Por Fernando Castilho
Por que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o fechamento delas? Síndrome de Estocolmo?
Após
forte campanha da Confederação Nacional da Indústria (CNI) pela reeleição de
Jair Bolsonaro, eis que a entidade, como não poderia deixar de ser, aceita o
resultado das urnas e apresenta propostas ao novo governo Lula que se aproxima.
O
documento Propostas da Indústria para um país mais forte elenca um conjunto
harmônico de objetivos estratégicos de longo prazo, com propostas para
subsidiar as ações dos primeiros 100 dias do próximo governo eleito, diante dos
desafios do desenvolvimento industrial. A iniciativa leva em consideração as
políticas industriais e os desempenhos das principais economias do mundo, que
estão cada vez mais ativas ao estimular investimentos e assegurar competitividade
global de seus produtos e suas tecnologias.
O setor
industrial chegou a ser responsável por 48% do PIB brasileiro na década de
1980. A expansão do setor foi resultado da adoção de políticas públicas que
incentivaram investimentos do governo e da iniciativa privada em setores
estratégicos como energia, transportes, comunicação, siderurgia, mineração e
petróleo. Essas políticas foram decisivas para o crescimento e a consolidação
do parque industrial brasileiro que, atualmente, está entre os mais modernos e diversificados
do mundo.
Mas,
por que a indústria apoiou tanto o governo Bolsonaro?
O
ministro da economia, Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Bolsonaro, ainda no
início do governo, deu o tom do que ele imagina para a política industrial do
país. O Brasil, segundo ele, possui vocação agrícola, é um mero produtor e
exportador de commodities, não possuindo qualquer vocação industrial.
A
afirmação não causou a devida revolta que esperávamos. Ao contrário, parece que nossos
capitães das fábricas se conformaram. Tanto é que viram seus números
de produtividade e seus lucros baixarem sem nenhuma reação.
Só
neste ano, no acumulado de 12 meses o setor apresenta percentual negativo de
-2,8%!
O
setor industrial está com desempenho 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia, de
fevereiro de 2020, e 18% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011, no
primeiro governo Dilma que a CNI considera desastroso.
Vimos,
durante o período Bolsonaro, indústrias importantes deixarem o país gerando
milhares de desempregados.
Segundo
a Central Única do Trabalhadores (CUT), inúmeras empresas como Ford, Sony,
Roche, Eli Lily, Nike, Fnac, Nikon, Brasil Kirin, Häagen-dazs, RR Donnelley,
Lush Cosméticos e Kiehl’s se retiraram do Brasil, sem que uma única providência
tenha sido tomada pelo governo brasileiro para tentar mantê-las. A
Mercedes-Benz também fechou sua unidade de fabricação de automóveis leves.
É preciso lembrar que quando uma montadora do porte da Ford cessa suas atividades, toda uma cadeia de fornecedores é grandemente impactada, gerando milhares de desempregos.
Por
que apoiar um governo que desdenha para a indústria e não se importa com o
fechamento delas?
Haveria, então, uma síndrome de Estocolmo?
O
governo de transição de Lula tem enfrentado grande resistência do mercado que
exige responsabilidade fiscal e não se importa com milhões de pessoas passando
fome no país.
São
rentistas que sofrem calafrios toda vez que os índices da bolsa caem devido a
alguma fala de Lula que não se encaixa em seus dogmas.
Mas,
pergunto, quando a indústria cresce e a economia vai bem, a bolsa não sobe?
Será
que se habituaram a índices sem nenhuma base, sem nenhum lastro? Números
virtuais que não refletem crescimento econômico algum? Uma dança de números
embasada em nada real?
A
indústria, que nunca se preocupou em exigir de Guedes e Bolsonaro medidas que
propiciassem seu crescimento, agora apresentam propostas a Lula.
É
lógico que o presidente eleito, afeito à negociação e conciliação, não deixará
de considerar as propostas, mas, desde cedo, é preciso que se sente à mesa com
a CNI e lhe diga as verdades que precisam ser ditas.
Ocorre-me
agora uma frase dita pelo então presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo), Mário Amato, lá pelos idos de 1989 quando Lula disputou
pela primeira vez a presidência do Brasil: “se Lula for eleito, 800 mil
empresários deixarão o país.” Isso ilustra muito bem o ranço que parte do setor
industrial tem contra o presidente eleito, apesar de auferir altos lucros nos
oito anos de seu mandato.
Mas
o governo está mudando, o país voltará a crescer a médio prazo e um ar fresco
de esperança impregnará todos os brasileiros, mas é preciso que a indústria
volte a reconhecer qual seu caminho e sua participação em nossa economia.
Mais
uma vez, como nos outros dois governos Lula, essa gente encherá as burras de
dinheiro, mas mesmo assim, continuará com seu eterno mimimi?
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