apoia a Arábia Saudita na matança de milhares de civis? O que ela fez quando os EUA promoveram uma matança na Síria? O que ela fez quando os americanos invadiram o Iraque e exterminaram 600 mil pessoas?

Então temos uma contradição aqui.

Será que a OTAN está mesmo se empenhando para pacificar o conflito na Ucrânia?

Em vez de ajudar nas negociações de paz, a aliança envia armas para o país de Zelensky, o que prolongará o conflito e causará mais mortes.

Em vez de redigir uma declaração abrindo mão da adesão da Ucrânia para contribuir para o fim das animosidades, convida a Finlândia e a Suécia para se tornarem membros.

Na realidade, sem hipocrisia, como se luta pela paz?

Com ações concretas para isso.

Mas fica claro que não é a paz que a OTAN deseja, afinal, é preciso vender armas e construir mais bases pelo mundo inteiro. E isso enriquece muita gente.

Enquanto nós, simples mortais, junto com os poetas, esperançosos de verdade pela paz, acompanhamos horrorizados os resultados do conflito e acreditamos que a ONU está empreendendo grandes esforços para dar um basta nas lutas, o que a aliança quer na realidade é arrastar esse conflito até o máximo possível para enfraquecer tanto a Rússia quanto a Ucrânia, afinal, a estratégia dos EUA sempre foi a de dividir para conquistar.

Se se quer paz de verdade, basta Zelensky assinar uma simples declaração que abre mão de ingressar na OTAN.

Pronto!

War is Over!