quarta-feira, 16 de março de 2022

Nossa inércia diante dos preços dos combustíveis

Por Fernando Castilho




Por que os entrevistados pelos grandes grupos de mídia são sempre contrários à interferência na política de preços da Petrobras?


Agora virou moda. Todos os colunistas e economistas entrevistados vão comentar sobre a alta dos combustíveis, mas sempre defendendo a política de preços atualmente praticada pela Petrobras que os reajusta automaticamente assim que eles sobem lá fora.

Eu havia perguntado nas redes sociais, se essas pessoas abastecem seus carros de graça ou se são acionistas da empresa.

Ontem, no Uol, o ex-presidente do Banco Central nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Loyola, numa entrevista, firmou sua posição contra subsídios para a gasolina e condenou a interferência na política de preços da Petrobras.

Muito bem, concordo com ele na questão dos subsídios.

Realmente, subsidiar a gasolina com dinheiro público significa, na prática, injetar recursos advindos dos impostos que todos pagam, principalmente os mais pobres. Desta forma, serão, na maioria, os mais necessitados, aqueles que utilizam transporte público, que ajudaram os proprietários de carro a encher seu tanque. E isso não seria justo.

Agora, por que ele defende a não interferência na política de preços?

Antes de mais nada, vamos lembrar que Dilma Rousseff praticou essa interferência, segurando os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha e isso foi absolutamente necessário durante o período em que os preços internacionais não paravam de subir. Afinal, para que serve uma empresa como a Petrobras, que detém, 28,7% do capital da empresa, se não pode cumprir também sua função social?

Gustavo Loyola afirma que, se segurarmos os preços dos combustíveis, uma hora teremos que liberá-los de uma só vez com um impacto enorme.

É verdade, mas uma meia verdade.

Os preços internacionais dos barris Brent não sobem ad eternum. Na realidade, eles também baixam, como neste momento. É justamente durante os períodos de baixa que o governo pode compensar as perdas da companhia que foram acumuladas durante os períodos de alta.

Mas por que, na verdade, Loyola se posiciona dessa forma? Será porque é um patriota que se preocupa com a economia de seu país?

Loyola é hoje presidente da Tendências Consultoria e, como tal,  oferece, segundo seu site, análises e projeções confiáveis, baseadas na neutralidade, independência e rigor técnico, que ajudam a compreender as questões econômicas e as especificidades dos setores, permitindo identificar oportunidades de negócios e investimentos. 

A Tendência Consultoria possui uma carteira de clientes, muitos dos quais, são acionistas da Petrobras. E não duvido que Gustavo Loyola também seja.

Portanto, as opiniões de economistas como ele, com o perdão do trocadilho, serão sempre tendenciosas.

Mas por que os entrevistados pelos grandes grupos de mídia são sempre contrários à interferência na política de preços da Petrobras?

Todo grande veículo possui grandes patrocinadores e eles são poderosíssimos e influenciam diretamente nas opiniões dos donos dos jornais. Principalmente os maiores acionistas que são Itaú/Unibanco, Santander e Bradesco.

É óbvio que eles estão ganhando muito dinheiro e não querem ver essa fonte secar.

Enquanto isso, motoristas de aplicativos, taxistas, motoboys e caminhoneiros continuam a comprar com dificuldade seus combustíveis. E os pobres começam a parcelar a compra do gás.

Num governo democrático, todos eles já estariam fazendo manifestações nas ruas, mas neste, autoritário como o de Bolsonaro, o máximo que fazem é perguntar: “fazer o quê, né?”

 

 


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