Por Fernando Castilho
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
A intenção de Bolsonaro e sua gangue era, além de roubar e destruir o país, perpetuar-se no poder. Por isso, desde maio de 2019, o capitão tratou de insuflar as massas contra o Congresso nacional e o STF para preparar um golpe.
Enfim,
acabou o pesadelo e o Brasil entra numa nova era.
Após
as jornadas de junho de 2013, há nove anos, ainda no governo Dilma Rousseff, o
país começou a entrar num poço e mergulhar cada vez mais fundo, impulsionado
pela trama norte-americana que visava nosso pré-sal.
A
deposição irregular de nossa presidenta com a anuência do Supremo Tribunal
Federal, a ascensão golpista do vice Michel Temer e a prisão injustificada do
ex-presidente Lula levada a efeito por um juiz oportunista de quinta categoria,
causaram um vazio institucional preenchido por uma gangue que se organizou sob
o comando de um capitão expulso do exército que cometeu vários crimes como
rachadinhas e nomeações de funcionários fantasmas, sob a proteção de sete
mandatos na Câmara dos Deputados.
A
gangue, inicialmente composta pelos 3 filhos com mandatos parlamentares,
precisou que Lula fosse preso, além de uma facada ainda duvidosa que causou
comoção nacional.
Eleito,
Jair Bolsonaro e sua camarilha familiar logo trataram de juntar todo tipo de
escroques, negacionistas, conspiracionistas, ultradireitistas de ocasião e
fundamentalistas religiosos para, cada qual com um ministério, tratar de
destruir a organização estatal e solapar as bases institucionais e
civilizatórias que custaram tanto a ser construídas desde o fim da ditadura.
Houve
de tudo, desde a transformação da Fundação Palmares em uma instituição que
celebra a branquitude, até o desmatamento e garimpo ilegais na Amazônia,
incluindo a tentativa por parte do ministro do meio-ambiente de venda de
madeira ilegal aos Estados Unidos, passando pela perseguição por parte da
ministra da Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, a uma menina de 10 anos,
estuprada que pretendia fazer um aborto.
Há
que se lembrar do tratamento dado à pandemia por um ministro general que deixou
cerca de 400 mil pessoas morrerem enquanto em seu gabinete negociava-se propina
de um dólar por dose de vacina.
A
intenção de Bolsonaro e sua gangue era, além de roubar e destruir o país,
perpetuar-se no poder. Por isso, desde maio de 2019, o capitão tratou de
insuflar as massas contra o Congresso nacional e o STF para preparar um golpe.
Na
reticência das Forças Armadas, o governante foi sendo obrigado a disputar as
eleições, mas para se precaver de uma derrota para Lula, procurou incutir em
seus seguidores a certeza de que as urnas eletrônicas eram fraudáveis.
Lula,
que começou a campanha Há quase um ano com um índice altíssimo nas pesquisas,
foi aos poucos perdendo pontos e chegou ao primeiro turno com sua vitória
indefinida.
No
segundo turno, Bolsonaro só não levou porque revelou ter tendências pedófilas e
porque a deputada bolsonarista-raiz, Carla Zambelli fez a besteira de perseguir
com uma arma um homem negro às vésperas da eleição. É possível que ele vencesse
se não fossem esses dois fatores.
O
uso descarado e desmedido da máquina pública com dinheiro sendo distribuído sem
nenhuma preocupação com o dia seguinte quase propiciou sua vitória.
A
imprensa, acostumada desde sempre a bater em Lula, viu-se, de repente, na
necessidade de negar o projeto bolsonarista porque enxergou nele a ameaça de
sua própria sobrevivência, afinal, sem democracia, não existe imprensa.
A
certeza de vitória de Bolsonaro era tanta que, após o anúncio de sua derrota,
entrou em depressão e se calou por mais de um mês. Esperava que esse gesto
insuflasse a massa que ainda o apoia a exigir uma intervenção militar, mas os
generais, embora, de maneira inédita, que permitiram acampamentos em frente aos
quartéis, não se moveram.
Até
o último instante, bolsonaristas ameaçaram a diplomação de Lula, mas esta
aconteceu sem problemas.
Lula
fez discurso de estadista, como sempre. Chegou, embora não o desejasse, às
lágrimas mais uma vez, como em 2002 e mostrou que veio para recuperar o país e
fazê-lo crescer, com ênfase no tratamento dos mais pobres.
Bolsonaro
perdeu o foro privilegiado e agora, certamente o STF enviará seus processos e
pedidos de investigação para a justiça comum que certamente o condenará pelos
seus crimes.
É
possível que a prisão de seu filho Carlos ocorra mais rapidamente. Esse é um
dos grandes medos do pai.
É
imprescindível, fundamental, que não se conceda a Bolsonaro nenhum tipo de
benesse ou tratamento diferenciado, sob pena de ele voltar a nos assombrar em
2026, embora particularmente ache que o nome da extrema-direita que crescerá
seja o de Tarcísio de Freitas por ter o estado de São Paulo, o mais rico da
nação nas mãos.
O
ministro Alexandre de Moraes, em seu discurso durante a diplomação, garantiu que
não haverá complacência nem impunidade. Esperamos que ele cumpra a promessa.
Mas,
vamos comemorar porque daqui pra frente os dias amanhecerão mais ensolarados
sem as nuvens escuras que nos atormentavam desde 2019.
Lula
saberá governar.
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