terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Olavo, o astrólogo, não previu a ômicron

Por Fernando Castilho



Passou também a escrever livros e um deles, O Que Você Precisa Aprender Para Não Ser Um Idiota, foi best-seller. Muitos compraram, mas poucos leram, pois como ele mesmo afirmava, seus seguidores eram todos idiotas


O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche se autointitulava um homem póstumo. Sabia que seus escritos só seriam valorizados após sua morte.

Olavo de Carvalho se autointitulava filósofo. Mas em pouco tempo será esquecido não totalmente porque sempre haverá quem insista em continuar sendo enganado.

Há muito tempo atrás assisti a um debate entre ele e o filósofo Mário Sérgio Cortella. Lembro-me que foi um debate com bom nível, mas Cortella o dominou. O que, então, de lá pra cá?

Olavo percebeu que era perda de tempo continuar a tentar ser filósofo e não ganhar dinheiro. Era hora de mudar de vida e faturar.

Descobriu que há muita gente disposta a ouvir bobagens sem contestar. Então, criou um curso pela Internet e passou a angariar suas vítimas.

Quem são as pessoas que se inscrevem em seus cursos?

Há empresários endinheirados, gente estudada como o ex-chanceler, Ernesto Araújo e os irmãos, Weintraub e políticos como os filhos do presidente. Mas o grosso mesmo é de jovens que precisam de um rumo a seguir e coisas estranhas em que acreditar, como a terra plana, por exemplo.

O que há em comum a todos eles? Eles não vão ler Kant para conferir se o que Olavo falou é verdade. Desta forma, a grana vinha fácil.

Porém, uma vez um de seus alunos, um estudante de filosofia, percebeu que o que Olavo falava sobre Kant numa de suas aulas não batia com o que seu professor na USP ensinava. Procurou o professor, um especialista no filósofo alemão e lhe relatou sua inquietação. O professor, então, acessou a aula de Olavo e descobriu que o que ele falava era para enganar incautos.

Esse professor, cujo nome já não me lembro, entrou em contato com Olavo e o convidou para um debate sobre Kant.

Qual foi a resposta do “filósofo”?

Sim, mandou-o tomar naquele lugar.

Essa era invariavelmente a resposta dele a qualquer questionamento.

Passou também a escrever livros e um deles, O Que Você Precisa Aprender Para Não Ser Um Idiota, foi best-seller. Muitos compraram, mas poucos leram, pois como ele mesmo afirmava, seus seguidores eram todos idiotas.

Em 2013 um desses exemplares chegou às mãos de Carlos e Eduardo Bolsonaro que ficaram muito impressionados com o escritor.

Durante a campanha presidencial de 2018, os filhos de Bolsonaro tentaram demonstrar ao pai a importância de ter uma base teórica anticomunista e de extrema-direita. E ainda por cima, era Trumpista roxo! O Capitão Morte a princípio não gostou da ideia porque jamais lhe passaria pela cabeça ler um livro daquele tamanho, mas foi convencido por Carlos.

Ao montar sua equipe de governo, lógico, o filho 02 impôs ao pai a necessidade de escalar a elite dos seguidores de Olavo para alguns ministérios. Assim, o governo Bolsonaro teria um pilar olavista e outro militar. Um nortearia as ideias de extrema-direita em que se destacariam nomes como Ernesto Araújo e Abraham Weintraub e outro as ações autoritárias.

O fato é que o capitão acabou, pressionado pela necessidade de se reeleger, abandonando a ala ideológica de Olavo e mantendo os militares porque estes jamais largariam o osso de seus altos salários acumulados com os das Forças Armadas. Foi preciso dar um cavalo de pau e se juntar aos políticos do centrão que evitariam que processos de impeachment fosse levados a cabo.

Olavo acusou o golpe e, numa live em que participaram Ernesto, Weintraub e Ricardo Salles, desabafou dizendo que Bolsonaro nunca leu sequer um livro seu e que seu governo agora pertencia ao centrão.

Após essa live Weintraub, já de olho no governo de São Paulo, entrou em rota de colisão com os filhos do capitão.

As últimas teses de Olavo que Bolsonaro seguiu fielmente foram a de que a pandemia não existia e que as vacinas eram ineficazes contra a Covid-19.

Mas Olavo viu que o capitão, embora corroborasse ardentemente de suas teses, não conseguia impor seu pensamento ao governo e, mesmo com Marcelo Queiroga como ministro da Saúde, não pode impedir a compra de vacinas e a imunização de 70% dos brasileiros porque estes eram majoritariamente favoráveis aos imunizantes. Para Olavo, Bolsonaro era um fraco.

O que Olavo não conseguiu prever, mesmo sendo astrólogo, era que viria uma variante extremamente contagiante, a Ômicron que nem ele conseguiria vencer.

Como, ao contrário do fraco Bolsonaro (este afirma que não se vacinou, mas mantém sua caderneta de vacinação sob sigilo de estado por cem anos), Olavo se manteve fiel às suas teses, não se vacinando nem com uma primeira dose, contraiu o vírus com seus anticorpos totalmente despreparados para isso e faleceu.

Assim, a terra plana dá seu adeus a um enganador, negacionista, mentiroso, assassino de ursos, uma fraude e um dos responsáveis pelas mais de 400 mil mortes que poderiam ser evitadas se Bolsonaro abraçasse desde o início a política de vacinar rapidamente a população do país.

O imperativo categórico que se impõe agora é extirpar do poder essa gente que tanto mal fez ao povo brasileiro.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

"Rumorese”: A estratégia de controle mental mais sutil que opera em toda a sociedade

De Rincón De La Psicologia 




Em “O Grande Ditador”, Hynkel, o personagem interpretado por Charles Chaplin, fala Grammelot, uma linguagem composta de sons, palavras e rumores que têm significado que, no entanto, outros parecem entender.

No romance “1984”, George Orwell se referiu a uma “linguagem neo” a serviço do sistema de controle, na qual todas as palavras consideradas “perigosas” para o regime foram eliminadas. O lema do partido é: “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força”.

Na verdade, essa linguagem sem sentido, que fala muito sem dizer nada, se espalhou entre nós a uma velocidade vertiginosa, como uma epidemia real. O filólogo Igor Sibaldi chamou de “rumorese”. E é importante ser capaz de detectá-lo, porque – sem perceber e de maneira sub-reptícia – pode acabar restringindo nosso pensamento e, portanto, limitando nossas decisões de vida.

O que é rumorese?

Rumorese é falar muito sem dizer nada, é a “capacidade” de colocar uma palavra após a outra, rapidamente, sem se preocupar que a mensagem seja consistente, tenha significado ou valor. Um discurso em rumorese é composto de palavras vazias ou termos excessivamente ambíguos que são frequentemente contraditórios entre si.

Rumorese é, portanto, a linguagem de todos aqueles que querem se destacar, mas não têm nada importante para contribuir com o mundo. É também a linguagem daqueles que querem exercer controle sem recorrer à razão ou ao entendimento. É uma linguagem em que os sons prevalecem e o significado é óbvio.

Vivendo na sociedade da loquacidade

Nos tempos em que conta mais quantidade do que qualidade, não deve nos surpreender que falar muito sem dizer nada tenha se tornado a norma. Como Thoreau disse, “parece que o importante é falar com rapidez e não com bom senso”.

Quem não aprende esse idioma, mas fala de maneira sensata, pode ser visto com desconfiança pelos outros. Seu discurso será classificado como muito complicado e raro, porque exige uma capacidade de atenção e reflexão perdida.

Assim, discursos razoáveis, lógicos e coerentes tornam-se incompreensíveis para a maioria, uma maioria que foi convenientemente lobotomizada graças a uma educação sistemática à loquacidade.

De fato, para funcionar em certos contextos sociais e ter “sucesso”, muitas pessoas são forçadas a aprender a falar mais e dizer menos. Quem não se sente perdido, como um peixe fora d’água, como se fosse o único são em um manicômio, testemunhando uma cena absurda que se desenrola com extraordinária normalidade. Quem não fala esse idioma acaba, portanto, se sentindo marginalizado, excluído e raro.

O “rumorese” cria o absurdo que nos lobotomiza

“Estamos prontos para fazer as modificações necessárias, de uma justiça por parte do cidadão, implementando reformas que não modificam o processo em andamento …”

Essas palavras, tiradas de um jornal, podem nos parecer familiares, uma vez que fazem parte dos rumores políticos, embora seja verdade que existem muitas outras variantes que falam muito sem dizer nada que se estenda a diferentes áreas de nossas vidas.

Nesse exemplo, embora o leitor possa se sentir feliz porque as “reformas necessárias” serão aplicadas, na realidade elas “não modificarão o processo em andamento”, o que significa que tudo mudará para que nada mude. A isto se acrescenta que o fato de a justiça ser da parte do cidadão é uma contradição, uma vez que a justiça não deve estar em lugar nenhum, mas ser imparcial.

O rumorese, portanto, serve apenas para gerar confusão e criar expectativas que nunca serão satisfeitas, por isso acaba gerando frustração. As contradições flagrantes e o absurdo que ele gera fazem com que uma parte do nosso cérebro se desligue, cansada de procurar uma lógica inexistente. E é precisamente esse tipo de lobotomização autoinfligida que se adapta a todos aqueles que aproveitam os rumores para alcançar seus objetivos.

A isto se acrescenta que, como os rumoreses não têm significado em si, geralmente é mais credível quem tem maior autoridade. Se não entendermos dois discursos antagônicos, teremos a tendência de fundamentar e acreditar no discurso institucionalizado e canonizado. O poder do referente trabalha sua mágica onde não há hábito do pensamento livre.

E isso significa que a razão e o diálogo não prevalecem, mas o poder. Como Thoreau advertiu, “o homem aceita não o que é verdadeiramente respeitável, mas o que é respeitado”.

A reflexão como arma contra palavras vazias

O rumorese é composto por uma série de ideias projetadas para serem acreditadas, independentemente de sua veracidade ou racionalidade. Geralmente, trata-se de especulações ou deturpações que se espalham porque causam impacto em nossas emoções mais atávicas.

De fato, o rumorese se espalha de maneira extremamente eficaz e é uma ferramenta de manipulação perfeita, porque geralmente ajustamos nossa visão de mundo à percepção que os outros têm. Pensamos que muitas mentes não podem estar erradas, portanto, quem eu estou errado sou eu.

O melhor antídoto para conter essa conversa vazia é a razão. Precisamos passar tudo pela peneira do nosso pensamento. Não importa de onde venham as palavras ou quem as disse, temos que questioná-las e, se necessário, refutá-las. É nesse ato de desconstrução do que foi dito que encontramos nossa verdade e nos tornamos livres.

 


A agromúsica é pop

Por Aquiles Marchel Argolo


Nos anos 90, o cantor Lulu Santos desabafou no programa do Faustão sobre como os sertanejos e a agromúsica ajudaram a eleger Fernando Collor. Como prêmio ele ficou anos na geladeira da emissora, só que ele estava certo e a coisa hoje é pior.

Acontece que esse estilo de música não domina as rádios, as paradas do Spotify à toa. Ele faz parte de um projeto do agronegócio para fazer sua boa imagem por meio da indústria cultural e sua maior arma é fazer acreditar que o agro é pop por meio do sertanejo universitário.

Nos anos 90 as duplas sertanejas dominaram as paradas e foram símbolo da era Collor, com os mais pobres perdendo suas poupanças, enquanto grandes latifundiários continuaram enriquecendo ao som de Leandro e Leonardo e Zezé Di Camargo e Luciano.

Nos anos 2000, novas duplas surgiram e com a saturação do estilo romântico pop, apareceram os universitários, que traziam roupagem mais pop, próxima ao rock e eletrônico e cooptava o visual vaqueiro mas jamais falando sobre as agruras do homem do campo.

Na verdade, o sertanejo pop romântico e o universitário sempre negaram pautas que seriam de interesse do homem comum do campo, como reforma agrária, grilagem de terra, morte de pequenos agricultores e focou a produção em falar de amores alcoólatras e sexo.

A pauta sempre foi não ter pauta e ser uma arma de alienação em massa.

Já repararam na quantidade de rádios sertanejas que existem? Não é como se houvesse escolha. Esses artistas são forçados goela abaixo, muitos ganhando prêmios sob critérios bem duvidosos.

Enquanto escrevia essa sequência de tweets, só três músicas entre as vinte mais tocadas do Spotify não eram de sertanejo universitário.

Enquanto esses artistas distantes politicamente da realidade do Brasil ganham dinheiro como clones um dos outros, artistas independentes são sufocados pela ausência de espaço e investimento.

A música "batom de cereja" da dupla Israel e Rodolfo concorreu a prêmios na Globo, enquanto trabalhos incríveis foram sumariamente ignorados.

E o público? Ah, o público...

O público jamais admite que seu gosto está sendo guiado. Que estamos em um mar de monocultura onde a variedade é tirada, consequentemente o poder de escolha.

A ilusão que o sertanejo universitário representa o Brasil serve aos interesses de homens por trás dessas duplas parecidas.

É coincidência que a classe sertaneja que apoiou Collor hoje apoia Bolsonaro, que por sua vez serve ao lobby dos grandes pecuaristas?

Pois é. A indústria cultural controla a gente como marionete e a gente engole bonitinho sem nem questionar"

Aquiles Marchel Argolo é jornalista


Título por Fernando Castilho

Os sonhos de Ciro

Por Fernando Castilho


"Creio que teremos um segundo turno de Lula contra Ciro.”

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT deu entrevista ao Uol em que afirmou, entre outras coisas, que Ciro vai até o fim das eleições porque, segundo ele, não há chances dele abandonar a disputa ao Palácio do Planalto em 2022. "Ciro passou a ser candidato desde que ele perdeu a eleição, em 2018. A candidatura dele vai até o dia da próxima eleição. E para vencer.”

"Hoje temos um cenário em que o Lula tem vantagem sobre Bolsonaro. Bolsonaro hoje está com um terço de eleitores que tinha em 2018. Isso é resultado do desmando de um governo antidemocrático e genocida. Creio que teremos um segundo turno de Lula contra Ciro.”

Realmente não dá pra entender o que se passa na cabeça dos pedetistas. Imaginar que Ciro Gomes, hoje com cerca de 3% das intenções de votos, vá com Lula para o segundo turno e o vença, é sonhar muito alto, embora não seja impossível.

Se é essa a estratégia do candidato, por que direciona suas baterias preferencialmente contra Lula em vez de atacar o segundo colocado, o Capitão Morte? Acaso imagina que conseguirá tirar votos dele? Vejam que, apesar de todos os disparates e as notórias mentiras, além do negacionismo que contribuiu para ceifar centenas de milhares de vidas, o presidente mantém cerca de 30% de eleitores. Ciro não conseguirá tirar um só voto dele.

Carlos Lupi ainda afirmou: "Lula não tocou nessa ferida, que é o sistema financeiro do Brasil. Precisamos taxar os grandes bancos, cobrar das grandes fortunas. Essa é nossa principal diferença e vamos explorar permanentemente."

Gente, Lula nem é oficialmente candidato ainda, embora esteja se movimentando para isso. Essa questão de sistema financeiro deve fazer parte de seu programa de governo e não será tratada agora. Se Ciro já se adiantou, problema dele.

Outra coisa a se discutir agora é pra onde vai a Rede Sustentabilidade.

A maioria do partido trabalha para um possível apoio a Lula (o senador Randolfe Rodrigues já está conversando com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann), mas Marina Silva se move no sentido contrário e, ao que parece, irá de Ciro, não se sabe se como vice dele.

Isso era de se esperar porque o rancor de muitos anos ainda predomina na mente da ex-senadora, algo que não combina com seu pensamento cristão.

Se Ciro e Marina decidissem apoiar Lula já, nem teríamos segundo turno e a fatura estaria liquidada.

Mas o ego e a ambição são muito maiores que a necessidade de livrar o Brasil do genocida que está no poder.

A mídia e a elite financeira ainda alimenta sonhos com Moro na presidência, uma espécie de Bolsonaro menos pândego, mas Lula já começa a penetrar nesses sonhos e a tendência é que com Geraldo Alckmin de vice ela passe a sorrir um pouco mais para o ex-presidente.

Dito isso tudo, talvez tenhamos que aguardar o resultado do primeiro turno.

Saberemos se Ciro viajará a Paris de novo (talvez o faça por pura provocação) e se Marina fará como fez em 2014 apoiando Aécio Neves contra Dilma Rousseff, agora trocando o mineiro por Bolsonaro. Improvável, mas não impossível.

 


 

 


domingo, 23 de janeiro de 2022

Cloroquina, temporada 2

Por Fernando Castilho


Quem diria que a cloroquina iria ter uma segunda temporada no Brasil, não?

A Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS), embora por votação apertada, decidiu o que todo o mundo  científico já apregoava, ou seja, a hidroxicloroquina, a ivermectina e demais medicamentos que compunham o chamado kit-covid distribuído amplamente pelo governo, são ineficazes contra o coronavírus ao passo que as vacinas têm sua eficácia comprovada.

Mas o Ministério da Saúde comandado por um médico negacionista inverteu a decisão da Conitec.

A primeira reação dos brasileiros foi a expressão “INACREDITÁVEL!”

Sim, é inacreditável, surreal, absurdo e todos os sinônimos que vêm à mente.

Mas será que é só isso?

O que pode estar por trás além da necessidade que o ministro Queiroga e seus asseclas têm de agradar ao Capitão Morte, custe as vidas que custar?

É fato que o governo fez grande distribuição dos medicamentos, inclusive para indígenas. E é fato, porém fora das estatísticas, que grande parte das pessoas que usaram esses medicamentos tiveram sequelas e algumas morreram. Outras, por não se vacinarem e confiarem cegamente na hidroxicloroquina prescrevida pelo presidente, contraíram o vírus e vieram a óbito. Novamente, não há estatísticas sobre isso, mas os números devem ser alarmantes.

Também se sabe que o governo e os militares possuem grande quantidades de medicamentos do kit-covid que não foram desovadas e certamente o TCU (Tribunal de Contas da União) questionará o presidente sobre isso.

É óbvio que a decisão do Ministério da Saúde não salvaguardará o governo de seus ilícitos, portanto, não adianta tentar se vacinar contra os processos que virão.

O povo brasileiro, de maneira geral, aprendeu que a vacinação está sendo a grande responsável pela grande redução do número de mortes de pessoas infectadas. Dificilmente se deixará seduzir pela cloroquina como fez no passado.

De qualquer forma, o capitão, faltando sete meses para as eleições, segue cerca de 16 pontos atrás de Lula e se mantém fiel a seu cercadinho, embora 86% da população seja favorável à vacinação de seus filhos.

Resta saber se ele tem uma carta na manga capaz de reverter os índices ou se estuda um outro tipo de saída.

O que sabemos com certeza é que as emas do Palácio do Alvorada continuarão a fugir de seu ocupante.



sábado, 22 de janeiro de 2022

Lula e Alckmin

Por Eliara Santana


Queridos, eu tenho visto o rebuliço, e algumas pessoas têm me chamado in box para conversar, aflitas que estão com o cenário e a possibilidade ou efetividade da chapa Lula-Alckmin. Eu gostaria então de fazer alguns comentários a partir de algumas coisas que tenho ouvido e lido. Já adianto – para evitar a falta de educação – que não estou me colocando como porta-voz de nenhuma verdade suprema, ok? São comentários, percepções que acho pertinente compartilhar para pensarmos o momento político desafiador desta enorme Nação.

A primeira questão para mim é que não se trata de um pleito apenas, não é uma disputa para ganhar uma eleição. A disputa, na minha compreensão, é para termos o poder e a chance de retomarmos o processo civilizatório no Brasil – o que o bolsonarismo fez em quatro anos é devastador, o país está fraturado, a economia em frangalhos, o tecido social totalmente esgarçado, a desigualdade aviltante. Além desse quadro perceptível, há ainda toda a articulação e consolidação de um projeto de poder de extrema-direita, em curso e com bastante grana, com suporte da interface entre sistema religioso e sistema midiático, que ancora esse ecossistema de desinformação.

Em segundo lugar, penso também que este pleito de 2022 é a possibilidade concreta de uma retomada significativa para o PT, Lula à frente, que, após mais de sete anos de muita pancada, tem a chance de novamente eleger um presidente da República, governadores de estado (com a chance de ganhar São Paulo) e bancadas de apoio no Legislativo.

E por mais críticas que tenhamos ao modus operandi do PT, às escolhas feitas, às jogadas incoerentes, de minha parte, eu reconheço que foi a mais exitosa experiência em termos de governos que colocaram o pobre no orçamento, que pensaram políticas públicas inclusivas, que dialogaram com os movimentos sociais e deram a eles condições de atuação, que pensaram que a educação deve ser, sim, para todos, que reconheceram direitos das minorias (socialmente colocadas nesse patamar) – mulheres, comunidade LGBTQIA+, negros. Portanto, para mim, vale apostar de novo nessa experiência.

Em terceiro lugar, cabe indagar se o PT, mesmo com Lula muito à frente nas pesquisas, reconquistará o poder sem alianças com a centro-direita. Creio ser impossível neste momento. O Brasil é gigante, está fraturado, tem uma base grande conservadora. Se estivéssemos na Suécia, na Islândia, na Dinamarca ou na Finlândia, em condições normais de temperatura e pressão, ter uma chapa pura de esquerda raiz seria maravilhoso – Lula e Benedita, ou Lula e Jandira, ou Lula e Manuela… haveria muitas possibilidades incríveis.

Mas nós não estamos. Estamos no Brasil de Jair, o incomível, que detona a economia e não quer vacina para crianças. Estamos no país em que milhares de pessoas comem osso e pele de frango – quando podem pagar por isso. E antes que também me lembrem, nós não somos o Chile, nossa trajetória é bastante distinta, somos vários brasis aqui dentro.

Um quarto ponto é que precisamos minar as bases do bolsonarismo, essa doença de extrema-direta que vai perdurar mesmo sem Bolsonaro. Por isso, consolidar uma chapa que tenha condições de levar a disputa já no primeiro turno é muito importante. Pessoalmente, não gosto muito de Alckmin, tenho críticas à gestão dele, mas reconheço plenamente que ele não é uma figura política abjeta como Aécio Neves. Portanto, é sim um nome palatável. Ademais, ele não estando na disputa pelo Palácio Bandeirantes amplia muito a chance de Haddad levar em São Paulo. O que seria uma grande conquista.

O editorial de hoje do Estadão fala que Bolsonaro quer sangrar as contas públicas. Sim, ele quer e vai fazê-lo. Portanto, o Brasil deixado por Jair estará numa situação dificílima, e quem herdar esse espólio terá de se desdobrar. O ano de 2023 não será fácil – além de todas as gigantescas dificuldades, haverá uma expectativa gigantesca acumulada – os brasileiros querem pão, trabalho, alegria. Será preciso dar um choque de esperança para começar a governar.

Para mim, a única figura política simbólica capaz de fazer isso é o filho de dona Lindu. E se ele vem acompanhado de Alckmin, Angélica, Xuxa, Huck, Neymar ou Magazine Luiza pouco importa em termos do meu voto pessoal. Porque existe um programa, que já foi bem-sucedido e foi capaz de levar o Brasil a ser a sexta economia mundial e de possibilitar aos brasileiros de todas as cepas estudarem no exterior e fazerem churrasco no domingo (sim, houve problemas e falhas, como existe em várias configurações).

O meu desejo pujante é que Lula e o programa do PT sejam capazes de dar esse choque de esperança e que possam reafirmar com grandeza o compromisso de fazer com que as pessoas neste país voltem a ter três refeições por dia.

O resto se ajeita.




O que minha netinha teria a ensinar para Paulo Guedes



Por Fernando Castilho


A TV estava noticiando a tragédia de Brumadinho, quando a barragem da empresa mineradora Vale se rompeu causando mais de duzentas mortes ao longo do tempo.

A menina logo perguntou o que estava acontecendo.

Sophia, minha netinha, tinha apenas 5 anos à época.

Com muita paciência e procurando as palavras mais simples para lhe explicar, certamente perdi vários minutos, mas fui cada vez me sentindo mais encorajado a continuar porque ela foi ficando cada vez mais interessada.

Nos dias que se seguiram as notícias sobre Brumadinho continuavam. Invariavelmente Sophia parava imediatamente o que estava fazendo, ia para a frente da TV e ficava ali, parada, em pé, compenetrada, tentando compreender o que os narradores explicavam.

Hoje, com 8 anos, Sophia veio passar as férias em casa.

Durante o almoço contou que na escola municipal onde cursa o Fundamental I há crianças que às vezes não levam o lanchinho das 10:00 por suas mães não terem o que preparar.

A escola fornece uma espécie de complemento aos lanchinhos levados pelas crianças, geralmente salada e às vezes macarrão.

Sophia disse que costuma dividir sua merenda com a Tífani, uma das coleguinhas carentes. Revelou que as duas ficam muito felizes com isso. Para meu espanto, ela sabe a diferença entre estar sentindo fome e viver a fome.

Este texto não é para mostrar as qualidades de minha netinha, mas para falar sobre o que nossas crianças estão passando.

Provavelmente os pais de Tífani estão desempregados como milhões pelo país. Se estiverem, a probabilidade de que, se não conseguirem emprego logo, tenham que passar fome, entregar a casa onde moram e ir para a rua, no pior cenário, é alta.

Não há nada mais triste que isso.

E não há nada, absolutamente nada, que o governo esteja fazendo para resolver essa situação. Aliás, o ministro da Economia, Paulo Guedes ainda não voltou da férias e anda sumido. Ao contrário de Tífani e de Sophia, ele não tem a menor ideia do que é fome. Já chegou a defender  que se distribua restos de comida aos pobres, aquilo que antigamente chamávamos de lavagem. Isso num país que produz alimentos para todo o mundo.

Ah, mas Bolsonaro criou o Auxílio Brasil de 400 reais por família carente em substituição ao Bolsa Família, não é?

Sim, criou, mas somente neste ano eleitoral de 2022. Se vencer as eleições, provavelmente extinguirá o programa do qual é inimigo declarado (lembram de quanto ele execrava o Bolsa Família por considerar que o programa gerava vagabundos). Se perder, ficará para o próximo governante resolver sobre a continuidade ou não do auxílio.

O fato é que a economia está entregue aos cidadãos do país. Cada empresário que se vire. Cada empregado ou desempregado que se vire.

O Estado como instituição está totalmente ausente.

Não há uma política sequer de geração de empregos. Nada.

O pior é que assistimos a este estado de coisas inertes, como que paralisados diante das estupefações diárias a que somos expostos.

Felizmente, no momento em que escrevo, faltam 9 meses, cerca de 270 dias para voltarmos a ter esperança de que o Brasil, enfim, possa voltar a ser uma Nação e seu povo, alimentado.

Sophia ficará feliz, com certeza.

 

 


O bolsonarismo sem Bolsonaro



Por Fernando Castilho





O Capitão Morte, por sua estratégia de falar e fazer somente aquilo que os 30% do cercadinho querem dele, nos permite projetar que chegará às eleições com esse mesmo número ou até menos e será derrotado.


A mais nova pesquisa Poderdata mostrou que Lula está à frente com 42% e Bolsonaro com 28% das intenções de voto para as eleições presidenciais de 2022.

Já assimilamos tanto esses 28 a 30% com naturalidade que nem nos apercebemos mais o que esse número significa.

Por mais que o Capitão Morte tenha sabotado a compra de vacinas sendo responsável indireto pela morte estimada de pelo menos 400 mil pessoas, tentado dar um golpe no 7 de setembro, agido para protelar a vacinação de crianças, usado dinheiro público para se esbaldar por duas semanas enquanto a Bahia e Minas Gerais enfrentavam o caos com as enchentes que desabrigaram mais de 600 mil pessoas, a verdade é que ainda há cerca de 30% de pessoas que aprovam seus mal feitos e votariam de novo nele em 2022. Isso representa cerca de 44 milhões de eleitores!

Recentemente a Folha publicou um artigo de Antônio Risério que falava de um tal racismo reverso que, segundo ele, existe no Brasil. Algo como um branco ser abordado e espancado por um grupo de PMs negros ou um branco ser vigiado desde sua entrada num supermercado ou um shopping até sua saída. Pode ser que Risério não seja bolsonarista, mas a maneira como ele entende o racismo é. Portanto, existe bolsonarismo sem Bolsonaro.

Há no Brasil (e também no resto do mundo) um certo contingente de pessoas contrárias à vacina e, mais ainda, à vacinação de crianças. O que isso tem a ver com conservadorismo e ideologia de extrema-direita? Aparentemente nada, mas 100% dessas pessoas votam em Bolsonaro e o chamam de mito.

O Capitão Morte, por sua estratégia de falar e fazer somente aquilo que os 30% do cercadinho querem dele, nos permite projetar que chegará às eleições com esse mesmo número ou até menos e será derrotado.

Certamente festejaremos a saída do pior presidente que o Brasil já teve, mas temos que admitir que o bolsonarismo veio pra ficar e poderá aflorar novamente caso apareça algum outro líder para preencher o espaço deixado vazio. Foi assim com o fascismo e o nazismo, mesmo após sete décadas sem Mussolini e Hitler.

Definitivamente aquelas pessoas com as quais convivíamos em alegres churrascos aos domingos, que faziam piadas homofóbicas e racistas e que hoje são bolsonaristas, não voltarão mais a nos ser próximas.

Bolsonaro pelo menos teve o mérito de explicitar a nossos olhos que estávamos dormindo com o inimigo.

           

 


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

O Planeta Fome



Por Elza Soares


Um dia descobri que cantava.

O meu filho mais velho João Carlos estava morrendo e eu já tinha perdido 2 filhos e não queria perder mais um.

Eu não tinha dinheiro pra cuidar do meu filho e ouvi no rádio que o programa do Ary Barroso de calouros Nota 5, estava com o prêmio acumulado. Não sei como, mas eu sabia que ia buscar esse prêmio!

Fiz a inscrição e me avisaram que eu precisava ir bonita. Mas eu não tinha roupa nem sapatos, não tinha nada! Então, eu peguei uma roupa da minha mãe, que pesava 60kg e vesti, só que eu pesava 32kg, já viu né? Ajustei com alfinetes. Tudo bem que agora é moda ne? Hoje até a Madonna usa, mas essa moda aí fui eu que comecei viu? Alfinetes na roupa é muito meu, é coisa de Elza!

No pé coloquei uma sandália que a gente chamava de “mamãe tô na merda”, e fui!

Quando me chamaram, levantei e entrei no palco do auditório. O auditório tava lotado, todo mundo começou a rir alto debochando de mim

Seu Ary me chamou e perguntou:

_ O que você veio fazer aqui?

_ Eu vim Cantar!

_ Me diz uma coisa, de que planeta você veio?

_ Do mesmo planeta seu Seu Ary.

_ E qual é o meu planeta?

_ PLANETA FOME!

Ali, todo mundo que estava rindo viu que a coisa era séria e sentaram bem quietinhos.

Cantei a música Lama.

O Gongo não soou e eu ganhei, levei o prêmio e meu filho está vivo até hoje, graças a Deus!

De lá pra cá, sempre levo comigo um Alfinete.

Naquela época eu achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim.

Há sempre um vazio que a gente não consegue preencher e talvez seja essa mesma a razão da nossa existência.




A mãe do capitão

Por Fernando Castilho


"Com pesar o passamento da minha querida mãe. Que Deus a acolha em sua infinita bondade."

Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro reagiu nas redes sociais ao ser informado do falecimento de sua mãe, Olinda Bolsonaro.

Ela estava com 94 anos e não reconhecia mais seus filhos.

O Capitão Morte visitou sua mãe pela última vez em agosto do ano passado e, durante seus dias de folga remunerados ilegalmente, pois não passou o cargo para seu vice, Hamilton Mourão, não se dignou a dar uma passadinha para ver como ela estava. Preferiu se esbaldar em pescarias, jet-ski e cavalos de pau.

Na segunda-feira, graças a complicações na saúde já debilitada, dona Olinda foi internada às pressas no hospital de Registro, distante de sua cidade, Eldorado.

Na quinta-feira Bolsonaro embarcou para o Suriname para discutir acordos de cooperação com um país que tem nada ou quase nada a oferecer ao Brasil com seu PIB equivalente à metade do PIB do estado de Roraima (3,8 bilhões). A viagem funciona mais como um passeio pago pelo contribuinte.

Portanto, ao embarcar, o capitão já sabia das complicações de saúde de sua mãe, mas como empatia não é seu forte, manteve a inútil viagem.

Hoje foi às redes sociais proferir a frase inicial deste texto.

A Folha reproduziu as mensagens de vários políticos ligados a Bolsonaro, inclusive seus filhos. Todas tinham conteúdo maior que a do presidente.

É de se estranhar que a Folha e, por enquanto, nenhum de seus colunistas, esboçou sequer um pequeno comentário sobre a atitude fria do capitão em relação à sua mãe. Atualmente a grande mídia parece estar poupando o presidente de críticas, afinal, se a terceira via não vier, talvez para ela ele seja um mal a suportar por mais quatro anos.

Bolsonaro volta hoje para o funeral.



 


quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A Copa que não comemorei

 Por Elza Soares




Além de ter sido um período muito difícil para o Brasil, a ditadura militar foi quando tive minha casa metralhada. Estávamos todos lá: eu, Garrincha e meus filhos. Os caras entraram, metralharam tudo e nunca soube o motivo.

Era 1970, já tínhamos recebido telefonemas e cartas anônimas, nos sentíamos ameaçados e deixamos o país. Acredito que fizeram isso por conta do Garrincha, mas também por mim, pois eu era muito inflamada e então, como ainda hoje, de falar o que penso. Eu andava muito com o Geraldo Vandré e devem ter pensado que eu estava envolvida com política. Mas eu sou uma operária da música, e qual é o operário que não se revolta?

Fomos para Roma, e lá o Garrincha, que não tinha sido convocado para aquela Copa, estava em desespero por não estar jogando e por não ter onde morar. Estávamos num hotel, vendo o Brasil ser campeão. Foi quando o Juca Chaves foi comemorar na Piazza Navona, onde fica a embaixada brasileira.

Estávamos trancados dentro de um apartamento, e o Garrincha queria sair de qualquer maneira: queria participar da festa, mas ao mesmo tempo estava altamente deprimido. Ele perdeu a casa, teve de deixar o país e não sabíamos como voltar.

Enquanto se celebrava o fato de o país se tornar o primeiro tricampeão na história da Copa do Mundo, o Brasil fazia barbaridades com sua população. O Garrincha sentia um misto de alegria e dor, porque ele queria comemorar, mas, ao mesmo tempo, sentia repulsa por tudo que nos havia acontecido.

Imagine o que é para um homem que, para mim, está acima de qualquer nome no futebol brasileiro, ser mandado embora do país. Isso já é tenebroso, vergonhoso; imagine então esse homem vendo aquela conquista, confinado numa selva de pedra, no exterior, sem entender nada, sem saber o que havia acontecido com nossa casa.

Aquela foi a época em que ele mais bebeu, e não saía de casa, pois tinha vergonha de aparecer embriagado. Eu fazia de tudo para ele não beber, mas não adiantava.

Era tão grande a minha angústia que eu tinha vontade de invadir a embaixada brasileira em Roma. Mas segurei a onda. Continuamos vivendo num hotel e tivemos grande ajuda de Chico Buarque e Marieta. Eles tinham se exilado na cidade e foram dois amigos de alma.

Ali eu tive um bom empresário, trabalhei muito e fui ganhando o dinheiro com o qual pagava todas as contas. Durante um jantar, conheci Ella Fitzgerald, que estava fazendo shows com repertório de bossa nova e teve um problema de saúde. Eu acabei substituindo-a.

Mas, quando descobriram que eu estava trabalhando na Itália sem documentação, tivemos de sair de Roma -então fomos para Portugal por um tempo.

Um dia, estávamos no Cassino Estoril, perto de Lisboa, e encontramos o apresentador Flávio Cavalcanti e o Maurício Sherman, que dirigia um programa na TV Tupi. Eles deram ao Garrincha uma camisa do Brasil, querendo homenageá-lo -mas quem queria camisa da seleção naquela altura?

"Obrigado o..., cadê minha casa, cadê minha moradia? Já vesti a camisa do Brasil anteriormente, já dei tudo que eu poderia ter dado ao Brasil", ele disse.

Passados 50 anos do golpe, ninguém jamais tomou nenhuma atitude sobre o que nos aconteceu naquele 1970, e eu continuo brigando pelo Mané, até hoje.

Quando eu canto "Meu Guri", canto com muita força, e essa é uma maneira que eu tenho de cantar uma música do Chico, mas homenageando o Mané. Eles são os dois guris de "my life".