terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Hoje, um novo dia de um novo tempo

Por Fernando Castilho


Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO


A intenção de Bolsonaro e sua gangue era, além de roubar e destruir o país, perpetuar-se no poder. Por isso, desde maio de 2019, o capitão tratou de insuflar as massas contra o Congresso nacional e o STF para preparar um golpe.

Enfim, acabou o pesadelo e o Brasil entra numa nova era.

Após as jornadas de junho de 2013, há nove anos, ainda no governo Dilma Rousseff, o país começou a entrar num poço e mergulhar cada vez mais fundo, impulsionado pela trama norte-americana que visava nosso pré-sal.

A deposição irregular de nossa presidenta com a anuência do Supremo Tribunal Federal, a ascensão golpista do vice Michel Temer e a prisão injustificada do ex-presidente Lula levada a efeito por um juiz oportunista de quinta categoria, causaram um vazio institucional preenchido por uma gangue que se organizou sob o comando de um capitão expulso do exército que cometeu vários crimes como rachadinhas e nomeações de funcionários fantasmas, sob a proteção de sete mandatos na Câmara dos Deputados.

A gangue, inicialmente composta pelos 3 filhos com mandatos parlamentares, precisou que Lula fosse preso, além de uma facada ainda duvidosa que causou comoção nacional.

Eleito, Jair Bolsonaro e sua camarilha familiar logo trataram de juntar todo tipo de escroques, negacionistas, conspiracionistas, ultradireitistas de ocasião e fundamentalistas religiosos para, cada qual com um ministério, tratar de destruir a organização estatal e solapar as bases institucionais e civilizatórias que custaram tanto a ser construídas desde o fim da ditadura.

Houve de tudo, desde a transformação da Fundação Palmares em uma instituição que celebra a branquitude, até o desmatamento e garimpo ilegais na Amazônia, incluindo a tentativa por parte do ministro do meio-ambiente de venda de madeira ilegal aos Estados Unidos, passando pela perseguição por parte da ministra da Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, a uma menina de 10 anos, estuprada que pretendia fazer um aborto.

Há que se lembrar do tratamento dado à pandemia por um ministro general que deixou cerca de 400 mil pessoas morrerem enquanto em seu gabinete negociava-se propina de um dólar por dose de vacina.

A intenção de Bolsonaro e sua gangue era, além de roubar e destruir o país, perpetuar-se no poder. Por isso, desde maio de 2019, o capitão tratou de insuflar as massas contra o Congresso nacional e o STF para preparar um golpe.

Na reticência das Forças Armadas, o governante foi sendo obrigado a disputar as eleições, mas para se precaver de uma derrota para Lula, procurou incutir em seus seguidores a certeza de que as urnas eletrônicas eram fraudáveis.

Lula, que começou a campanha Há quase um ano com um índice altíssimo nas pesquisas, foi aos poucos perdendo pontos e chegou ao primeiro turno com sua vitória indefinida.

No segundo turno, Bolsonaro só não levou porque revelou ter tendências pedófilas e porque a deputada bolsonarista-raiz, Carla Zambelli fez a besteira de perseguir com uma arma um homem negro às vésperas da eleição. É possível que ele vencesse se não fossem esses dois fatores.

O uso descarado e desmedido da máquina pública com dinheiro sendo distribuído sem nenhuma preocupação com o dia seguinte quase propiciou sua vitória.

A imprensa, acostumada desde sempre a bater em Lula, viu-se, de repente, na necessidade de negar o projeto bolsonarista porque enxergou nele a ameaça de sua própria sobrevivência, afinal, sem democracia, não existe imprensa.

A certeza de vitória de Bolsonaro era tanta que, após o anúncio de sua derrota, entrou em depressão e se calou por mais de um mês. Esperava que esse gesto insuflasse a massa que ainda o apoia a exigir uma intervenção militar, mas os generais, embora, de maneira inédita, que permitiram acampamentos em frente aos quartéis, não se moveram.

Até o último instante, bolsonaristas ameaçaram a diplomação de Lula, mas esta aconteceu sem problemas.

Lula fez discurso de estadista, como sempre. Chegou, embora não o desejasse, às lágrimas mais uma vez, como em 2002 e mostrou que veio para recuperar o país e fazê-lo crescer, com ênfase no tratamento dos mais pobres.

Bolsonaro perdeu o foro privilegiado e agora, certamente o STF enviará seus processos e pedidos de investigação para a justiça comum que certamente o condenará pelos seus crimes.

É possível que a prisão de seu filho Carlos ocorra mais rapidamente. Esse é um dos grandes medos do pai.

É imprescindível, fundamental, que não se conceda a Bolsonaro nenhum tipo de benesse ou tratamento diferenciado, sob pena de ele voltar a nos assombrar em 2026, embora particularmente ache que o nome da extrema-direita que crescerá seja o de Tarcísio de Freitas por ter o estado de São Paulo, o mais rico da nação nas mãos.

O ministro Alexandre de Moraes, em seu discurso durante a diplomação, garantiu que não haverá complacência nem impunidade. Esperamos que ele cumpra a promessa.

Mas, vamos comemorar porque daqui pra frente os dias amanhecerão mais ensolarados sem as nuvens escuras que nos atormentavam desde 2019.

Lula saberá governar.


domingo, 4 de dezembro de 2022

Lula e o eterno mimimi da indústria nacional

Por Fernando Castilho




Por que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o fechamento delas? Síndrome de Estocolmo?


Após forte campanha da Confederação Nacional da Indústria (CNI) pela reeleição de Jair Bolsonaro, eis que a entidade, como não poderia deixar de ser, aceita o resultado das urnas e apresenta propostas ao novo governo Lula que se aproxima.

O documento Propostas da Indústria para um país mais forte elenca um conjunto harmônico de objetivos estratégicos de longo prazo, com propostas para subsidiar as ações dos primeiros 100 dias do próximo governo eleito, diante dos desafios do desenvolvimento industrial. A iniciativa leva em consideração as políticas industriais e os desempenhos das principais economias do mundo, que estão cada vez mais ativas ao estimular investimentos e assegurar competitividade global de seus produtos e suas tecnologias.

O setor industrial chegou a ser responsável por 48% do PIB brasileiro na década de 1980. A expansão do setor foi resultado da adoção de políticas públicas que incentivaram investimentos do governo e da iniciativa privada em setores estratégicos como energia, transportes, comunicação, siderurgia, mineração e petróleo. Essas políticas foram decisivas para o crescimento e a consolidação do parque industrial brasileiro que, atualmente, está entre os mais modernos e diversificados do mundo.

Mas, por que a indústria apoiou tanto o governo Bolsonaro?

O ministro da economia, Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, ainda no início do governo, deu o tom do que ele imagina para a política industrial do país. O Brasil, segundo ele, possui vocação agrícola, é um mero produtor e exportador de commodities, não possuindo qualquer vocação industrial.

A afirmação não causou a devida revolta que esperávamos. Ao contrário, parece que nossos capitães das fábricas se conformaram. Tanto é que viram seus números de produtividade e seus lucros baixarem sem nenhuma reação.

Só neste ano, no acumulado de 12 meses o setor apresenta percentual negativo de -2,8%!

O setor industrial está com desempenho 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 18% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, no primeiro governo Dilma que a CNI considera desastroso.

Vimos, durante o período Bolsonaro, indústrias importantes deixarem o país gerando milhares de desempregados.

Segundo a Central Única do Trabalhadores (CUT), inúmeras empresas como Ford, Sony, Roche, Eli Lily, Nike, Fnac, Nikon, Brasil Kirin, Häagen-dazs, RR Donnelley, Lush Cosméticos e Kiehl’s se retiraram do Brasil, sem que uma única providência tenha sido tomada pelo governo brasileiro para tentar mantê-las. A Mercedes-Benz também fechou sua unidade de fabricação de automóveis leves.

É preciso lembrar que quando uma montadora do porte da Ford cessa suas atividades, toda uma cadeia de fornecedores é grandemente impactada, gerando milhares de desempregos.

Por que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o fechamento delas?

Haveria, então, uma síndrome de Estocolmo?

O governo de transição de Lula tem enfrentado grande resistência do mercado que exige responsabilidade fiscal e não se importa com milhões de pessoas passando fome no país.

São rentistas que sofrem calafrios toda vez que os índices da bolsa caem devido a alguma fala de Lula que não se encaixa em seus dogmas.

Mas, pergunto, quando a indústria cresce e a economia vai bem, a bolsa não sobe?

Será que se habituaram a índices sem nenhuma base, sem nenhum lastro? Números virtuais que não refletem crescimento econômico algum? Uma dança de números embasada em nada real?

A indústria, que nunca se preocupou em exigir de Guedes e Bolsonaro medidas que propiciassem seu crescimento, agora apresentam propostas a Lula.

É lógico que o presidente eleito, afeito à negociação e conciliação, não deixará de considerar as propostas, mas, desde cedo, é preciso que se sente à mesa com a CNI e lhe diga as verdades que precisam ser ditas.

Ocorre-me agora uma frase dita pelo então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mário Amato, lá pelos idos de 1989 quando Lula disputou pela primeira vez a presidência do Brasil: “se Lula for eleito, 800 mil empresários deixarão o país.” Isso ilustra muito bem o ranço que parte do setor industrial tem contra o presidente eleito, apesar de auferir altos lucros nos oito anos de seu mandato.

Mas o governo está mudando, o país voltará a crescer a médio prazo e um ar fresco de esperança impregnará todos os brasileiros, mas é preciso que a indústria volte a reconhecer qual seu caminho e sua participação em nossa economia.

Mais uma vez, como nos outros dois governos Lula, essa gente encherá as burras de dinheiro, mas mesmo assim, continuará com seu eterno mimimi?


terça-feira, 15 de novembro de 2022

O alto preço que Lula paga por ser Lula

Por Fernando Castilho




A marcação cerrada a Lula, faltando ainda um mês e meio para assumir a presidência, vem, pasmem, muito mais dos deputados do PL que se lambuzaram com as verbas do orçamento secreto utilizadas sem fiscalização ou prestação de contas.


Lula ainda não assumiu, mas aqueles que se julgam fiscais da coisa pública já começaram a atacá-lo.

O ex-presidente foi convidado a participar da COP27 e, para poder viajar ao Egito, fez uso de um jato pertencente ao empresário José Seripieri Filho, conhecido como Júnior, fundador da Qualicorp e dono da QSaúde.

O ato de Lula pode ser classificado como perfeitamente ético? Não, mas não há crime nisso, como querem sugerir.

Havia outras alternativas, como viajar em avião de carreira, mas a equipe de policiais federais que fazem sua segurança, a descartou, temendo riscos.

Outra possibilidade seria o PT custear um voo fretado, mas, além do alto preço, o recurso viria do Fundo Partidário, dinheiro público. Isso sim, seria crime.

Por fim, restaria a Lula declinar do convite.

Neste ponto, pergunto: o que seria mais danoso ao país?

Lula, mesmo antes de assumir a presidência em janeiro do próximo ano, já está azeitando as relações com outros países, enferrujadas após 4 anos de desgoverno Bolsonaro em relação ao meio ambiente. Uma das consequências disso é o retorno da contribuição ao Fundo Amazônia por parte da Noruega e da Alemanha, que perfaz a quantia nada desprezível de 3,1 bilhões de reais.

Portanto, Lula teve que ir para o bem do país, coisa que o atual presidente descartou logo de cara.

Seripieri pode reivindicar futuramente a contrapartida pelo seu gesto?

Pode, mas aí entramos no terreno das conjecturas. Também não podemos afirmar que o novo governo ceda aos interesses do empresário. Espero que não.

Mas, na verdade, o ponto a que quero chegar é a marcação cerrada a Lula, faltando ainda um mês e meio para assumir a presidência, o que já indica o que virá em 2023.

E ela, pasmem, vem muito mais do PL, o partido de Bolsonaro.

São aqueles deputados que se lambuzaram com as verbas do orçamento secreto utilizadas sem fiscalização ou prestação de contas.

São os mesmos deputados que não viram problema algum na utilização escandalosa de dinheiro público na campanha de Bolsonaro.

Portam-se como falsas vestais em casa de tolerância.

A imprensa, que temia que se instalasse por aqui uma teocracia que duraria indefinidamente e que teria, por conta disso, que viver anos de mordaça devido à censura, respirou aliviada depois da derrota do capitão, mas agora, assesta seus canhões para seu alvo preferido que sempre foi e será Lula. O ex-presidente foi útil até 30 de outubro.

Há uma lupa em Lula para acompanhar cada palavra dita, cada frase proferida, cada gesto feito.

Ele não errou, como diz a imprensa e até alguns petistas.

Lula não pensou em si, mas no país.

Por isso, paga um preço alto.

Como sempre, aliás.


sábado, 12 de novembro de 2022

Em 2026 o nome da extrema-direita não será Bolsonaro

Por Fernando Castilho

Foto: Caio Guatelli/AFP


Bolsonaro falhou em ser o líder da extrema-direita no Brasil. Não foi competente em comandar as Forças Armadas para deflagrar um golpe. Nem em 7 de setembro de 2021, nem agora.


Ao longo de quase quatro anos de governo, Bolsonaro, além de trabalhar muito pouco ou quase nada (vide agenda presidencial), fez e falou muita bobagem.

Terceirizou a economia para Paulo Guedes, seu posto Ipiranga e demonstrou que nunca esteve preparado para governar.

Na terrível crise da pandemia da Covid-19 expôs seu lado mais sombrio e psicopata ao negar a existência do vírus, receitar medicamentos inócuos, sabotar a compra de vacinas e debochar de quem morria ou perdia seus entes queridos. Ele é o responsável por pelo menos 400 mil mortes.

Durante as enchentes que mataram e deixaram muita gente desabrigada e, Pernambuco, Paraná, São Paulo, Bahia e Rio de janeiro, preferiu se esbaldar de jet-ski.

Por quase quatro anos viveu de fake news enquanto fazia campanha com dinheiro público.

Imaginou, doentiamente, que seu cercadinho era seu palco e que as motociatas representavam mais que os dados dos institutos de pesquisa. Nunca procurou ampliar sua base, preferindo sempre proferir asneiras e mentir.

Revelou-se capaz de praticar canibalismo e, num ato falho, acabou admitindo ter inclinações pedófilas.

Bolsonaro só perdeu a eleição por culpa dele mesmo, pois é tosco, burro, ignorante e despreparado.

Agora, ao perder as eleições para Lula, não vem a público reconhecer sua derrota, mantendo alguns inconformados às portas dos quartéis pedindo intervenção militar.

Sobre isso, devemos atentar que os aloprados não pedem anulação das eleições ou que o resultado contemple seu ídolo, Bolsonaro.

Esse é o sinal de que o presidente falhou em ser o líder da extrema-direita no Brasil. Não foi competente em comandar as Forças Armadas para deflagrar um golpe. Nem em 7 de setembro de 2021, nem agora.

Valdemar da Costa Neto, o dono do PL, vai tentar manter a chama acesa, conferindo a Bolsonaro um cargo no partido para que ele lidere a oposição a Lula e se cacife para 2026.

Mas Bolsonaro não está à altura disso. Seu negócio é incendiar o país. O Costa Neto, pragmático que é, acabará por abandoná-lo.

O capitão incompetente já deveria ter reconhecido a derrota e começado a preparar sua oposição.

Observem que ele só obteve esse grande número de votos graças ao antipetismo, pois seus seguidores-raiz não passam de 30% da população, seu cercadinho ampliado.

O atual presidente enfrentará inúmeros processos por seus crimes cometidos e certamente será inelegível para 2026.

Mas a extrema-direita não desaparecerá do país. O capitão não será mais seu mito. Aparecerá outro a ocupar seu espaço.

O nome com que devemos nos preocupar é Tarcísio de Freitas, o governador eleito para o estado mais importante da federação.

Tarcísio é um Bolsonaro bem mais refinado. Apesar de ter mentido muito nos debates, não fala muita bobagem, é astuto e articulado, portanto, mais palatável àquela parcela antipetista da população.

Possivelmente, será ele que substituirá o capitão.

É preciso que nos preparemos a isso.


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A importância de termos um civil como ministro da defesa

Por Fernando Castilho



Foto: O Globo



Nos governos Lula a opção para o ministério da defesa sempre foi um civil, de Aldo Rebelo a Nelson Jobim. E deu certo.

Bolsonaro nomeou um militar, o general Paulo Sérgio, mais pela sua inclinação a capacho do que à sua isenção necessária como ministro de estado e não de um governo.

O militar cumpriu à risca o que lhe foi determinado por um presidente às voltas com suas contradições, devaneios e intenções golpistas. Uma marionete nas mãos de um tirano insano.

A missão era se infiltrar no sistema eleitoral e buscar pelo em ovo, ou seja, encontrar algum indício, por menor que fosse, de fraude no voto eletrônico, consagrado há décadas.

Enquanto isso, Bolsonaro incitava seus seguidores contra o processo eleitoral, já se precavendo de uma possível derrota nas urnas. Não faltaram ataques virulentos ao TSE e, principalmente, a seu presidente, Alexandre de Moraes.

As eleições do segundo turno começaram e logo surgiram as notícias de que a PRF estaria barrando eleitores, principalmente do Nordeste, onde Lula tinha amplo favoritismo, de chegar aos locais de votação.

A vantagem de Lula poderia ser maior, caso não houvesse a interferência da PRF, à mando do presidente.

Lula venceu e Bolsonaro se manteve calado e recluso, não reconhecendo o vencedor. Aguardava o relatório do ministro Paulo Sérgio para se rebelar contra o resultado das urnas, ao mesmo tempo em que insuflaria seus seguidores para um golpe.

O relatório, como esperado, não conseguiu contestar a eleição de Lula porque não houve fraude por parte dele, mas sim do próprio presidente.

Mas o capacho, general Paulo Sérgio, pressionado por Bolsonaro, agora um reles capitão que já não vale mais nada porquanto derrotado, não deixou de colocar uma pulguinha na orelha daqueles que acreditam em teorias da conspiração ao concluir que há lacunas e que muita coisa precisa ser aperfeiçoada no processo eleitoral. Só não disse o quê.

Paulo Sérgio conseguiu rebaixar as Forças Armadas à categoria de um exército humilhado, incapaz de compreender a democracia e o estado de direito. Mas nem todos os militares são assim.

Os aloprados ficaram decepcionados, pois esperavam um relatório que atestasse as fraudes e agora devem voltar pra casa.

Bolsonaro também deve ter ficado descontente e deverá se resignar à sua insignificância ou talvez fugir do país, já que tem cidadania italiana, para tentar se livrar dos processos que virão.

Lula, vem trabalhando muito com sua equipe de transição e, mesmo que escolha um militar como ministro da justiça, este não será golpista e tratará de harmonizar as Forças Armadas.

Lula começou muito bem e já trabalha muito mais que o capitão.

As nuvens negras estão se dissipando.


O nome é extrema direita e não bolsonarismo

 Por Fernando Castilho


Foto: Fernando Bizerra, EFE


Os termos “bolsonarismo” e “bolsonarista’ têm sido muito utilizados pela grande imprensa, talvez à falta de um nome melhor ou pela preguiça em se aprofundar mais em algo que é encarado como mera questão de semântica.

Na Argentina, mesmo com a já distante morte do presidente Juan Domingo Perón em 1974, o temo “peronismo” persiste até hoje como uma tendência inaugurada por ele, denominação dada genericamente ao "Movimento Nacional Justicialista".

Ao utilizarmos a palavra “bolsonarismo”, estamos incorrendo no erro de atribuir valor a um ex-deputado irrelevante que mamou por 28 anos nas tetas do Estado, chegou a ser o pior presidente da história do país e acaba de ser defenestrado do poder com grande possibilidade de ser preso a partir do ano que vem. Pior, não inaugurou nenhuma tendência ou corrente de pensamento político.

Não é possível um paralelo com “fascismo”, “integralismo”, “socialismo”, “comunismo” ou “nazismo”, que persistem até hoje. As falas e ações de Bolsonaro não carregam nenhuma teoria e não possuem nenhuma tese que as embase e que permitam ser ele o mito que conduzirá milhões de pessoas daqui pra frente atravessando décadas.

Essas pessoas, na verdade, são extremistas de direita e sempre existiram, porém, com o adjetivo mais suave de “direita”.

São elas que no passado ficaram inconformadas com o fim da ditadura militar e passaram a votar em figuras da direita como Paulo Maluf em São Paulo e Antônio Carlos Magalhães na Bahia, por exemplo.

Foram elas também que elegeram Fernando Collor contra Lula em 1989. Porém, àquela época, não eram ainda extremistas, apenas reacionárias.

Com a eleição de Lula em 2002 e seus dois exitosos mandatos, melhoraram de vida e se retiraram para o armário por não terem muito do que reclamar.

No final do primeiro governo Dilma, começaram a sair aos poucos do limbo para apoiar Aécio Neves, o candidato mais à direita que encontraram.

Com o surgimento do extremista radical de direita, Jair Bolsonaro, saíram de vez e conquistaram mais adeptos até chegarmos ao impressionante número de cerca de 58 milhões de pessoas aferido na última eleição.

Claro que muitos vão rever suas posições já a partir de 2023 e poderão se inclinar à direita ou até ao centro, na medida em que Lula comece a apresentar melhora na economia do país.

Bolsonaro prometeu liderar a oposição a Lula, mas não acredito que tenha força para isso, pois não é habituado ao trabalho. Além disso, grande parte de seus aliados já o abandonou e Tarcísio de Freitas surge como o nome preferido da extrema-direita para 2026.

Bolsonaro preferirá tratar de sua defesa nos processos que lhe cairão sobre a cabeça e continuar a praticar jet-ski. Isso, se não tentar fugir do país.

Desta forma, o tal do “bolsonarismo” será apenas algo que nunca foi e será paulatinamente esquecido.

Mas a extrema-direita, este sim, o termo correto para essa reunião de reacionários de todo tipo, persistirá no Brasil.


sábado, 5 de novembro de 2022

Por que extrema-direita e não bolsonarismo?

Por Fernando Castilho


Foto: Fernando Bizerra (EFE)


 

Ao utilizarmos a palavra “bolsonarismo”, estamos incorrendo no erro de atribuir valor a um ex-deputado irrelevante que mamou por 28 anos nas tetas do Estado, chegou a ser o pior presidente da história do país e acaba de ser defenestrado do poder com grande possibilidade de ser preso a partir do ano que vem.


Os termos “bolsonarismo” e “bolsonarista’ têm sido muito utilizados pela grande imprensa, talvez à falta de um nome melhor ou pela preguiça em se aprofundar mais em algo que é encarado como mera questão de semântica.

Na Argentina, mesmo com a já distante morte do presidente Juan Domingo Perón em 1974, o temo “peronismo” persiste até hoje como uma tendência inaugurada por ele, denominação dada genericamente ao "Movimento Nacional Justicialista".

Ao utilizarmos a palavra “bolsonarismo”, estamos incorrendo no erro de atribuir valor a um ex-deputado irrelevante que mamou por 28 anos nas tetas do Estado, chegou a ser o pior presidente da história do país e acaba de ser defenestrado do poder com grande possibilidade de ser preso a partir do ano que vem. Pior, não inaugurou nenhuma tendência ou corrente de pensamento político.

Não é possível um paralelo com “fascismo”, “integralismo”, “socialismo”, “comunismo” ou “nazismo”, que persistem até hoje. As falas e ações de Bolsonaro não carregam nenhuma teoria e não possuem nenhuma tese que as embase e que permitam ser ele o mito que conduzirá milhões de pessoas daqui pra frente atravessando décadas. 

Essas pessoas, na verdade, são extremistas de direita e sempre existiram, porém, com o adjetivo mais suave de “direita”.

São elas que no passado ficaram inconformadas com o fim da ditadura militar e passaram a votar em figuras da direita como Paulo Maluf em São Paulo e Antônio Carlos Magalhães na Bahia, por exemplo.

Foram elas também que elegeram Fernando Collor contra Lula em 1989. Porém, àquela época, não eram ainda extremistas, apenas reacionárias.

Com a eleição de Lula em 2002 e seus dois exitosos mandatos, melhoraram de vida e se retiraram para o armário por não terem muito do que reclamar.

No final do primeiro governo Dilma, começaram a sair aos poucos do limbo para apoiar Aécio Neves, o candidato mais à direita que encontraram.

Com o surgimento do extremista radical de direita, Jair Bolsonaro, saíram de vez e conquistaram mais adeptos até chegarmos ao impressionante número de cerca de 58 milhões de pessoas aferido na última eleição.

Claro que muitos vão rever suas posições já a partir de 2023 e poderão se inclinar à direita ou até ao centro, na medida em que Lula comece a apresentar melhora na economia do país.

Bolsonaro prometeu liderar a oposição a Lula, mas não acredito que tenha força para isso, pois não é habituado ao trabalho. Além disso, grande parte de seus aliados já o abandonou e Tarcísio de Freitas surge como o nome preferido da extrema-direita para 2026.

Bolsonaro preferirá tratar de sua defesa nos processos que lhe cairão sobre a cabeça e continuar a praticar jet-ski. Isso, se não tentar fugir do país.

Desta forma, o tal do “bolsonarismo” será apenas algo que nunca foi e será paulatinamente esquecido.

Mas a extrema-direita, este sim, o termo correto para essa reunião de reacionários de todo tipo, persistirá no Brasil.


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A difícil vida do bolsonarista-raiz

Por Fernando Castilho




Houve inúmeras ocasiões, em que o presidente, após atacar ferozmente alguém e prometer que “ACABOU!”, invariavelmente voltava atrás.


Todos assistimos no domingo, 23, o grotesco episódio em que o ex-deputado Roberto Jefferson recebeu a tiros de fuzil os policiais federais que foram cumprir mandado de prisão expedido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por desacato à sentença que o ministro Alexandre de Moraes lhe havia dado.

Durante as horas de resistência à prisão que se seguiram, vários populares seguidores do presidente da República compareceram às proximidades do local para dar apoio ao bandido, certos de que atendiam a um chamamento de seu mito. Não faltou uma covarde agressão ao cinegrafista da Inter TV, afiliada da Rede Globo, que foi levado imediatamente para a UTI de um hospital. O agressor, um assessor na câmara de Três Rios, foi exonerado da função e será investigado por lesão corporal.

O deputado federal Otoni de Paula chegou a gravar um vídeo em que afirmava que tinha informações de que o mito estaria acionando as Forças Armadas para intervir no caso.

O capitão, que costuma agir por impulso, algo próprio de pessoas autoritárias, acionou o ministro da justiça, Anderson Torres para comparecer ao local, mas a coordenação de sua campanha, percebendo que seria muito perigosa uma associação com o meliante, conseguiu demover o inominável de seu instinto.

O resultado é que, horas depois, ele declararia que quem atira em policial é bandido e que não defenderia Jefferson.

Imediatamente, as redes bolsonaristas que estavam defendendo o ex-deputado e atacando o Alexandre de Moraes, passaram a divulgar que Roberto Jefferson não tinha nada a ver com seu mito e que, na verdade, é homem ligado a Lula.

Um meme surgiu nas redes. Nele, um boi pergunta: “agora é pra defender ou pra atacar bandido?”

Mas esse não foi o único caso em que seguidores tiveram que dar cavalo de pau em suas opiniões. Houve inúmeras outras ocasiões em que o presidente, após atacar ferozmente alguém e prometer que “ACABOU!”, invariavelmente voltava atrás.

Um outro caso emblemático foi quando ele discursou nas comemorações do 7 de setembro de 2021. Na ocasião xingou Alexandre de Moraes de canalha e praticamente convocou seus seguidores para o golpe... que não veio porque não foram reunidas as condições ideais, como o apoio das Forças Armadas.

Mas os caminhoneiros e a população presente na Esplanada dos Ministérios e também em São Paulo, imaginaram que o golpe, enfim, aconteceria, que o exército implantaria a tão sonhada ditadura comandada por seu líder, que o STF seria fechado e que viveriam felizes para sempre.

À noitinha, apavorado com a possível prisão de seu filho Carluxo, que parecia prestes a acontecer, recorreu a Michel Temer para que este escrevesse uma cartinha a Moraes pedindo desculpas.

A reação a esse cavalo de pau covarde foi de incredulidade num primeiro momento, mas depois os seguidores conseguiram reunir todo tipo de desculpas para tentar justificar o recuo. Seria um recuo tático, disseram eles. Mas na próxima... a próxima, em 2022, não veio.

Lembram-se da ameaça que o presidente fez à Rede Globo?  Concessão não seria renovada! Embora estivessem acompanhando a novela Pantanal, bolsonaristas ficaram exultantes com o prometido fim da Globolixo, como eles chamam. Deu no quê? Mais uma vez o capitão recuou. Na verdade, a ameaça pareceu ser muito infantil, algo de menino da 5ª série que não mede consequências. Foi um blefe, mas os bolsonaristas acreditaram.

Imagino que, daqui a alguns anos, alguns poucos bolsonaristas colocarão a mão na consciência e conseguirão avaliar o erro que cometeram e lembrarão quantas e quantas vezes depositaram sua confiança em quem a traía invariavelmente logo no momento seguinte. Quanto tempo perderam com quem nada valia.

Outra parte dirá que não quer mais saber de política e fingirá que nunca apoiou seu mito. E todos nós sabemos quem são.

Mas, certamente o ovo da serpente foi chocado e o bolsonarismo, como uma espécie de corrente de extrema-direita, prosseguirá, mesmo sem o seu chefe.

Infelizmente, veio pra ficar.

 

 

 


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O capitão não subiu, como quer o Datafolha. Ele caiu!

Por Fernando Castilho


 



O Capitão Morte talvez até teria ultrapassado Lula nas pesquisas, caso os escândalos não tivessem aparecido. Foram eles que o puxaram para baixo dando a ilusão de que temos um povo insensível.


O título parece pueril, mas explicarei por que não é.

Esperamos ansiosamente o Datafolha de quarta-feira (19) porque, nós, democratas que desejamos que o país volte a avançar, tínhamos a expectativa de que Lula, o candidato que representa essa esperança, aumentasse sua diferença em relação ao capitão que flerta com a morte, o canibalismo e a pedofilia, como foi amplamente demonstrado nos vídeos por ele divulgados sem cortes.

Infelizmente, a diferença diminuiu e agora temos um empate técnico.

Parece haver uma anomalia, uma discrepância nos dados, mas talvez não.

Vou na contramão das análises que afirmam que os eleitores do ser que ainda ocupa o cargo mais importante da nação, de repente se mostram insensíveis às últimas e horripilantes revelações. Minhas últimas análises, inclusive, consideravam isso.

Na realidade, é possível (e até provável) que as pessoas mais pobres que vêm se sentindo um pouco mais aliviadas com o Auxílio Brasil estejam gratas ao capitão e, muito mais, esperam que ele cumpra a promessa de manter o benefício em 2023. Nosso povo é assim.

Além disso, o orçamento secreto tem sido usado eleitoralmente Brasil afora pelos aliados do inominável, como sabemos.

Não falta também o uso desmesurado da máquina pública sem nenhum pudor, como nunca vimos antes.

Alie-se a isso a incrível máquina de fake news tocada pelo filho 02 e seu gabinete do ódio, verdadeira locomotiva queimando carvão dia e noite.

Por tudo isso, minha tese atual é de que o Capitão Morte talvez até teria ultrapassado Lula nas pesquisas, caso os escândalos não tivessem aparecido.

Foram esses novos fatos, canibalismo e pedofilia, além do desrespeito à padroeira do Brasil ocorrido em Aparecida, que frearam o crescimento e puxaram o maior mentiroso do país para baixo, colocando-o em empate técnico com Lula. Os vídeos são impressionantemente asquerosos e, com certeza, causaram repugnância em nosso povo.

É preciso lembrar que o Datafolha ainda não mediu a repercussão do esplendoroso sucesso da entrevista de Lula ao Flowpodcast que conta, no momento em que escrevo, com incríveis 8,4 milhões de visualizações, praticamente, 4% da população brasileira.

E para não desanimar aos que anseiam por um bom futuro para o país, Lula está se preparando para o debate da Globo, o último e mais importante antes das eleições.

Se conseguir bater o Capitão Morte, venceremos no dia 30.

Enquanto o debate não chega, o TSE acaba de decidir por uma grande ofensiva nas redes, impedindo a propagação das mentiras.

Para isso, precisamos de esperança, garra e mobilização, seja nas redes, seja nas ruas.


domingo, 16 de outubro de 2022

O risco do fascismo no Brasil

Por Fernando Castilho




A última pesquisa Datafolha de 14/10 deu 53% para Lula e 47% para Bolsonaro nos votos válidos. E é surpreendente.

Apostaria com qualquer um que:

Após a reportagem da Folha dando conta que a família Bolsonaro adquiriu ao longo dos anos 107 imóveis, 51 dos quais, com dinheiro vivo;

Após o escândalo do orçamento secreto que pode ser, como afirmou Simone Tebet, o maior esquema de corrupção da história do país, envolvendo um inédito montante de dinheiro que deveria ser aplicado na melhoria das condições do povo, mas que, devido a seu caráter sigiloso, com certeza está sendo desviado para outros fins, como a última operação de PF demonstrou;

Após a divulgação do vídeo em que o presidente afirma, sem nenhuma manipulação ou corte, que comeria carne humana, o que, em tempos normais, por si só acabaria com seu sonho de se reeleger;

Depois que foram mostrados nas redes sociais os atos de vandalismo e desrespeito na Basílica de Aparecida;

Após o corte dos remédios da Farmácia Popular, dos quais dependem parcela significativa da população;

Depois do capitão dar entrevistas mentindo em escala nunca vista, afirmando, por exemplo, que nenhuma criança morreu por Covid-19, enquanto todos os dados, inclusive de seu governo, apontam um grande número de mortes,

as pesquisas de opinião mostrariam uma queda, ainda que pequena, dele.

Mas não foi o que vimos.

Bolsonaro continua firme e forte mantendo a temeridade de encostar em Lula ou até virar no dia da eleição. Difícil, mas não descartável, afinal, ninguém esperava que subisse tanto no dia do primeiro turno e chegasse hoje com esse montante de votos.

Para quem assistiu ao documentário O Dilema da Redes (Netflix), fica mais fácil compreender esse fenômeno.

As redes sociais estão sendo muito bem aproveitadas pela campanha bolsonarista. Os algoritmos estão sendo muito bem utilizados para, em vez de aumentar nas pessoas a rejeição ao presidente, reduzi-la, como bem demonstra o Datafolha ao mostrar a oscilação de um ponto para cima na rejeição de Lula (de 47% para 48%) enquanto a de Bolsonaro permanece estável (51%).

Deduz-se que qualquer denúncia grave que se faça contra o capitão não lhe causará a perda de um voto sequer, enquanto a pecha de ladrão imputada a Lula, mesmo que ele tenha recuperado seu status de inocente de acordo com a Constituição, é grandemente amplificada a ponto de não lhe render a segurança de vitória.

Por que isso acontece?

Porque Bolsonaro está blindado pela população que o apoia. Ele e seus aliados já emitem sinais de que, uma vez reeleito, aproveitará os próximos quatro anos para impor uma autocracia (leia-se ditadura) ao país.

O capitão deteria ampla maioria na Câmara, o que lhe garantiria segurança para aprovar qualquer projeto.

Um deles seria o de aumentar o número de ministros do STF. Ele indicaria os nomes certos para sempre lhe dar maioria. Assim, a corte deixaria de ser um problema e não contestaria nenhuma de suas ações.

O deputado Ricardo Barros já tem projeto para criminalizar os institutos de pesquisa em caso de erro de prognósticos. Com a Câmara na mão, o capitão não só puniria os institutos, mas também criaria leis para cercear a liberdade de imprensa para que ela não publicasse notícias desfavoráveis a ele.

A Lei da Transparência seria extinguida ou, pelo menos, alterada para legalizar o sigilo de 100 anos para todos os atos do presidente e de seus filhos.

A Polícia Federal e o Ministério Público seriam totalmente direcionados para cumprirem todos os desejos do capitão, poupando-o de qualquer investigação e perseguindo a quem lhe fizer oposição.

É claro que, se ninguém deixa o presidente governar, seria preciso que lhe dessem a devida autonomia para agir como quisesse. E apenas quatro anos seria pouco para ele transformar o Brasil como deseja. Seria preciso mais, mas como a Constituição não permite uma segunda reeleição, seria preciso mudá-la.

Esse é o risco que corremos, que tem o aval de boa parte da população e que representa seu desejo de implantar o fascismo no país. É isso que o Datafolha, o Ipec e o Ipespe mostram nas entrelinhas.

Observem que uma das características do fascismo é justamente fazer com que a opinião prevaleça sobre a Ciência, os dados científicos e de informação.

Por isso Bolsonaro mente. Sua opinião, para seus apoiadores fascistas, é mais relevante que qualquer dado ou estatística. Foi assim quando receitou a cloroquina contra a Covid-19 e muita gente o seguiu, inclusive muitos médicos e o Conselho Federal de Medicina que não se opôs.

Quando, por mais que mostremos a enorme corrupção desse governo e os atos totalmente incivilizados do capitão, as pessoas, em vez de defendê-lo, passam a chamar Lula de ladrão, é porque têm o fascismo como projeto para o Brasil.

Esse é o risco que o país corre.

Mais do que nunca, é preciso somar forças para impedir esse projeto de poder.


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Peixinhos dourados num aquário lindamente decorado

Por Fernando Castilho




Sim, o risco de uma ruptura institucional, caso Bolsonaro seja reeleito, é muito grande e muitas pessoas, principalmente os gratiluz, não estão percebendo, confortáveis em seu mundo particular criado exatamente como uma redoma que lhes traz segurança.


Inicio reproduzindo um trecho de uma postagem que o amigo Jarbas Capusso compartilhou no Facebook. Depois explico.

“Esse ser é constituído de: 10% tofú, 10% de beringela orgânica e 80 de Ky. Ou seja, o gratiluz é um vaselina existencial. Não quer saber de conflito, muito menos embate, então vive de fazer vínculo do jacaré com a lontra. Esta foi minha versão lúdica. Ok. Vou meter o Datena: o gratiluz quer azeitar o convívio da barbárie com o civilizatório. Da bala com o discurso. Estivesse na Alemanha nazista, transitaria, fácil, fácil, entre Auschwitz e o quartel da SS.”

Vamos à explicação.

Capusso vai direto ao ponto, sem meias palavras, para falar de pessoas, às vezes chamadas de nem nem. Para elas, a quem ele chama de seres gratiluz, não há no país nenhuma disputa entre a civilização e a barbárie. Não há nenhum embate entre a verdade e a mentira ou a tolerância e o preconceito para com o outro. Parecem transitar ao largo dos graves acontecimentos que afligem o país.

Serei menos incisivo e usarei mais eufemismo para falar da mesma coisa.

Algumas, de acordo com sua religião (e não há aqui nenhuma intenção de criticar a crença de ninguém), acreditam que é normal passarmos por tempos atribulados para mais tarde experimentarmos a bonança. É sério.

Conversei há algum tempo com uma dessas pessoas. Perguntei sobre os horrores da Segunda Guerra e ela me respondeu que foi necessária, pois em seguida, com o fim dos conflitos, a humanidade pode desfrutar de um longo período de bem-estar.

Esse tipo de visão nos remete ao pensamento aristotélico.

Aristóteles imaginava o Universo, a que ele chamava de Cosmos, como algo perfeito e ordenado.

Cada coisa e cada um de nós temos um lugar determinado dentro dele. Somos peças que o compõem.

Desta forma, tudo o que acontece já está determinado, sejam as grandes catástrofes, sejam os períodos de felicidade.

Não há como o ser humano intervir criar sua própria história ou mudar o estado das coisas.

Consequentemente, não existe também o livre arbítrio. Tudo está escrito nas estrelas.

Mas isso foi escrito há mais de 1400 anos!

A Ciência, já há cerca de 500 anos, sabe que o Universo não é ordenado, pelo contrário, é caótico, não só pelas observações, mas também pela Segunda Lei da Termodinâmica que traz em seu bojo o conceito de entropia. Graças a Boyle, Hooke e Carnot!

À título de ilustração, neste exato momento em que escrevo, bem acomodado em uma cadeira, um asteroide pode se dirigir à Terra ou um terremoto de grandes proporções pode dar fim a esse conforto. É a imprevisibilidade. É a tendência ao caos.

Em minha vida passei por pelo menos três grandes momentos históricos de definição do futuro de nosso país: o movimento das Diretas Já em 1983, a eleição de Lula em 2002 e agora, o segundo turno do mais importante pleito nacional que definirá se voltaremos a retomar o processo civilizatório e a democracia ou iniciaremos um longo período de ditadura.

Sim, o risco de uma ruptura institucional, caso Bolsonaro seja reeleito, é muito grande e muitas pessoas, principalmente os gratiluz, não estão percebendo, confortáveis em seu mundo particular criado exatamente como uma redoma que lhes traz segurança. Pelo menos é o que eles imaginam.

O peixinho dourado dentro do aquário nada pra lá e pra cá observando a paisagem de plantas e pedras dentro do aquário, alimentando-se de vez em quando, tomando um pouquinho do Sol que entra pela janela da sala, alheio ao mundo conturbado lá fora.

Nada o tira do sossego de seu mundo particular.